Wednesday, February 18, 2009

18-02-2009 Liderança e Competência

É a altura de perguntar se Portugal pode confiar na capacidade das suas lideranças para navegar esta crise.
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No trimestre passado Portugal mergulhou no centro da crise económica global, arrastado pelo desmoronar do sistema financeiro americano, tão rigorosamente investigado e eloquentemente relatado por David Faber, em "House of Cards" (CNBC). Tudo leva a crer que a situação nacional irá ainda piorar por muitos e largos meses - senão anos - antes que comece a revelar melhorias.
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É a altura de perguntar se Portugal pode confiar na capacidade das suas lideranças para navegar esta crise. É o momento de perguntar se o Governo, se o ministério da Economia, da Agricultura, das Finanças e do Emprego estão a fazer tudo o que devem para ajudar as famílias e para apoiar as empresas, se os líderes da oposição têm oferecido contributos úteis. Se os líderes das associações empresariais e de cada uma das empresas portuguesas têm um plano credível para confrontar a crise, para assegurar a sua sobrevivência ou mesmo para beneficiar a sua posição com estratégias que melhor se adequem à sua situação financeira, à sua vantagem competitiva, ao seu cabedal de inovação e à capacidade de servir os seus clientes. Serão uns e outros credíveis para pôr em prática esses planos?
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A recuperação de Portugal depende da sua capacidade de exportar e da sua capacidade de penetrar mercados. Mas a actual quebra das exportações não está a acontecer apenas na Europa. Está a acontecer na China e em Singapura. De acordo com as Singapore Trade Statistics, houve uma quebra de 15,7% nas importações de Portugal, de 543,201 milhões de dólares de Singapura, em 2007, para 458,110 milhões de dólares, em 2008. As importações de produtos electrónicos dos códigos 84 e 85, que representaram 90% das importações de Portugal, sofreram uma quebra de 14,1%. Pior, o conjunto dos produtos não electrónicos teve uma quebra de 27,4%. Com alguma probabilidade, o processo de falência da Qimonda poderá levar a que as importações de Singapura com origem em Portugal possam vir a situar-se nos 50 milhões de dólares de Singapura, isto é, cerca de 25 milhões de euros.
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As PME necessitam de um maior empenhamento do Estado e não apenas de crédito. Necessitam que o Ministério da Economia, com as associações empresariais, avalie o grau de desenvolvimento de cada sector económico e apoie a formulação dos respectivos planos estratégicos de sector.
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Necessitam que sejam identificadas as empresas com maior potencial de exportação e que lhes seja proporcionado apoio em termos de desenvolvimento organizacional, TIC, certificação de qualidade, desenvolvimento de produtos, avaliação de necessidades financeiras e apoio à exportação. O Ministry of Trade & Industry de Singapura tem um ‘account manager' para cada PME exportadora apoiada pelos seus serviços.
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Esta crise é nova e muito diferente daquelas que alguma vez os actuais líderes experimentaram. Talvez por isso, empresas financeiramente estáveis aparecem com estratégias próprias de empresas com risco de insolvência em vez de se lançarem na aquisição de empresas financeiramente vulneráveis com produtos e marcas de grande potencial, de prosseguirem o desenvolvimento de novos produtos e serviços e de arriscarem na conquista dos mercados emergentes.
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Fazem falta a Portugal líderes que pensem ‘out of the box', a todos os níveis da decisão. Faz falta reforçar as actuais lideranças com profissionais nacionais ou estrangeiros com forte e qualificada experiência do mundo, nas empresas públicas e nos institutos públicos, nas associações empresariais e nas empresas privadas. Recentemente Singapura iniciou a substituição da actual CEO do fundo soberano Temasek Holdings por um gestor americano, circunstância que coincidiu com o anúncio da perda de 31% do seu capital. Uma realidade que seria impensável em Portugal.
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Porque muitos portugueses, que propagandeiam o universalismo da sua cultura, por medo e insegurança são profundamente paroquiais nas soluções que adoptam e protegem-se a todo o custo dos olhares exteriores. Para que possam manter nos corredores da política como nos corredores das administrações um taticismo imediatista e preguiçoso aliado a um padrão de comunicação sem transparência, sem eficácia, quantas vezes eivado de pura perversidade.

Wednesday, February 4, 2009

04-02-2009 Responsabilidade

A distribuição desigual dos benefícios da globalização criou um problema social e, logo, um problema político.
Modelos teórico-ideológicos legitimaram as práticas que conduziram à presente recessão e à mais do que provavel depressão económica mundial. Muitos governos de países desenvolvidos, a começar pelos EUA, muitos gestores de sectores económicos específicos, com particular destaque para a banca, muitos investidores e muitos consumidores responderam "escrupulosamente" aos incentivos que esses mesmos modelos geraram e deles beneficiaram amplamente. Mecanismos de segurança foram iludidos. Modelos micro-económicos prescritivos baseados em análises descontextualizadas das rápidas transformações macroeconómicas globais, permitiram a catástrofe económica que o Mundo hoje enfrenta. Os macro-economistas, que previram os desastrosos efeitos sistémicos, foram subestimados enquanto os micro-economistas dispuseram das luzes da ribalta. As teorias económicas dominantes, transformadas em ideologias e guias de acção, falharam na capacidade de entender a realidade económica e de ajudar a gerir o desenvolvimento global.
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Neste contexto de perturbada racionalidade emergiram pulsões irracionais, medos, manifestações e comportamentos xenófobos. E irresponsabilidade. Como aquela a que, com perplexidade, se assiste da parte daqueles que falharam na prevenção da crise, que falharam numa efectiva adaptação da economia à actual fase de globalização, mas que advogam e apoiam políticas proteccionistas.
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A globalização trouxe incalculáveis ganhos aos EUA e a muitos outros países, à Europa e ao Japão, à China, à Índia e ao Sudeste Asiático. Uma larga percentagem de cidadãos destes países beneficiaram amplamente em termos de emprego, de consumo e de investimento. Leia-se, a este propósito, "A year without Made in China" de Sara Bongiorni (2007). Mas muitos perderam os seus empregos e viram os seus rendimentos estagnarem ou diminuirem, sobretudo os que pertencem a estratos sociais médio/ baixo e baixo. A agricultura e a indústria têxtil dos EUA sofreu um impacto negativo, como diversos outros sectores. A distribuição desigual dos benefícios da globalização criou um problema social e, logo, um problema político. O acesso indiscriminado à compra de habitação por parte das famílias com menos rendimentos poderá ter funcionado como válvula de escape, até que a bolha rebentou.
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A medicina para a crise tem apresentado um conjunto vasto de soluções, sem que um sólido consenso a nível internacional tenha sido alcançado. Davos foi disso expressão. Há um problema de clarificação do nível lógico a que as soluções preconizadas se aplicam (global, intra-regional, inter-regional, nacional) mas há também agendas partidárias a fervilhar nos países que passaram por uma eleição recente ou se preparam para entrar em período eleitoral, que condicionam as escolhas. Seria desejavel que, antes da próxima reunião do G20, uma conferência internacional de macro e micro-economistas provasse, pelo menos desta vez, que a economia é uma ciência capaz de interpretar e de antecipar os efeitos combinados a diferentes níveis de diferentes cursos de acção e que, avaliadas as vantagens e desvantagens de cada um deles, propusessem um plano de acção global e fizessem recomendações sobre a orientação mais eficaz ao nível das macro-regiões económicas.
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Em plena recessão económica, desconhecendo os seus efeitos mais profundos, Portugal entrou psicològicamente em fase pré-eleitoral. Se é certo que muitas matérias poderão proporcionar a melhor competição partidária, a resposta à crise deverá merecer um tratamento distinto, deverá suscitar uma resposta consensual por parte do sistema de partidos. A menos que a democracia, numa situação de crise nacional, seja a forma acabada de privilegiar os interesses dos grupos partidários em detrimento dos interesses nacionais.
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O país precisa de uma resposta nacional. Precisa de uma orientação mobilizadora para as empresas e para as famílias. O país não precisa dum catavento de propostas dos economistas nacionais, independentes ou partidários. Precisa de uma análise sistemática, de uma proposta consensual baseada na evidência e numa análise estratégica. E não ficaria mal a Portugal ter um conselho internacional de assessoria económica para momentos de crise.

