Wednesday, December 26, 2007
26-12-2007 Para o Futuro
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1071663.html
O que importa é ganhar o futuro. É este ímpeto que se vive no Sudeste Asiático onde, em 2007, o desempenho da economia superou as expectativas, suportado num sólido crescimento das exportações, do investimento e do consumo. As taxas de crescimento económico situar-se-ão, este ano, entre os 6 e os 9%, com excepção da Tailândia. O Ministro Lim acaba de desafiar a indústria de mobiliário de Singapura, responsável pelas exportações de 0,7 deste mercado mundial, a alcançar os 2% em 2015.
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É este ritmo que falta à Europa. É este vigor de mudança que falta, ainda, a Portugal. É esta força disciplinada que se não adivinha, ainda, na sociedade portuguesa. Porque Portugal é, ainda, uma sociedade tradicional que cristalizou num passado recente. Com ‘deficits’ de liderança aos mais diversos níveis. Com uma comunicação dominada mais pelas opiniões e atitudes críticas, típicas de adolescente, que pelas acções do adulto maduro e construtivo.
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Há, entre nós, uma pequena elite esclarecida que não só entendeu a profunda transformação por que passa a economia mundial como também começou a tomar decisões no sentido de levar Portugal a assumir uma posição avançada no seio das nações desenvolvidas. Localizam-se os seus membros entre actores do governo da Nação como em nichos da oposição democrática. Estão presentes na indústria como nos serviços e, até mesmo, nalguns sectores da universidade e dos centros de investigação. Mas esta elite está longe de ter influenciado a sociedade e a cultura portuguesa ao ponto de gerar a necessária transformação das mentalidades dominantes.
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As maiorias continuam a pensar, a sentir e a agir como se a sociedade portuguesa pudesse desenvolver-se de acordo com os parâmetros dos anos setenta. Ainda há alunos dos cursos de ciências e tecnologias universitários e de institutos politécnicos que podem terminar os seus cursos sem terem uma formação em empreendedorismo. Saem das escolas modelados, não para serem empresários, mas para serem empregados por conta de alguém, porventura, com menos formação académica.
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Portugal precisa, também, de anular um enorme ‘deficit’ de liderança transformacional. A mudança necessária exige liderança a todos os níveis e em todos os sectores da sociedade. Líderes com visão de futuro, capazes de inspirar e envolver outros cidadãos ou colegas de trabalho de todas as idades. Capazes de os apoiarem e de os ajudarem a desenvolver-se. Isto precisa de ser entendido pelos empresários que consideram que a mudança deve assentar apenas nas gerações com menos de quarenta anos de idade, deitando ao desbarato o capital de competências e de regeneração das gerações mais velhas essenciais para criar massa crítica ao processo de modernização.
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Portugal apresentou-se com uma nova imagem para o futuro. Ao conjunto de instrumentos desta promoção deverão estar associados objectivos a atingir. Singapura definiu, em 2005, que pretendia atingir, em 2015, os 17 milhões de turistas e receitas de turismo no valor de trinta mil milhões de dólares. Qual é o nosso ‘target’? Que mercados turísticos se incluem e se excluem?
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No início dos anos 80, questionou-se o então responsável pelo turismo, Nandin de Carvalho, pela irracionalidade de não existirem turistas em Portugal duma nação economicamente poderosa, o Japão. As suas iniciativas deram frutos que continuam a alimentar, ainda hoje, um fluxo constante de visitantes nipónicos.
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No protocolo assinado recentemente entre a AICEP e o Turismo de Portugal estão ausentes os países islâmicos, a China, a Índia e o Sudeste Asiático como mercados alvos. Qual a racionalidade económica desta decisão? O fluxo de turistas do mundo árabe em Portugal é irrisório. Merece a matéria reflexão e iniciativas. Estarão os responsaveis do turismo cientes que sem um programa de certificação de restaurantes em ‘halal food’ a probabilidade de atrair turistas islâmicos é muito diminuta? Há, também, que lançar um programa operacional para facilitar o desenvolvimento de uma rede nacional de restauração chinesa de qualidade que possa, também, servir a classe afluente chinesa que queira visitar o país.
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Bom Ano Novo, com uma taxa de crescimento económico de 4%, bem acima do esperado.
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Nota do autor:
Pedro Pita Barros escreve no DE de 18.4.2008
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1113419.html
Velhos são os trapos
Deitar fora o conhecimento dos “velhos”pode ser decisivo a longo prazo, para o crescimento das empresas e da economia.
Wednesday, December 12, 2007
12-12-2007 Aplacar o Dragão
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1067497.html
A China prossegue a escalada no crescimento das suas exportações. Continua a aumentar o ‘deficit’ comercial entre a UE27 e a China. Motivos mais que bastantes para que a Declaração Conjunta da 10ª Cimeira China-UE estabeleça que, até final de Março do próximo ano, se dê início ao Diálogo sobre Comércio e Relações Económicas, ao mais alto nível, entre a Comissão Europeia e o Conselho de Estado da China.
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Alguns resultados são de esperar deste modelo de abordagem político-administrativo bilateral. Mas a UE e os governos dos Estados- membros precisam de compreender melhor os objectivos, os valores e as expectativas dos múltiplos ‘stakeholders’ da RPC para tornarem as suas estratégias mais eficazes. Como deveriam tentar perceber qual o entendimento que as autoridades chinesas têm das causas do ‘deficit’ comercial. É que metade dos produtos que a China exporta têm origem em empresas ocidentais aí instaladas que tiram partido dos seus baixos salários.
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É certo que a China terá de fazer ajustamentos à medida que se transforma numa potência económica mundial. Mas o Mundo, e particularmente o Ocidente, tem de integrar a promissora economia da China, tem de aprender a lidar com este ‘flying Dragon’.
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Os estados membros da UE precisam, por um lado, de se envolver num ‘soft engagement’ com um número crescente de autoridades, não apenas a nível nacional, mas também a nível províncial e das principais cidades chinesas, multiplicando visitas, envolvendo-se em iniciativas e projectos que levem os responsaveis a perceber que existem interesses comuns de médio e longo prazo. É que não basta negociar com o poder central na China.
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Por outro lado, os agentes da mudança da China devem ser cumprimentados pelos sucessos alcançados nestes últimos vinte anos, a nível interno e externo, e não devem ser apenas criticados pelos efeitos indesejáveis que as suas transformações estão a produzir no Ocidente. A China tem contribuido para a paz e a estabilidade no mundo. O crescimento global da última década recebeu um forte contributo das sinergias geradas pela economia chinesa. Uma poderosa classe média emergiu na China ao mesmo tempo que se deu uma profunda melhoria nas competências da população. A infraestrutura, sobretudo nas regiões costeiras, alcançou níveis de qualidade elevada.
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As relações entre Singapura e a China, se têm especificidades que impedem generalizações, comportam ensinamentos que merecem reflexão. Em primeiro lugar, elas sempre foram pautadas por um enorme pragmatismo. Shee Poon Kim (ver nota) apelida as políticas de Singapura em relação à China como de ‘enlightened economic pragmatism’, procurando a República tirar partido das oportunidades económicas que a modernização da China pode proporcionar. No passado mês Singapura assinou um pacto para a criação duma ‘eco-city’ no norte da China.
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Em segundo lugar, a China precisa de conceitos e modelos para modernizar a sua economia e o seu sistema social e a República de Singapura tem alguns bons exemplos para oferecer. A China está a inspirar-se na gestão da economia de Singapura, das suas reservas financeiras, a aprender com a gestão dos seus portos, a reproduzir os seus programas de habitação social e de segurança social. A China aplicou no ‘China-Singapore Suzhou Industrial Park’ o modelo do Jurong Town Corporation de Singapura.
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Em terceiro lugar, Singapura abriu as portas às empresas da China. Mais de 2200 empresas chinesas estabeleceram-se em Singapura e 118 estão cotadas na ‘Singapore Exchange’. Milhares de empresas de Singapura estabeleceram-se na China fazendo de Singapura uma excelente porta de entrada na China.
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Finalmente, o progresso das relações entre estados depende também das relações pessoais entre líderes. Lee Kuan Yew, actual ministro mentor de Singapura, visitou dezassete vezes a China e conversou largamente com todos os líderes, inclusivé com aqueles que estão na linha de sucessão aos actuais detentores do poder em Pequim.
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Os bons exemplos copiam-se.
Nota: In Shee Poon Kim, “Singapore-China Special Economic Relations: in search of Business Opportunities, Ritsumeikan International Affairs, vol 3, 2005, pgs. 151-176”
Wednesday, November 28, 2007
28-11-2007 ‘Branding branding’
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1062555.html
Que marcas de renome internacional? Foi com esta pergunta que, ao longo dos últimos meses, empresas de Singapura e Malásia responderam ao convite para participarem numa missão comercial do Sudeste Asiático e da China (Macau e Hong Kong incluídos) e que está neste momento a decorrer em Portugal, por iniciativa da AEP, nos sectores de vinhos e têxteis lar.
Qual deve ser a posição das empresas portuguesas face às marcas? Produzir com qualidade e eficiência para as marcas internacionais ou criar e promover as suas marcas próprias e extrair as consequentes mais valias. Eis matéria, ao que parece, ainda controversa no Portugal do século XXI. Tema que faz despoletar percepções bem distintas do que é ou não prioritário para as indústrias dirigidas ao consumo quotidiano. Posturas assumidas que não são alheias ao posicionamento que se detém no processo económico. Os que controlam quaisquer das quinhentas marcas actualmente existentes, e que geram cerca de duzentos mil milhões de dólares anualmente, disfrutando de crescimentos particularmente significativos nos mercados emergentes da China, Índia, Rússia e Sudeste Asiático, não estarão particularmente interessados em incentivar a entrada de novas marcas destinadas à classe média e aos novos ricos que têm acesso aos meios de comunicação social, às tendências da moda e ao turismo global. Preferem que quem produz o faça com qualidade e que lhes permita apropriar-se da parte mais lucrativa do ciclo de vida dos produtos. É, nem mais nem menos, a competição global pela conquista dos rendimentos disponíveis.
