Wednesday, June 27, 2007

27-06-2007: Mais Estandardização

A estandardização é parte integrante dum movimento de diferenciação orientado para a excelência e a qualidade.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1010153.html

A estandardização precisa de ser mais valorizada, promovida, premiada porque são múltiplos e duradouros os seus benefícios económicos e sociais.
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Milhões de famílias em 36 países fazem uso de modelos estandardizados de mobiliário de marca sueca bem conhecida. Simplicidade, funcionalidade, eficiência no uso do espaço, qualidade e baixo custo contribuem actualmente para um processo de estandardização doméstica à escala global como nunca tivera lugar. Um sucesso ‘knowledge based’ com produção descentralizada. Um ícone da globalização.
O fenómeno da estandardização, que à partida poderia parecer em aparente conflito com a necessidade de inovação e de criatividade nas empresas, antes as propicia. Garantir determinados ‘standards’ numa empresa não significa mais que alcançar níveis mínimos de qualidade, uma ‘baseline’, deixando aos gestores, líderes e às equipas de colaboradores a oportunidade para inovarem e criarem melhores produtos e serviços, melhores ambientes de trabalho, melhores resultados que satisfaçam os consumidores, os trabalhadores e os investidores de forma sustentada. A estandardização, que de forma tão cabal favoreceu o desenvolvimento científico e tecnológico, a indústria automóvel e aeronáutica e a indústria das NTIC, tem retorno económico e promove a qualidade de vida no trabalho.

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As economias mais desenvolvidas, mais dependentes do conhecimento (’knowledge based economies’), são as que alcançaram níveis mais elevados na estandardização da sua ‘corporate governance’ e dos processos de gestão e de produção. A estandardização é parte integrante dum movimento de diferenciação orientado para a excelência e a qualidade, que atravessa o mundo de ocidente a oriente, e no qual cada país se vai integrando progressivamente.

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Portugal, que iniciou há muito este processo, precisa decididamente de acelerar a sua participação neste universo de superior diferenciação através da adopção genuína e massiva das metodologias e dos instrumentos de garantia da qualidade. Nas práticas de gestão públicas e privadas. Em todos os sectores económicos. Com impacto na relação com os mercados nacionais mas também com os estrangeiros. Na relação com os consumidores de bens e de serviços privados e públicos.. Na gestão de recursos humanos e na organização do trabalho. É altura de perguntar que percentagem de empresas de cada um dos sectores de actividade alcançou, em Portugal, a certificação de qualidade e criou uma cultura de melhoria contínua? Quantas PME? Quantos hotéis? E que percentagem de cada um dos diferentes tipos de serviços públicos? Quantas repartições de finanças?

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O aumento da produtividade e da competitividade, a crescente globalização dos mercados de trabalho, a mobilidade e a necessidade de pôr em prática o princípio da aprendizagem ao longo da vida, implicam uma crescente estandardização dos sistemas de qualificação de competências, que em muito ultrapassa as fronteiras da UE e o Quadro Europeu de Referência das Qualificações para a Aprendizagem ao Longo da Vida (QEQ). O Sistema Nacional de Qualificações português e o Programa Operacional Potencial Humano do QREN teriam vantagem em promover consultas com organizações de países que têm avançado com segurança neste caminho, como é o caso da Australia e de Singapura. ‘The Singapore Workforce Skills Qualifications’ (WSQ)* é um sistema integrado de formação contínua, reconhecido pelos empregadores e validado pela indústria, que entre outros aspectos melhora os programas de gestão de desempenho, suporta o desenvolvimento das ‘job descriptions’, insuficientemente aplicadas em Portugal, facilita a avaliação de competências e a análise de necessidades de formação. O sistema integra ainda um sistema de acreditação e de garantia da qualidade das organizações formadoras, dos programas de formação e dos formadores.


Os governos têm de garantir que o investimento feito pelas empresas e pelos cidadãos na permanente melhoria das qualificações e competências tem reconhecimento inquestionavel a uma escala cada vez mais global. E, por isso, torna-se necessário uma estandardização de políticas, procedimentos e práticas da formação ao longo da vida, com rigorosa validação e avaliação.*(http://wsq.wda.gov.sg)

Wednesday, May 30, 2007

30-05-2007: Acordos a Oriente

Estarão as empresas portuguesas atentas para tirar partido dos acordos de livre comércio com e entre países asiáticos?

