Wednesday, September 17, 2008

17-09-2008 As Visitas

As visitas de Estado são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas.
Visita-se por muitos motivos. Para manter relações e reforçar a amizade. Hoje menos, por cerimónia, por cortesia, por respeito. Cada vez mais por curiosidade, para fazer turismo. Também para inspeccionar, controlar e corrigir situações. E, frequentemente, por negócio.
As visitas de Estado, para além das formalidades diplomáticas, são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas. Muitas são bem eficazes e geram o aumento do investimento e do emprego. E, no curto prazo, fomentam a expansão do comércio bilateral. Estudos internacionais recentes apontam para um aumento de 8 a 10% das exportações após as visitas de Estado. Mas este crescimento depende da repetição destas visitas entre os países em questão.
Mas há, também, “visitas de estudo” de líderes políticos nacionais ou provinciais cujo efeito é ainda mais retumbante. Porque o que as mobiliza não é a simples curiosidade mas uma avaliação no terreno de políticas adoptadas e dos modelos que as sustentam. Recorde-se a este propósito a visita de Deng Xiao Ping a Singapura, em Novembro de 1978. Singapura tornou-se, desde então, o modelo preferido de Deng para a China (Michael Leifer, Singapore Foreign Policy, London, Routledge, 2000).
Actualmente visita a cidade Estado uma delegação de Cantão (Guangdong) com vinte altos dirigentes públicos e 400 empresários, chefiada pelo secretário geral do Partido Comunista da província, Wang Yang. O Housing Development Board, modelo de habitação de iniciativa pública onde reside 80% da população, é uma das prioridades desta “visita de estudo”.
Tal como o modelo de desenvolvimento urbano, assente em planos de longo e muito longo prazo, que é gerido pela Urban Redevelopment Authority e que coordena o uso do território com o modelo de desenvolvimento económico.
Nestes, como em muitos outros domínios, há exemplos de grande eficácia e de eficiência a apresentar e que não deixarão de gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios, com benefício para as populações dos países envolvidos.
A saúde é outro caso exemplar, onde Singapura alcança os melhores indicadores do Mundo mas, ao mesmo tempo, onde só gasta actualmente 4% do PIB. Onde os EUA gastam 16%. É que não há competitividade que valha quando o modelo é inadequado e o uso dos recursos é ineficiente.
O que impressiona o visitante estrangeiro interessado em processos de desenvolvimento é a combinação de uma forte economia de mercado com uma forte intervenção de ‘holdings públicas’, altamente lucrativas, responsáveis por cerca de 60% do PIB, dirigidas pelos mais destacados gestores nacionais ou estrangeiros, com uma forte e clarividente direcção política. Uma realidade que liberais e socialistas portugueses terão dificuldade em entender.
Uma verdadeira terceira via que atrai um número crescente de países em desenvolvimento sem desencadear qualquer ameaça a quem quer que seja, dada a sua dimensão: Singapura é o segundo país mais pequeno da Ásia, com cerca de 700km2, mas com um volume de trocas comerciais de 847 mil milhões de dólares, em 2007.
Portugal é visitado e visita. Aos de fora precisa de apresentar com maior agressividade os seus modelos de sucesso no planeamento urbano, na habitação pública, na saúde, na educação e na ciência, na administração pública, na industrialização. Onde quer que exista potencial há que gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios.
Empresários portugueses embarcam em comitivas de Estado de um país que parece não ter mais que cinquenta empresas para apresentar no exterior. Uma imagem que se espalha. Que é afinal consistente com o facto de num território de mais de 91.000 km2 não irem além dos 127 mil milhões de dólares, em 2007, as trocas comerciais com o Mundo.
Faz falta a Portugal serenidade para encontrar uma direcção e um futuro. Enquanto na cultura política predominar o prazer da conflitualidade, a exposição pública de egos frágeis à procura de compensações simbólicas Portugal não será mais que um país liliputiano.
Portugal precisa de procurar convergências para rasgar os caminhos do Mundo. E para provar que a democracia é um modelo eficaz para satisfazer as necessidades de uma Nação.

Wednesday, September 3, 2008

03-09-2008 A Última Prioridade

A Ásia é quase um deserto para Portugal, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam.
É facto que os empresários portugueses não vêem nem a China, nem o Sudeste Asiático, nem a Índia como fonte de oportunidades. E as excepções não fazem a regra.
As enormes capacidades demonstradas pela China, o ritmo do seu crescimento, as extraordinárias transformações que nela têm lugar e a sua trajectória como superpotência são percebidas, em Portugal, ou como irrelevantes ou, então, como uma ameaça. Apesar de a China ser o segundo parceiro comercial da UE. Apesar de as exportações da UE para a China terem mais do que duplicado entre 2003 e 2007, alcançando neste último ano os 72 mil milhões de euros.
Imagine-se Singapura a ignorar as oportunidades oferecidas pelo conjunto das economias americana e europeia. É o que faz Portugal ao subestimar o potencial económico da China e ao desinteressar-se pelas oportunidades na Ásia. Ignora-se que a explosão da China tem a dimensão da Ásia.
A China é, hoje, o centro dum imparável processo de integração da economia asiática. A China é, actualmente, o principal cliente do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul. E dentro de pouco tempo sê-lo-á, também, da Índia.
Entre 1993 e 2003 o comércio bilateral entre a China e o Japão cresceu 250%. Cresceu mesmo 350% com Singapura, 670% com a Coreia do Sul, 835% com a Tailândia, 1.025% com a Malásia. E 1.025% com a Índia.
Se excluirmos o valor das exportações para a região mais populosa do Mundo, nomeadamente para Singapura e Malásia, de produtos produzidos por algumas empresas multinacionais de origem estrangeira a operarem em Portugal, a Ásia é quase um deserto para Portugal. E com agravamentos, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam. As exportações para o Japão decaíram 46% em relação a igual período do ano passado. Mas as importações do Japão, de Janeiro a Junho de 2008, com origem na UE, estabilizaram num crescimento de 0,2% relativamente a igual período de 2007. Houve quebras nas importações de países da UE, não tão acentuadas como as sofridas por Portugal, e houve crescimentos nos casos da Alemanha (3,6%) ou Espanha (11,2%), entre outros. O que confirma não serem uma inevitabilidade as perdas nacionais.
Esta Ásia sinocêntrica, que será o maior mercado consumidor de bens e serviços do Mundo, justifica um muito amplo e redobrado empenhamento económico e diplomático de Portugal, uma fundamentada estratégia. Exige mesmo uma acção radicalmente distinta da que tem sido adoptada, com um outro ritmo, com a visita assídua de líderes políticos e empresariais, com a implantação de uma vasta rede de empresas subsidiárias e de escritórios de representação portugueses na região.
O sucesso na Ásia obriga a uma mudança de atitudes por parte dos empresários portugueses. Esconder, sob a máscara de sentimentos de superioridade, o desconforto das diferenças culturais só prejudica as relações políticas, económicas, científicas e culturais, com os povos asiáticos.
Há um caminho a percorrer, uma aprendizagem a fazer em cada país asiático. Enquanto os ocidentais vão para fechar negócio, os chineses desenvolvem relações com pessoas com quem, eventualmente, querem fazer negócio. E só fazem negócio com pessoas que conhecem, de quem gostam e que respeitam. Enquanto europeus e americanos fazem capitalismo impessoal, os chineses preferem um capitalismo baseado nas relações pessoais. E esperam realismo e flexibilidade por parte dos fornecedores ocidentais.
Mas não será a Ásia, pura e simplesmente, a última prioridade para Portugal?
Cautela! Porque muito provavelmente os últimos virão a ser os primeiros.

