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2006 foi, para Portugal, um ano de alguns sucessos. As exportações de bens e seviços aumentaram significativamente. O PIB cresceu. A capacidade de atracção de Investimento Directo Estrangeiro, passou de 53º em 2005 para 17º lugar em 2006*. Portugal tem agora uma das mais baixas (13ª) taxas de mortalidade infantil do mundo. Nada foi obra do acaso.
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As empresas celebrarão no final do ano o crescimento dos lucros, a criação e consolidação de novas marcas, a quota acrescida de mercado interno e a penetração em alguns mercados externos, o investimento na investigação e desenvolvimento, o emprego criado, o investimento na formação e na melhoria das condições de trabalho. Algumas festejarão a internacionalização das suas actividades. Nada foi obra do acaso.
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Muitos cidadãos regojizar-se-ão com os seus progressos pessoais e profissionais, com a melhoria dos seus conhecimentos e habilidades, com a conclusão dos seus cursos ou das suas pós- graduações, com o facto de terem uma vida mais saudável, terem deixado de fumar, gerirem melhor o stress, ou terem sido promovidos e premiados. Nada foi obra do acaso.
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Se houve resultados foi porque houve empenho deliberado, pensamento, estratégia, plano, criação, acção continuada, tenacidade. Mas o futuro exige ainda mais ambição, mais ritmo, melhor adaptação do país, das empresas, das universidades, dos cidadãos às mudanças na economia mundial.
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Nas últimas décadas do século XX o dinamismo económico descentrou-se do Atlântico para o Pacífico. No século XXI centrar-se-á cada vez mais nos mares da China e no Índico. Portugal integra lentamente esta realidade e tem-lhe atribuído insuficiente prioridade ao nível do comércio e do investimento. Os fluxos de investimento entre a Ásia e Portugal são, ainda, pouco expressivos. As exportações para a Ásia são proporcionalmente muito inferiores ao potencial económico da mais populosa região do mundo. Um mero exemplo: em 2005, Singapura importou vinhos, com origem nos mais diversos países do mundo, equivalente a cerca de S$500 milhões. Portugal contribuiu apenas com cerca de S$1,1 milhão.
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Portugal, que se situou na 24ª posição do Índice de Globalização, em 2006, deve ter como objectivo estar entre os 15 primeiros, em 2010, e entre os 10 primeiros, em 2015. Pequenos países, cada qual com um processo de crescimento económico distinto, disputam as melhores posições. A Dinamarca ocupa a 5ª posição, a Irlanda ocupa a 4ª e Singapura a 1ª posição. Em termos de capacidade de atracção de Investimento Directo Estrangeiro, e capitalizando o sucesso da API no ano transacto, Portugal deve ter como objectivo, estar entre os 10 primeiros em 2010. Igual objectivo deve prevalecer quanto à nossa posição relativamente ao comércio. Hoje na 34ª posição.
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O país precisa de uma suave mas profunda revolução cultural, uma mudança de atitudes em relação à criação de riqueza, em relação ao valor atribuído à empresa na sociedade portuguesa. Só as empresas criam prosperidade, riqueza, emprego. Os empresários que alcançam estes objectivos devem ser valorizados, distinguidos, apreciados. Bem mais que as estrelas do futebol ou as que povoam a imaginação popular e os palcos reais e virtuais. Os media devem conceder às iniciativas empresariais, a estes heróis do risco e da inovação, um espaço nobre da sua programação. Uma atmosfera contagiante, febril, de explosão de ideias, de criação de projectos precisa de ser estimulada. Os insucessos não deverão ser estigmatizados mas os seus actores deverão ser reabilitados e as lições deverão ser aprendidas. Nesta nova economia não há lugar à histórica divisão entre empresários e colaboradores: nós e ele. A cultura de parceria no trabalho terá de prevalecer.
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As empresas e as marcas portuguesas têm de ter visibilidade no mundo, das Américas à Ásia. Objectivos específicos de internacionalização das empresas de cada sector têm de ser uma prioridade das associações empresariais para 2007, 2010, 2015. Multipliquem-se, consolidem-se, emerjam clusters dedicados à exportação de bens e serviços.
Nota: Índice de Globalização 2006, A.T. Kearney