Mas porque não ser a economia portuguesa a beneficiar das mais valias criadas, gerindo preventiva e gradualmente a transição para uma economia baseada em ‘clusters’ de criatividade e de estratégias de marketing eficaz, compensando os impactes negativos com políticas mais agressivas de reestruturação e de reorientação deliberada e explícita do mercado da formação?
Uma significativa maioria dos produtos têxteis lar à venda em Singapura são produzidos na China, na Malásia, no Vietname. Muitas das empresas presentes com os seus promotores nas ‘corner shops’ dos sofisticados ‘department stores’, como o Takashimaya, Robinson, Tang, Isetan, ou Metro, produzem directamente naqueles países. Actuam com base em empresas de marketing local para promover as suas marcas italianas ou francesas e para abastecerem o mercado com estratégias de ‘just in time’. Recorrem a ‘designers’ internacionais ou locais para a concepção de novos produtos de qualidade. Eles próprios exportam para o resto do mundo. As que importam de países ocidentais fazem-no para tirarem partido da atractividade das marcas globais bem estabelecidas. Algumas das quais produzem mesmo na região alguns dos seus produtos.
Os melhores produtos portugueses só têm interesse para os mercados asiáticos desde que tenham qualidade superior e uma marca europeia identificavel e valorizada socialmente a nível local. O que implica dar a conhecê-la, torná-la saliente, promovê-la em parceria com os importadores e distribuidores locais. Para os consumidores asiáticos estes produtos têm que satisfazer as necessidades simbólicas de diferenciação social e não só satisfazer necessidades funcionais. E têm que ter um ‘packaging’ muito atraente, mesmo sedutor.
Os importadores e distribuidores querem ter acesso a catálogos de excelente qualidade gráfica que os ajudem a fazer opções. Mesmo que existam possibilidades de aceder a muitos outros produtos neles não incluídos. Precisam de conhecer o perfil de marketing da empresa, de examinar os seus conceitos estéticos. Querem ‘websites’ de acesso muito fácil e rápido, intuitivos, criativos, dinâmicos, com impacto visual imediato.As empresas portuguesas têm pois de investir na concepção e arquitectura das suas marcas, no desenvolvimento dos canais e dos sistemas de informação das marcas, na exploração estratégica e táctica das mensagens externas e internas, recorrendo a programas de comunicação para os colaboradores das empresas e com programas de aculturação das marcas, com gestão das mesmas através de ‘guidelines’ e utilização de recursos internos das empresas. Depressa e bem.
Wednesday, November 14, 2007
14-11-2007 Reforçar as relações UE-ASEAN
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http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1057249.html
Sob muitos pontos de vista a Europa ainda tem uma política do século XX para uma Ásia do século XXI. A afirmação é do Comissário Europeu Peter Mandelson. Mas é difícil dela discordar. E se passarmos do nível regional para o nacional, é fácil identicarmos países da UE que ainda olham para a Ásia com uma distância psicológica inimaginável, fruto dum completo desconhecimento do mundo de esperança que vai crescendo na China, na Índia, no Vietname, na Malásia ou em Singapura. Maior aproximação entre os dois continentes é absolutamente indispensável para garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento.
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A ASEAN justifica um lugar mais destacado na agenda da política exerna da UE. Os interesses estratégicos da UE e da ASEAN estão de tal forma interligados que exigem uma intensificação destas relações. Uma nova parceria transregional é o que se espera da UE e da ASEAN, ao celebrarem, este mês, o trigésimo aniversário das suas relações. Uma parceria mais dinâmica, mais abrangente, reforçando as trocas comerciais e o investimento. Uma cooperação mais aprofundada, nomeadamente ao nível dos processos de integração regional. Mas, também, o exercício concertado da liderança na prossecução de transformações globais, em particular, na redução do aquecimento global.
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A ASEAN foi criada em 1967 em Banguecoque. A ela pertencem dez países do Sudeste Asiático e cerca de 560 milhões de habitantes. A formalização das relações entre a CEE e a ASEAN data de 1977, muito embora a sua institucionalização só tenha tido lugar durante o segundo Encontro Ministerial UE-ASEAN, em Kuala Lumpur, em Março de 1980. O Acordo de Cooperação CE-ASEAN assumiu o compromisso de se apoiarem mùtuamente na criação e reforço de organizações regionais empenhadas no crescimento económico, no progresso social e no desenvolvimento cultural, procurando deste modo introduzir mais equilíbrio nas relações internacionais.
A UE e a ASEAN têm partilhado importantes prioridades multilaterais, nomeadamente a segurança global, a não proliferação das armas nucleares, a reforma da ONU, uma globalização equilibarada, a resposta a catástrofes naturais, o combate ao crime transnacional e ao terrorismo, a imigração ilegal, a prevenção e o combate às pandemias. Mais recentemente, também as alterações climáticas, a energia e o comércio internacional.
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A cooperação actual entre a UE e a ASEAN desenvolve-se através de múltiplos instrumentos em que importaria activar a participação portuguesa. O APRIS, é o projecto UE-ASEAN de apoio à integração regional. Na esfera ambiental está activo o ‘ASEAN Centre for Biodiversity’ e o ‘EC-ASEAN Energy Facility Program’. No campo académico a cooperação está enquadrada pelo ‘ASEAN-EU University Network Program’. Em 1997 foi criado o ‘ASEAN-EU Partenariat’ para promover a cooperação entre PME. Outros mecanismos activos, além do já referido ‘ASEAN-EU Ministerial Meeting’, são a ‘Post-Ministerial Conference’, o ‘ASEAN Regional Forum’, o ‘ASEAN-EU Senior Officials Meeting’ e o ‘Joint Cooperation Committee’.
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A ASEAN encoraja o acesso dos membros da UE ao Tratado de Amizade e Cooperação (TAC). Na Declaração de Nuremberga, de Março deste ano, a UE exprimiu a intenção de aceder ao TAC. A França havia sido o primeiro país europeu a subscrever o Tratado, em Janeiro deste ano. E Portugal, cujos laços históricos com a região são tão profundos, ficaria bem se lhe seguisse o exemplo caso o processo a nível da UE venha a ser adiado.
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É de salientar a enorme importância que terá para o desenvolvimento do comércio e investimento, entre estas duas regiões do mundo, o estabelecimento de um Acordo de Livre Comércio entre a UE e a ASEAN. A Europa atrasou-se em relação aos EUA, ao Japão, à China, à Coreia do Sul e à EFTA.
Finalmente, Portugal tem uma oportunidade ímpar para relançar a sua imagem no Sudeste Asiático, já que o primeiro-ministro Sócrates liderará o Conselho Europeu e Barroso está à frente da Comissão Europeia, aquando do ‘ASEAN-EU Commemorative Summit’ que terá lugar em Singapura no próximo dia 22 de Novembro de 2007. Segundo informação local, o primeiro-ministro Sócrates inaugurará, após a Cimeira, o ‘Business Center’ da AICEP em Singapura.
Wednesday, October 31, 2007
31-10-2007 Força Europa
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1052269.html
Estão de parabéns os líderes políticos dos países membros da UE, o Governo português e a Comissão Europeia. A Europa vai ter um novo tratado. Mas o risco de prolongar a crise institucional da Europa não está totalmente ultrapassado. Nem está garantido o caminho para a inversão do declínio da Europa.O debate político focaliza-se, agora, na forma de consulta nacional. Atente-se, porém, num recente comentário do director de Estudos do Royal United Services Institute for Defense Studies de Londres, Jonathan Eyal, publicado no “Straits Times” de Singapura: enquanto se discutem as instituições europeias, relegam-se para segundo plano “as questões que verdadeiramente interessam, nomeadamente a situação económica do continente”. A UE representava 27% do PIB mundial quando foi criada. Hoje não vai além dos 18%, com tendência para diminuir. Há cinquenta anos as quatro principais nações europeias controlavam um quinto da riqueza mundial. Hoje não ultrapassam os 13% e já foram ultrapassadas pela China.
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É na Ásia que a Europa deverá encontrar a fonte de sustentabilidade, compensando deste modo as fragilidades da economia americana. A Europa deve poder e ser capaz de tirar partido das enormes oportunidades que ali emergem, nomeadamente ao nível do crescimento da procura interna de bens, serviços e capital. Prioridades devem ser a China e a Índia mas também o Sudeste Asiático. A dimensão dos mercados e o seu potencial de crescimento, para além doutros factores, oferecem oportunidades de negócio difíceis de igualar. Existem, actualmente, na China meio milhão de empresas oriundas de 170 países. Entre os associados do US-China Business Council, 81% referiram que as suas empresas na China eram lucrativas. As trocas comerciais entre a China e a UE excederam, em 2006, os 250 mil milhões de euros.
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Amizades à parte, os EUA são os principais concorrentes da Europa na Ásia. Os países membros da UE precisam de actuar de forma mais concertada. A Europa precisa de novas iniciativas que, nos mais importantes países asiáticos, ajudem as empresas a alcançarem os seus objectivos estratégicos em áreas funcionais específicas. Na China, redes europeias público-privadas de consultadoria devem poder oferecer às empresas da UE apoio na selecção da estratégia de entrada, ao nível das operações de produção, do ‘marketing’, da gestão financeira, da gestão de recursos humanos, da negociação, da gestão de alianças, da protecção da propriedade intelectual e da prática do ‘guanxi’.
Mais de 1.800 programas de investigação chineses estão abertos à participação europeia através dum acordo firmado entre a UE e a China. A sua gestão passa pelas universidades chinesas, mas também pelas comissões de ciência e tecnologia existentes em cada uma das regiões e nas principais cidades da China. É claro que se deve aprofundar esta colaboração ao nível científico e tecnológico com a China.