Wednesday, August 20, 2008

20-08-2008 Desafios

As importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007.
Com uma imagem mais saliente, os países da Ásia poderão ganhar, após os Jogos Olímpicos, um novo interesse para as empresas exportadoras nacionais, nomeadamente China e Singapura.
Desde 2005, este pequeno país do Sudeste Asiático, localizado um grau acima do Equador, tem assumido uma extraordinária importância para Portugal pois constitui o terceiro mais importante mercado das nossas exportações fora da União Europeia.
De acordo com dados do International Trade Center UNCTDA/WTO, as importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007. Um sucesso que deve ser associado aos incentivos concedidos pela API e que foram negociados quer por Miguel Cadilhe quer, mais recentemente, por Basílio Horta. Cerca de noventa por cento dos produtos importados caem, por inteiro, no âmbito dos códigos oitenta e quatro e oitenta e cinco.
Há um enorme desafio para lançar às empresas portuguesas. Em primeiro lugar, porque as exportações portuguesas para este país estão concentradas num muito reduzido número de produtos.
Em segundo lugar, porque existe uma poderosa economia com possibilidade de absorver a oferta nacional de uma vastíssima gama de produtos e serviços, caso esta tenha a ousadia, a competência e a disciplina necessária. É preciso diversificar a oferta, ganhar e consolidar mercados. Portugal representou, em 2007, pouco mais que 0,1% do total das importações de Singapura, não ultrapassando a 44ª posição entre os países fornecedores.
Wine for Asia
Entre os mercados de interesse está o dos vinhos. Portugal ocupa agora a 13ª posição entre os países fornecedores de vinhos a Singapura. Mas não se devem subestimar as oportunidades pois, entre 2001 e 2007, as importações de vinhos portugueses para a cidade-Estado cresceram 154%.
Os produtores portugueses deveriam atribuir uma acrescida prioridade a este país que é, afinal, um dos países mais inovadores da Ásia e do Mundo. Deveriam explorar novas estratégias adequadas a este mercado. Singapura ocupa, tão só, a 37ª posição entre os países clientes dos vinhos portugueses.
Em 2007, a AEP organizou a presença de alguns produtores e exportadores de vinhos portugueses na Wine for Asia 2007. O Pavilhão Portugal teve um extraordinário impacto e deu lugar a novos canais de importação e distribuição. A empresa, que concebeu e produziu o pavilhão, uma multinacional do sector de exposições com forte presença em toda a Ásia, percebeu o potencial estratégico da Wine for Asia e adquiriu a organização da feira. Uma decisão que merece reflexão.
De novo, em Outubro próximo, terá lugar a Wine for Asia 2008 onde são esperados mais de 4000 profissionais do sector oriundos de, pelo menos, quinze mercados da região.
Não há mercados fáceis.
Os produtores portugueses que decidirem estar presentes vão ter, uma vez mais, uma oportunidade para demonstrar a sua visão, competência estratégica, determinação e persistência. Vão poder aprofundar o seu conhecimento sobre os mercados asiáticos. Vão poder lançar os seus produtos, promover as suas marcas e as suas empresas na Ásia. Se tiverem afinado o seu marketing estratégico para esta parte do Mundo.
Não há mercados fáceis. Há-os mais ou menos competitivos com graus de diferenciação e segmentação diversos, com hábitos distintos mercê dos quadros de vida que os caracterizam. Mas as variações culturais entre povos asiáticos são um grande desafio para os exportadores de vinho nacionais.

Wednesday, August 6, 2008

06-08-2008 Multinacionais

Vencer a crise económica portuguesa passa por um drástico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.
Os jogos olímpicos na China inspiraram um vasto conjunto de artigos, editoriais e comentários que ultrapassam largamente o interesse desportivo. O papel das multinacionais no desenvolvimento da China tem sido um dos temas mais versados nestes dias que antecedem o momento simbólico do reconhecimento universal da China moderna. A sua actuação é apresentada como negativa para os interesses da União Europeia e dos EUA. “Uma traição!”
O que, verdadeiramente, evidenciam a maioria destes textos são atitudes proteccionistas, anti-globalização e anti-multinacionais. Atitudes que evidenciam uma total desfocalização em relação ao estado do mundo neste século XXI. Porque as multinacionais representam uma característica fundamental e indissociável das economias modernas, um dos principais motores da globalização.
Sentimentos ambíguos, senão mesmo contraditórios, em relação às multinacionais prevalecem em Portugal, como em muitos outros países. As multinacionais sao vistas como ameaças à riqueza e à identidade nacional. Mas, por outro lado, reconhece-se que elas trazem investimento estrangeiro, mais postos de trabalho, melhores condições de emprego, mais conhecimento, mais I&D, melhores formas de organização do trabalho, melhores práticas, mais avançadas tecnologias de gestão e produção, muitas vezes produtos e serviços de melhor qualidade que os oferecidos pelas empresas locais. E contribuem decisivamente para o aumento das exportações e do PIB. As multinacionais contribuem para o desenvolvimento regional e local, para o desenvolvimento dos recursos humanos porque empregam uma maior percentagem de colaboradores diferenciados (‘white-collar’) e têm uma produtividade superior às empresas locais.
Levar um número crescente de empresas multinacionais a investir nas suas economias é um objectivo comum a países desenvolvidos, dos EUA ao Canadá, ao Reino Unido ou à Suiça. Não é ambição apenas de países em dificuldades ou de países em desenvolvimento. Um terço do PIB suiço tem origem em empresas multinacionais.
Portugal tem de competir de forma muito agressiva para as atrair. Em 2005, estariam a operar em Portugal 600 empresas multinacionais. Singapura tinha, em 2006, cerca de 7.000 empresas multinacionais, sendo que 4.000 eram sedes regionais. Em 2013, a China tem como objectivo ter, em Shanghai, 3.000 sedes regionais de empresas multinacionais.
Os países distinguem-se, também, pelo grau de sucesso da integração das suas empresas no mercado global e em cada um dos mercados regionais. A comprová-lo está a China que não é apenas receptor do investimento do Ocidente. Também ela fomenta o desenvolvimento das suas empresas multinacionais. Entre as 500 mais importantes empresas mundiais, doze têm origem na China. A Legend Holdings, que detém o grupo Lenovo, ou o grupo YTO, que exporta tractores para 30 países e que possui fábricas na Turquia e na Europa Central e do Leste, são ambas expressão desta política de globalização. Tal como a China National Cereals, Oils & Foodstuffs Import & Export Corporation, a TCL Corporation ou a Gree Corporation.
De igual modo, a Índia investiu na União Europeia, em 2007, mais de 25 mil milhões de dólares americanos, tendo criado mais de 10.000 postos de trabalho na Alemanha.
Ser empresa multinacional é a melhor forma de operar numa economia global integrada. Ganhar acesso a novos mercados, procurar factores de produção mais eficientes, adquirir tecnologias específicas para integrar a sua produção, explorar externalidades associadas a determinadas (des)localizações são razões suficientes para as grandes ou médias empresas portuguesas se abalançarem a uma transformação em empresas multinacionais.
Pequenas empresas subsidiárias, localizadas em centros de influência regional em cada continente, poderão operar de forma flexível e adaptável em múltiplos países das Ásias, das Américas, da África, ou da Europa.
Vencer a crise económica portuguesa passa por um drámatico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.

Wednesday, July 23, 2008

23-07-2008 Arroz ou "Spaghetti"