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/999851.html

Multiplicaram-se os acordos de livre comércio (ALC) bilaterais, regionais, entre blocos económicos, mudando significativamente os contextos em que as empresas operam. Estarão as empresas portuguesas atentas para tirar partido dos acordos de livre comércio com e entre países asiáticos?
Os ALC são autoestradas que conectam economias e mercados. São instrumentos criados para promover uma maior fluidez dos mercados. Através deles eliminam-se barreiras comerciais entre países e reduzem-se tarifas aduaneiras no comércio de bens e serviços. Incluem, com cada vez maior frequência, cláusulas relativas ao comércio electrónico, ao ambiente e às condições de trabalho, à protecção da propriedade intelectual, ao equilíbrio da balança comercial, às regras de origem, às salvaguardas e procedimentos respeitantes a consultas recíprocas e à resolução de conflitos.

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Com os acordos do GATT e a criação da OMC caminhou-se no sentido duma integração económica mundial. À visão dos líderes americanos e aos fundadores da EFTA e do Mercado Comum europeu, a ocidente, juntou-se a oriente o dinamismo de Singapura, do Japão, da Nova Zelândia e da Austrália.

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A ocidente, os EUA assinaram um ALC com o Canada, em 1988, alargando-o, em 1994, ao México (NAFTA). Mas, logo em 2000, os EUA lançaram as negociações com Singapura para o primeiro ALC com um país asiático. Dois anos mais tarde os EUA iniciaram um aprofundamento deste relacionamento económico com a ASEAN através duma iniciativa denominada The Entreprise for Asean Initiative (EAI), em ordem a criar uma rede de ALC bilaterais com os países do sudeste asiático membros da OMC. A estes países foi-lhes exigido que assinassem préviamente um ‘Trade and Investment Framework Agreement’ (TIFA) antes de negociarem um ALC. As relações dos EUA com a Indonésia, Filipinas e Tailândia estão, ainda hoje, enquadradas por um TIFA. Mas, em Maio de 2003, os EUA e Singapura assinaram o primeiro ALC com um país da ASEAN, que começou a ser implementado em Janeiro de 2004. Está iminente a celebração do ALC EUA-Malásia.

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A UE apenas iniciou conversações com a China, em 2006, para celebrar ‘The Partnership and Cooperation Agreement’. Mas, já então, encetara conversações prévias para concluir um ALC com a ASEAN. Em 2004, a UE lançou ‘the Transregional EU-ASEAN Trade Initiative’ tendo os dois blocos acordado iniciar negociações formais para um ALC em 4 de Maio de 2007. Espera-se a sua conclusão apenas em 2015, altura em que a ASEAN terá constituido o seu próprio mercado comum. Mas é convicção geral que muito antes dessa data a UE alcançará ALC bilaterais com Singapura e com a Malásia.

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Singapura tem, de facto, assumido desde os anos 90 uma forte liderança no movimento da globalização, bem visível nos treze acordos que já subscreveu. O primeiro ALC do Japão foi celebrado com Singapura e entrou em vigor em Novembro de 2002. Para além dos ALC com a Nova Zelândia, EFTA, Australia, EUA, Canadá, Jordânia e Coreia, Singapura concluiu em 2005 um Acordo de Cooperação Económica (CECA) com a Índia e iniciou conversações com a China no sentido de alcançar a breve trecho um ALC que aumenta os benefícios já hoje concedidos pelos acordos China-ASEAN (ACFTA). Deste modo os exportadores e investidores, nacionais ou estrangeiros, baseados em Singapura disfrutam de um vasto conjunto de benefícios na sua relação com os países com quem celebrou ALC, desde a redução das tarifas aduaneiras, acesso preferencial a certos sectores e rápida entrada nos mercados, bem como protecção da propriedade intelectual.

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As estratégias de internacionalização das empresas portuguesas têm de ter em consideração as redes de ALC. As PME como as grandes empresas necessitam de uma decisão fundamentada sobre os países onde devem ser concentrados os primeiros esforços na Ásia e sobre a estratégia de entrada. Há países mais fáceis, há mercados mais transparentes, com maior poder de compra. Há mercados que exigem maior adaptação dos produtos e serviços. Novos mercados exigem estudos de mercado, ‘marketing’ adaptado, literatura na língua local. Todos os mercados exigem tempo, atenção e signficativos recursos financeiros.