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Nota: Não foi a primeira mostra de produtos portugueses em Singapura. Mas foi, sem dúvida, a mais digna e diferenciada presença de Portugal na República. De 25 a 27 de Outubro, teve lugar na Singapore EXPO a Wine for Ásia 2007. Lideradas pela AEP, e com o apoio da AICEP, seis empresas (Vallegre, Saven, Quinta da Aveleda, Joopy, Herdade da Calada, e F. Trigueiros) representaram mais de vinte produtores portugueses. Cerca de vinte medalhas de ouro, prata e bronze foram atribuídas aos vinhos portugueses pelo júri do ‘Wine Style Asia Award 2007’ presidido por John Chua, além das muitas menções honrosas. O Pavilhão de Portugal, concebido e executado por uma das mais prestigiadas empresas asiáticas, ombreou em impacto visual e qualidade com os pavilhões da Austrália, França, Espanha e Nova Zelândia. Uma vez mais, Singapura provou ser uma ‘trade hub’, tantos foram os importadores e distribuidores da China, Taiwan, Hong Kong, Macau, Coreia, Vietname, Tailândia, Malásia, Indonésia e Índia que encetaram conversações com as representações portuguesas. Fazendo jus aos elevados padrões de Singapura, a ‘Wine for Asia 2007’ foi considerada pelos expositores portugueses como tendo a melhor organização de todas as Feiras de Vinhos em que até hoje participaram, incluindo as europeias.
Wednesday, October 17, 2007
17-10-2007 Riqueza e Responsabilidade
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1046851.html
A primeira responsabilidade de uma sociedade consiste em criar e acumular riqueza. Com a riqueza criada podem satisfazer-se as necessidades da população, aumentar o emprego e erradicar a pobreza. Mas enquanto na China ou em Singapura a riqueza e a prosperidade são os mais poderosos factores de mobilização colectiva e individual, a mentalidade dominante em Portugal continua a bloquear o desejo de fortuna. Os portugueses estão decisivamente a precisar de muito mais ambição. Para transformarem as suas vidas e a sua nação.
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Em Portugal a riqueza é considerada um mal. Os que a alcançam são olhados de soslaio. Algumas interpretações da tradição judaico-cristã influenciaram sobremaneira o modo como se consideram os bens materiais. Um extracto do Novo Testamento serviu para cristalizar esta mentalidade: “em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus”. Assim, todos os que criam riqueza são vistos como feridos de indignidade. Os empresários são, a esta luz, condenados. Em contraponto, o Estado, qual agente distribuidor da riqueza por outros criada, emerge como a fonte de toda a bondade. O problema não está na criação da riqueza. Está na forma como ela é utilizada pelos que tiveram a ousadia e a capacidade de a criar.
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As transformações que têm lugar no actual momento da vida económica mundial obrigam a uma rápida reconstrução destas nossas mentalidades. Numa economia cada vez mais dominada pelo desenvolvimento da China e da Índia torna-se imperioso que os portugueses tenham uma visão clara do que querem que seja o seu futuro económico e do que querem que seja o seu lugar na economia global. E que construam laboriosa e sistematicamente esse posicionamento diferenciado. Os portugueses têm de se assumir mais como criadores e não como meros consumidores dos produtos e dos projectos alheios. Têm de ser mais curiosos, de organizar melhor, de trabalhar melhor, de conceber mais, de inovar mais. Os portugueses precisam de ter mais desejo de criar novas empresas de sucesso para reproduzir noutros pontos de Portugal e expandir pelo mundo. Devem querer assumir riscos. Devem ambicionar tornar-se empresários ricos, fruto de boas estratégias de gestão e através do desenvolvimento de empresas de grande qualidade na sua organização, nos serviços prestados, nos bens produzidos e no bem estar dos seus colaboradores. Sem precisarem de recorrer ao pagamento de salários indignos ou ao abuso do trabalho de estagiários sem remuneração.
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Os portugueses devem admirar e valorizar os que enriqueceram honestamente. No país e no estrangeiro. Devem querer aprender com os seus sucessos e insucessos. Em contrapartida, a sociedade deve esperar dos cidadãos afluentes contributos significativos que levem à criação de melhores condições de enriquecimento colectivo e à resolução de problemas das populações. Portugal deve poder esperar dos empresários mais bem sucedidos contributos significativos para o desenvolvimento do ensino e da investigação aplicada, fontes primordiais do crescimento económico e do desenvolvimento global.
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António Champalimaud deixou a sua marca em Portugal e no mundo, com a sua extraordinária doação de 500 milhões de euros para a criação duma Fundação dedicada à investigação científica. Cidadãos afluentes de Singapura têm, igualmente, demonstrado uma evidente postura ética. A Lee Foundation, do banqueiro e ‘Rubber and Pineapple King’, Lee Kong Chian, ofereceu 50 milhões de dólares para a criação da Singapore Management University e 60 milhões de dólares para a criação da Singapore National Library. Wong Kwok Leong, e sua mulher, doaram um milhão de dólares para o Wong Kwok Leong Endowed Scholarship, a fim de apoiarem alunos da Singapore Management University. A família do banqueiro e industrial de hotelaria Khoo Teck Puat contribuiu com 80 milhões de dólares para o desenvolvimento da investigação biomédica na Duke-National University of Singapore Graduate Medical School e, ainda, com 125 milhões de dólares para a construção dum hospital de 550 camas no distrito de Yishun em Singapura. Este é o modelo de cidadãos ricos e socialmente responsáveis.
Wednesday, October 3, 2007
03-10-2007 Atrair Investimentos
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1042231.html
É altura das principais cidades do país estabelecerem metas, cada vez mais exigentes, em relação ao seu contributo para o PIB nacional e para o emprego. À semelhança do que se passa a Ocidente e a Oriente, é chegada a hora de, em Portugal, as câmaras municipais apresentarem a sua visão estratégica e o seu plano estratégico para os próximos dez e vinte e cinco anos, enquadrando os seus projectos de desenvolvimento concretos de curto e médio prazo. E de se mobilizarem em ‘road shows’ na captação internacional de recursos em articulação com a AICEP. É tempo da abordagem ‘top down’ ser fortemente complementada pela abordagem ‘bottom up’. Um movimento em que emerjam em ‘networking’, num esforço conjugado com as câmaras municipais e as associações empresariais, os projectos dos empresários articulados em ‘clusters’ locais e regionais dedicados à exportação. A experiência neo zelandesa continua a ser, a este propósito, uma excelente referência que importaria avaliar e reproduzir.
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Exemplos não faltam. Na Ásia assiste-se a um forte e redobrado impulso renovador e desenvolvimentista que não é alheio à necessidade de responder ao desafio posto pela explosão económica da China e da Índia. E que leva governadores de regiões e presidentes de câmara a dedicarem-se cada vez mais ao desenvolvimento económico estratégico. As cidades e as regiões, a par das grandes empresas e das agências nacionais, estão pois no terreno pela captação de investimento estrangeiro. Em consequência, a competição internacional pelo financiamento de projectos, quer por parte de países desenvolvidos quer dos países em desenvolvimento, está cada vez mais agressiva exigindo um ‘marketing’ dos projectos altamente diferenciado.
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As cidades japonesas de Sendai, Kanagawa, Shizuoka, Osaka, Hiroshima e Fukuoka apresentaram recentemente, em Singapura, o seu plano estratégico e os seus projectos de desenvolvimento na expectativa de interessarem os investidores locais e internacionais. Representantes de Ho Chi Minh, de outras cidades e províncias do Vietname, já o tinham feito dias antes. E, não muito depois, ali iria Rafidah Aziz, a enérgica ministra do Comércio e Indústria da Malásia. Para apresentar a 2000 participantes os incentivos específicos ao investimento estrangeiro em cada um dos sectores económicos prioritários do seu país (1). Apoiando, ao mesmo tempo, a apresentação de projectos de desenvolvimento regional ambiciosos quer por parte do Chief Minister de Malaca quer pela iniciativa Iskandar Development Region (2), do estado de Johor.
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Ganha-se em perceber que na Ásia a atracção do investimento estrangeiro usa as mais diversificadas estratégias ‘win-win’. A CapitaLand de Singapura constrói e gere mais uma centena de centros comerciais na China, na Índia, no Japão e no Vietname. Integrar um dos seus dezasseis centros comerciais de Singapura abre a porta à entrada nos seus congéneres em outras tantas capitais asiáticas. Assim Singapura ganha, ganham os países onde investe, ganham as empresas estrangeiras que oferecem os seus produtos numa alargada rede multinacional.
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Ganha-se em perceber que na Ásia se conquistam mercados a partir da participação em projectos de desenvolvimento locais. Na China, as autoridades regionais, distritais ou locais facilitam tanto mais as importações quanto mais empenhada estiver a empresa estrangeira em investir localmente, na criação duma unidade local ou duma ‘joint venture’, na aquisição de fábricas ou de terrenos. Um alerta para os exportadores portugueses que se focalizam na mera procura de agentes importadores e distribuidores para os seus produtos.
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Finalmente, as zonas económicas especiais, os parques industriais e os parques de ciência e tecnologia integram as estratégias de atracção de investimento estrangeiro. No actual contexto de globalização as iniciativas nacionais devem ser aferidas pelas melhores práticas internacionais porque os investidores não deixam de comparar alternativas. Valerá a pena fazer o ‘benchmarking’ com as experiências similares na Ásia, nomeadamente ao nível dos incentivos, da organização e dos serviços proporcionados. Há aí muito a aprender.
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1) MIDA, Malaysia Investment in the Manufacturing Sector, Policies, Incentives and Facilities, 2007, 156 páginas. Consultar http://www.mida.gov.my/2) http://www.iskandar.com.my/
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[16-04-2008] [ Associação Industrial do Minho ]
Cidades do Douro fazem aliança para o QREN
A grande cidade do Douro nasceu esta semana em Peso da Régua, com a assinatura do protocolo de cooperação urbana que une as três cidades durienses: Vila Real, Régua e Lamego. Os três municípios, que formam agora a "Douro Alliance - Eixo Urbano do Douro", distam 30 quilómetros, estão ligados pela A24 e neles residem 100 mil pessoas, das quais 67 mil habitam nas zonas urbanas.
