Wednesday, December 12, 2007

12-12-2007 Aplacar o Dragão

O Ocidente, tem de integrar a promissora economia da China, tem de aprender a lidar com este ‘flying Dragon’.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1067497.html

A China prossegue a escalada no crescimento das suas exportações. Continua a aumentar o ‘deficit’ comercial entre a UE27 e a China. Motivos mais que bastantes para que a Declaração Conjunta da 10ª Cimeira China-UE estabeleça que, até final de Março do próximo ano, se dê início ao Diálogo sobre Comércio e Relações Económicas, ao mais alto nível, entre a Comissão Europeia e o Conselho de Estado da China.
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Alguns resultados são de esperar deste modelo de abordagem político-administrativo bilateral. Mas a UE e os governos dos Estados- membros precisam de compreender melhor os objectivos, os valores e as expectativas dos múltiplos ‘stakeholders’ da RPC para tornarem as suas estratégias mais eficazes. Como deveriam tentar perceber qual o entendimento que as autoridades chinesas têm das causas do ‘deficit’ comercial. É que metade dos produtos que a China exporta têm origem em empresas ocidentais aí instaladas que tiram partido dos seus baixos salários.
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É certo que a China terá de fazer ajustamentos à medida que se transforma numa potência económica mundial. Mas o Mundo, e particularmente o Ocidente, tem de integrar a promissora economia da China, tem de aprender a lidar com este ‘flying Dragon’.
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Os estados membros da UE precisam, por um lado, de se envolver num ‘soft engagement’ com um número crescente de autoridades, não apenas a nível nacional, mas também a nível províncial e das principais cidades chinesas, multiplicando visitas, envolvendo-se em iniciativas e projectos que levem os responsaveis a perceber que existem interesses comuns de médio e longo prazo. É que não basta negociar com o poder central na China.
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Por outro lado, os agentes da mudança da China devem ser cumprimentados pelos sucessos alcançados nestes últimos vinte anos, a nível interno e externo, e não devem ser apenas criticados pelos efeitos indesejáveis que as suas transformações estão a produzir no Ocidente. A China tem contribuido para a paz e a estabilidade no mundo. O crescimento global da última década recebeu um forte contributo das sinergias geradas pela economia chinesa. Uma poderosa classe média emergiu na China ao mesmo tempo que se deu uma profunda melhoria nas competências da população. A infraestrutura, sobretudo nas regiões costeiras, alcançou níveis de qualidade elevada.
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As relações entre Singapura e a China, se têm especificidades que impedem generalizações, comportam ensinamentos que merecem reflexão. Em primeiro lugar, elas sempre foram pautadas por um enorme pragmatismo. Shee Poon Kim (ver nota) apelida as políticas de Singapura em relação à China como de ‘enlightened economic pragmatism’, procurando a República tirar partido das oportunidades económicas que a modernização da China pode proporcionar. No passado mês Singapura assinou um pacto para a criação duma ‘eco-city’ no norte da China.
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Em segundo lugar, a China precisa de conceitos e modelos para modernizar a sua economia e o seu sistema social e a República de Singapura tem alguns bons exemplos para oferecer. A China está a inspirar-se na gestão da economia de Singapura, das suas reservas financeiras, a aprender com a gestão dos seus portos, a reproduzir os seus programas de habitação social e de segurança social. A China aplicou no ‘China-Singapore Suzhou Industrial Park’ o modelo do Jurong Town Corporation de Singapura.
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Em terceiro lugar, Singapura abriu as portas às empresas da China. Mais de 2200 empresas chinesas estabeleceram-se em Singapura e 118 estão cotadas na ‘Singapore Exchange’. Milhares de empresas de Singapura estabeleceram-se na China fazendo de Singapura uma excelente porta de entrada na China.
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Finalmente, o progresso das relações entre estados depende também das relações pessoais entre líderes. Lee Kuan Yew, actual ministro mentor de Singapura, visitou dezassete vezes a China e conversou largamente com todos os líderes, inclusivé com aqueles que estão na linha de sucessão aos actuais detentores do poder em Pequim.
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Os bons exemplos copiam-se.
Nota: In Shee Poon Kim, “Singapore-China Special Economic Relations: in search of Business Opportunities, Ritsumeikan International Affairs, vol 3, 2005, pgs. 151-176”