Wednesday, May 16, 2007

16-05-2007: Diplomacia económica articulada

As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660% e seguem um padrão semelhante ao de Singapura.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/994119.html

A diplomacia económica é essencial ao desenvolvimento económico de Portugal e, por isso, tem de ser decididamente activa, proactiva, mesmo enérgica. A sua acção tem de pautar-se pela máxima eficácia possível. A sua intervenção tem de potenciar os esforços das PME às grandes empresas, das universidades e de outros centros de investigação científica e tecnológica e de entidades públicas envolvidas na expansão das exportações, na captação de investimentos, na celebração de parcerias e na promoção do turismo. Sem esquecer que a ajuda ao desenvolvimento, uma outra forma de diplomacia económica, pode e deve constituir um catalisador de relações comerciais a médio e longo prazo.
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Basílio Horta sugeria recentemente que para lidar com o desconhecimento dos mercados na China e na Índia é “fundamental uma boa articulação entre a nossa diplomacia, a diplomacia económica e as empresas”. Um excelente princípio que, naturalmente, enriquece a multifacetada intervenção diplomática e de que devem extrair-se as devidas consequências.
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No comércio internacional o grau de conhecimento prévio dos mercados constitui um critério relevante para determinar o grau de articulação necessária entre diplomacia, diplomacia económica e empresas. Ora existindo sempre um desconhecimento relativo de alguns mercados em qualquer país recomendar-se-ía uma presença diplomática em todos os países parceiros comerciais de Portugal e justificar-se-ía aí uma boa articulação entre diplomacia e empresas. Mesmo em países europeus existem múltiplos aspectos legais, muitas práticas empresariais desconhecidas e hábitos de consumo que aconselham um tal suporte.
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Mas, porque os recursos são limitados, têm de ser estabelecidas prioridades que tenham em consideração quer a relevância das trocas comerciais actuais, quer o potencial de expansão num futuro próximo quer a eficácia provável da sua acção. Assegurar a melhor articulação entre empresas e o aparelho diplomático nos EUA e em Angola é absolutamente indispensável já que constituem os dois mais importantes mercados extracomunitários de bens e serviços portugueses. Ter uma rede diplomática a apoiar as empresas portuguesas na China é uma urgência. Porque a China, que no primeiro trimestre do ano ficou na décima posição como destino das nossas exportações extracomunitárias, será em pouco mais de vinte anos a segunda potência económica mundial, tendo actualmente 1,3 mil milhões de pessoas e uma classe média de 200 milhões de consumidores. Tenha-se bem presente o facto de investirem hoje na China mais de 550.000 empresas estrangeiras, entre elas um muito reduzido número de portuguesas.
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Portugal tem Embaixada em oito dos dez mais importantes clientes extracomunitários, mas não tem Embaixada nos países que no primeiro trimestre de 2007 ocupam a terceira e quarta posição como mais importantes clientes portugueses extracomunitários: Singapura e Malásia. Os dois países do sudeste asiático passaram a deter em conjunto 11,6% do total das exportações extracomunitárias. As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660%, em relação a igual período do ano passado, e seguem um padrão de exportações semelhante ao de Singapura, já que 87% são produtos electrónicos, entre estes circuitos integrados . A exploração de outros mercados, por parte das empresas portuguesas, só teria a ganhar com a abertura duma Embaixada nestes países e com o desenvolvimento duma forte articulação com a nossa diplomacia.
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A recente reforma consular não contemplou a Ásia. Tal facto só poderá justificar-se pela vontade de realizar uma avaliação apropriada da rede diplomática e consular do continente onde vive a maior parte da população do planeta. Será aconselhavel reforçar sem delongas a representação portuguesa na Ásia. Porque hesitações nesta matéria terão custos económicos elevados no médio e longo prazo. Singapura não perde oportunidades e, por isso, tem na China consulados gerais em Xangai, Guangzhou, Xiamen, Hong Kong e um consulado em Chengdu, além da Embaixada em Pequim. A Ásia requer acções consequentes, sustentadas e sustentáveis.