Wednesday, September 19, 2007
19-09-2007 “Representative Office”
A internacionalização duma empresa é um processo complexo e arriscado, sobretudo para as PME. Não basta ter um projecto, com produtos ou serviços diferenciados e de excepcional qualidade, para ser capaz de o exportar com sucesso para diversos mercados.
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Múltiplos factores condicionam os resultados e, por consequência, a decisão de se internacionalizar obriga a sopesar argumentos favoráveis e desfavoráveis. Os conhecimentos e as competências exigidas ultrapassam em muito os requisitos dos mercados internos. Só algumas empresas estão em condições de dar um salto organizacional que se repercutirá ao nível da sua ‘corporate governance’. Há que aplicar as técnicas de marketing mais avançadas utilizadas, agora, em todos os cantos do mundo, do ocidente a oriente. Há que explorar as mais diversas formas de apoio a nascente e a jusante. E há que decidir qual a melhor estratégia de entrada. Nos mercados asiáticos, a criação de um ‘Representative Office’ é, sem dúvida, uma opção a considerar.
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As características, os conhecimentos e as competências dos empresários, a sua visão empresarial e o seu espírito empreendedor são factores cruciais na internacionalização. Mas a extensão e o ritmo de internacionalização, o aumento da dependência das empresas em relação aos mercados externos e a sua capacidade para criar vantagens competitivas, estão profundamente dependentes de factores ambientais externos no país de origem e nos de chegada, de factores organizacionais internos, como as características da equipa de gestão, a diferenciação dos recursos humanos, a capacidade financeira, as características da própria empresa, e de factores estratégicos, nomeadamente das estratégias de entrada nos mercados. Estas podem assumir múltiplas formas, desde a nomeação de agentes, importadores e distribuidores, à criação de uma sucursal, de uma empresa subsidiária, à constituição de uma ‘joint venture’, à aquisição de uma empresa local, ou à criação de uma empresa de raiz. As PPP permitem, ainda, outro tipo de soluções.
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A escolha da melhor estratégia de entrada não é fácil, nomeadamente porque ela deve assentar em conhecimentos sobre os mercados locais e o ambiente legal e institucional, que a empresa não dispõe à partida. Há, por outro lado, que reconhecer que os mercados são cada vez mais ‘networks of relationships’ entre empresas, entre empresários, entre gestores, e não apenas fluxos de mercadorias e serviços. E, por isso, requerem a presença no terreno de recursos humanos qualificados com elevada mobilidade que penetrem a todo o tempo o campo das oportunidades.
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Ora países asiáticos, como o Japão, o Vietname ou Singapura, legislaram condições favoráveis para a instalação de uma solução incremental: o “representative office’. Esta modalidade pode ser utilizada por organizações que pretendam vir a instalar-se no país ou que pretendam criar uma ‘hub’ regional.
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Destinam-se estes escritórios a permitir que as empresas avaliem a viabilidade do seu negócio nestes mercados, antes de fazerem investimentos, e que realizem actividades preparatórias para a sua instalação futura. Podem desenvolver contactos, recolher informações, levar a cabo estudos de mercado e campanhas publicitárias, dar informações a distribuidores, comunicar preços e condições de venda, identificar oportunidades de negócio. Mas não podem fazer vendas, realizar contratos, fazer consultoria remunerada, fazer ‘transshipment’ de produtos, negociar cartas de crédito. Não têm de possuir contabilidade organizada nem de manter registos. Estão isentas de impostos, apenas se lhes exigindo que assegurem o pagamento de IRS relativamente ao pessoal ao serviço e de contribuições para a segurança social. Podem permanecer com este estatuto por vários anos. O representante deverá ter um visto (‘pass holder’), ou ter o estatuto de ‘permanent resident’ ou ser cidadão nacional. Se o escritório resolver instalar-se definitivamente no país deverá posteriormente proceder à sua legalização como empresa.
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Do futuro ‘Business Centre’ da AICEP, em Singapura, se espera que venha a ser o incubador desta e de muitas das melhores oportunidades de negócio na Ásia.
Wednesday, September 5, 2007
05-09-2007. Uma nova era...
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1032103.html
O Governo Português aproveitou bem o mês de Agosto para reacertar o passo com o sudeste asiático e com Singapura. É o recomeço de um longo e lento processo de tomada de decisão política iniciado nos anos oitenta. A aproximação entre os dois países começa, finalmente, a ganhar forma.
Historiadores, sociólogos e economistas explicarão, um dia, porque é que Portugal é o último dos países desenvolvidos a estabelecer uma estratégia de reforço das relações políticas, económicas e culturais com Singapura.
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Em 1785, já havia um Cônsul Geral de Portugal na ilha, José de Almeida, que dá o nome à ‘Almeida Street’. Mas a história recente das relações entre os dois Estados tem apenas um quarto de século. Em Fevereiro de 1982, Melo Gouveia apresentou credenciais junto do Presidente Devan Nair, sendo Embaixador residente em Banguecoque. Foi o primeiro representante de Portugal junto da República. Um segundo impulso ocorreu a partir do final dos anos noventa e gravitou à volta de Sines. Primeiro, foi a supressão de vistos que veio a ser consagrada por Guterres em Janeiro de 1998. Na sequência da decisão, de 1997, de transformar Sines no maior porto de ‘transhipment’ de contentores do Atlântico e do Mediterrâneo Ocidental, veio a ser assinado com a PSA de Singapura, em Junho de 1999, o acordo para esta empresa construir o terminal de contentores de Sines. Finalmente, a Convenção entre a República Portuguesa e Singapura para evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria de impostos sobre o rendimento foi assinada, em Singapura, em Setembro de 1999. Em Fevereiro de 2000, em trânsito para Timor Leste, Sampaio visitou Nathan, o Presidente da República. No ano seguinte, Singapura reduziu a sua participação no capital dum importante grupo português.
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Um terceiro impulso teve origem em Barroso que, em Maio de 2002, terá visitado o PM de Singapura, Goh Chok Tong, e a PSA. Em Junho de 2002, numa apresentação à Comissão de Política Externa do Parlamento afirmava o então MNE que “as nossas relações com a Ásia, especialmente com a Índia e o Paquistão, mas também com a China, o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas e Singapura, têm de ser redimensionadas nos planos político, económico e cultural”. Goh Chok Tong visitou Portugal no final de 2003. A partir dos relatos internacionais desta visita sabe-se que as expectativas nunca se concretizaram. Em Fevereiro de 2006, em trânsito por Singapura, Sampaio voltaria a encontrar-se com o Presidente.
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O quarto impulso foi desencadeado nos inícios de 2006. Em Maio, Basílio Horta considerou Singapura um mercado prioritário. Numa interpelação parlamentar sobre política económica e emprego, em Junho, Manuel Pinho deu conta do forte aumento das exportações para fora da Europa, nomeadamente para Singapura. Na versão para discussão pública da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável, de 2006, referia-se a necessidade de um reforço das relações com outras regiões inovadoras e dinâmicas do mundo e apontava-se para a instalação de pólos da rede API/ICEP/AdI em cidades da “Grande China” e da Índia - tendo como centro as relações de Portugal com Singapura. Em Março de 2007, no contexto da reunião UE-ASEAN em Nuremberga, Luis Amado teve contactos bilaterais com a Malásia, Singapura e a Indonésia. Em Agosto passado foi publicada a nomeação de Faria e Maya como novo Embaixador em Singapura, embora residente em Banguecoque. No final do mês foi a vez da AICEP dar a conhecer o Plano de Restruturação da sua rede externa, onde se destaca quer uma atenção especial à Asia quer a criação duma ‘business unit’ em Singapura. Logo de seguida reuniram-se, em Lisboa, os MNE de Portugal e de Singapura que concluiram ser oportuno o reforço das relações políticas e económicas entre os dois países. George Yeo acolheu positivamente a proposta portuguesa de criar um Centro de Negócios em Singapura para facilitar o desenvolvimento da cooperação económica entre Portugal e o sudeste asiático. Recorde-se que, há alguns meses, Sócrates convidou Lee Hsien Loong, PM de Singapura, a visitar Portugal.
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Empresários, centros de pesquisa, jovens graduados é chegada a hora de avançar.
Wednesday, August 22, 2007
22-08-2007 . Democracia e Eficácia
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1027911.html
Não é a dimensão que determina o sucesso duma nação. Nem tão pouco os recursos naturais. A democracia favorece mas, em última instância, é o modo como cada sociedade e os seus actores políticos fazem uso da democracia que dá lugar à satisfação das expectativas e necessidades dos cidadãos. É, por isso, urgente incentivar a mudança de atitudes dos portugueses face à acção política, aos actores políticos e ao sistema político.
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A democracia é a melhor forma de governo de uma nação. Mas este meio posto ao serviço do bem comum e do interesse nacional não garante por si só óptimos resultados. A democracia é um pré-requisito, um factor favorável, mas não é instrumento suficiente para satisfazer as necessidades do país. Há democracias capazes de obter elevados níveis de bem estar e outras que estão longe de alcançar tal desiderato. O modelo democrático contém um conjunto essencial de princípios, de estruturas e de processos políticos e administrativos estandardizados, qual ‘hardware’, que permite operar com múltiplas combinações de ideologias, de políticas e de estilos de liderança as quais produzem distintos resultados. Os políticos, os padrões de acção colectiva e de acção política, os processos políticos, as políticas substantivas e os padrões de implementação das políticas constituem como que o ‘software’ da democracia e determinam em larga medida o resultado final do sistema político. Quando os actores da política, os líderes nacionais, regionais ou locais, os líderes sectoriais, os sindicalistas e os empresários, os professores e os estudantes, os cidadãos em geral, gastam as suas energias na crítica cínica e sistemática, o país desperdiça energias, perde força e estagna. Quando a maioria dos cidadãos investe na procura sistemática e inovadora, na construção e na aplicação de soluções para a melhoria da empresa onde trabalha e da comunidade onde vive, o país progride. Uma sociedade que se entretém com o lado emocional da política não consegue alcançar os mesmos resultados que aquela que se aplica na construção racional e aprofundada das políticas.
