Wednesday, November 26, 2008

26-11-2008 Crise e Adaptabilidade

O Governo de Singapura apoia as empresas, ajudando-as a reduzirem os seus custos e a salvarem os postos de trabalho.
As crenças e ideologias partilhadas a nível colectivo, como a nível individual, são factor decisivo na adaptação em tempo de crise e na sua resolução. Numa sociedade onde a interpretação dos factos é predominantemente feita tendo por base o conflito, onde as diferenças são reforçadas, onde os distintos interesses são destacados, a adaptação a novas realidades é penosa, tortuosa e lenta. Onde as crenças e ideologias valorizam a necessidade de manter os sistemas funcionais e integrados, onde os interesses comuns são factores de mobilização, as crises são percebidas como desafios e enfrentadas com pragmatismo, a procura das soluções é partilhada e a adaptação é progressiva e sustentada. A ultrapassagem da crise é um sucesso colectivo.
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Para que a sociedade adopte uma postura mobilizadora em tempo de crise económica é fundamental que o sistema político assegure a harmonia, a justiça social e que concorra para uma sociedade inclusiva.
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Assim, quando numa situação de recessão em que existe excesso de pessoal é aplicado o recurso ao despedimento de uma percentagem significativa de colaboradores, sem que todas as outras opções tenham sido antes consideradas, não se está decerto a demonstrar sentido de responsabilidade social nem a contribuir para manter a harmonia e a justiça social.
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A introdução de flexibilidade no período de prestação de trabalho, a par da redução do tempo semanal de trabalho, e mesmo a cessação temporária do contrato de trabalho, são algumas das alternativas. Outras medidas estão a ser postas em prática por governos dinâmicos, como o de Singapura, que, com uma abordagem tripartida com as associações patronais e os sindicatos, pretende que as empresas mantenham os seus trabalhadores em vez de os despedirem. Foi há dias criado um programa para os próximos dois anos, “The Skills Programme for Upgrading and Resilience” (SPURS), cujos objectivos são, em primeiro lugar, a redução dos custos de pessoal com manutenção dos postos de trabalho, em segundo lugar, o apoio ao desenvolvimento de competências (‘reskill’ & ‘upskill’) dos trabalhadores ou no activo ou desempregados e, em terceiro lugar, o apoio aos empresários e trabalhadores para tirarem partido de novas oportunidades que estão a emergir durante esta fase do ciclo económico. A colocação dos desempregados em novos empregos, em sectores que continuam a crescer, integra este programa. Para além dos 2,3 mil milhões de dólares com que as empresas serão apoiadas para controlarem custos e aumentarem o seu ‘cash flow’, uma verba de seiscentos milhões de dólares será atribuída ao SPURS a fim de apoiar os programas de formação mas também para compensar as empresas com trabalhadores em formação.
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As sociedades cooperam com os seus líderes públicos e privados quando em tempo de dificuldade percebem que também estes fazem sacrifícios. Assim, no próximo ano, o Presidente, o primeiro-ministro, os membros do Governo de Singapura e os directores gerais terão uma redução entre 18 e 19% nos seus salários. Os membros do Parlamento receberão 16% menos. As chefias da função pública terão os seus vencimentos reduzidos em 12%. Todos os funcionários públicos receberão menos um mês de prémio no próximo ano. As empresas públicas seguirão idêntico padrão. Na ‘holding’ pública Temasek, cujo “portofólio” atinge os 130 mil milhões de dólares, os salários dos gestores de topo sofrerão um corte de 15 a 25%.
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A fim de prevenir a ruptura do tecido social o Governo de Singapura apoia as empresas, ajudando-as a reduzirem os seus custos, a manterem-se viáveis e a salvarem os postos de trabalho, e apoia as famílias com rendimentos médios ou baixos, nomeadamente com transferências pecuniárias. Através destas e de outras medidas contracíclicas, nomeadamente do aumento do investimento em infraestruturas e do aumento das despesas públicas, Singapura, país de pequenas dimensões e sem quaisquer recursos naturais, que venceu as crises de 1985, 1998 e 2001/2003, prepara-se uma vez mais para demonstrar a sua capacidade de transformar a adversidade em oportunidade.