Wednesday, August 6, 2008

06-08-2008 Multinacionais

Vencer a crise económica portuguesa passa por um drástico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.
Os jogos olímpicos na China inspiraram um vasto conjunto de artigos, editoriais e comentários que ultrapassam largamente o interesse desportivo. O papel das multinacionais no desenvolvimento da China tem sido um dos temas mais versados nestes dias que antecedem o momento simbólico do reconhecimento universal da China moderna. A sua actuação é apresentada como negativa para os interesses da União Europeia e dos EUA. “Uma traição!”
O que, verdadeiramente, evidenciam a maioria destes textos são atitudes proteccionistas, anti-globalização e anti-multinacionais. Atitudes que evidenciam uma total desfocalização em relação ao estado do mundo neste século XXI. Porque as multinacionais representam uma característica fundamental e indissociável das economias modernas, um dos principais motores da globalização.
Sentimentos ambíguos, senão mesmo contraditórios, em relação às multinacionais prevalecem em Portugal, como em muitos outros países. As multinacionais sao vistas como ameaças à riqueza e à identidade nacional. Mas, por outro lado, reconhece-se que elas trazem investimento estrangeiro, mais postos de trabalho, melhores condições de emprego, mais conhecimento, mais I&D, melhores formas de organização do trabalho, melhores práticas, mais avançadas tecnologias de gestão e produção, muitas vezes produtos e serviços de melhor qualidade que os oferecidos pelas empresas locais. E contribuem decisivamente para o aumento das exportações e do PIB. As multinacionais contribuem para o desenvolvimento regional e local, para o desenvolvimento dos recursos humanos porque empregam uma maior percentagem de colaboradores diferenciados (‘white-collar’) e têm uma produtividade superior às empresas locais.
Levar um número crescente de empresas multinacionais a investir nas suas economias é um objectivo comum a países desenvolvidos, dos EUA ao Canadá, ao Reino Unido ou à Suiça. Não é ambição apenas de países em dificuldades ou de países em desenvolvimento. Um terço do PIB suiço tem origem em empresas multinacionais.
Portugal tem de competir de forma muito agressiva para as atrair. Em 2005, estariam a operar em Portugal 600 empresas multinacionais. Singapura tinha, em 2006, cerca de 7.000 empresas multinacionais, sendo que 4.000 eram sedes regionais. Em 2013, a China tem como objectivo ter, em Shanghai, 3.000 sedes regionais de empresas multinacionais.
Os países distinguem-se, também, pelo grau de sucesso da integração das suas empresas no mercado global e em cada um dos mercados regionais. A comprová-lo está a China que não é apenas receptor do investimento do Ocidente. Também ela fomenta o desenvolvimento das suas empresas multinacionais. Entre as 500 mais importantes empresas mundiais, doze têm origem na China. A Legend Holdings, que detém o grupo Lenovo, ou o grupo YTO, que exporta tractores para 30 países e que possui fábricas na Turquia e na Europa Central e do Leste, são ambas expressão desta política de globalização. Tal como a China National Cereals, Oils & Foodstuffs Import & Export Corporation, a TCL Corporation ou a Gree Corporation.
De igual modo, a Índia investiu na União Europeia, em 2007, mais de 25 mil milhões de dólares americanos, tendo criado mais de 10.000 postos de trabalho na Alemanha.
Ser empresa multinacional é a melhor forma de operar numa economia global integrada. Ganhar acesso a novos mercados, procurar factores de produção mais eficientes, adquirir tecnologias específicas para integrar a sua produção, explorar externalidades associadas a determinadas (des)localizações são razões suficientes para as grandes ou médias empresas portuguesas se abalançarem a uma transformação em empresas multinacionais.
Pequenas empresas subsidiárias, localizadas em centros de influência regional em cada continente, poderão operar de forma flexível e adaptável em múltiplos países das Ásias, das Américas, da África, ou da Europa.
Vencer a crise económica portuguesa passa por um drámatico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.