Wednesday, June 11, 2008

11-06-2008 Desporto e Diplomacia

Trazer o futebol de Portugal à Ásia, ajudaria a rasgar auto-estradas de entendimento entre os povos e os seus líderes.
.
2008 será o ano dos mercados emergentes. Mas a mudança de padrão em curso leva a crer que a Ásia será cada vez mais o motor do crescimento económico mundial.
.
Será, pois, incompreensível que Portugal não atribua uma fortíssima prioridade às suas relações bilaterais com os países asiáticos. Será ilógico que Portugal não desenvolva estratégias bem fundamentadas e que não tome iniciativas com impacto decisivo em relação a cada um dos países asiáticos. De modo a garantir, já em 2008, uma eficaz e determinada aproximação política, cultural e económica. De modo a assegurar a Portugal uma participação decisiva nos seus processos de desenvolvimento e um incremento excepcional no volume das importações destes países. Estão em causa não apenas as relações com a China, mas também com a Índia, o Japão, a Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Indonésia, Tailândia e, mesmo, com o Vietname.
.
A distância e a barreira da língua podem explicar a actual timidez lusitana. Porque tímida continua a ser a comunicação com os governos asiáticos, a comunicação com as organizações empresariais asiáticas, com as empresas asiáticas, com as instituições científicas asiáticas, com a actual expressão artística dos povos asiáticos.
.
O calor que Portugal põe nas suas relações com os dirigentes sul-americanos e africanos contrasta com o insuficiente empenhamento e, nalguns casos, com a sobranceria moral que exibe nas relações com dirigentes asiáticos. Uma mal disfarçada desconfiança que o cidadão comum asiático atribue ao facto de Portugal ainda ser “o país mais tradicionalista da Europa”.
.
Existe um verdadeiro problema na atitude dos portugueses face aos asiáticos que dificulta a comunicação a todos os níveis. É que é preciso tratar os asiáticos como eles gostam de ser tratados. E não tratá-los como nós gostaríamos de ser tratados. O que implica conhecer e valorizar as suas expectativas, os seus valores, as suas maneiras de pensar, as suas preferências, os seus hábitos, a sua maneira de negociar, a sua cultura vivida.
.
Um traço cultural comum à China dos dias de hoje, como ao sudeste asiático, em particular a Singapura e à Malásia, é a consideração dada ao futebol como desporto rei e à Liga Inglesa como a referência. Portugal é, também, conhecido e admirado nestas paragens pelos seus mais destacados futebolistas. Os media asiáticos não falam da economia portuguesa. Nem falam dos políticos portugueses. Mas falam do futebol português. E escrevem sobre Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Carvalho, Figo e Mourinho. Conhecem até os clubes portugueses mais importantes. Antes mesmo do início do Euro 2008, Portugal era já vaticinado, no Straits Times de Singapura, como o mais provável vencedor.
.
De igual modo não surpreende que, como forma de expandir rapidamente a importação de vinhos portugueses no seu país, o presidente de uma poderosa associação de ‘Food & Beverage’ da China tenha sugerido a realização de uma campanha publicitária baseada num anúncio em que Cristiano Ronaldo emprestaria a sua influência persuasiva afirmando cândidamente: “eu prefiro vinho português”.
.
Trazer o futebol de Portugal à Ásia, com os seus mais destacados protagonistas, ajudaria a rasgar autoestradas de entendimento entre os povos e os seus líderes e a alterar a imagem de Portugal. O desporto está em condições de prestar um serviço à diplomacia e à diplomacia económica portuguesa. Distintos desportistas poderiam ser convidados a desempenhar a função de “Goodwill Ambassador” abrindo caminho a outras venturas.
.
Não é demais recordar o papel do desporto na aproximação entre a China e os EUA. Em Abril de 1971 o governo chinês convidou a visitar a China uma equipa americana de ‘ping-pong’ que disputava no Japão o 31º Campeonato do Mundo de Ténis de Mesa. A diplomacia do ‘ping-pong’, como então foi denominada, transformou-se num excelente instrumento para iniciar a normalização das relações entre os dois Estados que vieram a ganhar um ímpeto e profundidade nunca então imagináveis.
.
Portugal tem as suas relações normalizadas com os países asiáticos. Mas são frouxas, sem ímpeto.
.
Mais trabalho a Oriente!