As empresas portuguesas têm tudo a ganhar em se apresentarem nos mercados externos com fortes relações públicas comuns.
Realizou-se há algum tempo, em Singapura, uma importante feira para promoção da Índia.
Num dos seminários que, então, tiveram lugar usou da palavra um dos líderes da comunidade empresarial indiana de Singapura que comparou a atitude dos empresários chineses locais com a dos empresários indianos, nas suas iniciativas de internacionalização. Na sua opinião, enquanto os indianos se apresentam no mundo como arroz solto, os empresários chineses comportam-se como as ‘noodles’ ou o ‘spaghetti’. Enquanto uns permanecem dispersos e frágeis, outros avançam em rede, em permanente interacção reforçando as capacidades mútuas. Enquanto a atitude de desconfiança e de competição mútua prevalece entre indianos, o suporte mútuo domina entre os empresários chineses na partilha de informação e de oportunidades oferecidas pelos mercados externos. O que explicaria o maior sucesso das comunidades chinesas na sua expansão pelo mundo.
Poder-se-á especular sobre factores, que poderão explicar esta diferença de atitude, associados ao sistema de castas internalizado entre indianos e ao igualitarismo dos chineses. Aparentemente o padrão de comportamento que prevalece entre empresários e gestores portugueses nos processos de internacionalização parece estar mais próximo do indiano que do chinês. Sejam quais forem as razões que para tal concorrem.
Nunca é demais reafirmar que, na internacionalização, os concorrentes das empresas nacionais não são as suas congéneres nacionais mas as suas concorrentes estrangeiras que gozam eventualmente de vantagens de contexto (menores impostos, sistema normativo consistente e ‘user friendly’, acesso a acordos de livre comércio, etc.), de vantagens nos diferentes factores de produção (maior desenvolvimento organizacional, maior flexibilidade), de maior produtividade e, consequentemente, de maior competitividade.
As empresas portuguesas têm tudo a ganhar em se apresentarem nos mercados externos como forças concertadas de ataque, com um elevado nível de organização e com potentes relações públicas comuns.
É fundamental que as empresas portuguesas surjam nas feiras sectoriais, por esse mundo fora, enquadradas em pavilhões Portugal que se distingam pela imagem de inovação, criatividade, actractividade e eficácia na comunicação externa e interna. É fundamental que a concepção dos pavilhões Portugal demonstre essa força colectiva, acentuando a interacção e referenciação entre as empresas nacionais. Afirmando-se num espaço comum, aberto a renovados fluxos de visitantes, em vez de se quedar pela mera adição de pequenos territórios circunscritos em cubículos de escassos metros quadrados.
A participação nas feiras deve assentar numa estratégia com objectivos definidos, deve apoiar-se em fortes iniciativas de marketing antes, durante e após a sua realização, com uma escolha criteriosa dos meios audiovisuais e outros instrumentos de promoção que, dentro dos limites do orçamento para o evento, aumentem a eficácia da intervenção, com uma adequada concepção do espaço de exposição, uma adequada utilização da iluminação e dos materiais que concorram para aumentar a visibilidade e promovam o conhecimento da empresa e a venda dos seus produtos ou serviços. E deve ter a sustentá-la colaboradores que estejam devidamente treinados para representar e promover a imagem da empresa, para gerar interesse pelos produtos ou serviços e para alcançar um determinado nível de vendas.
É indispensável que as empresas portuguesas encarem a possibilidade de aumentarem a sua participação em feiras nos países asiáticos. Não como instrumento único mas como acção integrante da sua estratégia de entrada num dado país. É que o crescimento das Ásias é sustentado. A confirmá-lo está o facto de os países asiáticos estarem a aumentar de forma muito significativa os seus espaços de exposição. Entre 2006 e 2010, a China aumentará 445.000m2 (+18%), a Índia 79.000m2 (+33%), a Coreia do Sul 65.000m2(+41%),Singapura 54.000m2 (+35%) e o Médio Oriente, em particular os EAU (147.000m2 +115%).
Nas Ásias não se compreende porque são, sempre, tão poucas as empresas portuguesas presentes.

Wednesday, July 9, 2008

09-07-2008 Persistência

A consolidação de um mercado de exportação exige dez vezes mais tempo do que o previsto, mais dinheiro e mais persistência.
O peso das exportações no PIB português está longe de trazer paz de espírito a governantes e a governados. Fez bem o Compromisso Portugal em compará-lo, na semana que passou, com o da República Checa e a Irlanda, entre outros, promovendo uma tomada de consciência colectiva das enormes dificuldades com que o país se confronta.
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É certo que há sinais positivos nas exportações portuguesas que decorrem do aumento da componente tecnológica. Mas a excessiva concentração das exportações de maior intensidade tecnológica num reduzido leque de produtos e de empresas exportadoras não deixa de traduzir uma enorma vulnerabilidade. Razões suficientes para aconselhar uma atenção redobrada e equilibrada ao conjunto dos sectores exportadores. E para sugerir uma avaliação sistemática, aprofundada, do grau de preparação das empresas de cada sector, para a exportação em geral, e para a exportação para os países dos mais diversos continentes, Ásias incluídas. Que poderá justificar ajustamentos nos instrumentos de financiamento e de apoio à formação já disponíveis. Uma avaliação que permita identificar os factores que levam a que, das 183.000 empresas que em Portugal produzem ou comercializam bens transacionáveis, só 7.683 sejam exportadoras. A pesquisa dos factores associados ao modelo de negócio, mas também às competências de gestão, há-de encontrar os obstáculos psicológicos que fragilizam a decisão de exportar e a estratégia de entrada em cada mercado.
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Há determinadas atitudes que são verdadeiros empecilhos à exportação. Empresários e gestores vivem apaixonados pelos seus produtos e não compreendem porque é que os consumidores de outros países não valorizam as características destes e não lhes reconhecem as qualidades. Directores de marketing e de vendas concentram-se nos seus produtos em vez de procurarem compreender os seus mercados de eleição, em vez de procurarem responder aos seus problemas, às suas necessidades e expectativas. Muitas vezes não chegam a perceber que os mesmos produtos podem desempenhar funções diferentes e ser desigualmente valorizados em sociedades e culturas distintas. Empresários e gestores necessitam de aprender a ser adaptáveis aos novos mercados. A expectativa de participar numa feira e de logo aí, e à primeira, conseguir nomear agentes e distribuidores e de obter, de imediato, encomendas significativas, pode indiciar um insuficiente planeamento da entrada num novo mercado, sendo gerador das mais indesejadas frustrações. As empresas exportadoras, que são casos de sucesso, têm todos os incentivos endógenos para expandir os seus mercados. Mas elas sabem quanto necessitam de planear devidamente a entrada em cada um dos mercados, de definir com quem querem negociar e como ter impacto nos consumidores desses mesmos mercados. A exportação exige muito conhecimento, é um ‘knowledge based sector’.
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Os novos exportadores entusiasmam-se levando aos mercados externos toda a gama dos seus produtos, e esperando a todos promover igualmente. Mas a consolidação de um mercado de exportação exige dez vezes mais tempo do que o previsto, muito mais dinheiro e muito mais persistência. Uma verdade de valor universal mas que, mais ainda, se aplica nas Ásias. E que sugere aos que não avaliaram devidamente a sua estratégia de entrada nos mercados asiáticos que pensem e reflictam adequadamente as suas decisões. Porque melhor do que aparecer num ano, para nunca mais dar sinal de vida, é optar por não ir a um mercado para o qual se não está preparado, dando azo à criação de uma imagem de inconstância e de inconsistência. Que prejudica a imagem externa do país e das empresas exportadoras no seu conjunto.
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As empresas experimentam muitas vezes enorme frustração com o governo quando este não lhes proporciona uma assistência qualificada, motivada e capaz nos países para onde procuram exportar. A falta de visão, de dedicação, de integração local e de uma rede de relações qualificada por parte dos agentes locais de apoio à exportação levam a uma baixa procura dos seus serviços e constituem um desincentivo à entrada nesses mesmos mercados. Que só a muita persistência por parte de empresários e gestores permite ultrapassar.

Wednesday, June 25, 2008

25-06-2008 Que Estratégias?

Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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A incapacidade de Portugal para se relacionar eficazmente com as economias asiáticas não é um problema recente. Nem é, apenas, uma dificuldade menos bem resolvida pelo Estado. O facto é que nem as entidades públicas nem os líderes privados acertaram no ‘mix’ de políticas e de estratégias para que Portugal se tivesse transformado num parceiro relevante nas Ásias.
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Empresas portuguesas estão presentes em países asiáticos. A questão mais relevante não respeita, pois, à viabilidade da entrada nos mercados. A questão fundamental tem a ver com o reduzido número de empresas portuguesas que avançou para os países asiáticos. O que explica tão insignificantes volumes de importação de Portugal, tão reduzidas quotas de mercado detidas pelos produtos portugueses em cada um dos países asiáticos? Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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Segundo os dados do Ministério do Comércio chinês, em 2007 a China importou 956 mil milhões de dólares americanos. Destes, 111 mil milhões de dólares couberam à UE. A China apenas importou mercadorias no valor de 385 milhões de dólares de Portugal. O que representa, apenas, 0,0004 das importações da China em 2007. Uma insignificância. E nem chega a 0,5% do total das importações da China com origem na UE. Da Dinamarca e da Irlanda a China importou cinco vezes mais do que de Portugal. E, da Finlândia, dez vezes mais. Mais revelador é que, no ano passado, a China tenha importado da República Checa mais do dobro do que importou de Portugal. As importações da China com origem na UE cresceram 22,4%, entre 2006 e 2007. Neste mesmo período as importações oriundas da República Checa deram um salto de 60.8%. Mas as que tiveram origem em Portugal apenas aumentaram 8,7%. E nos quatro primeiros meses de 2008 as importações da China, com origem em Portugal, caíram 37,9%, quando as do conjunto da UE cresceram 25,4%, as da República Checa aumentaram 35,8%, as da Irlanda 38% e as da Dinamarca 60%. Alarmante!
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Fraco desempenho é igualmente demonstrado por Portugal no Japão. Segundo o Ministério das Finanças do Japão, dos 7,7 mil milhões de ienes importados da UE, no ano de 2007, apenas couberam a Portugal uns escassos 20 milhões de ienes. Isto é, 0,26 % do volume de importações da UE e, apenas, um terço do importado da República Checa pela nação nipónica. As importações do Japão com origem na República Checa ultrapassaram as de Portugal no ano 2000 e, em 2005, já as duplicavam. Em 2007, o Japão importou da Dinamarca doze vezes mais que de Portugal e, da Irlanda, 24 vezes mais. Desconcertante!.
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Débil é também a penetração dos produtos portugueses na Coreia do Sul. De acordo com as estatísticas da Coreia do Sul, esta importou de Portugal apenas 202 milhões de dólares em 2007, o que corresponde a 0,00057 do total das suas importações e a 0,0042 do total das suas importações da Europa. Da República Checa importou, no ano passado, 369 milhões de dólares, da Dinamarca 702 milhões de dólares e da Irlanda 835 milhões de dólares. A agravar esta situação está o facto de as importações da Coreia do Sul com origem em Portugal, entre Janeiro e Maio de 2007, terem alcançado 131,7 milhões de dólares e, em igual período de 2008, se terem ficado pelos 33,5 milhões de dólares.
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Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. O governo, a oposição, os líderes das associações empresariais, os empresários, os directores de marketing das empresas só podem acusar-se a si próprios. Porque os países europeus com os quais Portugal se compara estão sujeitos aos mesmos constrangimentos. Estão sujeitos à mesma sobrevalorização do euro. Têm o mesmo problema da língua e das diferenças culturais. Os seus bons resultados deveriam servir de referência. As suas estratégias deveriam servir de exemplo. Eles não precisaram da protecção da UE para vingarem em terras do Oriente. As suas iniciativas, os seus acordos, as suas parcerias, as suas redes, as suas estratégias e tácticas, as suas relações pessoais e institucionais enraizaram-se e deram frutos.
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Portugal está anémico. Que o sol de verão lhe traga a energia que necessita para encontrar as melhores estratégias para vencer nas Ásias.

Wednesday, June 11, 2008

11-06-2008 Desporto e Diplomacia

Trazer o futebol de Portugal à Ásia, ajudaria a rasgar auto-estradas de entendimento entre os povos e os seus líderes.
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2008 será o ano dos mercados emergentes. Mas a mudança de padrão em curso leva a crer que a Ásia será cada vez mais o motor do crescimento económico mundial.
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Será, pois, incompreensível que Portugal não atribua uma fortíssima prioridade às suas relações bilaterais com os países asiáticos. Será ilógico que Portugal não desenvolva estratégias bem fundamentadas e que não tome iniciativas com impacto decisivo em relação a cada um dos países asiáticos. De modo a garantir, já em 2008, uma eficaz e determinada aproximação política, cultural e económica. De modo a assegurar a Portugal uma participação decisiva nos seus processos de desenvolvimento e um incremento excepcional no volume das importações destes países. Estão em causa não apenas as relações com a China, mas também com a Índia, o Japão, a Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Indonésia, Tailândia e, mesmo, com o Vietname.
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A distância e a barreira da língua podem explicar a actual timidez lusitana. Porque tímida continua a ser a comunicação com os governos asiáticos, a comunicação com as organizações empresariais asiáticas, com as empresas asiáticas, com as instituições científicas asiáticas, com a actual expressão artística dos povos asiáticos.
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O calor que Portugal põe nas suas relações com os dirigentes sul-americanos e africanos contrasta com o insuficiente empenhamento e, nalguns casos, com a sobranceria moral que exibe nas relações com dirigentes asiáticos. Uma mal disfarçada desconfiança que o cidadão comum asiático atribue ao facto de Portugal ainda ser “o país mais tradicionalista da Europa”.
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Existe um verdadeiro problema na atitude dos portugueses face aos asiáticos que dificulta a comunicação a todos os níveis. É que é preciso tratar os asiáticos como eles gostam de ser tratados. E não tratá-los como nós gostaríamos de ser tratados. O que implica conhecer e valorizar as suas expectativas, os seus valores, as suas maneiras de pensar, as suas preferências, os seus hábitos, a sua maneira de negociar, a sua cultura vivida.
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Um traço cultural comum à China dos dias de hoje, como ao sudeste asiático, em particular a Singapura e à Malásia, é a consideração dada ao futebol como desporto rei e à Liga Inglesa como a referência. Portugal é, também, conhecido e admirado nestas paragens pelos seus mais destacados futebolistas. Os media asiáticos não falam da economia portuguesa. Nem falam dos políticos portugueses. Mas falam do futebol português. E escrevem sobre Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Carvalho, Figo e Mourinho. Conhecem até os clubes portugueses mais importantes. Antes mesmo do início do Euro 2008, Portugal era já vaticinado, no Straits Times de Singapura, como o mais provável vencedor.
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De igual modo não surpreende que, como forma de expandir rapidamente a importação de vinhos portugueses no seu país, o presidente de uma poderosa associação de ‘Food & Beverage’ da China tenha sugerido a realização de uma campanha publicitária baseada num anúncio em que Cristiano Ronaldo emprestaria a sua influência persuasiva afirmando cândidamente: “eu prefiro vinho português”.
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Trazer o futebol de Portugal à Ásia, com os seus mais destacados protagonistas, ajudaria a rasgar autoestradas de entendimento entre os povos e os seus líderes e a alterar a imagem de Portugal. O desporto está em condições de prestar um serviço à diplomacia e à diplomacia económica portuguesa. Distintos desportistas poderiam ser convidados a desempenhar a função de “Goodwill Ambassador” abrindo caminho a outras venturas.
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Não é demais recordar o papel do desporto na aproximação entre a China e os EUA. Em Abril de 1971 o governo chinês convidou a visitar a China uma equipa americana de ‘ping-pong’ que disputava no Japão o 31º Campeonato do Mundo de Ténis de Mesa. A diplomacia do ‘ping-pong’, como então foi denominada, transformou-se num excelente instrumento para iniciar a normalização das relações entre os dois Estados que vieram a ganhar um ímpeto e profundidade nunca então imagináveis.
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Portugal tem as suas relações normalizadas com os países asiáticos. Mas são frouxas, sem ímpeto.
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Mais trabalho a Oriente!