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Política racional é a que Singapura revela ao mundo. No segundo trimestre de 2007 a economia cresceu 8,6% e está melhor que nunca, vibrante e competitiva. Nos últimos cinco anos cresceu a uma taxa de 6,1% ao ano e, segundo as estimativas conservadoras do Governo, crescerá nos próximos 5 a 10 anos a uma taxa de 4 a 6%. O PIB per capita foi, em 2006, de 29,474 dólares americanos. O desemprego situa-se, hoje, nos 2,4%. Para isto Singapura paga bem aos seus políticos e aos funcionários públicos. Para ter resultados inquestionáveis, para poder seleccionar os melhores e para prevenir a corrupção. A compensação está associada ao crescimento económico. Em tempo de crise económica baixam os salários dos políticos e funcionários, de cima a baixo. O Parlamento tem, apenas, 84 deputados. Por sua vez, os salários dos ministros são dos mais elevados do mundo e virão a corresponder a 2/3 da mediana do rendimento dos 48 contribuintes das seis profissões mais bem pagas, em 2008, a que acrescem os prémios de desempenho da economia. Em 1985, Lee Kuan Yew afirmava que era um dos ministros mais bem pagos mas provavelmente um dos mais pobres primeiros ministros do terceiro mundo.
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Singapura não invoca a sua pequena dimensão para falar do seu desenvolvimento. Minúsculo país, de menos de 700 km2 (menos de 1% de Portugal), gere 16 portos em 11 países. Investe largamente no estrangeiro. Mais de 500 projectos de investimento em curso no Vietname, com um valor aproximado de 7 mil milhões de euros. Mais de 2000 empresas de Singapura operam em Xangai.Singapura não tem água. Transformou um problema numa oportunidade. Das suas necessidades de água, 50% tem origem na chuva, 10% é dessalinizada e 40% é comprada à Malásia. Inovou, produziu soluções, Hoje tem água reciclada pura. No passado dia 15, Singapura recebeu na Suécia o “Stockholm Industry Water Award”, que premeia a inovação tecnológica no reaproveitamento da água. A Organização Mundial de Saúde fez uma parceria com a PUB de Singapura para promover a qualidade da água de beber nos países em desenvolvimento.
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Democracia eficaz precisa-se.
Wednesday, August 8, 2007
08-08-2007. Culturas e Negócios
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1024567.html
Férias. Cruzam-se fronteiras, exploram-se novos ambientes. Fala-se, interage-se, observam-se outras gentes. Experimentam-se diferenças. Interrogam-se outros modos de viver, de pensar e de fazer dos povos que se visitam. Alargam-se as vistas e acrescenta-se mundo ao mapa mental. De volta trazem-se ideias, projectos, mesmo soluções. Mas também um melhor entendimento das identidades alheias. E do que pensam dos portugueses. Estereótipos! Mas, em tempo de internacionalização, conhecer as diferenças culturais é a primeira condição de sucesso.
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Quem passa por Singapura encontra-a aberta e cosmopolita. Escancarada às empresas estrangeiras e aos estrangeiros. Uma sociedade multi-étnica bem integrada de chineses, malaios, indianos, euroasiáticos. Muitas religiões, diversas línguas. Muito hierarquizada entre patrões e empregados como entre pais e filhos. Sagrado é o respeito e a obediência aos mais velhos. O grupo é mais importante que o indivíduo. A família alargada e os amigos chegados constituem o alicerce da estrutura social. Ter bom nome, bom caracter e ser estimado são qualidades pessoais muito apreciadas. A falta de respeito não é tolerada. Não há ‘graffiti’ nas paredes. Há que salvaguardar sempre a face de todos e de cada um. Para manter a harmonia em todo o tipo de relações.
Os negócios só se fazem entre pessoas. Não entre empresas. E se se chegarem a relações pessoais duradouras. A empresa estrangeira tem que demonstrar que veio para ficar e não para realizar ganhos fáceis e rápidos. Negócios fazem-se todo o ano, embora Junho seja o período em que mais pessoas fazem férias. Os empresários locais são negociadores difíceis no que toca a preço e prazos. Há que planear cedências que não ponham em risco o interesse do negócio. As decisões alcançam-se por consenso. A afabilidade é a norma. Há que nunca mostrar irritação. Comunicação não verbal é mais importante que palavras. A expressão facial, o tom e a postura corporal são as mais reveladoras. Como o é o silêncio. Em vez de dizer “não” dirão que “vão tentar”. É preciso reinterpretar os sinais para além do que se ouve. Bem diferente do mundo ocidental de discurso directo.
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Do lado de cá está Portugal. Quem o visita e estuda diz que ainda é uma sociedade tradicional, conservadora e ainda muito fechada sobre si. Os estrangeiros vivem ainda segregados. A família é a mais importante fonte de estabilidade. Prevalece sobre as relações sociais. Sobrepõe-se mesmo na vida empresarial. Observam que se empregam as pessoas que se conhecem e em quem se confia. Uma forma de nepotismo resistente.
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Reconhecem que os portugueses são delicados, mesmo formais, no relacionamento social. Que são contidos e pouco espontâneos. Nas zonas urbanas valorizam muito o aspecto exterior. Dão muita importância às “modas” e acreditam que a forma de vestir é um indicador decisivo de sucesso e de posição social. Usam as melhores roupas e as marcas mais conhecidas.
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Da sociedade portuguesa e do mundo dos negócios dizem que são altamente estratificados. As hierarquias são muito respeitadas. Os graduados são sempre tratados por títulos. Esperam que a decisão venha sempre de cima. Nos negócios o poder e a autoridade estão concentrados numa só pessoa que decide sem se preocupar com a criação de consensos com os subordinados. Na decisão e na resolução dos problemas ainda prevalece uma abordagem autoritária. Da produtividade e da eficiência decisionais afirmam que deixam muito a desejar. Que o ritmo é lento. Que aos mais diversos níveis se tomam diariamente poucas decisões. Podiam usar mais e melhor a inteligência que possuem. Os assuntos são mal estudados. Os negócios fazem-se com quem se conhece e as decisões são tomadas em reuniões pessoais.
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Longas introduções pessoais precedem os contactos de negócios. Contactos escritos são vistos como impessoais. Os contratos são cumpridos. Mas a pontualidade e cumprimento de datas não são necessariamente observados. Críticas directas não são bem vistas. Agosto é mês perdido para decisões empresariais, bem ao contrário das terras do sol nascente.
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Semelhanças e contrastes para meditar antes dum novo ano de trabalho.
Wednesday, July 25, 2007
25-07-2007. Internacionalizar-se na Ásia
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1020202.html
A internacionalização é gerada por factores endógenos e exógenos às empresas. Mas são sempre pessoas que avaliam as condições favoráveis à sua efectivação, que têm orientação para o negócio internacional, que têm as percepções, os valores e as atitudes apropriadas, a personalidade e as competêncas adequadas para levar as empresas aos mercados externos. A internacionalização exige gestores e profissionais com vontade, motivação, impulso e empenho numa gestão voltada para a exportação e para o marketing internacional. Que sejam destemidos, que tenham condições familiares favoráveis, que se desloquem e se deslocalizem para os mercados externos e que, quando de volta ao país, incentivem a abertura ao mundo.
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Portugal precisa de acelerar a formação de “agentes” avançados da internacionalização da economia portuguesa. Em particular nos imensos mercados da Ásia.
A génese. As empresas orientadas para a inovação, para a resolução de problemas e para as oportunidades de mercado estão entre as primeiras a lançarem-se na exploração de mercados externos. A convicção de que faz sentido penetrar num determinado mercado está na base de outros movimentos de partida. O ímpeto para exportar surge, também, a partir do momento em que as empresas concluem que não conseguem alcançar a satisfação dos seus objectivos estratégicos no mercado nacional. Empresários e colaboradores avaliam os recursos e as capacidades das suas organizações, avaliam as suas ambições pessoais e empresariais, e avançam para estratégias de internacionalização. Noutros casos, factores exteriores à empresa associados às características dos mercados externos, a um ambiente legal e económico favorável, a oportunidades percebidas, a custos e lucros previsíveis, determinam a decisão de encetar a primeira experiência internacional. Outras vezes são distribuidores, um banco, ou mesmo o governo local que sugerem a entrada num dado país estrangeiro. Através da rede de amigos, do conhecimento ocasional de empresários ou de empresas estrangeiras, chega-se igualmente a oportunidades em mercados alheios e, com menor grau de incerteza e mais segurança, dão-se voos mais largos.
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As competências. Mas é claro que a internacionalização se faz com colaboradores competentes e disponíveis que ganharam experiência nos mercados internacionais e, aí, se movem à vontade. E, por isso, é necessário capitalizar as comunidades portuguesas no estrangeiro e investir, aí, na formação de “agentes” locais de internacionalização da economia portuguesa. Como é igualmente necessário favorecer a dispersão, nomeadamente nos países sem emigrantes portugueses, de um número muito significativo de gestores e de profissionais portugueses que se entrosem nas empresas multinacionais e locais, que ganhem experiência nesses mercados, e que favoreçam, apoiem e promovam a expansão das empresas portuguesas. Com especial incidência na Ásia, do Japão à China, da Índia à Indonésia, da Malásia a Singapura. Foi isso que fizeram países desenvolvidos que têm hoje um poderoso “exército” de gestores e profissionais com experiência asiática, como está à vista em Singapura. Um terço da população activa de Singapura é estrangeira. Entre os 875.000 estrangeiros, cerca de 110.000 são gestores e profissionais qualificados, dos quais 17.000 são britânicos, 15.000 são norte-americanos, 5.000 são alemães, 4.000 são franceses, alguns milhares são canadianos e outro tanto holandeses, largas centenas são irlandeses, suecos, dinamarqueses, noruegueses, suiços e russos.
