Wednesday, May 16, 2007

16-05-2007: Diplomacia económica articulada

As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660% e seguem um padrão semelhante ao de Singapura.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/994119.html

A diplomacia económica é essencial ao desenvolvimento económico de Portugal e, por isso, tem de ser decididamente activa, proactiva, mesmo enérgica. A sua acção tem de pautar-se pela máxima eficácia possível. A sua intervenção tem de potenciar os esforços das PME às grandes empresas, das universidades e de outros centros de investigação científica e tecnológica e de entidades públicas envolvidas na expansão das exportações, na captação de investimentos, na celebração de parcerias e na promoção do turismo. Sem esquecer que a ajuda ao desenvolvimento, uma outra forma de diplomacia económica, pode e deve constituir um catalisador de relações comerciais a médio e longo prazo.
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Basílio Horta sugeria recentemente que para lidar com o desconhecimento dos mercados na China e na Índia é “fundamental uma boa articulação entre a nossa diplomacia, a diplomacia económica e as empresas”. Um excelente princípio que, naturalmente, enriquece a multifacetada intervenção diplomática e de que devem extrair-se as devidas consequências.
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No comércio internacional o grau de conhecimento prévio dos mercados constitui um critério relevante para determinar o grau de articulação necessária entre diplomacia, diplomacia económica e empresas. Ora existindo sempre um desconhecimento relativo de alguns mercados em qualquer país recomendar-se-ía uma presença diplomática em todos os países parceiros comerciais de Portugal e justificar-se-ía aí uma boa articulação entre diplomacia e empresas. Mesmo em países europeus existem múltiplos aspectos legais, muitas práticas empresariais desconhecidas e hábitos de consumo que aconselham um tal suporte.
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Mas, porque os recursos são limitados, têm de ser estabelecidas prioridades que tenham em consideração quer a relevância das trocas comerciais actuais, quer o potencial de expansão num futuro próximo quer a eficácia provável da sua acção. Assegurar a melhor articulação entre empresas e o aparelho diplomático nos EUA e em Angola é absolutamente indispensável já que constituem os dois mais importantes mercados extracomunitários de bens e serviços portugueses. Ter uma rede diplomática a apoiar as empresas portuguesas na China é uma urgência. Porque a China, que no primeiro trimestre do ano ficou na décima posição como destino das nossas exportações extracomunitárias, será em pouco mais de vinte anos a segunda potência económica mundial, tendo actualmente 1,3 mil milhões de pessoas e uma classe média de 200 milhões de consumidores. Tenha-se bem presente o facto de investirem hoje na China mais de 550.000 empresas estrangeiras, entre elas um muito reduzido número de portuguesas.
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Portugal tem Embaixada em oito dos dez mais importantes clientes extracomunitários, mas não tem Embaixada nos países que no primeiro trimestre de 2007 ocupam a terceira e quarta posição como mais importantes clientes portugueses extracomunitários: Singapura e Malásia. Os dois países do sudeste asiático passaram a deter em conjunto 11,6% do total das exportações extracomunitárias. As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660%, em relação a igual período do ano passado, e seguem um padrão de exportações semelhante ao de Singapura, já que 87% são produtos electrónicos, entre estes circuitos integrados . A exploração de outros mercados, por parte das empresas portuguesas, só teria a ganhar com a abertura duma Embaixada nestes países e com o desenvolvimento duma forte articulação com a nossa diplomacia.
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A recente reforma consular não contemplou a Ásia. Tal facto só poderá justificar-se pela vontade de realizar uma avaliação apropriada da rede diplomática e consular do continente onde vive a maior parte da população do planeta. Será aconselhavel reforçar sem delongas a representação portuguesa na Ásia. Porque hesitações nesta matéria terão custos económicos elevados no médio e longo prazo. Singapura não perde oportunidades e, por isso, tem na China consulados gerais em Xangai, Guangzhou, Xiamen, Hong Kong e um consulado em Chengdu, além da Embaixada em Pequim. A Ásia requer acções consequentes, sustentadas e sustentáveis.