Wednesday, January 21, 2009

21-01-2009 Tão Diferentes

O que dá a AIP ao Governo que a CIP e a AEP não dá? E o que dá o Governo à AIP que não dá à CIP e à AEP?
Portugal e Espanha: tão próximos e tão diferentes. Diferentes no modo como lidam com a internacionalização da economia. Espanha não improvisa, prepara-se com tempo. Países tão diferentes no rigor com que enfrentam os seus mercados prioritários como o demonstra o lançamento, em 2005, por parte do Ministério da Indústria, Turismo e Comércio de Espanha dos "Planes Integrales de Desarrollo de Mercados" (PIDM), dirigidos a onze países, entre eles a Índia, a China, o Japão e a Coreia do Sul.
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Fruto dum aprofundamento crescente das relações entre os dois países, a Espanha tem, actualmente, mais de 600 empresas presentes na China e HongKong enquanto escassíssimas são as empresas portuguesas por estas paragens. Desde o final dos anos 70 a Espanha tomou posição na China, quer com o apoio do PSOE quer do Partido Popular. A Inteco foi a primeira empresa ali a instalar-se. Depois, nos anos 80, chegou a Alsa, a Agrolimen e a Nutrexpa. Em 1987 foi criada, pelo Governo, a Comissão Mista Espanha-China e, em 1988, a empresa Técnicas Reunidas construiu a petroquímica de Fushun, na província de Liaoning.
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Em 1993 o "Consejo Superior de Cámaras de Comercio" de Espanha criou o "Comité Empresarial Hispano-Chino" para dinamizar as relações empresariais entre a Espanha e a China. Na sequência da visita de Felipe Gonzalez nesse ano, foi celebrado o contrato de construção da central eléctrica de Yahekou na província de Henan. E, em 1994, o Instituto Espanhol de Comércio Exterior (ICEX) levou a cabo, em Pequim, uma feira sobre a indústria e a tecnologia espanhola, a Expotecnia.
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Importantes iniciativas estruturantes tiveram lugar a partir de 2003. Primeiro, o "Ministerio de Asuntos Exteriores y de Cooperación" desenvolveu e publicou o "Plan de Acción Asia y Pacífico 2005-2008', com o objectivo de reforçar a importância da Ásia na política externa espanhola. Logo, depois, deu-se o lançamento do ‘Plan Integral de Desarrollo del Mercado China" (PIDM China), para o período 2005-2007, com um orçamento de 690 milhões de euros, que fez com que Espanha passasse, finalmente, a dispôr de um instrumento programático de intervenção mulitdimensional e multisectorial naquele país. Em 2005 foi consolidada a associação estratégica Espanha-China e foram feitos avultados investimentos na China, nomeadamente por parte da Telefónica e do BBVA. Com o "Ano da Espanha na China", em 2007, atingiu-se o ponto mais alto da década. Entre as mais de 250 actividades comerciais e culturais, que tiveram lugar, conta-se a participação em mais de 40 feiras e a realização de 30 missões comerciais à China e de 15 missões inversas. Entretanto, mais de 370 milhões de euros foram atribuídos ao novo PIDM China 2007-2009. Um flagrante contraste com a política de internacionalização de Portugal na China, que urge redefinição. Uma matéria ausente das preocupações dos partidos da oposição que têm partilhado o arco do poder. Outra diferença peculiar.
Entretanto, no encontro empresarial luso-espanhol que ocorrerá, esta semana, no contexto da cimeira entre Sócrates e Zapatero, Portugal poderá inspirar-se na intervenção da Espanha na China, sem a parasitar, e a partir daí vir a construir uma estratégia consequente, que financia, que divulga e que poderá, então, coordenar com o país vizinho.
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Este encontro torna, uma vez mais, evidente que o Governo tem privilegiado a AIP no processo de internacionalização da economia. AIP que merece, aliás, todo o apoio do Governo. Mas não se entende qual a racionalidade de uma tal prática. O que dá a AIP ao Governo que a CIP e a AEP não dá? E o que dá o Governo à AIP que não dá à CIP e à AEP? A internacionalização deve basear-se numa política de inclusão efectiva de todos os actores relevantes, alheia a todo o tipo de interferências que possam prejudicar a equidade das empresas no acesso aos canais de decisão e acção, sem subalternizações.
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Amado em Singapura O MNE da Holanda esteve em Singapura na semana que passou. Não há razões que justifiquem a Portugal manter um nível de representação inferior ao dos outros países da UE. Espera-se, firmemente, um decisivo aprofundamento das relações económicas, científicas e culturais com a República. Gong Xi Fa Cai!

Wednesday, January 7, 2009

07-01-2009 Mudar este País

O novo aeroporto de Lisboa é bem um caso exemplar da falta de eficácia do sistema democrático português.
O novo aeroporto de Lisboa, que se virá a localizar em Alcochete, mereceria um estudo aprofundado do ponto de vista sociológico e da ciência política para que dele se pudessem recolher ensinamentos quanto ao modelo de funcionamento da democracia em Portugal, ao comportamento dos partidos, dos governos, das elites e da sociedade portuguesa em geral em relação a esta decisão, ao longo das três últimas décadas. Este é bem um caso exemplar da falta de eficácia do sistema democrático português e do subdesenvolvimento da nação portuguesa que, tarde e a más horas e sem consenso, caminha finalmente para uma solução em 2009.
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Um caso que envergonha contar ao mundo. Um contraste flagrante com a história aeroportuária de Singapura.Vão longe os dias em que a KLM aterrava pela primeira vez no Aeroporto Seletar de Singapura, uma base da RAF que abriu nesse ano de 1930 a aviões comerciais. Logo em 1931 Sir Cecil Clementi, o governador dos ‘Strait Settlements', perante o rápido aumento da procura decidiu por um novo aeroporto no pântano de Kallang. Em 1937, com parte da área reclamada ao mar, abriu o novo aeroporto de Kallang. A sua capacidade esgotava-se ao fim de uma década. Em 1951 foi decidida a construção do aeroporto de Paya Lebar para acomodar um milhão de passageiros. Que entrou em actividade em 1955.
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Vinte anos depois atingia os quatro milhões de passageiros obrigando a novas decisões.
Em 1975 o governo decidiu-se pela construção do aeroporto Changi, numa zona pantanosa e de novo com áreas reclamadas ao mar. O aeroporto de Paya Lebar fora entretanto ampliado, recebendo sete milhões de viajantes em 1980.
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Em 1981 abriu o aeroporto Changi, com um custo de 1,5 mil milhões de dólares de Singapura, que viria a alcançar os dez milhões de passageiros em 1985, altura em que foi decidida a construção dum segundo terminal que veio a entrar em funcionamento em 1990. Nesse ano dezasseis milhões de viajantes passavam pelo Changi.
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Em 1995, estudos que apontavam para uma procura de setenta milhões de passageiros, em 2015, sugeriam o planeamento de um terceiro terminal. Plano final terminado em 2006, veio o mesmo a abrir em 2008, com um custo de 1,75 mil milhões de dólares de Singapura. Numa ilha de 4,5 milhões de habitantes e com uma superfície equivalente à região norte da área metropolitana de Lisboa, existe agora um aeroporto com quatro terminais com uma capacidade para cerca de setenta milhões de passageiros (21 milhões para o 1º, 23 milhões para o 2º, 22 milhões para o 3º, além do ‘budget' terminal em operações desde 2006, para 2,7 milhões de viajantes) e que teve 37 milhões de passageiros em 2007. Logo em 1988 destronou o aeroporto de Schiphol como o melhor aeroporto do mundo.
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Planeamento valorizado, decisão atempada, rápida implementação, elevada eficiência, custos razoáveis e benefícios inquestionáveis são a imagem de marca da decisão política e da administração pública de Singapura que, ano após ano, impressiona a maioria dos líderes mundiais. E que um dia também virá a receber uma outra aceitação na sociedade portuguesa quando esta perceber que tem de mudar, e muito, para romper com a sua mediania e se afirmar como uma nação moderna, inovadora, competente e eficaz entre as nações desenvolvidas.
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Os parlamentares portugueses, os presidentes de câmara, os directores gerais dos ministérios, os reitores e directores de universidades, politécnicos e de centros de investigação, os directores de escolas de ensino secundário e primário e os responsáveis pelo planeamento regional e urbano muito ganhariam se visitassem Singapura e se estabelecessem relações institucionais e profissionais com as entidades relevantes. Depressa que se faz tarde!

