Singapura gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
Alunos de universidades portuguesas colocam-me frequentemente a questão dos factores de sucesso de Singapura por contraste com Portugal. Recorde-se que Singapura adquiriu a independência em 1965. Era então um pântano polvilhado por tugúrios onde grassava ainda a tuberculose e a guerrilha racial. No início dos anos oitenta o nível de desenvolvimento entre os dois países era semelhante. Em 2007, o PIB per capita de Singapura atingiu os 49.900 dólares enquanto o de Portugal ficou-se pelos 21.800 dólares.
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Em alternativa a uma comparação baseada em indicadores, optei por questionar os factores de sucesso percebidos por cidadãos com conhecimento privilegiado, reunindo um ‘focus group’ constituído por um professor universitário, um docente de instituto politécnico, dois professores de ensino secundário, um quadro superior público de apoio às PME, um jornalista sénior e um jornalista júnior, pertencentes ambos aos jornais de maior circulação de Singapura. Perguntei-lhes a que se devia o sucesso do seu país. A resposta foi unânime: à liderança de Lee Kuan Yew e à sua direcção estratégica.
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Não sendo descabido utilizar o mesmo factor explicativo em relação a Portugal, poder-se-ía afirmar que o menor sucesso nacional decorre do conjunto das orientações estratégicas que o conjunto das lideranças pôs em prática durante os últimos trinta anos. Uma conclusão politicamente incorrecta. Mas sobre a qual seria desejável que as elites de esquerda, centro e direita, que vêm gerindo o sistema político português desde abril de 1974, aceitassem reflectir.
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Um sistema onde, em qualquer momento, um qualquer grupo profissional é capaz de bloquear a transformação imprescindível do país. Um sistema onde a retórica se sobrepõe à lógica de resultados, onde as palavras valem mais que as acções. Onde as emoções valem mais que a avaliação científica dos problemas, mais que a análise comparada com outros países, mais que a elaboração fundamentada das estratégias, a discussão serena e a mobilização do país em torno de objectivos de interesse nacional. Um sistema político onde a dramatização substitui o rigor. Um sistema político onde as agendas da esquerda, do centro ou da direita valem mais do que a agenda de Portugal. Qualquer observador atento à evolução de Portugal perguntar-se-á para que serve este sistema democrático e estas lideranças de esquerda, centro e direita, se em conjunto não são capazes de assegurar o crescimento económico, o desenvolvimento, o emprego, o bem estar da população portuguesa? Muita ideologia, fraca estratégia, pouco pragmatismo, magros resultados práticos.
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Avaliação do desempenho
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Singapura, um dos ‘top performers’ mundiais a nível da educação, dedicou-lhe uma larga fatia do orçamento nos primeiros anos após a independência. Hoje gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da OCDE.
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Razão suficiente para questionar o grupo focal sobre o que explica, então, o sucesso do sistema de ensino de Singapura a nível primário e secundário. Sem hesitação o grupo atribuiu à introdução da avaliação de desempenho dos professores o salto qualitativo alcançado no ensino de Singapura nos últimos dez anos. .
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Os aumentos salariais e os prémios de desempenho, bem como a atribuição de prémios às equipas de docentes, estão associados à avaliação do desempenho. Que é apoiada pela maioria dos professores, como resulta dum inquérito realizado no ano passado a uma amostra 3.300 professores.Singapura adoptou na educação um sistema de avaliação que tem em conta não só o desempenho anual do professor mas também o seu potencial de desempenho futuro. Avalia em que medida os objectivos de trabalho docente foram alcançados (actividades de de ensino, actividades co-curriculares, projectos e tarefas, etc) e os níveis de competência atingidos em termos de conhecimentos e habilidades, bem como as características profissionais dos docentes. A classificação traduz-se num A, B, C, D ou E. Enquanto Portugal resiste à mudança necessária para enfrentar os desafios do mundo globalizado, Singapura põe em prática soluções eficazes e influencia os caminhos do século XXI. Enquanto Portugal se fragiliza, Singapura fortalece-se. Sem fundos da UE!
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