Wednesday, May 2, 2007

02-05-2007: Investir nas Pessoas

O investimento em I&D, em Portugal, por parte das empresas tem ainda expressão minoritária.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/979103.html

O mais recente anúncio da contratação de mil investigadores doutorados traduz um inquestionável reforço da política de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico cuja vitalidade estava já bem à vista através do muito significativo aumento do número de bolsas de doutoramento e de pós doutoramento financiadas directamente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. As parcerias internacionais, já celebradas, começam a dar resultados e algumas grandes empresas portuguesas e multinacionais assumiram um papel relevante neste processo.
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Porém, é expectável que o sector privado se empenhe cada vez mais neste esforço nacional. Tome-se, como exemplo, Singapura que investiu 2,5% do PIB em I&D, em 2005, e que pretende alcançar anualmente os 3% do PIB já em 2010. O Governo da cidade-estado injecta na investigação e desenvolvimento, em 2007, cerca de 1.000 de euros milhões a que acrescerá o investimento do sector privado. No ano de 2005 as empresas responsabilizaram-se por cerca de 66% do investimento em I&D, contribuindo com cerca de 1.500 milhões de euros. Entre os investigadores, 60% trabalha para o sector privado. Integra este movimento a Infineon que anunciou, há dias, ir investir, em Singapura, 200 milhões de euros em I&D, recrutando 150 novos investigadores e fazendo subir para 550 o número de engenheiros dedicados a I&D nesta empresa local.

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Mas o investimento em I&D, em Portugal, por parte das empresas tem ainda expressão minoritária. As empresas multinacionais foram as primeiras a avançar porque reconhecem que da I&D depende a sua posição no mercado global. A questão está em saber como induzir nas empresas nacionais idêntica atitude. Investir em I&D também é um comportamento inovador para as empresas e como tal deve ser abordado. Devem investigar-se os factores que podem contribuir para a difusão da I&D. Que factores predisponentes, facilitadores e de reforço podem levar as empresas a investir em I&D. Sabe-se, também, que o comportamento inovador se distribui numa “população” segundo a curva de Gauss. Assim teremos que os inovadores representam 2,5%, os ‘early adopters’ 13,5%, a ‘early majority’ 34%, tal como a ‘late majority’ (34%) e os ‘laggards’ constituem 16%. Estamos, porventura, ainda longe de ter 2,5% das empresas de Portugal a investir em I&D. Há, pois, que aliciar mais empresas predispostas para participarem na promoção da I&D, facilitar-lhes os mecanismos de integração e reforçar-lhes a apetência por inovarem na concepção dos seus produtos e/ou serviços, na reengenharia dos seus processos de produção, no redesenho da sua organização, na redefinição do seu modelo de negócio, na elaboração do seu plano estratégico, na adaptação a novos mercados, na sua internacionalização. Há que identificar os 2,5% de empresas (e empresários) potencialmente inovadoras, de cada sector de actividade, e apoiá-las na definição da sua política de I&D e na procura dos recursos necessários quer financeiros, quer humanos. Sem esquecer os ‘clusters”.

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Portugal está, finalmente, a reabrir-se ao talento estrangeiro e deve-o fazer de forma deliberada. Cabe aqui lembrar que entre os 4,5 milhões de habitantes da progressiva Singapura, existem 756.300 estrangeiros, isto é, 30% da população activa. Destes, 110.000 são quadros profissionais e cerca de duas dezenas são portugueses. Muitos daqueles são doutorados, mestres ou simplesmente pós graduados. Sem profissionais altamente qualificados nacionais e estrangeiros, capazes de pensar, de modelar e de influenciar o futuro não há desenvolvimento. E, por isso, a cidade-estado criou o programa People Developer para estimular as empresas a investirem nos seus colaboradores. O People Developer avalia a excelência do negócio com base na qualidade do exercício da Liderança, do Planeamento, da Informação, das Pessoas e dos Resultados.

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A marca Portugal deve muito aos desportistas portugueses, aos portugueses que ocupam posições de elevada responsabilidade, quer em organizações supranacionais púbicas quer em empresas multinacionais. Mas deve sobretudo aos empresários e aos seus colaboradores. São as pessoas que fazem o sucesso das empresas e que fazem o sucesso de uma nação.