Saturday, December 27, 2008

24-12-2008 Muito Tarda em Despertar

Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro. Faz-lhes falta pensar, ter estratégia, ter projecto.
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Uma andorinha não faz a primavera mas sempre a pré-anuncia. O mesmo significado tem a notícia de que mais uma empresa portuguesa se interessa pelo mercado chinês. Mas este interesse pelos mercados asiáticos continua a ser muito diminuto e a mudança de atitude por parte das empresas portuguesas continua a ser duma lentidão inimaginável, dir-se-ía mesmo dominada pela irracionalidade.
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Quando o crescimento a Oriente bem poderia compensar as perdas que se estão a sofrer nos tradicionais mercados de exportação nacionais.Durante a maior parte do século XX a economia Mundial foi mobilizada pela Europa e pelos EUA e, parcialmente também, pelo Japão. As restantes economias da Ásia puderam ser praticamente ignoradas. O motor da economia no século XXI será, sem dúvida, a Ásia. A menos que haja um empenhamento da Europa e dos EUA nos mercados asiáticos, no limite, esta região pode vir a prescindir do interesse das empresas do Ocidente tal o nível de desenvolvimento alcançado, o tamanho da sua população e a dimensão dos seus mercados.
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É completamente inadmissível que, nos primeiros oito meses de 2008, as importações da China com origem em Portugal tenham tido mais uma quebra de 17,6%, em relação a igual período do ano anterior (fonte: mofcom.gov.cn), continuando a perda de ritmo de 2007. Quando ao mesmo tempo, e à semelhança do que ocorrera em 2007, a Irlanda teve um crescimento de 53,% e a Dinamarca de 55,1%. E a Espanha cresceu 39,3%. Quando o volume das importações da China com origem em Portugal não vai além de 13% do volume das importações da Irlanda ou da Dinamarca e de 6% das de Espanha.
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A China, e toda a Ásia, está mentalmente muito distante de Portugal. Mas não está distante de mais nenhum país europeu. Uma particularidade nacional que justifica a pergunta: será que os (empresários e gestores) portugueses sabem pensar? Porque têm os portugueses medo da Ásia?
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Governo, associações empresariais e empresas precisam de reflectir seriamente sobre a estratégia a seguir. Os países desenvolvidos têm uma estratégia económica definida, explicitada e publicada em relação à China. Onde está a estratégia portuguesa? Quem a define, quando e como? Quem, como e quando a divulga?
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Macau é muito importante para Portugal. Mas para a China é o seu parque de diversões. A China tem doze cidades com mais de quatro milhões de habitantes, para além de Pequim e Xangai. Não se chega às cidades da China através de Macau, como não se chega a Paris, Londres ou à Baviera através de Lisboa. A província de Hebei tem 63 milhões de habitantes, mais do que a esmagadora maioria dos países da UE. Há que estabelecer uma relação directa com as cidades capitais de província da China.
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A representação de Portugal na China deverá ser repensada. A AICEP da Austrália (Austrade) tem escritórios em Pequim, Xangai, Chengdu, Dalian, Guangzhou, Hangzhou, Hong Kong, Kunming, Macau, Nanjing, Ningbo, Qingdao, Shenzhen, Wuhan, Xi’an. A AICEP de Singapura (IE Singapore) tem 45 profissionais em oito escritórios na China, produzindo estudos de mercado para as suas empresas ali estabelecerem uma presença adequada. O volume das importações da China com origem em Portugal, nos oito meses de 2008, representa pouco mais que 1,6% do volume das importações da China com origem em Singapura.
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Há que enfrentar a vulnerabilidade das exportações para Singapura que têm estado quase totalmente concentradas na actividade de uma só empresa, a maior exportadora portuguesa, que muito recentemente esteve em risco de falência. Reafirma-se o que se vem clamando, há já algum tempo, de que é urgente diversificar o padrão das exportações para Singapura e a Malásia. O desaparecimento da Qimonda poderia significar, não só um profundo rombo no volume global das exportações, mas também o quase completo esvaziamento das relações comerciais com estes países do Sudeste Asiático.
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O que faz falta aos portugueses não é, em primeiro lugar, dinheiro para investir. O que faz falta é pensar, ter estratégia, ter projecto, ter metodologias eficazes de implementação. Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro.
Bom Natal e um Novo Ano mais inteligente!

Wednesday, December 10, 2008

10-12-2008 Avaliação e Sucesso

Singapura gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
Alunos de universidades portuguesas colocam-me frequentemente a questão dos factores de sucesso de Singapura por contraste com Portugal. Recorde-se que Singapura adquiriu a independência em 1965. Era então um pântano polvilhado por tugúrios onde grassava ainda a tuberculose e a guerrilha racial. No início dos anos oitenta o nível de desenvolvimento entre os dois países era semelhante. Em 2007, o PIB per capita de Singapura atingiu os 49.900 dólares enquanto o de Portugal ficou-se pelos 21.800 dólares.
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Em alternativa a uma comparação baseada em indicadores, optei por questionar os factores de sucesso percebidos por cidadãos com conhecimento privilegiado, reunindo um ‘focus group’ constituído por um professor universitário, um docente de instituto politécnico, dois professores de ensino secundário, um quadro superior público de apoio às PME, um jornalista sénior e um jornalista júnior, pertencentes ambos aos jornais de maior circulação de Singapura. Perguntei-lhes a que se devia o sucesso do seu país. A resposta foi unânime: à liderança de Lee Kuan Yew e à sua direcção estratégica.
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Não sendo descabido utilizar o mesmo factor explicativo em relação a Portugal, poder-se-ía afirmar que o menor sucesso nacional decorre do conjunto das orientações estratégicas que o conjunto das lideranças pôs em prática durante os últimos trinta anos. Uma conclusão politicamente incorrecta. Mas sobre a qual seria desejável que as elites de esquerda, centro e direita, que vêm gerindo o sistema político português desde abril de 1974, aceitassem reflectir.
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Um sistema onde, em qualquer momento, um qualquer grupo profissional é capaz de bloquear a transformação imprescindível do país. Um sistema onde a retórica se sobrepõe à lógica de resultados, onde as palavras valem mais que as acções. Onde as emoções valem mais que a avaliação científica dos problemas, mais que a análise comparada com outros países, mais que a elaboração fundamentada das estratégias, a discussão serena e a mobilização do país em torno de objectivos de interesse nacional. Um sistema político onde a dramatização substitui o rigor. Um sistema político onde as agendas da esquerda, do centro ou da direita valem mais do que a agenda de Portugal. Qualquer observador atento à evolução de Portugal perguntar-se-á para que serve este sistema democrático e estas lideranças de esquerda, centro e direita, se em conjunto não são capazes de assegurar o crescimento económico, o desenvolvimento, o emprego, o bem estar da população portuguesa? Muita ideologia, fraca estratégia, pouco pragmatismo, magros resultados práticos.
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Avaliação do desempenho
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Singapura, um dos ‘top performers’ mundiais a nível da educação, dedicou-lhe uma larga fatia do orçamento nos primeiros anos após a independência. Hoje gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da OCDE.
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Razão suficiente para questionar o grupo focal sobre o que explica, então, o sucesso do sistema de ensino de Singapura a nível primário e secundário. Sem hesitação o grupo atribuiu à introdução da avaliação de desempenho dos professores o salto qualitativo alcançado no ensino de Singapura nos últimos dez anos. .
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Os aumentos salariais e os prémios de desempenho, bem como a atribuição de prémios às equipas de docentes, estão associados à avaliação do desempenho. Que é apoiada pela maioria dos professores, como resulta dum inquérito realizado no ano passado a uma amostra 3.300 professores.Singapura adoptou na educação um sistema de avaliação que tem em conta não só o desempenho anual do professor mas também o seu potencial de desempenho futuro. Avalia em que medida os objectivos de trabalho docente foram alcançados (actividades de de ensino, actividades co-curriculares, projectos e tarefas, etc) e os níveis de competência atingidos em termos de conhecimentos e habilidades, bem como as características profissionais dos docentes. A classificação traduz-se num A, B, C, D ou E. Enquanto Portugal resiste à mudança necessária para enfrentar os desafios do mundo globalizado, Singapura põe em prática soluções eficazes e influencia os caminhos do século XXI. Enquanto Portugal se fragiliza, Singapura fortalece-se. Sem fundos da UE!