Wednesday, May 28, 2008

28-05-2008 DE SINGAPURA A GUANGZHOU

A expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras.
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Nada mais convincente que entrar pela China adentro. Até na resposta ao terramoto de Wenchuan se confirma que há uma nova China. Que encerra um mundo ilimitado de oportunidades para as empresas portuguesas. Mas a expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras. Na China, o caminho mais directo nem sempre é o caminho mais certo.
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Algumas dezenas de empresas portuguesas têm já assegurada a sua presença na China. Grandes grupos mas também PME. Para estas, em particular, uma penetração rápida na China deverá ser feita com o suporte, ou em parceria, com empresas ocidentais, há muito aqui instaladas, ou com empresas asiáticas cujos gestores conhecem a língua e dominam as regras do jogo. E que desenvolveram ao longo dos últimos dez anos relações pessoais, profissionais e empresariais, isto é, o guanxi.
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Singapura tem as melhores condições para funcionar como facilitador das iniciativas portuguesas na China. Porque em muitas províncias da China operam, há vários anos, milhares das suas empresas, apoiadas numa larga rede consular. Porque tem desempenhado, para a China moderna, o papel de modelo de referência de desenvolvimento industrial, de desenvolvimento urbano e de políticas sociais. Porque tem investido fortemente nas suas zonas económicas especiais e nos seus parques industriais cujo conceito ajudou a desenvolver. Porque tem investido largamente no desenvolvimento de centros comerciais e da sua habitação social. Porque tem contribuído para o seu desenvolvimento científico. Porque tem ajudado à formação dos dirigentes da administração pública chinesa. Porque tem relações pessoais muitíssimo cordiais com os seus dirigentes máximos e tem apoiado a transformação gradual das políticas internas e da política externa da China. E porque tem contribuído para um melhor entendimento da China pelas nações ocidentais. Chegar à China de braço dado com uma empresa da cidade-estado equivale a ter passadeira vermelha.
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Foi, assim, que nestes últimos dias se multiplicaram contactos intensos com umas poucas dezenas de líderes empresariais e institucionais de Guangzhou. Se discutiram projectos de investimento na China e em Portugal. Se identificaram oportunidades de exportação de produtos portugueses para a China e de produtos chineses para Portugal, Brasil, Angola ou Moçambique. Com apresentações em ‘powerpoint’, claro, mas também com muitos almoços e jantares em largas mesas-redondas. Sem evitar a passagem obrigatória pelo ‘karaoke’ e as extraordinárias estórias de sucesso empresarial que Deng Xiaoping fez o favor de permitir aos cidadãos da China. Em nove anos o senhor Chen (não sendo este o seu verdadeiro nome), ex-’chauffeur’ dum empresário de Guangzhou, construiu um pequeno império cujo valor actual ascende a 500 milhões de dólares americanos. Tudo começou com uma oportunidade que o seu ex-patrão lhe proporcionou. Chen, homem simples de quarenta e dois anos, ofereceu no passado fim-de-semana uma estadia num ‘resort’ na montanha aos quarenta colaboradores dos escritórios da sua empresa.
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Muito mais se poderia ter alcançado caso tivessem sido aproveitadas as oportunidades oferecidas de estabelecimento de relações entre universidades de Guangzhou e universidades portuguesas. Ou tivessem sido encetadas conversações promovendo o desenvolvimento do turismo de Guangdong em Portugal. Ficou provado que é muito eficaz chegar à China a partir de Singapura. Provavelmente mais eficaz que viajar directamente via Frankfurt, Amesterdão ou Londres.
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O modelo de internacionalização de empresas portuguesas passa pela inovação no ‘modus faciendi’ e pelo envolvimento de agentes facilitadores localizados na região.
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Mercê dos múltiplos acordos celebrados entre os governos asiáticos, as empresas na Ásia tendem a privilegiar as redes de empresas que actuam numa multiplicidade de países do continente asiático e que promovem sinergias entre si, acelerando os movimentos de trocas.
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E a diplomacia económica, por sua vez, precisa de reinventar-se para se adaptar às circunstâncias específicas dos mercados.

Tuesday, May 13, 2008

14-05-2008 Habitação e Exportação

O sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização. O sucesso está à vista.
Vai o Plano Estratégico de Habitação a discussão pública. Pedra basilar das políticas sociais, este debate oferece uma oportunidade para reflectir o que outras nações desenvolveram e os resultados internos e externos que alcançaram.
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Após a independência, Singapura teve de enfrentar o problema de falta de habitação. Através do ‘Housing and Development Act’ de 1960 foi criado o ‘Housing and Development Board’ (HDB) com planos quinquenais para construir habitação social de baixo custo. Um primeiro plano levou à construção, entre 1960 e 1965, de mais de 54 mil habitações para alugar a membros dos estratos de mais baixos rendimentos, com rendas subsidiadas.
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Porém, em 1968, o governo alterou a sua política a fim de fazer participar na riqueza nacional os cidadãos e os imigrantes e de os incentivar a um maior empenhamento na construção do país. Passou, então, a permitir a compra dos apartamentos pelos inquilinos. Esta compra assumiu, desde esta data, a natureza de um ‘leasing’ em que o título de propriedade tinha um período de validade de 99 anos.
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Mas, mais importante, é que permitiu, aos cidadãos de Singapura, utilizar até 80% das suas contribuições para a Segurança Social para pagar parcialmente o valor dos seus apartamentos, evitando assim que tivessem de utilizar parte do seu salário para esse efeito. A parte remanescente, não coberta por esta componente, poderia ser coberta por um empréstimo do HDB, e os pagamentos mensais poderiam ser pagos, também eles, a partir das contribuições para a Segurança Social. Em anos mais recentes a banca comercial passou a competir com o HDB na oferta de empréstimos desta natureza. Importa clarificar que o sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização.
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O sucesso desta política está à vista. No início dos anos sessenta havia 10% da população abrangida. Actualmente está mais de 80% da população coberta por habitação “social”. Isto é, cerca de três milhões. Os apartamentos do HDB, de 3, 4, 5 assoalhadas ou executivos, construídos em ‘outsourcing’ sob orientação duma vasta organização com mais de 4.500 colaboradores, não se assemelham de modo algum à habitação social britânica ou australiana. Equiparam-se à norueguesa.
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Os edifícios de apartamentos são enquadrados por jardins, com equipamentos desportivos, espaços de convívio e centros comunitários, com bibliotecas de elevada qualidade, e áreas comerciais. Dispõem de parques de estacionamento verticais. E têm manutenção permanente que se assemelha à dos condomínios privados. Para além de programas de requalificação estrutural, de sete em sete anos são objecto de obras gerais com renovação de todas as pinturas exteriores.
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O modelo de habitação social de Singapura encontra-se em expansão em diversos países, nomeadamente na China, onde será necessário construir quatro milhões e meio de apartamentos por ano durante as duas próximas décadas. HDBCorp International Pte Ltd (HCI) está já a construir em Chenggdu. Singapura assinou recentemente um acordo com a China para a construção de uma eco-cidade em Tianjin, baseada no modelo inovador de sustentabilidade de Punggol. O fundo soberano de Singapura GIC criou uma ‘joint venture’ com o HDB e a Wuthelam para, nos próximos anos, investir 75 milhões de dólares na construção de apartamentos na China, tirando partido da experiência adquirida em planeamento e desenvolvimento de cidades.
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O caso apresentado sugere que novas formas de financiamento para a aquisição de habitação possam ser consideradas, nomeadamente para as gerações mais jovens, com base nas contribuições para a Segurança Social. Tal corresponde a uma partilha da responsabilidade da gestão das contribuições entre o Estado e o contribuinte. A segunda proposta é que se faça o aproveitamento do cabedal de experiência do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, das suas estratégias, dos seus modelos de negócio, das suas metodologias, das suas políticas e procedimentos, dos seus ‘standards’, das suas competências e dos seus profissionais para potenciarem oportunidades de exportação de serviços em articulação com as empresas de construção civil portuguesas.
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Na Ásia, claro!
http://www.hdb.gov.sg

Tuesday, April 29, 2008

30-04-2008 Ritmos

A percepção que se tem, aqui na Ásia, é que Portugal não converge com a União Europeia no aproveitamento das oportunidades.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1117780.html