Wednesday, April 18, 2007

18-04-2007: Direcção China

As iniciativas do PR e do PM não desencadearam ainda um forte movimento de empresários disponíveis para intervir na Índia e na China.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/965164.html

Portugal não tem tempo a perder. A necessidade de se colocar ao nível dos países mais avançados requer que as forças económicas e sociais, as elites e os media se focalizem deliberadamente em prioridades nacionais. Multiplicar significativamente o investimento, aumentar a competitividade, acelerar as exportações de bens e serviços constituem os mais importantes objectivos nacionais, sem os quais não haverá crescimento sustentavel nem sociedade de bem estar.
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As iniciativas facilitadoras do Presidente da República e do primeiro-ministro e de algumas associações não desencadearam ainda um forte movimento de empresários disponíveis para intervir na Àsia, na Índia e na China, para avaliarem as potencialidades e as oportunidades destes mercados para as suas empresas, para os estudarem detalhadamente e para elaborarem uma estratégia de internacionalização naquelas paragens, para experimentarem o lançamento de um projecto num destes países ou para reproduzirem uma experiência positiva, expandindo-se na Índia, na China, no Vietname, na Tailândia, na Malásia ou em Singapura.

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Mudar de atitude é aconselhavel já que, nomeadamente, a China oferece oportunidades que as empresas portuguesas ganhariam em explorar. Uma delas respeita à possibilidade, desde 1 de Março de 2006, de abrir uma ‘Foreign Investment Commercial Entreprise’ (FICE), quer para comércio grossista quer de retalho, sendo o processo submetido à ‘Foreign Economic Relation and Trade Commission’ das câmaras locais. Uma outra alternativa consiste em investir num parque industrial acedendo a incentivos e outras facilidades. Em toda a China existem, hoje, mais de 270 parques, sendo certo que o seu sucesso está associado à localização e à qualidade da infraestrutura e da sua gestão.

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Em 26 Fevereiro de 1994, o vice primeiro-ministro chinês Li Lanqing e o ministro sénior de Singapura Lee Kuan Yew assinaram um acordo para desenvolverem o Suzhou Industrial Park (SIP), perto de Xangai, como um parque de alta tecnologia, internacionalmente competitivo, integrado numa cidade jardim moderna e cosmopolita. Dez anos mais tarde, o primeiro-ministro Wen Jiabao considerou-o o parque industrial mais competitivo da Ásia. Com um capital de $125 milhões de dólares, repartido entre outros pelo China Consortium (52%) e pelo Singapore Consortium (28%), o China-Singapore Suzhou Industrial Park Development Co, Ltd (CSSD) tem mais de 2000 empresas estrangeiras. A taxa de crescimento anual sustentada do SIP é de 40%.

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O Suzhou Industrial Park, com uma área de 70 km2 baseou-se num sistema integrado de planeamento com um avançado sistema de gestão. Além de uma excelente infraestrutura, na qual se incluem os serviços de telecomunicações e serviços postais, possui um serviço de segurança e de prevenção de acidentes, um serviço médico de emergência, várias clínicas e um hospital, fruto do investimento estrangeiro. A Administração do SIP tem autonomia para aprovar os projectos de investimento estrangeiros que estejam de acordo com as políticas nacionais. Três dias é o tempo necessário para criar uma empresa no SIP. O seu sistema logístico dispõe de alfandega própria e de um ‘Bonded Logistic Center’. O Air Land Transhipment Model permite o processo de desalfandegamento e o transporte dos produtos do porto à empresa em 5 horas. O SIP integra ainda uma ‘Export Processing Zone’, o ‘International Science Park’, o SIP ‘Science Hub’, o ‘SIP Bio Bay’, o ‘Innovation Industrial Park’ e o ‘Dushu Lake Higher Education District’ que atraiu 15 universidades. A Administração do SIP tem poderes delegados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para autorizar visitas oficiais e conceder vistos. O SIP tem, também, um sistema de segurança social de capitalização, baseado no modelo do ‘Central Provident Fund’ de Singapura, que funciona como um seguro de saúde, garantindo o subsídio de doença e o pagamento de despesas de saúde, a pensão de reforma e permite a utilização parcial do capital para aquisição de habitação.

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Importa alargar e aprofundar o debate, acelerar decisões, ganhar mais e melhor posição na China.

Wednesday, April 4, 2007

04-04-2007: Representação Externa

Importa suscitar o debate sobre o tipo de representantes que Portugal deve ter no exterior. Embaixadores políticos e/ou económicos?

