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A segurança politico-militar constituiu, ao longo dos séculos, a principal preocupação da política externa. A segurança económica é, hoje, o principal enfoque dos governos nas suas relações bilaterais, sub-regionais, regionais e multilaterais. A geoeconomia tomou o lugar da geopolítica. A competição económica sobrepõs-se à competição ideológica.
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Cada país procura garantir a sua segurança económica. Através da sua capacidade económica e da relação com o ambiente económico externo. Países com estrutura económica forte, sistema político estavel e posição internacional relativamente superior influenciam a economia global. Os outros, como Portugal ou Singapura, têm de desenvolver as suas capacidades de adaptação às mudanças da economia global, melhorando a eficiência económica, a sofisticação tecnológica da sua economia e a qualidade.
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Para assegurar a segurança económica, cada país tem de garantir o acesso a recursos naturais, tecnológicos e humanos, ao crédito no sistema internacional, aos mercados. Tem de ter a capacidade de gerar produtividade, prosperidade e bem estar. A capacidade de manter o seu paradigma socio-económico. A capacidade de gerir os problemas transfronteiriços (migrações, poluição, trafego de droga), de manter e desenvolver parcerias económicas com actores públicos e privados e de contribuir para a estabilidade do sistema económico internacional.
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A política económica externa e a diplomacia económica ganharam, com a globalização, uma importância que jamais haviam alcançado na optimização de oportunidades e na minimização de riscos e ameaças. Os responsaveis pela política económica externa devem supostamente ter uma visão estratégica com horizontes largos (geoeconómicos) e de longo e muito longo prazo. A procura de resultados efectivos na política económica externa exige clareza nos objectivos, liderança, desenvolvimento de redes de comunicação e informação, consulta permanente. A diplomacia económica requer muita iniciativa, muita pesquisa, abordagens incrementais e um grande sentido de oportunidade. E, sobretudo, muito empenhamento, persistência e acção.
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Acção é o que não tem faltado à política externa e à diplomacia económica de Singapura. Um país sem quaisquer recursos naturais: nem petróleo, nem gás natural nem água. Para o fornecimento de água fez um acordo com a Malásia válido por 99 anos.
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Desde 2005 tem vindo a desenvolver uma ofensiva diplomática no Médio Oriente com os olhos postos no petróleo mas também em muitos outros projectos. Lee Kuan Yew, ex-primeiro ministro e actual ministro mentor visitou, em Novembro do ano passado, o Dubai e o Qatar. Em Janeiro deste ano voltou ao ao Qatar e foi ao Abu Dhabi. Em Março esteve na Arábia Saudita. Em Outubro, o vice primeiro-ministro Wong Kang Seng esteve no Qatar. Lee Kuan Yew visitou já em Novembro o Kuwait e, de novo, o Abu Dhabi. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong acaba de chegar de uma visita à Arábia Saudita e ao Qatar, onde foi acompanhado de vários ministros dos negócios estrangeiros, finanças, comércio e indústria, transportes e ambiente e de 17 empresas de Singapura a quem desafiou para tirarem partido das oportunidades no Médio Oriente onde o retorno dos investimentos será mais rápido que na Índia ou na China. O comércio bilateral com a Arábia Saudita situou-se, em 2005, nos US$10 biliões e com o Qatar nos US$4 biliões. Mas a China e a Índia são a grande aposta de futuro de Singapura. É que o acesso aos mercados externos é crucial para gerar a prosperidade interna e, estes, são os mais próximos gigantes. Com um posicionamento não proteccionista, Singapura tem apoiado as negociações ao nível da OMC; promovido a rápida integração económica dos países da ASEAN, construido acordos de livre comércio regionais e bilaterais (EUA, Canada, Japão, México, Chile, Australia, Nova Zelândia, Coreia do Sul). E acaba de lançar as negociações para um acordo com as nações do Golfo e de estabelecer um pacto com a região italiana Emilia Romagna. A iniciativa da criação do ASEM, da ASEAN-MERCOSUR e do Forum com a América Latina (EALAF) a Singapura pertencem. Um país bem adaptado, com um crescimento esperado de 7,5 a 8% para 2006.