Portugal não se preparou bem para a globalização e tem que mudar de rumo. “Depressa e bem!”, afirmou recentemente Teodora Cardoso na Associação Comercial e Industrial de Coimbra. Se há um problema de rumo em Portugal, há sobretudo falta de ritmo e de constância. E do que lhe está subjacente, isto é, a ausência duma séria preparação para a internacionalização por parte das empresas, das associações empresariais e das estruturas públicas relevantes, nomeadamente no que respeita às Ásias.
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A Índia terá tido um crescimento de 8,7% no ano fiscal que terminou a 31 de Março de 2008. A China, apesar da perda relativa de competitividade devido aos aumentos dos salários e matérias-primas, cresceu 10,6% no primeiro trimestre de 2008. Quando comparadas com as de outros países europeus, as exportações portuguesas para estes e outros países asiáticos continuam a ser insignificantes.
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O que impede as empresas portuguesas de tirarem partido do crescimento da China, da Índia, do Sudeste Asiático ou da Coreia do Sul? Em 2007, quantas empresas portuguesas avaliaram, de forma sistemática, a viabilidade da sua expansão nas Ásias? E quantas estão a fazê-lo em 2008? Dezenas? Centenas? A que fileiras ou ‘clusters’ pertencem? Que preparação, sistematização e empenhamento revelam as associações empresariais em relação às Ásias? Que planos estratégicos e quantas acções têm programadas, para 2008, em relação à China (Hong Kong, Macau e Taiwan incluídos), ao Japão, à Coreia do Sul, à Índia ou aos mais dinâmicos países do Sudeste Asiático, como Singapura, Malásia e Vietname?
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E que estratégias, que programas de apoio e que iniciativas têm as embaixadas portuguesas e as estruturas da AICEP na Ásia para apoiarem estas empresas, em cada um destes mercados, para o ano de 2008. Onde estão divulgadas? Alguma estrutura assegura a coordenação da informação sobre as iniciativas portuguesas nas Ásias? Como as divulga? Seria benéfico que, em articulação com os actuais ou futuros portais das embaixadas a que reportam, cada uma das representações da AICEP na Ásia tivesse o seu portal a que as empresas portuguesas pudessem fàcilmente aceder. As empresas ganhariam se tivessem acesso a um curto mas objectivo relatório de progresso trimestral da expansão empresarial portuguesa nas Ásias.
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E o Parlamento português, através das suas comissões, poderia assumir maiores responsabilidades na monitorização do avanço das relações económicas, políticas e culturais de Portugal com os países asiáticos.
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A percepção que se tem, aqui na Ásia, é que Portugal não converge com a União Europeia no aproveitamento das oportunidades.
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A Food & Hotel Asia 2008 (FHA2008), que acaba de se realizar em Singapura, ilustra bem um caso de oportunidade perdida. Que se lamenta. Tanto mais quanto se trata, porventura, da maior feira do sector alimentar e hoteleiro da Ásia, com mais de 3000 expositores e quarenta pavilhões. As empresas da União Europeia estiveram fortemente representadas, dominando claramente as do eixo mediterrânico. A Itália apresentou 178 empresas, a França 69, a Espanha 56 e Chipre 22 (mesmo a Turquia participou com 21 empresas). Portugal esteve presente através de duas empresas (a Fiamma e a ICEL) que já haviam participado na FHA2006. Mais de cinco meses passados desde a abertura do Centro de Negócios da AICEP, em Singapura, não foram suficientes para que este mobilizasse empresas portuguesas na apresentação das suas marcas e dos seus produtos aos 30.000 profissionais do continente asiático que visitaram a Feira. O panorama não foi melhor no que respeita à participação nos múltiplos concursos que tiveram lugar, nomeadamente no Wine & Spirits Asia Challenge. Portugal teve 30 prémios na competição que se realizou durante a FHA2004. E teve 47 prémios na FHA2006. Na FHA2008 ficou-se por uma medalha de prata, atribuída à Adega Cooperativa de Borba. A sustentabilidade perdida. Contrastando, o Brasil teve pavilhão próprio e fez questão de mostrar os seus vinhos.
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Portugal não deve perder de vista que, mau grado a actual crise económica mundial, os países asiáticos continuarão a crescer de forma expressiva e sustentada. É mais do que tempo para Portugal acelerar a reconquista duma posição económica nas Ásias.

Monday, April 21, 2008

21-04-2008 Líderes

A Administração Pública deve ser dirigida por uma elite de reconhecido mérito, com qualidades de liderança, dinamismo e proactividade.
A Administração Pública existe para promover o interesse público, reforçar a sociedade civil e a justiça social e pôr em prática as estratégias e políticas do governo em exercício. Existe para ajudar a liderança política do país a identificar problemas e tendências, a elaborar análises que fundamentem futuras decisões políticas e a formular políticas que favorecem o sucesso do país. Deve ser dirigida por uma elite de reconhecido mérito, com elevadas qualidades de liderança, dinamismo, proactividade, imaginação e inovação, visão ampla e de longo prazo, competência técnica, sentido da realidade, sensibilidade político-social, capacidade para analisar e resolver problemas de elevada complexidade, capacidade de decisão, de comunicação e de delegação. Profissionais com caracter, motivação e empenhamento. Cidadãs e cidadãos de primeira classe, intelectualmente superiores.
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Para garantir o desenvolvimento de uma liderança no sector público o Estado deve recrutar os melhores, formá-los, pô-los constantemente à prova e pagar-lhes adequadamente em função do seu efectivo nível de desempenho. Deve recrutar os futuros administradores públicos entre os melhores graduados dos melhores departamentos universitários de cada ano, financiar as suas pós graduações nas melhores escolas mundiais com contrapartida da prestação de serviço público por um número determinado de anos. Submetendo-os a desafios constantes e crescentes. E garantindo a sua independência. Há que garantir um elevado grau de continuidade e estabilidade na liderança da Administração Pública.
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Altos quadros da Administração Pública, com a sua liderança, asseguram o prestígio e a eficácia do Estado. Naquela que passa por ser uma das melhores administrações públicas do Mundo, a de Singapura, Philip Yeo é um alto quadro público a destacar, a quem a política nunca seduziu. Nascido em 1946, estudou na Universidade de Toronto e Harvard com bolsas de estudo dos governos canadianos e norte-americano. Integrou-se na Administração Pública em 1970. Em 1979, era já director geral do Ministério da Defesa. Em 1981 foi nomeado ‘Chairman’ do ‘National Computer Board’. Em cinco anos informatizou integralmente dez ministérios, com cem milhões de dólares, sem consultores externos e com uma equipa de jovens graduados em TIC. Aquando da recessão de 1986 foi nomeado ‘Chairman’ do ‘Economic Development Board’ (equivalente à ex-API). Entre 1986-2000 atraíu investimento no valor de 70 mil milhões de dólares, que geraram 230.000 postos de trabalho, nos sectores químico, aerospacial e dos semicondutores. Em cinco anos desenvolveu a petroquímica na Jurong Island, atraindo sessenta companhias e vinte mil milhões de dólares. Entre 1994 e 1999 foi ‘Chairman’ da SemCorp. Em 2001, como ‘Chairman’ do ‘National Science and Technology Board’ (actualmente A*STAR), desenvolveu a indústria biomédica, atraiu talento internacional, desenvolveu recursos nacionais, criou diversos institutos de investigação biomédica e construiu a ‘Biopolis’. O ‘output’ das ciências biomédicas alcançou dezoito mil milhões de dólares em 2005. Por onde passou, Philip Yeo investiu nas pessoas e apostou em formar centenas de quadros com bolsas de pós graduação. Na A*STAR existem mais de 600 PhD ‘scholars’ com bolsas de 1500 euros. ‘Postdocs’ recebem 3500 euros.
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O sector público tem de ser competitivo com o sector privado. Os salários de políticos e líderes da administração pública, em Singapura, são determinados pelos critérios explicitados num ‘White Paper’ denominado ‘Competitive Salaries for Competent and Honest Government: Benchmarks for Ministers and Senior Public Officers’. O ‘benchmark’ para directores gerais séniores é definido por correspondência a 2/3 da mediana do rendimento dos oito contribuintes mais bem remunerados pertencentes a seis profissões.Um director geral sénior ganhava, em 2007, cerca de 800.000 euros Jovens directores ficavam-se pelos 190.000 euros.
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Portugal deve preocupar-se com o futuro da sua Administração Pública, com o recrutamento, o desenvolvimento e a retenção de altos quadros de reconhecido mérito na Administração Pública, nos institutos públicos e nas empresas públicas. A tal obriga o interesse público.

Wednesday, April 2, 2008

2-04-2008 Governação Dinâmica

Não basta a liderança dos governantes, faz falta desenvolver capacidades nas organizações públicas para resolver problemas.
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As forças do mercado são a pedra de toque duma economia eficiente. Mas o desempenho económico do país é fortemente determinado pela qualidade da governação e das instituições públicas que apoiam o mercado. O deficiente funcionamento das instituições do sector público é um efectivo constrangimento ao crescimento. Daniel Kaufman, director da ‘Global Governance’ do Banco Mundial, considera que os países que melhoram a eficácia da sua governação, no longo prazo, triplicam o nível de vida da sua população em termos de rendimento per capita. O que falta então em Portugal para alcançar este desiderato?

Bastará adoptar “boas práticas” de governação? Num ambiente de mudança permanente, não basta. Porque há boas práticas que simplesmente se tornaram disfuncionais e deixaram de ser as melhores direcções para o futuro.