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/882301.html

Os ministérios dos Negócios Estrangeiros operam, hoje, num clima de permanente desafio interno e externo. A reavaliação da organização da diplomacia, a procura da sua eficácia e da sua eficiência é evidente quer por parte das grandes potências quer dos pequenos países. O Quai d’Orsay reorganiza-se e muda-se para fora de Paris. O Foreign and Commonwealth Office do Reino Unido procedeu a um exercício de racionalização da sua representação diplomática no mundo em 2004. A emergência e reforço do MNE europeu, por outro lado, tem consequências a nível da estruturação e do funcionamento dos MNE nacionais, já hoje, mas sobretudo no futuro. Poderão as funções consulares vir a ser assumidas a nível da UE? E a ajuda ao desenvolvimento? Solana questionava, em 2002: É a eficácia dos 40.000 diplomatas da UE quatro vezes superior à dos 10.000 dos EUA? O alargamento da UE, e a sua consolidação, constituem, sem qualquer dúvida, uma oportunidade para repensar o que devem ser as competências de representação externa da União e o que deve permanecer com os Estados. A globalização e a regionalização, a vontade e a necessidade política de envolvimento internacional, a percepção de necessidades crescentes, o prestígio e o simbolismo da função e, ainda, a limitação de recursos, concorrem para a revisão das estruturas, dos padrões e das redes de representação diplomática.
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É, também, neste contexto que importa suscitar o debate sobre o tipo de representantes que Portugal deve ter no exterior. Apenas embaixadores de carreira, residentes e não residentes. Embaixadores políticos? Embaixadores económicos? Embaixadores acreditados num dado país mas residentes em Portugal?

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Pequenos países têm optado por modelos mistos quer por razões de escassez de recursos quer por necessidade de garantir a eficácia da representação. O Governo de Singapura acaba de nomear os seus embaixadores na Áustria, República Checa e Eslováquia. Todos manterão a sua residência em Singapura. Jennie Chua, embaixadora designada na Eslováquia, é actualmente chief strategic relations officer da CapitaLand, membro do conselho de administração da Workforce Development Agency, da Singapore International Chamber of Commerce e membro do World Travel and Tourism Council. É graduada pela School of Hotel Administration da Cornell University. Soo Kok Leng, próximo embaixador na Áustria, é chairman da JTC Corporation, governador da Singapore-China Foundation, membro do Singapore-Liaoning Economic and Trade Council e professor auxiliar da faculdade de engenharia da NUS. O embaixador designado para a República Checa é Tan Soo Khoon, um homem de negócios que foi deputado durante trinta anos, tendo exercido a função de presidente da Asean InterParliamentary Organization.

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Encontramos, também, entre grandes nações o recurso a outras fontes de recrutamento. Actualmente, entre os 108 embaixadores da Índia, 7 não são diplomatas de carreira. Em Agosto de 2002, o MNE japonês introduziu a regra de que 20% dos seus embaixadores teriam origem fora do seu MNE e que outros 20% não seriam embaixadores de carreira. Os EUA têm cerca de 170 embaixadores acreditados pelo mundo, 31% dos quais não são de carreira. Esta percentagem tem-se mantido razoavelmente estavel desde 1961. Kennedy e Reagan nomearam 32% de embaixadores “políticos”. Carter apenas nomeou 24% fora da carreira. Mas poucos de entre estes são embaixadores “políticos”. Na sua maioria têm origem no mundo dos negócios. Ellsworth Bunker, David Bruce, Claire Booth Luce, Mike Mansfield figuram entre os destacados embaixadores dos EUA que não pertenciam à carreira diplomática.

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O vector mais poderoso desta mudança parece estar na importância atribuída à diplomacia económica. Como afirma Rik Coolsaet, professor de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da Universidade de Gent, Bélgica, “diplomatas de muitos países não fazem segredo que a sua principal tarefa consiste, agora, em cuidar dos interesses comerciais do estado que representam”(1).
(1) ‘In Rik Coolsaet, Historical Patterns in Economic Diplomacy, From Protectionism to Globalisation, The case of Belgium, International Studies Association 2001 Convention, Chicago, USA’

Wednesday, March 21, 2007

21-03-2007: De “Interesse Nacional”

A “comunidade política” com interesses na rede consular passou a incluir as associações empresariais e da inovação.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/751837.html

