Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro. Faz-lhes falta pensar, ter estratégia, ter projecto.
.
Uma andorinha não faz a primavera mas sempre a pré-anuncia. O mesmo significado tem a notícia de que mais uma empresa portuguesa se interessa pelo mercado chinês. Mas este interesse pelos mercados asiáticos continua a ser muito diminuto e a mudança de atitude por parte das empresas portuguesas continua a ser duma lentidão inimaginável, dir-se-ía mesmo dominada pela irracionalidade.
.
Quando o crescimento a Oriente bem poderia compensar as perdas que se estão a sofrer nos tradicionais mercados de exportação nacionais.Durante a maior parte do século XX a economia Mundial foi mobilizada pela Europa e pelos EUA e, parcialmente também, pelo Japão. As restantes economias da Ásia puderam ser praticamente ignoradas. O motor da economia no século XXI será, sem dúvida, a Ásia. A menos que haja um empenhamento da Europa e dos EUA nos mercados asiáticos, no limite, esta região pode vir a prescindir do interesse das empresas do Ocidente tal o nível de desenvolvimento alcançado, o tamanho da sua população e a dimensão dos seus mercados.
.
É completamente inadmissível que, nos primeiros oito meses de 2008, as importações da China com origem em Portugal tenham tido mais uma quebra de 17,6%, em relação a igual período do ano anterior (fonte: mofcom.gov.cn), continuando a perda de ritmo de 2007. Quando ao mesmo tempo, e à semelhança do que ocorrera em 2007, a Irlanda teve um crescimento de 53,% e a Dinamarca de 55,1%. E a Espanha cresceu 39,3%. Quando o volume das importações da China com origem em Portugal não vai além de 13% do volume das importações da Irlanda ou da Dinamarca e de 6% das de Espanha.
.
A China, e toda a Ásia, está mentalmente muito distante de Portugal. Mas não está distante de mais nenhum país europeu. Uma particularidade nacional que justifica a pergunta: será que os (empresários e gestores) portugueses sabem pensar? Porque têm os portugueses medo da Ásia?
.
Governo, associações empresariais e empresas precisam de reflectir seriamente sobre a estratégia a seguir. Os países desenvolvidos têm uma estratégia económica definida, explicitada e publicada em relação à China. Onde está a estratégia portuguesa? Quem a define, quando e como? Quem, como e quando a divulga?
.
Macau é muito importante para Portugal. Mas para a China é o seu parque de diversões. A China tem doze cidades com mais de quatro milhões de habitantes, para além de Pequim e Xangai. Não se chega às cidades da China através de Macau, como não se chega a Paris, Londres ou à Baviera através de Lisboa. A província de Hebei tem 63 milhões de habitantes, mais do que a esmagadora maioria dos países da UE. Há que estabelecer uma relação directa com as cidades capitais de província da China.
.
A representação de Portugal na China deverá ser repensada. A AICEP da Austrália (Austrade) tem escritórios em Pequim, Xangai, Chengdu, Dalian, Guangzhou, Hangzhou, Hong Kong, Kunming, Macau, Nanjing, Ningbo, Qingdao, Shenzhen, Wuhan, Xi’an. A AICEP de Singapura (IE Singapore) tem 45 profissionais em oito escritórios na China, produzindo estudos de mercado para as suas empresas ali estabelecerem uma presença adequada. O volume das importações da China com origem em Portugal, nos oito meses de 2008, representa pouco mais que 1,6% do volume das importações da China com origem em Singapura.
.
Há que enfrentar a vulnerabilidade das exportações para Singapura que têm estado quase totalmente concentradas na actividade de uma só empresa, a maior exportadora portuguesa, que muito recentemente esteve em risco de falência. Reafirma-se o que se vem clamando, há já algum tempo, de que é urgente diversificar o padrão das exportações para Singapura e a Malásia. O desaparecimento da Qimonda poderia significar, não só um profundo rombo no volume global das exportações, mas também o quase completo esvaziamento das relações comerciais com estes países do Sudeste Asiático.
.
O que faz falta aos portugueses não é, em primeiro lugar, dinheiro para investir. O que faz falta é pensar, ter estratégia, ter projecto, ter metodologias eficazes de implementação. Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro.
Bom Natal e um Novo Ano mais inteligente!