O Estado para ser relevante e eficaz tem de ser dinâmico, hoje, mais do que nunca. A governação exige adaptação dinâmica e mudança inovadora. Não apenas ao nível do Governo e da Assembleia da República mas também ao nível do conjunto das instituições públicas. Necessário que se publique legislação inovadora. Mas é insuficiente. Quer a incipiência de uma cultura institucional de apoio à mudança quer a razoável ausência de capacidades organizacionais proactivas na administração pública constituem os mais poderosos obstáculos a um sistema de governação dinâmica. Não basta a liderança dos governantes, o seu esforço e carisma.
Faz falta desenvolver capacidades nas organizações públicas para resolver problemas. Faz falta uma boa capacidade de gestão da mudança. Faz falta uma generalização maciça da aprendizagem contínua no Estado que leve à compreensão dos acontecimentos globais e regionais que afectam e afectarão Portugal. Faz falta mais abertura para adaptar o conhecimento global às especificidades do país.

O sistema de governação precisa de se fundar num conjunto de valores e crenças partilhadas por todos os seus agentes. Ancorado numa cultura de integridade e incorruptibilidade. Focalizado nas pessoas e nos seus méritos e fazendo o melhor uso dos seus talentos. Racional, pragmático, orientado para os resultados. Eficiente, usando os mercados mas intervindo sempre que a equidade social fica em risco.

‘Think ahead’, ‘think again’, ‘think across’ são capacidades cognitivas essenciais a uma governação dinâmica que precisam de ser adquiridas e internalizadas nas estruturas e processos do Estado.

‘Thinking ahead’. Preparar o futuro. Consiste em dar conta das mudanças no ambiente físico, económico, social, antecipar os problemas, compreender o seu impacto futuro no país e pôr em prática políticas que permitam à população lidar eficazmente com as ameaças. Mas tirando também partido das oportunidades que possam surgir. Nos domínios da globalização económica, da segurança energética, das alterações climáticas, do ensino superior e da investigação, ou mesmo da escalada de preços nos produtos alimentares.

‘Thinking again’. Melhorar o desempenho. Boas políticas e programas que funcionaram bem no passado desactualizaram-se. É preciso pensar de novo sobre a sua relevância e em que medida respondem às necessidades da sociedade ou carecem de ser revistas a fim de alcançarem objectivos fundamentais. Os terrenos sensíveis da organização e das práticas da diplomacia oferecem matéria para reflexão.

‘Thinking across’. A economia baseada no conhecimento assenta numa constante recolha de informação, na investigação de ideias e de práticas úteis que se possam adaptar ao país. É tempo de atravessar todo o tipo de fronteiras e aprender com os outros. E incorporar essas percepções, reflexões e conhecimentos nas nossas crenças, políticas e estruturas. Tal como os países nórdicos, alguns países asiáticos são excelentes fontes de inspiração.

Os principais ‘drivers’ do desenvolvimento destas capacidades de governação dinâmica são profissionais competentes que lideram as instituições que concebem e põem em prática políticas públicas e que agilizam os processos de renovação e de mudança organizacional do Estado.

Haja clarividência para melhorar os critérios de recrutamento, selecção e compensação de administradores da coisa pública.

Wednesday, March 19, 2008

19-03-2008 Os Sete Pilares

A Ásia vive uma era de crescimento imparável que lhe permitirá a retoma da posição de supremacia do passado.
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A emergência recente de atitudes defensivas, em relação à China e a outros países asiáticos, faz lembrar o que se passou no século passado em relação ao Japão. Sucederam-se restrições proteccionistas a que o Japão respondeu com maciço investimento na Europa Ocidental. A Europa terá, hoje, mais a ganhar com um forte empenhamento diplomático e económico na Ásia, para alcançar um maior nível de interdependência, do que com medidas proteccionistas.
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A China, bem como outros países asiáticos, estão em condições de investir fortemente nas economias ocidentais. A Ásia vive uma era de crescimento imparável que lhe permitirá a retoma da posição de supremacia do passado. Nos anos 1000 DC, quando a Europa Ocidental não ía além dos 9%, a Ásia tinha 70% do PIB global. Só a partir da Revolução Industrial é que o Ocidente passou a deter uma parcela mais significativa da riqueza mundial. Tudo leva a crer que, em 2050, a China, a Índia e o Japão virão a estar entre as quatro mais importantes economias mundiais.
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Esta nova realidade é atribuída por Kishore Mahbubani (ver nota) ao facto de estes países estarem a assimilar rapidamente, e com sucesso, os sete pilares da “sabedoria ocidental”: pragmatismo, economia de mercado, educação, ciência e tecnologia, meritocracia, supremacia da lei e cultura da paz.
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Pragmatismo. O Japão adoptou soluções ocidentais. Singapura seguiu-lhe o exemplo. Deng Xiaoping visitou, em Novembro de 1978, as cidades de Banguecoque, Kuala Lumpur e Singapura. Impressionado com o que viu, recomendou ao PCC a economia de mercado. São suas as palavras: “enriquecer é uma glória”, “desenvolvimento lento é o mesmo que estar parado”.
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Economia de Mercado. Seguindo o exemplo do Japão e dos quatro tigres asiáticos, Deng Xiaoping introduziu, em 1978, o seu programa de modernização dando à província chinesa de Shenzhen o estatuto de ‘Special Economic Zone’. Entre 1980 e 2004, Shenzhen cresceu em média 28% ao ano. Em 2005, já com 11 milhões de habitantes, as suas exportações alcançaram os 102 mil milhões de dólares.
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Educação. Esta é a nova dependência dos asiáticos. Em 2005/06 estudaram em universidades americanas 76.503 indianos, 62.582 chineses, 59.847 coreanos, 38.712 japoneses. A maioria volta aos seus países. O ‘brain drain’ deu lugar ao ‘brain gain’. A Ásia possui algumas das melhores universidades do Mundo. As universidades americanas empenham-se cada vez mais em parcerias com universidades asiáticas.
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Ciência e tecnologia. Entre 1995 e 2005 a China duplicou a percentagem do PIB em I&D, de 0,6 para 1,3%. Em 2004 a China aprovou 30.000 doutorados e formou 200.000 engenheiros. Há previsões que apontam para que, em 2010, 90% dos doutorados em ‘hard sciences’ e engenheiros vivam na Ásia. O centro de gravidade da inovação está a passar do Ocidente para o Oriente. Muitos dos 750 centros de I&D de multinacionais na China são dirigidos por cientistas chineses retornados.
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Meritocracia. A mentalidade feudal e o princípio da antiguidade cederam lugar ao valor das qualificações. Zhu Rongji liderou a reforma do PCC aplicando o princípio do mérito no recrutamento dos dirigentes.
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Supremacia da Lei. Na tradição asiática o Estado e os governantes estavam acima da lei. A adopção na Ásia da ‘rule of law’ não decorre de imperativos éticos mas pragmáticos. Uma economia de mercado exige um sistema judicial independente. A China, como a Índia e muitos países asiáticos, tem, ainda, algum caminho a percorrer. Mas há consenso que uma sociedade e uma economia moderna pressupõem a supremacia da lei.
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Cultura da Paz. A Ásia valoriza a paz que permitiu a prosperidade aos países ocidentais após a II Grande Guerra. E reconhece que o poder duma nação se radica na dimensão da sua economia. A Ásia adoptou a paz, a cooperação e a diplomacia como meios de expressão política. A Ásia tem hoje a diplomacia mais activa do mundo e a ASEAN é disso a melhor expressão.
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Em vez de jogar à defesa, a Europa precisa de capitalizar a posição de referência e de a transformar em oportunidades ao nível económico, científico e tecnológico. A Europa precisa de continuar a encarar a Ásia de forma optimista, positiva e pro-activa para continuar a ser um seu parceiro.
Nota: Kishore Mahbubani, The New Asian Hemisphere, NY, Public Affairs, 2008