Wednesday, November 26, 2008

26-11-2008 Crise e Adaptabilidade

O Governo de Singapura apoia as empresas, ajudando-as a reduzirem os seus custos e a salvarem os postos de trabalho.
As crenças e ideologias partilhadas a nível colectivo, como a nível individual, são factor decisivo na adaptação em tempo de crise e na sua resolução. Numa sociedade onde a interpretação dos factos é predominantemente feita tendo por base o conflito, onde as diferenças são reforçadas, onde os distintos interesses são destacados, a adaptação a novas realidades é penosa, tortuosa e lenta. Onde as crenças e ideologias valorizam a necessidade de manter os sistemas funcionais e integrados, onde os interesses comuns são factores de mobilização, as crises são percebidas como desafios e enfrentadas com pragmatismo, a procura das soluções é partilhada e a adaptação é progressiva e sustentada. A ultrapassagem da crise é um sucesso colectivo.
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Para que a sociedade adopte uma postura mobilizadora em tempo de crise económica é fundamental que o sistema político assegure a harmonia, a justiça social e que concorra para uma sociedade inclusiva.
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Assim, quando numa situação de recessão em que existe excesso de pessoal é aplicado o recurso ao despedimento de uma percentagem significativa de colaboradores, sem que todas as outras opções tenham sido antes consideradas, não se está decerto a demonstrar sentido de responsabilidade social nem a contribuir para manter a harmonia e a justiça social.
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A introdução de flexibilidade no período de prestação de trabalho, a par da redução do tempo semanal de trabalho, e mesmo a cessação temporária do contrato de trabalho, são algumas das alternativas. Outras medidas estão a ser postas em prática por governos dinâmicos, como o de Singapura, que, com uma abordagem tripartida com as associações patronais e os sindicatos, pretende que as empresas mantenham os seus trabalhadores em vez de os despedirem. Foi há dias criado um programa para os próximos dois anos, “The Skills Programme for Upgrading and Resilience” (SPURS), cujos objectivos são, em primeiro lugar, a redução dos custos de pessoal com manutenção dos postos de trabalho, em segundo lugar, o apoio ao desenvolvimento de competências (‘reskill’ & ‘upskill’) dos trabalhadores ou no activo ou desempregados e, em terceiro lugar, o apoio aos empresários e trabalhadores para tirarem partido de novas oportunidades que estão a emergir durante esta fase do ciclo económico. A colocação dos desempregados em novos empregos, em sectores que continuam a crescer, integra este programa. Para além dos 2,3 mil milhões de dólares com que as empresas serão apoiadas para controlarem custos e aumentarem o seu ‘cash flow’, uma verba de seiscentos milhões de dólares será atribuída ao SPURS a fim de apoiar os programas de formação mas também para compensar as empresas com trabalhadores em formação.
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As sociedades cooperam com os seus líderes públicos e privados quando em tempo de dificuldade percebem que também estes fazem sacrifícios. Assim, no próximo ano, o Presidente, o primeiro-ministro, os membros do Governo de Singapura e os directores gerais terão uma redução entre 18 e 19% nos seus salários. Os membros do Parlamento receberão 16% menos. As chefias da função pública terão os seus vencimentos reduzidos em 12%. Todos os funcionários públicos receberão menos um mês de prémio no próximo ano. As empresas públicas seguirão idêntico padrão. Na ‘holding’ pública Temasek, cujo “portofólio” atinge os 130 mil milhões de dólares, os salários dos gestores de topo sofrerão um corte de 15 a 25%.
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A fim de prevenir a ruptura do tecido social o Governo de Singapura apoia as empresas, ajudando-as a reduzirem os seus custos, a manterem-se viáveis e a salvarem os postos de trabalho, e apoia as famílias com rendimentos médios ou baixos, nomeadamente com transferências pecuniárias. Através destas e de outras medidas contracíclicas, nomeadamente do aumento do investimento em infraestruturas e do aumento das despesas públicas, Singapura, país de pequenas dimensões e sem quaisquer recursos naturais, que venceu as crises de 1985, 1998 e 2001/2003, prepara-se uma vez mais para demonstrar a sua capacidade de transformar a adversidade em oportunidade.

Wednesday, November 12, 2008

12-11-2008 - Missões a Cidades Emergentes

É do lado do sol nascente que estão a surgir as melhores oportunidades, nomeadamente na China e na Índia.
A actual crise financeira desencadeada, nos EUA, por práticas neo-liberais excessivas provocou um verdadeiro “efeito dominó” sobre todos os sistemas financeiros e económicos. O factor desencadeante (‘trigger effect’) é conhecido: o crédito hipotecário. Entre os factores de reforço está, decerto, o ambiente de desregulação. Caso para se questionar se os ‘checks and balances’ se devem, ou não, aplicar sempre aos sistemas económicos, como o são aos sistemas políticos. Onde há comportamento humano há pulsões que podem requerer contenção.
A ruptura política de Obama, que nestes dias teve lugar nos EUA, está em melhores condições para contribuir para a introdução do equilíbrio de que o sistema carece a nível global.
Mas não se discutem, por ora, os factores predisponentes da crise associados ao estado da economia real dos EUA, de que a crise da General Motors/Chrysler, a crise da indústria automóvel norte-americana, mais não é do que um sintoma. Um sintoma da progressiva perda da posição dominante da economia norte americana em relação à economia global, cuja energia flui, hoje, mais do Oriente que do Ocidente. Nunca, como hoje, a análise prospectiva da evolução da economia mundial nos próximos cinco, dez, vinte ou trinta anos, e das alternativas estratégicas, se tornou matéria urgente, não apenas para americanos mas também para europeus. Porque o futuro já está aí.
Muito embora sejam várias as empresas que em Portugal só descobriram as oportunidades da economia norte americana na fase descendente do ciclo, é do lado do sol nascente que estão a surgir as melhores oportunidades, nomeadamente nas cidades emergentes, como Hangzhou, Chen-gdu, Nanjing, Tianjin, Shenyang, Chongqing, na China, Mumbai, Bangalore, Hyderabad, Pune, Chennai ou Calcutá, na Índia.
E, sendo isto verdade, nada garante que nisto acreditem as empresas portuguesas. A menos que as autoridades portuguesas, os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Economia o afirmem, ou disso dêem conta as instituições representativas como a AEP, a AIP ou a CIP. O que, afinal, torna muito semelhantes as práticas das empresas portuguesas e das empresas asiáticas. Só avançam em missões comerciais quando enquadradas pelas autoridades e pelas associações empresariais. E, por este facto, os empresários e gestores portugueses quando se deslocam em missão a outros países precisam de atribuir uma importância significativa, também, aos encontros com as autoridades centrais, regionais ou locais e com as organizações empresariais que afinal são quem lhes abre as portas do negócio.
Uma missão às cidades emergentes asiáticas comporta sempre, antes das reuniões com os parceiros potenciais, apresentações sobre a economia do país, ou da região e da cidade. Assinam-se acordos e trocam-se presentes. E, naturalmente, as autoridades esperam que os empresários estrangeiros visitem e apreciem os seus símbolos culturais. Como muito bem sabem os gestores e empresários portugueses, a internacionalização exige atitudes e comportamentos adequados. Exige educação apropriada. Implica muito conhecimento, muitas competências. E em matéria de relações públicas quem as não tem que não tarde em obtê-las.
Assinale-se a seriedade e a forma como se preparam os empresários e gestores asiáticos quando integram uma missão a um país estrangeiro. Os asiáticos estudam ‘dossiers’ sobre o país e os seus mercados e participam em seminários onde são debatidos os desafios que as empresas têm de enfrentar, em particular quando pretendem instalar-se nesses países. As estatísticas sobre as trocas comerciais, o investimento estrangeiro, os requisitos contabilísticos, as leis do trabalho, os impostos, a transferência de lucros, os problemas resultantes da variação das taxas de câmbio e dos juros, as redes logísticas, os regulamentos alfandegários, e a propriedade intelectual são matérias versadas nesses encontros que são sempre largamente participados. E, obviamente, onde são abordadas as especificidades culturais relevantes para a realização de negócios.
Os empresários asiáticos são negociadores hábeis mas agradáveis. Simples mas orgulhosos dos seus sucessos ignoram quem os menospreze. Porque chegou a sua hora.

