Wednesday, October 17, 2007

17-10-2007 Riqueza e Responsabilidade

Com a riqueza criada podem satisfazer-se as necessidades da população, aumentar o emprego e erradicar a pobreza.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1046851.html

A primeira responsabilidade de uma sociedade consiste em criar e acumular riqueza. Com a riqueza criada podem satisfazer-se as necessidades da população, aumentar o emprego e erradicar a pobreza. Mas enquanto na China ou em Singapura a riqueza e a prosperidade são os mais poderosos factores de mobilização colectiva e individual, a mentalidade dominante em Portugal continua a bloquear o desejo de fortuna. Os portugueses estão decisivamente a precisar de muito mais ambição. Para transformarem as suas vidas e a sua nação.
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Em Portugal a riqueza é considerada um mal. Os que a alcançam são olhados de soslaio. Algumas interpretações da tradição judaico-cristã influenciaram sobremaneira o modo como se consideram os bens materiais. Um extracto do Novo Testamento serviu para cristalizar esta mentalidade: “em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus”. Assim, todos os que criam riqueza são vistos como feridos de indignidade. Os empresários são, a esta luz, condenados. Em contraponto, o Estado, qual agente distribuidor da riqueza por outros criada, emerge como a fonte de toda a bondade. O problema não está na criação da riqueza. Está na forma como ela é utilizada pelos que tiveram a ousadia e a capacidade de a criar.

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As transformações que têm lugar no actual momento da vida económica mundial obrigam a uma rápida reconstrução destas nossas mentalidades. Numa economia cada vez mais dominada pelo desenvolvimento da China e da Índia torna-se imperioso que os portugueses tenham uma visão clara do que querem que seja o seu futuro económico e do que querem que seja o seu lugar na economia global. E que construam laboriosa e sistematicamente esse posicionamento diferenciado. Os portugueses têm de se assumir mais como criadores e não como meros consumidores dos produtos e dos projectos alheios. Têm de ser mais curiosos, de organizar melhor, de trabalhar melhor, de conceber mais, de inovar mais. Os portugueses precisam de ter mais desejo de criar novas empresas de sucesso para reproduzir noutros pontos de Portugal e expandir pelo mundo. Devem querer assumir riscos. Devem ambicionar tornar-se empresários ricos, fruto de boas estratégias de gestão e através do desenvolvimento de empresas de grande qualidade na sua organização, nos serviços prestados, nos bens produzidos e no bem estar dos seus colaboradores. Sem precisarem de recorrer ao pagamento de salários indignos ou ao abuso do trabalho de estagiários sem remuneração.

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Os portugueses devem admirar e valorizar os que enriqueceram honestamente. No país e no estrangeiro. Devem querer aprender com os seus sucessos e insucessos. Em contrapartida, a sociedade deve esperar dos cidadãos afluentes contributos significativos que levem à criação de melhores condições de enriquecimento colectivo e à resolução de problemas das populações. Portugal deve poder esperar dos empresários mais bem sucedidos contributos significativos para o desenvolvimento do ensino e da investigação aplicada, fontes primordiais do crescimento económico e do desenvolvimento global.
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António Champalimaud deixou a sua marca em Portugal e no mundo, com a sua extraordinária doação de 500 milhões de euros para a criação duma Fundação dedicada à investigação científica. Cidadãos afluentes de Singapura têm, igualmente, demonstrado uma evidente postura ética. A Lee Foundation, do banqueiro e ‘Rubber and Pineapple King’, Lee Kong Chian, ofereceu 50 milhões de dólares para a criação da Singapore Management University e 60 milhões de dólares para a criação da Singapore National Library. Wong Kwok Leong, e sua mulher, doaram um milhão de dólares para o Wong Kwok Leong Endowed Scholarship, a fim de apoiarem alunos da Singapore Management University. A família do banqueiro e industrial de hotelaria Khoo Teck Puat contribuiu com 80 milhões de dólares para o desenvolvimento da investigação biomédica na Duke-National University of Singapore Graduate Medical School e, ainda, com 125 milhões de dólares para a construção dum hospital de 550 camas no distrito de Yishun em Singapura. Este é o modelo de cidadãos ricos e socialmente responsáveis.