Dois importantes acontecimentos tiveram lugar na passada semana: a Cimeira UE-ASEAN e a resolução do Conselho de Ministros relativa à reestruturação consular. Ambos, de interesse nacional.
A maioria dos problemas políticos regem-se por um “ciclo de atenção política”. Como no caso dos alcatruzes, ora submergindo ora emergindo e voltando à ribalta, também a “reestruturação consular” reentrou em processo político. Na semana passada o Governo aprovou finalmente uma política consular, componente essencial da política externa de qualquer estado, cujo alcance vai muito para além da abertura, requalificação e encerramento de estruturas consulares. A componente mais relevante traduziu-se na redefinição e ampliação das “missões” da acção consular, passando a incluir deliberadamente a intervenção dos consulados na esfera económica, em consonância com deliberações recentes. Decidiu, também, o Governo promover a aprovação do modelo de funcionamento e organização das estruturas consulares e das suas competências, atribuições específicas e modos de articulação, da metodologia de adaptação futura da rede consular e, ainda, do estatuto e das carreiras dos funcionários dos serviços externos do MNE. Uma outra linha desta reforma, que está já em fase de implementação, respeita à modernização e informatização dos serviços consulares. O aspecto da nova política que mais interessou os media foi a reestruturação da rede consular na Europa, África e nas Américas.

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Sabe-se bem que qualquer mudança nas “políticas públicas” acaba por proceder a uma redistribuição de benefícios, de poder e de estatuto, entre diferentes grupos sociais que tende a gerar reclamações, protestos, manifestações e resistências e, nem sempre, só aplausos. Aparentemente, os únicos prejudicados ou beneficiários da reforma consular seriam os emigrantes portugueses, os imigrantes estrangeiros ou os funcionários consulares. O Governo, ao consultar apenas o Conselho das Comunidades Portuguesas, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses e o Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas de Portugal no Estrangeiro, poderá ter criado o equívoco de que são estes os únicos ‘stakeholders’ do sistema consular português.

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Mas ao interpretar o “interesse nacional” presente e futuro como exigindo o alargamento da intervenção consular à intervenção económica o Governo aumentou os ‘stakeholders’ da rede consular. A “comunidade política” com interesses na rede consular, passou ipso facto a incluir, também, as estruturas ligadas ao progresso da economia nacional, nomeadamente as associações empresariais e as estruturas associadas à promoção da inovação científica e tecnológica. Esta alteração no sistema consular provocará inevitavelmente, por via organizacional, transformações significativas no sistema diplomático português. A rede diplomática e consular, de ora em diante, deverá estar presente onde quer que o interesse económico nacional o exija, consolidando e expandindo o esforço há muito iniciado pelo ICEP. São as exportações, o investimento estrangeiro e o turismo, o crescimento económico, o emprego e o bem estar dos portugueses que estão em causa. E, por isso, os beneficiários desta reforma serão, afinal, todos os portugueses.

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A cimeira UE-ASEAN foi pouco valorizada pelos media portugueses. Não admira. A generalidade dos portugueses considera que a Ásia, que detêm 61% da população mundial, está demasiado distante. O que ali se passa não parece ainda afectar de modo significativo o nosso dia a dia. Para muitos portugueses o centro do mundo está, ainda, no Atlântico. E estava, até aos anos 80. Depois, começou a deslocar-se para o Pacífico, da Califórnia ao Japão e aos NIC. Mas este é, definitivamente, o século da Ásia. No momento em que progride a sua integração económica, será avisado que aumentemos fortemente a nossa participação na Ásia, que nos empenhemos na celebração do Acordo de Comércio Livre UE-ASEAN e que aumentemos o turismo, o investimento e as trocas comerciais com o sudeste asiático, contribuindo, dessa forma, para uma economia mundial multipolar.

Wednesday, March 7, 2007

07-03-2007: Cidades, Visão e Vibração

Os países são cada vez mais o que as suas cidades são.A marca de um país está fortemente associada às suas principais cidades.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/746836.html