Wednesday, October 29, 2008

29-10-2008 Proacção e "Governance"

À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os seus resultados e consequências.
A actual crise financeira e económica ilustra como os sistemas de crenças determinam bem mais as decisões humanas do que a pura racionalidade. A crença no ‘laissez faire’ não pode admitir que não há apenas uma mão invisível em acção mas muitos tipos de mãos invisíveis.
À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os diferentes níveis da decisão financeira, sobre os seus resultados e sobre as suas consequências. Ideologia a induzir o fecho prematuro do campo de análise e de intervenção, dando lugar a um simplismo analítico onde nem todas as unidades de análise relevantes foram seleccionadas para serem acompanhadas e para serem devidamente reguladas na actual fase da globalização.
Tal como os comportamentos económicos e financeiros em contexto comunista se não puderam explicar apenas pela pretensa racionalidade do planeamento central também agora não os podemos explicar com base na pretensa racionalidade estratégica e operacional da firma. Porque os actores em jogo não são apenas organizacionais mas são pequenos grupos, elites, líderes empresariais, gestores cujos interesses e racionalidade podem conflituar, de facto, com os interesses do conjunto dos ‘stakeholders’.
E, por isso, para além duma crise financeira, e agora também económica, o que o Mundo enfrenta é uma crise de ‘governance’ a múltiplos níveis.
Entendam-se as raízes ideológicas e comportamentais da crise do ‘subprime’ e da actual crise económico-financeira e construa-se um novo sistema de prevenção, monitorização e gestão dos sistemas financeiros a nível global, em vez de simplesmente se acusarem os que a propiciaram, como Phil Gramm, o senador que promoveu as leis Gramm-Leach Biley Act de 1999 e o Commodity Futures Modernisation Act de 2000 que enfranqueceram a regulação financeira e tornaram possíveis os empréstimos irresponsáveis e a falta de supervisão do crédito hipotecário, ou Alan Greenspan, ex-’chairman’ da Reserva Federal americana, cuja fé na autoregulação dos mercados contribuiu para rejeitar uma maior regulação de produtos financeiros complexos, ou Cristopher Cox, ‘chairman’ da Securities and Exchange Commission, a quem competia supervisar Wall Street e que não quis ou não pode regular os bancos de investimento, ou Ian McCarthy, CEO da Beazer Homes USA, que favoreceu a venda de habitações a quem a não podia pagar, tal como Angelo Mozilo, fundador da Countrywide Financial, considerado o rei do mercado de ‘sub-prime’, ou James Cayne, ex-CEO do Bear Sterns, Franklin Raines, ex-CEO do Fannie Mae, Richard Fuld, ex-CEO do Lehman Brothers, ou Joe Cassano, ex-chefe do departamento de produtos financeiros da AIG.
China-Singapura
Enquanto a crise paralisa a decisão de muitos agentes económicos a Ocidente, e os mais esclarecidos revêem as suas estratégias e avançam em novas direcções, Singapura vai dando o exemplo prosseguindo o alargamento sistemático da sua rede de relações económicas bilaterais, enquanto as negociações de Doha se desvanecem no marasmo.
A assinatura do Acordo de Livre Comércio entre Singapura e a China, que teve lugar, em Pequim, no passado dia 23 de Outubro, eliminará a partir de Janeiro de 2009 85% das taxas cobradas às exportações de Singapura, permitirá a empresas de saúde da cidade-Estado deterem 70% do capital de hospitais chineses e concederá liberdade de movimentos a empresários e profissionais de ambos os países. As exportações da China para Singapura passam a ser totalmente liberalizadas. Foi o primeiro acordo a ser celebrado entre a China e um país asiático.
Singapura não investe só em Pequim e Xangai. Em Tianjin constrói uma “eco-cidade”. Em Chengdu e Hangzhou apoia nomeadamente os sectores de logística, turismo, sistemas de informação, serviços financeiros, de saúde e de educação, para além da construção e gestão de centros comerciais. Xian será a próxima prioridade.As empresas portuguesas, ao estabelecerem as suas subsisdiárias em Singapura, poderão aceder aos benefícios do acordo assinado com a China.
Da China sopram bons ventos para quem sabe navegar.
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in Diário Digital
Sábado, 15 de Novembro de 2008 10:44

G20: França anuncia acordo para nova regulação mundial
Os dirigentes dos principais países industrializados e emergentes reunidos na cimeira do G20, em Washington, chegaram a um acordo para sustentar a economia, concretizar uma nova regulação internacional e reformar a governação mundial, disse hoje a presidência francesa.

Segundo o Eliseu, as decisões do G20 devem ser resumidas num comunicado de cinco páginas, que será divulgado hoje no final desta cimeira inédita que decorre desde sexta-feira em Washington com o objectivo de pôr cobro à pior crise financeira depois da Depressão de 1930.
A presidência francesa adiantou que será feito a 31 de Março de 2009 um primeiro balanço dos trabalhos a desenvolver a partir das decisões tomadas na cimeira.
De seguida, até 30 de Abril haverá lugar a um novo encontro do G20, não se conhecendo ainda em que local.
Segundo a presidência francesa, o texto que está a ser estudado na cimeira inclui «mensagens positivas de três ordens: sustentabilidade da economia, nova regulação internacional e reforma da governação mundial».

Wednesday, October 15, 2008

15-10-2009 Crise e Arte

Os galeristas dos EUA e da Europa não perdem oportunidades para promover as obras dos seus pintores no Oriente.
Quando uma sucessão de terramotos, com epicentro nos EUA, abalava o sistema financeiro mundial e ondas de choque se propagavam inexoravelmente pelas economias nacionais de Ocidente a Oriente, 110 galerias de arte reunidas na ArtSingapore, de 10 a 13 de Outubro, davam a conhecer uma amostra do melhor que se produz de arte contemporânea na Ásia, do Japão à Coreia do Sul, da China a Singapura, Tailândia, Vietname, Indonésia e Filipinas, à Índia. Uma evidente demonstração do vigoroso processo de desenvolvimento que atravessa a Ásia e do crescente poder económico das suas elites. Uma expressão do posicionamento cada vez mais proeminente da arte asiática no mundo global da arte.
Contrastando com a angústia que perpassa a Ocidente, galeristas e pintores exprimiram paz e confiança no futuro da Ásia e nas suas riquíssimas expressões artísticas enquanto interpretaram os episódios perturbadores a que se assiste nos dias que correm como dores de parto de um novo mundo. ArtSingapore foi esteticamente uma exposição de modernismos plurais, que dominantemente se afirmam como um contínuo histórico-artístico autónomo e distinto dos cânones euro-americanos, com temáticas que oscilam entre o local e o global, que comunicam energia e espiritualidade, tabus e sensualidade, e onde o experimentalismo tem livre curso.
A criação visual moderna também ela se libertou na China com a política de abertura de Deng Xiao Ping, a partir de 1979. Na Índia múltiplos movimentos se manifestaram de Nova Delhi a Bombaim, alastrando a uma miríade de cidades de menor dimensão.
A primeira exposição de arte contemporânea pan-asiática teve lugar em Nova Iorque, em 1996. Foi também nos anos 90 que o mercado de arte se veio a afirmar e a crescer nas principais cidades asiáticas.
Em 1999, um óleo do pintor indonésio do século XIX, Raden Saleh, foi adquirido em Singapura por um amante de arte local pela extraordinária quantia de 1,43 milhões de dólares americanos.
Nos últimos cinco anos a Índia viu florescer as transacções de arte, não mais à custa dos cidadãos indianos da diáspora mas, em larga medida, devido ao aumento do poder de compra da classe média. Os indianos residentes na Índia são responsáveis por 85% das aquisições. As transacções de arte indiana ultrapassam actualmente os 350 milhões de dólares.
O marketing e a promoção da arte asiática têm-se vindo a expandir de forma sustentada a nível mundial nas últimas décadas. A revista Arts of Ásia surgiu pela primeira vez em Hong Kong em 1971. AsianArtNews, que se publica na mesma cidade desde 1991, viu surgir a seu lado múltiplas concorrentes, desde Daruma Magazine dedicada à arte japonesa e publicada desde 1994, à Art Índia no seu décimo segundo ano de vida, à revista indiana Art & Deal em existência desde 2002. Art_Icle, dedicada à arte e cultura japonesa, pôs em Outubro nas bancas o seu 12º volume. Mais recentemente viu a luz da ribalta a revista Gallery, com origem na cidade chinesa de Guangzhou, que distribui actualmente 80.000 exemplares.
A arte asiática contemporânea está exuberante. Mercê, igualmente, de uma valorização crescente das condições de formação e de criação artística nas sociedades asiáticas donde emanam. Os ocidentais apreciam e usufruem deste gosto pela arte contemporânea da Ásia. Os galeristas dos EUA e da Europa não perdem oportunidades para promover as obras dos seus pintores no Oriente. Na ArtSingapore não faltaram, entre outros, os EUA, a França e a Espanha.
Apesar desta se realizar desde o ano 2000, Portugal, país com uma reconhecida plétora de artistas plásticos, nunca esteve presente. Há sempre uma primeira vez. Será 2009?