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As oportunidades. As duas dezenas de residentes portugueses na cidade-Estado podem rapidamente decuplicar. Basta que os candidatos adiram às políticas de recrutamento de estrangeiros qualificados de Singapura para preencherem postos de trabalho em múltiplas áreas da gestão, banca, TIC, logística, sector químico, saúde e educação. Consultem-se as ‘Strategic Skills List’*. Existem incentivos ao emprego de jovens graduados e pós graduados como o ‘Work Holiday Programme’. Os suplementos de “Emprego”, da edição de sábado do ‘Straits Times’, têm habitualmente 66 páginas de anúncios.
No sudeste asiático também há futuro para os portugueses. E para Portugal.
Wednesday, July 11, 2007
11-07-2007.Mais e melhor “marketing”
Como explicar que não exista uma marca portuguesa de pastéis de nata com projecção mundial? Quando em alguns centros comerciais de Singapura, fruto das recentes relações com Macau, se encontram à venda as ‘portuguese tarts’ sem forma nem qualidade que se assemelhe aos “pastéis de Belém”, logo se percebe que neste, como numa infinidade de casos, a sabedoria detida por pequenos e médios empresários portugueses é desbaratada no comércio internacional.
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A restauração e a confeitaria portuguesa comportam uma riqueza de produtos que transformados em modelos de negócio permitiriam uma expansão estratégica assinalavel à escala global com marca própria muito para além das presenças “artesanais” nos mercados da saudade, associados às comunidades portuguesas da diáspora. Dessa inovação seriam de esperar resultados apreciáveis com significativos impactes ao nível da exportação de produtos e do turismo, nomeadamente no sudeste asiático.
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Um dos primeiros factores críticos no desenvolvimento desta área de negócio prende-se com o insuficiente ‘know how’. Portugal adoptou modelos americanos de restauração mas, ainda, mal desenvolveu modelos nacionais de restauração, cafetaria e confeitaria capazes de serem multiplicados no país e internacionalizados, nomeadamente sob a forma de ‘franchising’. Dir-se-á que é diminuta a iniciativa. Por certo. Mas falta investigação. Falta sistematizar o conhecimento sobre as áreas de negócio da restauração, cafetaria e confeitaria em Portugal. É escassa a investigação económica e de gestão sobre a restauração, como também o é no que respeita ao ‘retailing’, em geral. São áreas que só recentemente começaram a ser consideradas com “nobreza” suficiente para os institutos de gestão, as faculdades de economia e os politécnicos e que devem ser destacadas e reforçadas com meios humanos e financeiros acrescidos.
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Um segundo factor crítico relaciona-se com o insuficiente desenvolvimento de competências de gestão e, especificamente, de ‘marketing’ da restauração, cafetaria e confeitaria. O empreendedorismo e a inovação empresarial implicam não só a formação de jovens que se “aventurem” como empresários no curto e médio prazo, mas exigem também o apoio aos actuais empresários do ‘retailing’ para que levem as suas empresas a subir na cadeia de valor, para que explicitem, redefinam e requalifiquem os seus planos de negócio de modo a capitalizarem os conhecimentos e competências adquiridas. Também os trabalhadores do “comércio a retalho” necessitam dum rápido aumento de competências específicas que lhes permita actuar com conhecimentos aprofundados dos produtos, dos serviços e dos processos de ‘marketing’ e vendas em que estão envolvidos. À semelhança do que tem sido promovido noutros sectores, seria de estimular uma parceria com o muito conceituado Institute for Retail Studies, da Universidade de Stirling, que, além de oferecer formação em ‘retail management’ e ‘retail marketing’, tem celebrado acordos de colaboração com as mais diversas entidades no mundo, nomeadamente com a Nanyang Polytechnic, o Singapore Institute of Retail Studies e a Singapore Workforce Development Agency.
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Por último, há que referir como factor crítico de sucesso a atitude dos empresários e dos responsáveis de ‘marketing’. As empresas exportadoras portuguesas ganhariam em concentrar-se mais nos mercados, nas suas necessidades e preferências, e no serviço que pretendem prestar-lhes, em vez da sua atenção continuar a direccionar-se sobretudo para os seus actuais produtos e para a sua distribuição. Na Ásia esperam que as empresas exportadoras invistam nos mercados e não apenas que “despejem” os seus produtos. Exigem disponibilidade por parte das empresas para estudarem o mercado, para conhecerem a cultura local e os apetites dos consumidores, para adaptarem os seus produtos, para os diferenciarem face à concorrência, para os posicionarem, para criarem e defenderem a sua marca. No sudeste asiático novos desafios se colocam em virtude da heterogeneidade étnica ao contrário do que se passa nos mercados homogéneos do Japão, Coreia e China.
Exportar é, mesmo, um negócio cultural.
Wednesday, June 27, 2007
27-06-2007: Mais Estandardização
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1010153.html
A estandardização precisa de ser mais valorizada, promovida, premiada porque são múltiplos e duradouros os seus benefícios económicos e sociais.
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Milhões de famílias em 36 países fazem uso de modelos estandardizados de mobiliário de marca sueca bem conhecida. Simplicidade, funcionalidade, eficiência no uso do espaço, qualidade e baixo custo contribuem actualmente para um processo de estandardização doméstica à escala global como nunca tivera lugar. Um sucesso ‘knowledge based’ com produção descentralizada. Um ícone da globalização.
O fenómeno da estandardização, que à partida poderia parecer em aparente conflito com a necessidade de inovação e de criatividade nas empresas, antes as propicia. Garantir determinados ‘standards’ numa empresa não significa mais que alcançar níveis mínimos de qualidade, uma ‘baseline’, deixando aos gestores, líderes e às equipas de colaboradores a oportunidade para inovarem e criarem melhores produtos e serviços, melhores ambientes de trabalho, melhores resultados que satisfaçam os consumidores, os trabalhadores e os investidores de forma sustentada. A estandardização, que de forma tão cabal favoreceu o desenvolvimento científico e tecnológico, a indústria automóvel e aeronáutica e a indústria das NTIC, tem retorno económico e promove a qualidade de vida no trabalho.
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As economias mais desenvolvidas, mais dependentes do conhecimento (’knowledge based economies’), são as que alcançaram níveis mais elevados na estandardização da sua ‘corporate governance’ e dos processos de gestão e de produção. A estandardização é parte integrante dum movimento de diferenciação orientado para a excelência e a qualidade, que atravessa o mundo de ocidente a oriente, e no qual cada país se vai integrando progressivamente.
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Portugal, que iniciou há muito este processo, precisa decididamente de acelerar a sua participação neste universo de superior diferenciação através da adopção genuína e massiva das metodologias e dos instrumentos de garantia da qualidade. Nas práticas de gestão públicas e privadas. Em todos os sectores económicos. Com impacto na relação com os mercados nacionais mas também com os estrangeiros. Na relação com os consumidores de bens e de serviços privados e públicos.. Na gestão de recursos humanos e na organização do trabalho. É altura de perguntar que percentagem de empresas de cada um dos sectores de actividade alcançou, em Portugal, a certificação de qualidade e criou uma cultura de melhoria contínua? Quantas PME? Quantos hotéis? E que percentagem de cada um dos diferentes tipos de serviços públicos? Quantas repartições de finanças?
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O aumento da produtividade e da competitividade, a crescente globalização dos mercados de trabalho, a mobilidade e a necessidade de pôr em prática o princípio da aprendizagem ao longo da vida, implicam uma crescente estandardização dos sistemas de qualificação de competências, que em muito ultrapassa as fronteiras da UE e o Quadro Europeu de Referência das Qualificações para a Aprendizagem ao Longo da Vida (QEQ). O Sistema Nacional de Qualificações português e o Programa Operacional Potencial Humano do QREN teriam vantagem em promover consultas com organizações de países que têm avançado com segurança neste caminho, como é o caso da Australia e de Singapura. ‘The Singapore Workforce Skills Qualifications’ (WSQ)* é um sistema integrado de formação contínua, reconhecido pelos empregadores e validado pela indústria, que entre outros aspectos melhora os programas de gestão de desempenho, suporta o desenvolvimento das ‘job descriptions’, insuficientemente aplicadas em Portugal, facilita a avaliação de competências e a análise de necessidades de formação. O sistema integra ainda um sistema de acreditação e de garantia da qualidade das organizações formadoras, dos programas de formação e dos formadores.
Os governos têm de garantir que o investimento feito pelas empresas e pelos cidadãos na permanente melhoria das qualificações e competências tem reconhecimento inquestionavel a uma escala cada vez mais global. E, por isso, torna-se necessário uma estandardização de políticas, procedimentos e práticas da formação ao longo da vida, com rigorosa validação e avaliação.*(http://wsq.wda.gov.sg)
Wednesday, May 30, 2007
30-05-2007: Acordos a Oriente
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/999851.html
Multiplicaram-se os acordos de livre comércio (ALC) bilaterais, regionais, entre blocos económicos, mudando significativamente os contextos em que as empresas operam. Estarão as empresas portuguesas atentas para tirar partido dos acordos de livre comércio com e entre países asiáticos?
Os ALC são autoestradas que conectam economias e mercados. São instrumentos criados para promover uma maior fluidez dos mercados. Através deles eliminam-se barreiras comerciais entre países e reduzem-se tarifas aduaneiras no comércio de bens e serviços. Incluem, com cada vez maior frequência, cláusulas relativas ao comércio electrónico, ao ambiente e às condições de trabalho, à protecção da propriedade intelectual, ao equilíbrio da balança comercial, às regras de origem, às salvaguardas e procedimentos respeitantes a consultas recíprocas e à resolução de conflitos.