Wednesday, March 5, 2008

05-03-2008 ADB: Contribuir e Beneficiar

O Asian Development Bank, sediado em Manila, foi criado em 1966 por 31 países. Tem hoje 67 membros, 48 da Ásia e Pacífico.
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Portugal explora pouco as oportunidades que o Asian Development Bank (ADB) – http://www. adb.org/Consulting/dacon.asp – pode proporcionar às empresas e aos consultores portugueses no curto, médio e longo prazo.
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O crescimento esperado de 7,8%, em 2008, para as nações em desenvolvimento da Ásia-Pacífico reforça a necessidade de as entidades públicas e privadas portuguesas se mobilizarem no sentido de captar projectos do ADB. Deste modo as empresas poderão posicionar-se no seio de novos mercados locais, contribuindo ao mesmo tempo para o desenvolvimento económico da Ásia. Extraindo, daí, benefícios directos e indirectos.
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O ADB, sediado em Manila, foi criado em 1966 por 31 países. Tem hoje 67 membros, 48 dos quais da Ásia e Pacífico. Mas só 42 são países “clientes”. A eles se destinam as actividades do banco.
Entre os 19 membros exteriores à região incluem-se os EUA, o Canadá e dezasseis países europeus. Portugal aderiu ao ADB em 2002. A Irlanda só o fez em 2006.
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Todos os países membros são accionistas do Banco. Mas os países ocidentais e o Japão contribuem para o ‘Asian Development Fund’ e para o ‘Technical Assistance Special Fund’.
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O elevadìssimo nível de ajuda que flui através do ADB é evidenciado pelo rácio do valor das aquisições de bens e serviços com origem nos países “clientes”, decorrentes dos projectos do Banco, sobre as suas contribuições para os fundos do ADB, que é de 28,22. No caso da China o rácio é de 44,63.
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Por sua vez o rácio aquisições de bens e serviços com origem nos países “doadores” sobre as suas contribuições para os fundos do ADB fica-se pelos 0,96. O que traduz um quase equilíbrio entre as suas contribuições financeiras e o fornecimento de bens e serviços aos países “clientes”. Mas o rácio da Suiça, de 2,39, é bem mais favorável. Tal como o é o da Itália (2,09), ou do Reino Unido (1,70). Em flagrante contraste encontra-se Portugal. O rácio contribuições sobre aquisições de bens e serviços em Portugal não vai além dos 0,02. Mesmo o rácio da Irlanda se situa nos 0,15. Um indicador adicional da imensa distância a que Portugal se veio a colocar face aos destinos da Ásia. Em Portugal parece perdurar ainda uma mentalidade pós-colonial. Longe de partilhar uma visão global.
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Mas onde se encontram as oportunidades?
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O banco concede empréstimos, presta assistência técnica, aconselha e fornece informação aos países “clientes”. Em 2007, aprovou empréstimos para desenvolver 82 programas que ultrapassaram os dez mil milhões de dólares. Entre os países que mais acederam a estes contam-se o Paquistão, o Vietname, a Índia, a China, a Indonésia e o Bangladesh. O ADB aprovou, também, projectos de assistência técnica de mais de 240 milhões de dólares. E distribuiu subsídios no montante de 673 milhões para apoiar a preparação e implementação de projectos, prestar aconselhamento e apoiar actividades regionais.Os países “clientes” são responsáveis pela aquisição dos bens e pela contratação das obras. Acima de um milhão de dólares todos os fornecimentos e projectos obrigam a um ‘international competitive bidding’ (ICB). Porém, nenhuma empresa ou consórcio português concorreu a qualquer ICB em 2005, 2006 ou 2007.
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Foram adquiridos bens e obras públicas a empresas portuguesas para projectos do ADB, nos anos de 2005 e 2006, no valor de 1,6 milhões de dólares. Contra 14,3 milhões à Dinamarca, 18,5 milhões à Finlândia, 41,8 milhões à Áustria e 63,9 milhões à Bélgica.
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O ADB é responsável pela aquisição dos serviços de assistência técnica. Nos anos de 2005 e 2006 Portugal forneceu, à assistência técnica do ADB, consultoria no valor de 190.000 dólares. Contra 22,1 milhões da Dinamarca e 22,1 milhões da Finlândia.
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A ‘joint venture’ dinamarquesa Carl Bro, Ema Unihorn, Sai, Louis Berger ganhou nos últimos anos um contrato no valor de 11,3 milhões de dólares.
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De 2002 a 2006 colaboraram, em projectos do ADB, 23 consultores individuais dinamarqueses. Portugal está na 56ª posição no que respeita ao fornecimento de serviços de consultoria ao ADB.
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É evidente que empresas e consultores portugueses interessados se deviam inscrever no ADB. E deviam contar com muito mais iniciativa e apoio por parte das embaixadas, consulados e centros de negócio da AICEP na Ásia.

Tuesday, February 19, 2008

20-02-2008 Transformar-se ou Perder-se

Pela primeira vez na história recente, uma constipação na economia dos EUA não provocará uma gripe na Ásia.
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O confronto actual não se faz verdadeiramente entre o neoliberalismo e o socialismo. Faz-se entre os que consideram a globalização uma oportunidade política, económica e societal, e não um perigo. Faz-se entre os que advogam a participação positiva e eficaz no processo, os que antecipam as transformações necessárias, que as põem em prática em tempo útil e os que lhe resistem. Estes vão sendo arrastados penosamente na cauda do movimento de integração económica mundial. Recorde-se que Bill Clinton foi pró-globalização. E que a retórica populista e proteccionista que emerge actualmente nas eleições americanas responde, apenas, às necessidades do momento.
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A globalização é irreversível e não veio apenas desencadear alterações incrementais. Ela está, isso sim, a proporcionar um movimento de fundo que levará a “uma irresistível mudança de poder global para o Oriente”. São palavras do orador de Davos e director da Lee Kuan Yew School of Public Policy, de Singapura, Kishore Mahbubani, no lançamento da sua obra mais recente “The New Asian Hemisphere”. Onde anuncia o fim do “triunfalismo ocidental”. O Ocidente deixará de representar a “civilização universal”. O desafio está aí. Que os 12% da população mundial, que representam o Ocidente, queiram partilhar a tarefa de recriar uma nova civilização universal com a China, a ìndia, o Sudeste Asiático, o Médio Oriente, a América Latina e a África.
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A Ásia lidera com eficácia esta mudança e acode aos erros de gestão do Ocidente. O economista Larry Summers, 27º presidente da Harvard University, considera que, com o actual crescimento económico na Ásia, o nível de vida dos asiáticos poderá aumentar 10.000 por cento numa só geração. Centenas de milhões de seres humanos estão, em poucos anos, a libertar-se da pobreza devido à modernização da Ásia e à globalização. Muitos milhões de cérebros asiáticos, até há bem poucos anos subutilizados, lideram os projectos de inovação e de criatividade. Os fundos soberanos asiáticos amortecem a crise do crédito hipotecário de alto risco nos EUA e Europa. A convicção do ‘senior minister’ Lee Kuan Yew é que, pela primeira vez na história recente, uma constipação na economia dos EUA não provocará uma gripe na Ásia.
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É neste contexto que vale a pena questionar o argumento de que o ano 2008 não vai ser fácil em Portugal. Que não são de esperar grandes melhorias porque estas não dependem de nós. Esta desistência antecipada é o resultado da visão do mundo que se perfilha. Este sentimento de impotência é o travão psicológico que inibe Portugal de vencer onde outros sucedem.
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Foi possível a muitos países europeus terem enormes crescimentos das suas exportações para a China, em 2007. Portugal teve, aí, uma quebra significativa. De que dependeram esses países senão dos mesmos factores externos a que Portugal esteve exposto? Em 2007, a Noruega exportou para a China mais 33% que em 2006. A Dinamarca mais 35,5%. A Irlanda mais 44%. No ano que começou com a visita do primeiro-ministro Sócrates à China, Portugal exportou para aquele país menos 18% que em 2006. E, se se incluir Macau e Hong Kong, exportou menos 27%. Os exportadores portugueses tendem, de facto, a manter-se na sua ‘comfort zone’ exportando para os mercados culturalmente “próximos” que exigem um menor esforço de preparação. Portugal resiste à mudança, em vez de assumir deliberadamente o avanço para a Ásia.
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Portugal ocupa agora a 46ª posição, a nível mundial, no Índice de Confiança do Investimento Estrangeiro de 2007, caindo sete lugares face ao estudo elaborado em 2005, onde se posicionava no 39º lugar. E ocupa a 30ª posição no ‘Summary Innovation Index (SII)’ 2007. Mas mais grave, não só não pertence ao grupo dos ‘innovation leaders’, nem ao dos ‘innovation followers’, nem ao dos ‘moderate innovators’. Está nos grupos dos ‘catching up countries’, estimando o estudo que leve vinte anos até convergir com a média europeia.
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O Estado é um facilitador do desenvolvimento económico. Mas a chave do sucesso depende dos portugueses e das empresas portuguesas. Em que divisão, em que lugar, querem os portugueses e as empresas portuguesas jogar no campeonato mundial do desenvolvimento?
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