Wednesday, October 1, 2008

01-10-2008 Equilibrar

O abandono da Ásia por parte da Europa, aquando da crise financeira sofrida em 1997, deixou um amargo de boca aos líderes asiáticos. Anos continuam a ser perdidos.
A crise financeira, emanação de graves falhas de regulação no sistema financeiro americano, tornou-se verdadeiramente global.
Se causa perplexidade o facto das instituições relevantes dos EUA não terem prevenido a tempo este colapso, não é motivo para menos preocupação a incapacidade da Europa para antecipar consequências e para agir proactivamente a nível político e financeiro na cena internacional.
A Europa, a quem falta a necessária coesão na acção, continua a afirmar-se como dependente das forças e fraquezas americanas.
Num novo contexto histórico, que vai assistindo ao fim do domínio que o Ocidente disfrutou durante os últimos duzentos anos(1), é mais do que tempo para a Europa, reafirmando a aliança atlântica, assumir uma forte liderança (2) no concerto das nações. Em vez de se remeter a uma posição digna e honrosa mas de mero aconselhamento e de ‘lobbyist’, a Europa tem hoje uma oportunidade para tomar a iniciativa a nível diplomático, económico e financeiro, como também, ao nível da política de segurança global, e para estabelecer relações privilegiadas com a Ásia. A Ásia beneficiaria desta Europa mais autodeterminada na construção de um mundo multipolar mais equilibrado.
A Ásia deverá poder contar com uma Europa não concentrada apenas nos seus interesses imediatos mas que esteja deveras empenhada no desenvolvimento da China, da Índia, do Sudeste Asiático, dos países asiáticos em geral, sem estar constantemente à procura dos aspectos negativos ou menos positivos desse processo.
A Ásia precisa de ser assumida como um parceiro da Europa. A mentalidade colonial não tem mais lugar nas relações entre a Europa e a Ásia e esta não precisa que lhe dêem lições. Mas espera que com ela cooperem.
A Europa ganharia em desenvolver alianças activas com os países amigos da região. Uma aproximação que cada um dos países europeus pode ajudar a fermentar, Portugal incluído.
Muitos milhares de empresas europeias estabeleceram-se na Ásia. Mas as relações institucionais entre a União Europeia, a China, a Índia, Singapura ou a ASEAN têm progredido muito lentamente. São ainda magros os progressos alcançados ao nível do Asia Europe Summit Meeting (ASEM), criado em 1996.
O abandono da Àsia por parte da Europa, aquando da crise financeira sofrida em 1997, deixou um amargo de boca aos líderes asiáticos. Anos continuam a ser perdidos para a aproximação institucional e para a celebração de acordos de cooperação económica ou de livre comércio. Os países asiáticos deveriam ser prioritários para a política externa da Europa. E não apenas o Japão. E as suas preocupações deviam merecer a maior atenção.
É do melhor interesse da Europa e da Ásia, onde vive a maior parte da população islâmica do mundo, apoiar o desenvolvimento efectivo do Estado Palestiniano, a par do respeito pelo Estado de Israel, integrar e apoiar o desenvolvimento das comunidades islâmicas e ter em consideração os seus sentimentos. Uma forma de evitar a humilhação e de prevenir o alastramento do ódio que é o caldo do terrorismo. Ódio e pobreza são a mistura mais explosiva do século XXI.
A Ásia é um continente geograficamente distante da Europa. E, por isso, os europeus corrrem o risco de instintivamente colocarem os que estão longe da vista, longe do coração. Mas a Ásia tornou-se um continente com economias cada vez mais poderosas, povos confiantes no seu futuro, admirados pelo seu profissionalismo, o seu método, a sua organização, a sua paixão pela perfeição. Que esperam o respeito e o reconhecimento por parte dos países ocidentais. Que esperam uma redistribuição justa e equilibrada na partilha do poder nas instituições que gerem os assuntos globais.
A Ásia espera uma nova atitude da Europa, uma visão do século XXI
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1)
Estados Unidos preparam-se para o declínio
in Público, 22.11.2008, Francisca Gorjão Henriques

Relatório especial da espionagem norte-americana prevê uma transferência sem precedentes de riqueza do Ocidente para o Oriente
Os Estados Unidos em declínio. A China e a Índia mais poderosas. Falta de alimentos. Falta de água. Muitas armas. Será assim o mundo em 2025.
Estas são algumas das conclusões de um relatório do National Intelligence Council, um think tank dos serviços de informação norte-americanos.
A cada cinco anos, especialistas de várias áreas são ouvidos para encontrar as tendências globais do futuro.
O relatório Global Trends 2025: A Transformed World é mais pessimista que os anteriores, sobretudo quanto ao papel dos EUA na cena internacional. Mas não chega a ser fatalista. Tudo dependerá das respostas dos líderes às crises que vão encontrar.
O documento foi precisamente preparado para estar em cima da mesa da Sala Oval a 20 de Janeiro, quando Barack Obama tomar posse como Presidente.E os cenários não são traçados a cor-de-rosa.
Não é que os EUA deixem de ser a grande potência mundial. Mas a dispersão de autoridade, que tem sido já uma tendência nas últimas duas décadas, irá aumentar. "Os BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] não deverão desafiar o sistema internacional como fizeram a Alemanha e o Japão nos séculos XIX e XX, mas, devido à sua ascensão geopolítica e económica, terão um maior grau de liberdade para adoptar as suas medidas políticas e económicas em vez de integrar totalmente as normas internacionais", lê-se. E mesmo no campo militar, "em que os EUA continuarão a possuir vantagens consideráveis em 2025, os avanços feitos por outros na ciência e tecnologia, adopção de tácticas bélicas irregulares por estados e actores não estatais, irão limitar a liberdade de acção dos EUA".O relatório também refere que a emergência de sistemas multipolares torna o mundo mais instável do que com um sistema uni ou bipolar. Os riscos advêm da concorrência no comércio, investimentos e inovação tecnológica, embora não se possa excluir um cenário como o do século XIX de corrida ao armamento, expansão territorial e rivalidades militares.
Não é que vá estar em total colapso, mas daqui a quinze anos, "o sistema internacional, tal como foi construído na sequência da II Guerra Mundial, será praticamente irreconhecível". Isto por causa da emergência de novas potências, de uma economia globalizada, uma transferência histórica de alguma riqueza e poder económico do Ocidente para Oriente e da crescente influência dos actores não estatais.
(...)
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2) FINALMENTE A EUROPA FOI CAPAZ DE ENSAIAR A LIDERANÇA
Reunião do G20 em Washington
Luis Rego em Bruxelas, DIÁRIO ECONÓMICO 2008-11-17 00:05
Começou a reforma da economia mundial
G20 determinou o que mudar e os prazos. Agora falta concretizar.
.
Os Estados Unidos e as mais ricas e promissoras economias mundiais adoptaram, grosso modo, o plano europeu de reforma do sistema financeiro internacional acordado em Bruxelas, incluindo um calendário para apertar a regulação no sector e reformar as instituições de Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial.
Os receios de excesso de regulação por parte da administração americana foram serenados com uma declaração de apoio à economia capitalista de mercado que, diz a Casa Branca, impediu o “assalto ao capitalismo”.Os ministros das Finanças dos 20 países reunidos emWashington foram mandatados para concretizar propostas a tempo da próxima reunião, no dia 30 de Abril, desta feita em Londres, 101 dias depois de Barack Obama tomar posse como presidente dos EUA.
Dando uma nova dinâmica ao processo, o ex-senador de Illinois pode ditar no futuro próximo o êxito ou fracasso da reunião deste fim-de-semana.
Nicolas Sarkozy, actual presidente da UE, cantou vitória no sábado dizendo “tudo ou quase tudo”o que a UE propôs foi aceite. “As agências de notação serão registadas e supervisionadas, os bancos que tenham uma política de remuneração exagerada verão o seu ‘rating’ diminuído, teremos novas regras de contabilidade e acabámos coma concorrência entre praças financeiras, sob pretexto de que umas são menos supervisionadas do que outras”, explicou Sarkozy. Além disso, sobre os paraísos fiscais, ou os centros não cooperativos, “há uma obrigação de os bancos declararem tudo o que lá têm, e estes passaram a ser controlados”, explicou. “Todos os mercados financeiros, produtos e participantes serão regulados ou sujeitos a supervisão” diz o comunicado final.
“Não haverá mais pontos cegos [no sistema financeiro]”, resume a chanceler alemã, Angela Merkel.
É “histórico que aqui nos EUA a administração norte-americana aceite fazer um movimento [relativo ao mercado] que sempre recusou, fosse com democratas ou republicanos”, disse Sarkozy.
Revelou-se audaz a estratégia europeia de fazer esta cimeira durante a transição na Casa Branca, em que a administração Bush está fragilizada e Obama carrega baterias na sua sombra. Resta saber se o próximo presidente subscreve este plano.
Bush disse aos parceiros que tinha Obama bem informado e que tinha zelado pelos interesses americanos. “Quaisquer reformas que sejam recomendadas, precisamos de ser conduzidos por um facto simples: a melhor forma de resolver os nossos problemas é através do crescimento económico. E a forma mais segura para o crescimento é o capitalismo de mercado”, disse George W. Bush.
A parte mais prática da declaração defende que, “nos próximos 12 meses, vamos coibir-nos de erguer novas barreiras ao investimento ou comércio em bens e serviços, impondo restrições às exportações ou medidas inconsistentes com a OMC”.
Se o êxito das conclusões está sujeita à sua execução, a reunião já foi uma vitória para os líderes das economias emergentes que celebraram a presença no novo fórum mundial e viram a porta aberta a que os novos Fórum de Estabilidade Financeira, FMI e Banco Mundial reflictam o novo equilíbrio de forças mundial.
Hu Jintao, o presidente chinês, apelou a que isto seja o princípio de uma “nova ordem financeira internacional mais justa, inclusiva e ordeira”. “Estamos num mundo novo”, afirmou Sarkozy, “não é menos para os EUA, é mais para os outros”, concluiu.