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Com os acordos do GATT e a criação da OMC caminhou-se no sentido duma integração económica mundial. À visão dos líderes americanos e aos fundadores da EFTA e do Mercado Comum europeu, a ocidente, juntou-se a oriente o dinamismo de Singapura, do Japão, da Nova Zelândia e da Austrália.
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A ocidente, os EUA assinaram um ALC com o Canada, em 1988, alargando-o, em 1994, ao México (NAFTA). Mas, logo em 2000, os EUA lançaram as negociações com Singapura para o primeiro ALC com um país asiático. Dois anos mais tarde os EUA iniciaram um aprofundamento deste relacionamento económico com a ASEAN através duma iniciativa denominada The Entreprise for Asean Initiative (EAI), em ordem a criar uma rede de ALC bilaterais com os países do sudeste asiático membros da OMC. A estes países foi-lhes exigido que assinassem préviamente um ‘Trade and Investment Framework Agreement’ (TIFA) antes de negociarem um ALC. As relações dos EUA com a Indonésia, Filipinas e Tailândia estão, ainda hoje, enquadradas por um TIFA. Mas, em Maio de 2003, os EUA e Singapura assinaram o primeiro ALC com um país da ASEAN, que começou a ser implementado em Janeiro de 2004. Está iminente a celebração do ALC EUA-Malásia.
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A UE apenas iniciou conversações com a China, em 2006, para celebrar ‘The Partnership and Cooperation Agreement’. Mas, já então, encetara conversações prévias para concluir um ALC com a ASEAN. Em 2004, a UE lançou ‘the Transregional EU-ASEAN Trade Initiative’ tendo os dois blocos acordado iniciar negociações formais para um ALC em 4 de Maio de 2007. Espera-se a sua conclusão apenas em 2015, altura em que a ASEAN terá constituido o seu próprio mercado comum. Mas é convicção geral que muito antes dessa data a UE alcançará ALC bilaterais com Singapura e com a Malásia.
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Singapura tem, de facto, assumido desde os anos 90 uma forte liderança no movimento da globalização, bem visível nos treze acordos que já subscreveu. O primeiro ALC do Japão foi celebrado com Singapura e entrou em vigor em Novembro de 2002. Para além dos ALC com a Nova Zelândia, EFTA, Australia, EUA, Canadá, Jordânia e Coreia, Singapura concluiu em 2005 um Acordo de Cooperação Económica (CECA) com a Índia e iniciou conversações com a China no sentido de alcançar a breve trecho um ALC que aumenta os benefícios já hoje concedidos pelos acordos China-ASEAN (ACFTA). Deste modo os exportadores e investidores, nacionais ou estrangeiros, baseados em Singapura disfrutam de um vasto conjunto de benefícios na sua relação com os países com quem celebrou ALC, desde a redução das tarifas aduaneiras, acesso preferencial a certos sectores e rápida entrada nos mercados, bem como protecção da propriedade intelectual.
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As estratégias de internacionalização das empresas portuguesas têm de ter em consideração as redes de ALC. As PME como as grandes empresas necessitam de uma decisão fundamentada sobre os países onde devem ser concentrados os primeiros esforços na Ásia e sobre a estratégia de entrada. Há países mais fáceis, há mercados mais transparentes, com maior poder de compra. Há mercados que exigem maior adaptação dos produtos e serviços. Novos mercados exigem estudos de mercado, ‘marketing’ adaptado, literatura na língua local. Todos os mercados exigem tempo, atenção e signficativos recursos financeiros.
Wednesday, May 16, 2007
16-05-2007: Diplomacia económica articulada
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/994119.html
A diplomacia económica é essencial ao desenvolvimento económico de Portugal e, por isso, tem de ser decididamente activa, proactiva, mesmo enérgica. A sua acção tem de pautar-se pela máxima eficácia possível. A sua intervenção tem de potenciar os esforços das PME às grandes empresas, das universidades e de outros centros de investigação científica e tecnológica e de entidades públicas envolvidas na expansão das exportações, na captação de investimentos, na celebração de parcerias e na promoção do turismo. Sem esquecer que a ajuda ao desenvolvimento, uma outra forma de diplomacia económica, pode e deve constituir um catalisador de relações comerciais a médio e longo prazo.
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Basílio Horta sugeria recentemente que para lidar com o desconhecimento dos mercados na China e na Índia é “fundamental uma boa articulação entre a nossa diplomacia, a diplomacia económica e as empresas”. Um excelente princípio que, naturalmente, enriquece a multifacetada intervenção diplomática e de que devem extrair-se as devidas consequências.
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No comércio internacional o grau de conhecimento prévio dos mercados constitui um critério relevante para determinar o grau de articulação necessária entre diplomacia, diplomacia económica e empresas. Ora existindo sempre um desconhecimento relativo de alguns mercados em qualquer país recomendar-se-ía uma presença diplomática em todos os países parceiros comerciais de Portugal e justificar-se-ía aí uma boa articulação entre diplomacia e empresas. Mesmo em países europeus existem múltiplos aspectos legais, muitas práticas empresariais desconhecidas e hábitos de consumo que aconselham um tal suporte.
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Mas, porque os recursos são limitados, têm de ser estabelecidas prioridades que tenham em consideração quer a relevância das trocas comerciais actuais, quer o potencial de expansão num futuro próximo quer a eficácia provável da sua acção. Assegurar a melhor articulação entre empresas e o aparelho diplomático nos EUA e em Angola é absolutamente indispensável já que constituem os dois mais importantes mercados extracomunitários de bens e serviços portugueses. Ter uma rede diplomática a apoiar as empresas portuguesas na China é uma urgência. Porque a China, que no primeiro trimestre do ano ficou na décima posição como destino das nossas exportações extracomunitárias, será em pouco mais de vinte anos a segunda potência económica mundial, tendo actualmente 1,3 mil milhões de pessoas e uma classe média de 200 milhões de consumidores. Tenha-se bem presente o facto de investirem hoje na China mais de 550.000 empresas estrangeiras, entre elas um muito reduzido número de portuguesas.
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Portugal tem Embaixada em oito dos dez mais importantes clientes extracomunitários, mas não tem Embaixada nos países que no primeiro trimestre de 2007 ocupam a terceira e quarta posição como mais importantes clientes portugueses extracomunitários: Singapura e Malásia. Os dois países do sudeste asiático passaram a deter em conjunto 11,6% do total das exportações extracomunitárias. As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660%, em relação a igual período do ano passado, e seguem um padrão de exportações semelhante ao de Singapura, já que 87% são produtos electrónicos, entre estes circuitos integrados . A exploração de outros mercados, por parte das empresas portuguesas, só teria a ganhar com a abertura duma Embaixada nestes países e com o desenvolvimento duma forte articulação com a nossa diplomacia.
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A recente reforma consular não contemplou a Ásia. Tal facto só poderá justificar-se pela vontade de realizar uma avaliação apropriada da rede diplomática e consular do continente onde vive a maior parte da população do planeta. Será aconselhavel reforçar sem delongas a representação portuguesa na Ásia. Porque hesitações nesta matéria terão custos económicos elevados no médio e longo prazo. Singapura não perde oportunidades e, por isso, tem na China consulados gerais em Xangai, Guangzhou, Xiamen, Hong Kong e um consulado em Chengdu, além da Embaixada em Pequim. A Ásia requer acções consequentes, sustentadas e sustentáveis.
Wednesday, May 2, 2007
02-05-2007: Investir nas Pessoas
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/979103.html
O mais recente anúncio da contratação de mil investigadores doutorados traduz um inquestionável reforço da política de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico cuja vitalidade estava já bem à vista através do muito significativo aumento do número de bolsas de doutoramento e de pós doutoramento financiadas directamente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. As parcerias internacionais, já celebradas, começam a dar resultados e algumas grandes empresas portuguesas e multinacionais assumiram um papel relevante neste processo.
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Porém, é expectável que o sector privado se empenhe cada vez mais neste esforço nacional. Tome-se, como exemplo, Singapura que investiu 2,5% do PIB em I&D, em 2005, e que pretende alcançar anualmente os 3% do PIB já em 2010. O Governo da cidade-estado injecta na investigação e desenvolvimento, em 2007, cerca de 1.000 de euros milhões a que acrescerá o investimento do sector privado. No ano de 2005 as empresas responsabilizaram-se por cerca de 66% do investimento em I&D, contribuindo com cerca de 1.500 milhões de euros. Entre os investigadores, 60% trabalha para o sector privado. Integra este movimento a Infineon que anunciou, há dias, ir investir, em Singapura, 200 milhões de euros em I&D, recrutando 150 novos investigadores e fazendo subir para 550 o número de engenheiros dedicados a I&D nesta empresa local.
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Mas o investimento em I&D, em Portugal, por parte das empresas tem ainda expressão minoritária. As empresas multinacionais foram as primeiras a avançar porque reconhecem que da I&D depende a sua posição no mercado global. A questão está em saber como induzir nas empresas nacionais idêntica atitude. Investir em I&D também é um comportamento inovador para as empresas e como tal deve ser abordado. Devem investigar-se os factores que podem contribuir para a difusão da I&D. Que factores predisponentes, facilitadores e de reforço podem levar as empresas a investir em I&D. Sabe-se, também, que o comportamento inovador se distribui numa “população” segundo a curva de Gauss. Assim teremos que os inovadores representam 2,5%, os ‘early adopters’ 13,5%, a ‘early majority’ 34%, tal como a ‘late majority’ (34%) e os ‘laggards’ constituem 16%. Estamos, porventura, ainda longe de ter 2,5% das empresas de Portugal a investir em I&D. Há, pois, que aliciar mais empresas predispostas para participarem na promoção da I&D, facilitar-lhes os mecanismos de integração e reforçar-lhes a apetência por inovarem na concepção dos seus produtos e/ou serviços, na reengenharia dos seus processos de produção, no redesenho da sua organização, na redefinição do seu modelo de negócio, na elaboração do seu plano estratégico, na adaptação a novos mercados, na sua internacionalização. Há que identificar os 2,5% de empresas (e empresários) potencialmente inovadoras, de cada sector de actividade, e apoiá-las na definição da sua política de I&D e na procura dos recursos necessários quer financeiros, quer humanos. Sem esquecer os ‘clusters”.
