A Ásia vive uma era de crescimento imparável que lhe permitirá a retoma da posição de supremacia do passado.
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A emergência recente de atitudes defensivas, em relação à China e a outros países asiáticos, faz lembrar o que se passou no século passado em relação ao Japão. Sucederam-se restrições proteccionistas a que o Japão respondeu com maciço investimento na Europa Ocidental. A Europa terá, hoje, mais a ganhar com um forte empenhamento diplomático e económico na Ásia, para alcançar um maior nível de interdependência, do que com medidas proteccionistas.
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A China, bem como outros países asiáticos, estão em condições de investir fortemente nas economias ocidentais. A Ásia vive uma era de crescimento imparável que lhe permitirá a retoma da posição de supremacia do passado. Nos anos 1000 DC, quando a Europa Ocidental não ía além dos 9%, a Ásia tinha 70% do PIB global. Só a partir da Revolução Industrial é que o Ocidente passou a deter uma parcela mais significativa da riqueza mundial. Tudo leva a crer que, em 2050, a China, a Índia e o Japão virão a estar entre as quatro mais importantes economias mundiais.
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Esta nova realidade é atribuída por Kishore Mahbubani (ver nota) ao facto de estes países estarem a assimilar rapidamente, e com sucesso, os sete pilares da “sabedoria ocidental”: pragmatismo, economia de mercado, educação, ciência e tecnologia, meritocracia, supremacia da lei e cultura da paz.
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Pragmatismo. O Japão adoptou soluções ocidentais. Singapura seguiu-lhe o exemplo. Deng Xiaoping visitou, em Novembro de 1978, as cidades de Banguecoque, Kuala Lumpur e Singapura. Impressionado com o que viu, recomendou ao PCC a economia de mercado. São suas as palavras: “enriquecer é uma glória”, “desenvolvimento lento é o mesmo que estar parado”.
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Economia de Mercado. Seguindo o exemplo do Japão e dos quatro tigres asiáticos, Deng Xiaoping introduziu, em 1978, o seu programa de modernização dando à província chinesa de Shenzhen o estatuto de ‘Special Economic Zone’. Entre 1980 e 2004, Shenzhen cresceu em média 28% ao ano. Em 2005, já com 11 milhões de habitantes, as suas exportações alcançaram os 102 mil milhões de dólares.
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Educação. Esta é a nova dependência dos asiáticos. Em 2005/06 estudaram em universidades americanas 76.503 indianos, 62.582 chineses, 59.847 coreanos, 38.712 japoneses. A maioria volta aos seus países. O ‘brain drain’ deu lugar ao ‘brain gain’. A Ásia possui algumas das melhores universidades do Mundo. As universidades americanas empenham-se cada vez mais em parcerias com universidades asiáticas.
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Ciência e tecnologia. Entre 1995 e 2005 a China duplicou a percentagem do PIB em I&D, de 0,6 para 1,3%. Em 2004 a China aprovou 30.000 doutorados e formou 200.000 engenheiros. Há previsões que apontam para que, em 2010, 90% dos doutorados em ‘hard sciences’ e engenheiros vivam na Ásia. O centro de gravidade da inovação está a passar do Ocidente para o Oriente. Muitos dos 750 centros de I&D de multinacionais na China são dirigidos por cientistas chineses retornados.
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Meritocracia. A mentalidade feudal e o princípio da antiguidade cederam lugar ao valor das qualificações. Zhu Rongji liderou a reforma do PCC aplicando o princípio do mérito no recrutamento dos dirigentes.
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Supremacia da Lei. Na tradição asiática o Estado e os governantes estavam acima da lei. A adopção na Ásia da ‘rule of law’ não decorre de imperativos éticos mas pragmáticos. Uma economia de mercado exige um sistema judicial independente. A China, como a Índia e muitos países asiáticos, tem, ainda, algum caminho a percorrer. Mas há consenso que uma sociedade e uma economia moderna pressupõem a supremacia da lei.
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Cultura da Paz. A Ásia valoriza a paz que permitiu a prosperidade aos países ocidentais após a II Grande Guerra. E reconhece que o poder duma nação se radica na dimensão da sua economia. A Ásia adoptou a paz, a cooperação e a diplomacia como meios de expressão política. A Ásia tem hoje a diplomacia mais activa do mundo e a ASEAN é disso a melhor expressão.
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Em vez de jogar à defesa, a Europa precisa de capitalizar a posição de referência e de a transformar em oportunidades ao nível económico, científico e tecnológico. A Europa precisa de continuar a encarar a Ásia de forma optimista, positiva e pro-activa para continuar a ser um seu parceiro.
Nota: Kishore Mahbubani, The New Asian Hemisphere, NY, Public Affairs, 2008
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