Wednesday, September 17, 2008

17-09-2008 As Visitas

As visitas de Estado são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas.
Visita-se por muitos motivos. Para manter relações e reforçar a amizade. Hoje menos, por cerimónia, por cortesia, por respeito. Cada vez mais por curiosidade, para fazer turismo. Também para inspeccionar, controlar e corrigir situações. E, frequentemente, por negócio.
As visitas de Estado, para além das formalidades diplomáticas, são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas. Muitas são bem eficazes e geram o aumento do investimento e do emprego. E, no curto prazo, fomentam a expansão do comércio bilateral. Estudos internacionais recentes apontam para um aumento de 8 a 10% das exportações após as visitas de Estado. Mas este crescimento depende da repetição destas visitas entre os países em questão.
Mas há, também, “visitas de estudo” de líderes políticos nacionais ou provinciais cujo efeito é ainda mais retumbante. Porque o que as mobiliza não é a simples curiosidade mas uma avaliação no terreno de políticas adoptadas e dos modelos que as sustentam. Recorde-se a este propósito a visita de Deng Xiao Ping a Singapura, em Novembro de 1978. Singapura tornou-se, desde então, o modelo preferido de Deng para a China (Michael Leifer, Singapore Foreign Policy, London, Routledge, 2000).
Actualmente visita a cidade Estado uma delegação de Cantão (Guangdong) com vinte altos dirigentes públicos e 400 empresários, chefiada pelo secretário geral do Partido Comunista da província, Wang Yang. O Housing Development Board, modelo de habitação de iniciativa pública onde reside 80% da população, é uma das prioridades desta “visita de estudo”.
Tal como o modelo de desenvolvimento urbano, assente em planos de longo e muito longo prazo, que é gerido pela Urban Redevelopment Authority e que coordena o uso do território com o modelo de desenvolvimento económico.
Nestes, como em muitos outros domínios, há exemplos de grande eficácia e de eficiência a apresentar e que não deixarão de gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios, com benefício para as populações dos países envolvidos.
A saúde é outro caso exemplar, onde Singapura alcança os melhores indicadores do Mundo mas, ao mesmo tempo, onde só gasta actualmente 4% do PIB. Onde os EUA gastam 16%. É que não há competitividade que valha quando o modelo é inadequado e o uso dos recursos é ineficiente.
O que impressiona o visitante estrangeiro interessado em processos de desenvolvimento é a combinação de uma forte economia de mercado com uma forte intervenção de ‘holdings públicas’, altamente lucrativas, responsáveis por cerca de 60% do PIB, dirigidas pelos mais destacados gestores nacionais ou estrangeiros, com uma forte e clarividente direcção política. Uma realidade que liberais e socialistas portugueses terão dificuldade em entender.
Uma verdadeira terceira via que atrai um número crescente de países em desenvolvimento sem desencadear qualquer ameaça a quem quer que seja, dada a sua dimensão: Singapura é o segundo país mais pequeno da Ásia, com cerca de 700km2, mas com um volume de trocas comerciais de 847 mil milhões de dólares, em 2007.
Portugal é visitado e visita. Aos de fora precisa de apresentar com maior agressividade os seus modelos de sucesso no planeamento urbano, na habitação pública, na saúde, na educação e na ciência, na administração pública, na industrialização. Onde quer que exista potencial há que gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios.
Empresários portugueses embarcam em comitivas de Estado de um país que parece não ter mais que cinquenta empresas para apresentar no exterior. Uma imagem que se espalha. Que é afinal consistente com o facto de num território de mais de 91.000 km2 não irem além dos 127 mil milhões de dólares, em 2007, as trocas comerciais com o Mundo.
Faz falta a Portugal serenidade para encontrar uma direcção e um futuro. Enquanto na cultura política predominar o prazer da conflitualidade, a exposição pública de egos frágeis à procura de compensações simbólicas Portugal não será mais que um país liliputiano.
Portugal precisa de procurar convergências para rasgar os caminhos do Mundo. E para provar que a democracia é um modelo eficaz para satisfazer as necessidades de uma Nação.

Wednesday, September 3, 2008

03-09-2008 A Última Prioridade

A Ásia é quase um deserto para Portugal, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam.
É facto que os empresários portugueses não vêem nem a China, nem o Sudeste Asiático, nem a Índia como fonte de oportunidades. E as excepções não fazem a regra.
As enormes capacidades demonstradas pela China, o ritmo do seu crescimento, as extraordinárias transformações que nela têm lugar e a sua trajectória como superpotência são percebidas, em Portugal, ou como irrelevantes ou, então, como uma ameaça. Apesar de a China ser o segundo parceiro comercial da UE. Apesar de as exportações da UE para a China terem mais do que duplicado entre 2003 e 2007, alcançando neste último ano os 72 mil milhões de euros.
Imagine-se Singapura a ignorar as oportunidades oferecidas pelo conjunto das economias americana e europeia. É o que faz Portugal ao subestimar o potencial económico da China e ao desinteressar-se pelas oportunidades na Ásia. Ignora-se que a explosão da China tem a dimensão da Ásia.
A China é, hoje, o centro dum imparável processo de integração da economia asiática. A China é, actualmente, o principal cliente do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul. E dentro de pouco tempo sê-lo-á, também, da Índia.
Entre 1993 e 2003 o comércio bilateral entre a China e o Japão cresceu 250%. Cresceu mesmo 350% com Singapura, 670% com a Coreia do Sul, 835% com a Tailândia, 1.025% com a Malásia. E 1.025% com a Índia.
Se excluirmos o valor das exportações para a região mais populosa do Mundo, nomeadamente para Singapura e Malásia, de produtos produzidos por algumas empresas multinacionais de origem estrangeira a operarem em Portugal, a Ásia é quase um deserto para Portugal. E com agravamentos, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam. As exportações para o Japão decaíram 46% em relação a igual período do ano passado. Mas as importações do Japão, de Janeiro a Junho de 2008, com origem na UE, estabilizaram num crescimento de 0,2% relativamente a igual período de 2007. Houve quebras nas importações de países da UE, não tão acentuadas como as sofridas por Portugal, e houve crescimentos nos casos da Alemanha (3,6%) ou Espanha (11,2%), entre outros. O que confirma não serem uma inevitabilidade as perdas nacionais.
Esta Ásia sinocêntrica, que será o maior mercado consumidor de bens e serviços do Mundo, justifica um muito amplo e redobrado empenhamento económico e diplomático de Portugal, uma fundamentada estratégia. Exige mesmo uma acção radicalmente distinta da que tem sido adoptada, com um outro ritmo, com a visita assídua de líderes políticos e empresariais, com a implantação de uma vasta rede de empresas subsidiárias e de escritórios de representação portugueses na região.
O sucesso na Ásia obriga a uma mudança de atitudes por parte dos empresários portugueses. Esconder, sob a máscara de sentimentos de superioridade, o desconforto das diferenças culturais só prejudica as relações políticas, económicas, científicas e culturais, com os povos asiáticos.
Há um caminho a percorrer, uma aprendizagem a fazer em cada país asiático. Enquanto os ocidentais vão para fechar negócio, os chineses desenvolvem relações com pessoas com quem, eventualmente, querem fazer negócio. E só fazem negócio com pessoas que conhecem, de quem gostam e que respeitam. Enquanto europeus e americanos fazem capitalismo impessoal, os chineses preferem um capitalismo baseado nas relações pessoais. E esperam realismo e flexibilidade por parte dos fornecedores ocidentais.
Mas não será a Ásia, pura e simplesmente, a última prioridade para Portugal?
Cautela! Porque muito provavelmente os últimos virão a ser os primeiros.