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Portugal está, finalmente, a reabrir-se ao talento estrangeiro e deve-o fazer de forma deliberada. Cabe aqui lembrar que entre os 4,5 milhões de habitantes da progressiva Singapura, existem 756.300 estrangeiros, isto é, 30% da população activa. Destes, 110.000 são quadros profissionais e cerca de duas dezenas são portugueses. Muitos daqueles são doutorados, mestres ou simplesmente pós graduados. Sem profissionais altamente qualificados nacionais e estrangeiros, capazes de pensar, de modelar e de influenciar o futuro não há desenvolvimento. E, por isso, a cidade-estado criou o programa People Developer para estimular as empresas a investirem nos seus colaboradores. O People Developer avalia a excelência do negócio com base na qualidade do exercício da Liderança, do Planeamento, da Informação, das Pessoas e dos Resultados.
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A marca Portugal deve muito aos desportistas portugueses, aos portugueses que ocupam posições de elevada responsabilidade, quer em organizações supranacionais púbicas quer em empresas multinacionais. Mas deve sobretudo aos empresários e aos seus colaboradores. São as pessoas que fazem o sucesso das empresas e que fazem o sucesso de uma nação.
Wednesday, April 18, 2007
18-04-2007: Direcção China
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/965164.html
Portugal não tem tempo a perder. A necessidade de se colocar ao nível dos países mais avançados requer que as forças económicas e sociais, as elites e os media se focalizem deliberadamente em prioridades nacionais. Multiplicar significativamente o investimento, aumentar a competitividade, acelerar as exportações de bens e serviços constituem os mais importantes objectivos nacionais, sem os quais não haverá crescimento sustentavel nem sociedade de bem estar.
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As iniciativas facilitadoras do Presidente da República e do primeiro-ministro e de algumas associações não desencadearam ainda um forte movimento de empresários disponíveis para intervir na Àsia, na Índia e na China, para avaliarem as potencialidades e as oportunidades destes mercados para as suas empresas, para os estudarem detalhadamente e para elaborarem uma estratégia de internacionalização naquelas paragens, para experimentarem o lançamento de um projecto num destes países ou para reproduzirem uma experiência positiva, expandindo-se na Índia, na China, no Vietname, na Tailândia, na Malásia ou em Singapura.
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Mudar de atitude é aconselhavel já que, nomeadamente, a China oferece oportunidades que as empresas portuguesas ganhariam em explorar. Uma delas respeita à possibilidade, desde 1 de Março de 2006, de abrir uma ‘Foreign Investment Commercial Entreprise’ (FICE), quer para comércio grossista quer de retalho, sendo o processo submetido à ‘Foreign Economic Relation and Trade Commission’ das câmaras locais. Uma outra alternativa consiste em investir num parque industrial acedendo a incentivos e outras facilidades. Em toda a China existem, hoje, mais de 270 parques, sendo certo que o seu sucesso está associado à localização e à qualidade da infraestrutura e da sua gestão.
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Em 26 Fevereiro de 1994, o vice primeiro-ministro chinês Li Lanqing e o ministro sénior de Singapura Lee Kuan Yew assinaram um acordo para desenvolverem o Suzhou Industrial Park (SIP), perto de Xangai, como um parque de alta tecnologia, internacionalmente competitivo, integrado numa cidade jardim moderna e cosmopolita. Dez anos mais tarde, o primeiro-ministro Wen Jiabao considerou-o o parque industrial mais competitivo da Ásia. Com um capital de $125 milhões de dólares, repartido entre outros pelo China Consortium (52%) e pelo Singapore Consortium (28%), o China-Singapore Suzhou Industrial Park Development Co, Ltd (CSSD) tem mais de 2000 empresas estrangeiras. A taxa de crescimento anual sustentada do SIP é de 40%.
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O Suzhou Industrial Park, com uma área de 70 km2 baseou-se num sistema integrado de planeamento com um avançado sistema de gestão. Além de uma excelente infraestrutura, na qual se incluem os serviços de telecomunicações e serviços postais, possui um serviço de segurança e de prevenção de acidentes, um serviço médico de emergência, várias clínicas e um hospital, fruto do investimento estrangeiro. A Administração do SIP tem autonomia para aprovar os projectos de investimento estrangeiros que estejam de acordo com as políticas nacionais. Três dias é o tempo necessário para criar uma empresa no SIP. O seu sistema logístico dispõe de alfandega própria e de um ‘Bonded Logistic Center’. O Air Land Transhipment Model permite o processo de desalfandegamento e o transporte dos produtos do porto à empresa em 5 horas. O SIP integra ainda uma ‘Export Processing Zone’, o ‘International Science Park’, o SIP ‘Science Hub’, o ‘SIP Bio Bay’, o ‘Innovation Industrial Park’ e o ‘Dushu Lake Higher Education District’ que atraiu 15 universidades. A Administração do SIP tem poderes delegados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para autorizar visitas oficiais e conceder vistos. O SIP tem, também, um sistema de segurança social de capitalização, baseado no modelo do ‘Central Provident Fund’ de Singapura, que funciona como um seguro de saúde, garantindo o subsídio de doença e o pagamento de despesas de saúde, a pensão de reforma e permite a utilização parcial do capital para aquisição de habitação.
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Importa alargar e aprofundar o debate, acelerar decisões, ganhar mais e melhor posição na China.
Wednesday, April 4, 2007
04-04-2007: Representação Externa
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/882301.html
Os ministérios dos Negócios Estrangeiros operam, hoje, num clima de permanente desafio interno e externo. A reavaliação da organização da diplomacia, a procura da sua eficácia e da sua eficiência é evidente quer por parte das grandes potências quer dos pequenos países. O Quai d’Orsay reorganiza-se e muda-se para fora de Paris. O Foreign and Commonwealth Office do Reino Unido procedeu a um exercício de racionalização da sua representação diplomática no mundo em 2004. A emergência e reforço do MNE europeu, por outro lado, tem consequências a nível da estruturação e do funcionamento dos MNE nacionais, já hoje, mas sobretudo no futuro. Poderão as funções consulares vir a ser assumidas a nível da UE? E a ajuda ao desenvolvimento? Solana questionava, em 2002: É a eficácia dos 40.000 diplomatas da UE quatro vezes superior à dos 10.000 dos EUA? O alargamento da UE, e a sua consolidação, constituem, sem qualquer dúvida, uma oportunidade para repensar o que devem ser as competências de representação externa da União e o que deve permanecer com os Estados. A globalização e a regionalização, a vontade e a necessidade política de envolvimento internacional, a percepção de necessidades crescentes, o prestígio e o simbolismo da função e, ainda, a limitação de recursos, concorrem para a revisão das estruturas, dos padrões e das redes de representação diplomática.
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É, também, neste contexto que importa suscitar o debate sobre o tipo de representantes que Portugal deve ter no exterior. Apenas embaixadores de carreira, residentes e não residentes. Embaixadores políticos? Embaixadores económicos? Embaixadores acreditados num dado país mas residentes em Portugal?
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Pequenos países têm optado por modelos mistos quer por razões de escassez de recursos quer por necessidade de garantir a eficácia da representação. O Governo de Singapura acaba de nomear os seus embaixadores na Áustria, República Checa e Eslováquia. Todos manterão a sua residência em Singapura. Jennie Chua, embaixadora designada na Eslováquia, é actualmente chief strategic relations officer da CapitaLand, membro do conselho de administração da Workforce Development Agency, da Singapore International Chamber of Commerce e membro do World Travel and Tourism Council. É graduada pela School of Hotel Administration da Cornell University. Soo Kok Leng, próximo embaixador na Áustria, é chairman da JTC Corporation, governador da Singapore-China Foundation, membro do Singapore-Liaoning Economic and Trade Council e professor auxiliar da faculdade de engenharia da NUS. O embaixador designado para a República Checa é Tan Soo Khoon, um homem de negócios que foi deputado durante trinta anos, tendo exercido a função de presidente da Asean InterParliamentary Organization.
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Encontramos, também, entre grandes nações o recurso a outras fontes de recrutamento. Actualmente, entre os 108 embaixadores da Índia, 7 não são diplomatas de carreira. Em Agosto de 2002, o MNE japonês introduziu a regra de que 20% dos seus embaixadores teriam origem fora do seu MNE e que outros 20% não seriam embaixadores de carreira. Os EUA têm cerca de 170 embaixadores acreditados pelo mundo, 31% dos quais não são de carreira. Esta percentagem tem-se mantido razoavelmente estavel desde 1961. Kennedy e Reagan nomearam 32% de embaixadores “políticos”. Carter apenas nomeou 24% fora da carreira. Mas poucos de entre estes são embaixadores “políticos”. Na sua maioria têm origem no mundo dos negócios. Ellsworth Bunker, David Bruce, Claire Booth Luce, Mike Mansfield figuram entre os destacados embaixadores dos EUA que não pertenciam à carreira diplomática.
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O vector mais poderoso desta mudança parece estar na importância atribuída à diplomacia económica. Como afirma Rik Coolsaet, professor de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da Universidade de Gent, Bélgica, “diplomatas de muitos países não fazem segredo que a sua principal tarefa consiste, agora, em cuidar dos interesses comerciais do estado que representam”(1).
(1) ‘In Rik Coolsaet, Historical Patterns in Economic Diplomacy, From Protectionism to Globalisation, The case of Belgium, International Studies Association 2001 Convention, Chicago, USA’