Wednesday, September 6, 2006

06-09-2006: Romper com o Etnocentrismo

O desempenho da economia nacional está largamente dependente das exportações e os mercados asiáticos começam a assumir uma relevância crescente.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/685647.html

As relações entre a UE e a Ásia voltam à ribalta com a realização, em Helsínquia nos dias 10 e 11 de Setembro, da 6ª Cimeira Ásia-Europa (ASEM) e do ‘Asia-Europe Business Forum’. Na ASEM terão assento os 25 estados membros da UE, a Comissão Europeia, os dez países da Associação do Sudeste Asiático (ASEAN), a China, o Japão e a Coreia do Sul. A segurança energética, o relançamento das negociações sobre a liberalização do comércio mundial, a globalização, a competitividade e as mudanças estruturais na economia global fazem parte da agenda. Organizado pela Confederação da Indústria Finlandesa terá também lugar o ‘Asia-Europe Business Forum’. Cerca de 400 líderes empresariais dos 38 países da UE e da Ásia discutirão formas de promover o comércio e o investimento e apresentarão recomendações sobre o desenvolvimento da cooperação económica.
A participação de empresários portugueses neste ‘Asia-Europe Business Forum’ é deveras recomendável. Em primeiro lugar, porque permitirá que os seus objectivos, preocupações e expectativas venham a ser reflectidas nos documentos finais. Em segundo lugar, porque propiciará a sua inclusão em redes empresariais que possam aí emergir. E, finalmente, porque os incentivará a ultrapassar a atitude etnocêntrica de investir e promover o comércio apenas junto dos países com os quais julgam existir ‘afinidades culturais’, isto é, o Brasil, a América do Norte e a Europa.

Este ‘handicap’ não é comum entre empresários de países com maior distância geográfica e cultural e que não beneficiaram de séculos de presença na Índia, no Sri Lanca, na Tailândia, na Malásia e Singapura, na China, no Japão, na Indonésia e Timor. Os receios em relação às diferenças de ‘cultura empresarial’ e às ‘dificuldades de comunicação’ não têm impedido os empresários desses países desenvolvidos de promover a sua actividade empresarial na China. São estrangeiras 2/3 das maiores empresas industriais da China. Em 2005, 58% das exportações da China tiveram origem nas ‘Foreign Invested Enterprises’.


Portugal só garantirá uma presença sustentável no clube dos países desenvolvidos se partilhar uma visão do mundo alinhada com os determinantes da economia mundial do século XXI, que será definitivamente marcada pela Ásia. É claro que não cabe ao Estado definir as prioridades de cada empresa, quer ao nível do investimento quer dos mercados exportadores. São os empresários que decidem onde e quando querem investir, para onde querem exportar. Mas o interesse e os critérios do empresário nem sempre coincidem com o interesse nacional que os governos têm de privilegiar. E, por isso, os governantes têm de ter uma visão da economia nacional no contexto global, que não é exigida a cada empresário, têm de ter a lucidez para antecipar as tendências da economia mundial, a liderança para apontar caminhos e a capacidade para criar condições propícias para os empresários portugueses assumirem projectos onde se vislumbrem ganhos significativos no médio e longo prazo, não só para a empresa mas também para a economia nacional no seu todo.


O desempenho da economia nacional está largamente dependente das exportações e os mercados asiáticos começam a assumir uma relevância crescente. Quer governos passados, quer o actual, apoiaram as empresas na promoção das suas exportações e contemplaram a Ásia nas suas iniciativas. Mas é fundamental acelerar este vector 1) pondo em prática um programa de desenvolvimento consolidado de ‘clusters’ nacionais, regionais e comerciais (vide iniciativa neozelandesa), e direccioná-los também para a Ásia; 2) criando uma estratégia integrada, para a Ásia, de promoção das exportações e do turismo e da captação do investimento tendo em consideração as dinâmicas inter e intra-regionais e os acordos bilaterais, nomeadamente os acordos de cooperação económica e os acordos de livre comércio; 3) reforçando, coordenando e agilizando as representações diplomáticas na Ásia e dotando-as de uma infra-estrutura de partilha de informação e de comunicação; 4) revendo e re-estruturando a rede logística nacional na Ásia tendo como base os portos mais importantes: Singapura, Hong Kong, Shanghai, Shenzhen, Pusan e Kaohsiung.