Wednesday, August 20, 2008

20-08-2008 Desafios

As importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007.
Com uma imagem mais saliente, os países da Ásia poderão ganhar, após os Jogos Olímpicos, um novo interesse para as empresas exportadoras nacionais, nomeadamente China e Singapura.
Desde 2005, este pequeno país do Sudeste Asiático, localizado um grau acima do Equador, tem assumido uma extraordinária importância para Portugal pois constitui o terceiro mais importante mercado das nossas exportações fora da União Europeia.
De acordo com dados do International Trade Center UNCTDA/WTO, as importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007. Um sucesso que deve ser associado aos incentivos concedidos pela API e que foram negociados quer por Miguel Cadilhe quer, mais recentemente, por Basílio Horta. Cerca de noventa por cento dos produtos importados caem, por inteiro, no âmbito dos códigos oitenta e quatro e oitenta e cinco.
Há um enorme desafio para lançar às empresas portuguesas. Em primeiro lugar, porque as exportações portuguesas para este país estão concentradas num muito reduzido número de produtos.
Em segundo lugar, porque existe uma poderosa economia com possibilidade de absorver a oferta nacional de uma vastíssima gama de produtos e serviços, caso esta tenha a ousadia, a competência e a disciplina necessária. É preciso diversificar a oferta, ganhar e consolidar mercados. Portugal representou, em 2007, pouco mais que 0,1% do total das importações de Singapura, não ultrapassando a 44ª posição entre os países fornecedores.
Wine for Asia
Entre os mercados de interesse está o dos vinhos. Portugal ocupa agora a 13ª posição entre os países fornecedores de vinhos a Singapura. Mas não se devem subestimar as oportunidades pois, entre 2001 e 2007, as importações de vinhos portugueses para a cidade-Estado cresceram 154%.
Os produtores portugueses deveriam atribuir uma acrescida prioridade a este país que é, afinal, um dos países mais inovadores da Ásia e do Mundo. Deveriam explorar novas estratégias adequadas a este mercado. Singapura ocupa, tão só, a 37ª posição entre os países clientes dos vinhos portugueses.
Em 2007, a AEP organizou a presença de alguns produtores e exportadores de vinhos portugueses na Wine for Asia 2007. O Pavilhão Portugal teve um extraordinário impacto e deu lugar a novos canais de importação e distribuição. A empresa, que concebeu e produziu o pavilhão, uma multinacional do sector de exposições com forte presença em toda a Ásia, percebeu o potencial estratégico da Wine for Asia e adquiriu a organização da feira. Uma decisão que merece reflexão.
De novo, em Outubro próximo, terá lugar a Wine for Asia 2008 onde são esperados mais de 4000 profissionais do sector oriundos de, pelo menos, quinze mercados da região.
Não há mercados fáceis.
Os produtores portugueses que decidirem estar presentes vão ter, uma vez mais, uma oportunidade para demonstrar a sua visão, competência estratégica, determinação e persistência. Vão poder aprofundar o seu conhecimento sobre os mercados asiáticos. Vão poder lançar os seus produtos, promover as suas marcas e as suas empresas na Ásia. Se tiverem afinado o seu marketing estratégico para esta parte do Mundo.
Não há mercados fáceis. Há-os mais ou menos competitivos com graus de diferenciação e segmentação diversos, com hábitos distintos mercê dos quadros de vida que os caracterizam. Mas as variações culturais entre povos asiáticos são um grande desafio para os exportadores de vinho nacionais.

Wednesday, August 6, 2008

06-08-2008 Multinacionais

Vencer a crise económica portuguesa passa por um drástico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.
Os jogos olímpicos na China inspiraram um vasto conjunto de artigos, editoriais e comentários que ultrapassam largamente o interesse desportivo. O papel das multinacionais no desenvolvimento da China tem sido um dos temas mais versados nestes dias que antecedem o momento simbólico do reconhecimento universal da China moderna. A sua actuação é apresentada como negativa para os interesses da União Europeia e dos EUA. “Uma traição!”
O que, verdadeiramente, evidenciam a maioria destes textos são atitudes proteccionistas, anti-globalização e anti-multinacionais. Atitudes que evidenciam uma total desfocalização em relação ao estado do mundo neste século XXI. Porque as multinacionais representam uma característica fundamental e indissociável das economias modernas, um dos principais motores da globalização.
Sentimentos ambíguos, senão mesmo contraditórios, em relação às multinacionais prevalecem em Portugal, como em muitos outros países. As multinacionais sao vistas como ameaças à riqueza e à identidade nacional. Mas, por outro lado, reconhece-se que elas trazem investimento estrangeiro, mais postos de trabalho, melhores condições de emprego, mais conhecimento, mais I&D, melhores formas de organização do trabalho, melhores práticas, mais avançadas tecnologias de gestão e produção, muitas vezes produtos e serviços de melhor qualidade que os oferecidos pelas empresas locais. E contribuem decisivamente para o aumento das exportações e do PIB. As multinacionais contribuem para o desenvolvimento regional e local, para o desenvolvimento dos recursos humanos porque empregam uma maior percentagem de colaboradores diferenciados (‘white-collar’) e têm uma produtividade superior às empresas locais.
Levar um número crescente de empresas multinacionais a investir nas suas economias é um objectivo comum a países desenvolvidos, dos EUA ao Canadá, ao Reino Unido ou à Suiça. Não é ambição apenas de países em dificuldades ou de países em desenvolvimento. Um terço do PIB suiço tem origem em empresas multinacionais.
Portugal tem de competir de forma muito agressiva para as atrair. Em 2005, estariam a operar em Portugal 600 empresas multinacionais. Singapura tinha, em 2006, cerca de 7.000 empresas multinacionais, sendo que 4.000 eram sedes regionais. Em 2013, a China tem como objectivo ter, em Shanghai, 3.000 sedes regionais de empresas multinacionais.
Os países distinguem-se, também, pelo grau de sucesso da integração das suas empresas no mercado global e em cada um dos mercados regionais. A comprová-lo está a China que não é apenas receptor do investimento do Ocidente. Também ela fomenta o desenvolvimento das suas empresas multinacionais. Entre as 500 mais importantes empresas mundiais, doze têm origem na China. A Legend Holdings, que detém o grupo Lenovo, ou o grupo YTO, que exporta tractores para 30 países e que possui fábricas na Turquia e na Europa Central e do Leste, são ambas expressão desta política de globalização. Tal como a China National Cereals, Oils & Foodstuffs Import & Export Corporation, a TCL Corporation ou a Gree Corporation.
De igual modo, a Índia investiu na União Europeia, em 2007, mais de 25 mil milhões de dólares americanos, tendo criado mais de 10.000 postos de trabalho na Alemanha.
Ser empresa multinacional é a melhor forma de operar numa economia global integrada. Ganhar acesso a novos mercados, procurar factores de produção mais eficientes, adquirir tecnologias específicas para integrar a sua produção, explorar externalidades associadas a determinadas (des)localizações são razões suficientes para as grandes ou médias empresas portuguesas se abalançarem a uma transformação em empresas multinacionais.
Pequenas empresas subsidiárias, localizadas em centros de influência regional em cada continente, poderão operar de forma flexível e adaptável em múltiplos países das Ásias, das Américas, da África, ou da Europa.
Vencer a crise económica portuguesa passa por um drámatico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.