Wednesday, June 25, 2008

25-06-2008 Que Estratégias?

Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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A incapacidade de Portugal para se relacionar eficazmente com as economias asiáticas não é um problema recente. Nem é, apenas, uma dificuldade menos bem resolvida pelo Estado. O facto é que nem as entidades públicas nem os líderes privados acertaram no ‘mix’ de políticas e de estratégias para que Portugal se tivesse transformado num parceiro relevante nas Ásias.
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Empresas portuguesas estão presentes em países asiáticos. A questão mais relevante não respeita, pois, à viabilidade da entrada nos mercados. A questão fundamental tem a ver com o reduzido número de empresas portuguesas que avançou para os países asiáticos. O que explica tão insignificantes volumes de importação de Portugal, tão reduzidas quotas de mercado detidas pelos produtos portugueses em cada um dos países asiáticos? Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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Segundo os dados do Ministério do Comércio chinês, em 2007 a China importou 956 mil milhões de dólares americanos. Destes, 111 mil milhões de dólares couberam à UE. A China apenas importou mercadorias no valor de 385 milhões de dólares de Portugal. O que representa, apenas, 0,0004 das importações da China em 2007. Uma insignificância. E nem chega a 0,5% do total das importações da China com origem na UE. Da Dinamarca e da Irlanda a China importou cinco vezes mais do que de Portugal. E, da Finlândia, dez vezes mais. Mais revelador é que, no ano passado, a China tenha importado da República Checa mais do dobro do que importou de Portugal. As importações da China com origem na UE cresceram 22,4%, entre 2006 e 2007. Neste mesmo período as importações oriundas da República Checa deram um salto de 60.8%. Mas as que tiveram origem em Portugal apenas aumentaram 8,7%. E nos quatro primeiros meses de 2008 as importações da China, com origem em Portugal, caíram 37,9%, quando as do conjunto da UE cresceram 25,4%, as da República Checa aumentaram 35,8%, as da Irlanda 38% e as da Dinamarca 60%. Alarmante!
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Fraco desempenho é igualmente demonstrado por Portugal no Japão. Segundo o Ministério das Finanças do Japão, dos 7,7 mil milhões de ienes importados da UE, no ano de 2007, apenas couberam a Portugal uns escassos 20 milhões de ienes. Isto é, 0,26 % do volume de importações da UE e, apenas, um terço do importado da República Checa pela nação nipónica. As importações do Japão com origem na República Checa ultrapassaram as de Portugal no ano 2000 e, em 2005, já as duplicavam. Em 2007, o Japão importou da Dinamarca doze vezes mais que de Portugal e, da Irlanda, 24 vezes mais. Desconcertante!.
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Débil é também a penetração dos produtos portugueses na Coreia do Sul. De acordo com as estatísticas da Coreia do Sul, esta importou de Portugal apenas 202 milhões de dólares em 2007, o que corresponde a 0,00057 do total das suas importações e a 0,0042 do total das suas importações da Europa. Da República Checa importou, no ano passado, 369 milhões de dólares, da Dinamarca 702 milhões de dólares e da Irlanda 835 milhões de dólares. A agravar esta situação está o facto de as importações da Coreia do Sul com origem em Portugal, entre Janeiro e Maio de 2007, terem alcançado 131,7 milhões de dólares e, em igual período de 2008, se terem ficado pelos 33,5 milhões de dólares.
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Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. O governo, a oposição, os líderes das associações empresariais, os empresários, os directores de marketing das empresas só podem acusar-se a si próprios. Porque os países europeus com os quais Portugal se compara estão sujeitos aos mesmos constrangimentos. Estão sujeitos à mesma sobrevalorização do euro. Têm o mesmo problema da língua e das diferenças culturais. Os seus bons resultados deveriam servir de referência. As suas estratégias deveriam servir de exemplo. Eles não precisaram da protecção da UE para vingarem em terras do Oriente. As suas iniciativas, os seus acordos, as suas parcerias, as suas redes, as suas estratégias e tácticas, as suas relações pessoais e institucionais enraizaram-se e deram frutos.
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Portugal está anémico. Que o sol de verão lhe traga a energia que necessita para encontrar as melhores estratégias para vencer nas Ásias.