As cidades são a força vital de um país. Nelas floresce a economia, nelas se investe, nelas se propiciam oportunidades para empresas, famílias e cidadãos exercerem as suas capacidades de realização.
Os países são cada vez mais o que as suas cidades são. A identidade e a marca de um país estão cada vez mais associadas às suas principais cidades. Sucede que as cidades não são efémeras mas perduram ao longo dos séculos. Razão bastante para que o seu crescimento, as suas funções, os seus modelos de desenvolvimento devam ser fruto dum pensamento estratégico, duma inspirada mas muito informada visão do futuro, renovada periodicamente.
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Banguecoque, capital da Tailândia, a segunda cidade mais populosa do sudeste asiático (e 22ª do mundo), atravessada pelo Rio Chao Phraya, concentrando mais que um décimo da população total do país, de 65 milhões de habitantes (75 % de origem Thai e 14% chinesa), é a expressão dum desenvolvimento vibrante. A cidade explode em cada canto com nova construção, em altitude, de icónicos edifícios pós modernos, de modernos hotéis e de discretos condomínios envoltos em vegetação privilegiada. Sente-se o forte pulsar do investimento nacional e estrangeiro, um ambiente fortemente favorável à economia de mercado que tem prevalecido ao longo dos anos. A Tailândia teve um crescimento económico de 6,9%, em 2003, e de 6,1% em 2004. Em 2006, ano que terminou com algumas dificuldades políticas e com uma consequente queda do investimento (27%), o crescimento económico ter-se-á ficado pelos 4,4%. É que, apesar dos recentes acontecimentos, as exportações cresceram 17%, à custa dos produtos transformados, dos produtos alimentares e do turismo. A crise de 97/98 foi há muito ultrapassada.
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Mas a cidade de Banguecoque, visitada anualmente por 15 milhões de estrangeiros, procura ainda o seu modelo. Cidade histórica, com os seus palácios requintados e templos budistas de ouro e mil cores, com um comércio em ebulição, atrai multidões aos sofisticados centros comerciais como aos populares ‘night markets’. Lojas, restaurantes e ‘spas’ concorrem agressivamente pela conquista duma clientela crescentemente diversificada. A cidade vai crescendo, evoluindo em função do livre fluir das forças económicas. O ritmo de construção da infraestrutura da cidade vai-se fazendo, com atraso. Nem a construção do ‘skytrain’ e do metropolitano, nem as auto estradas elevadas permitiram acabar com tremendos problemas de congestionamento de trânsito e de poluição. Uma hora é quanto um taxi pode levar para percorrer um quilómetro. O ruído, o ar poluído, como o bolor, estão largamente distribuídos em múltiplas áreas da cidade. Poucos espaços verdes existem numa das cidades mais quentes da Ásia. A cablagem aérea acrescenta mau aspecto a uma cidade cuja beleza e fascínio estão profundamente enraizados nas sua gentes e nos seus maneirismos. O sorriso dos tailandeses constitui uma forte componente da imagem de marca do país, mas difìcilmente compensa uma inexplicavel incompetência em línguas estrangeiras nomeadamente entre o pessoal hoteleiro e os taxistas.
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Singapura, cidade cosmopolita, oferece uma distinta moldura, posta em evidência pela recente decisão política de alcançar a metade superior do ‘first world’ em 10/20 anos. Dinamismo económico, elevada qualidade de vida, forte identidade nacional e a configuração duma cidade global integram a visão para o futuro de Singapura que irá incorporar, em versão tropical, as melhores características de Paris, Londres e Nova Iorque. E porque a população deverá passar dos actuais 4,5 milhões para os 6,5 milhões, num período de vinte anos, o planeamento estratégico urbanístico desenvolveu já, com grande detalhe, como é que a ‘garden city’ se irá desenvolver no terreno para acomodar este crescimento da população. Em Singapura, a política precede a economia.
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As principais cidades portuguesas, também elas, precisam de uma visão de futuro, a que a marca Portugal ficará asssociada, potenciando os seus recursos e reposicionando-se deliberadamente no contexto das cidades globais.

Wednesday, February 21, 2007

21.02.2007: Muito mais Talento Estrangeiro

Durante muitos anos Portugal assistiu ao êxodo de empresas e de gestores estrangeiros sem reagir estrategicamente.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/741714.html

A mudança em Portugal exige, não apenas o empenhamento de todos os portugueses e um forte investimento nacional e estrangeiro, mas também um decisivo e qualificado influxo de talento estrangeiro. Não existem obstáculos naturais que impeçam Portugal de ser modelo. Porventura, o ‘handicap’ está nas mentalidades dos portugueses que agentes externos podem mais facilmente ajudar a ultrapassar.
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Xin Nian Kuai Le! Feliz Ano Novo! É o ano do Porco que se inicia. Para comemorar teve lugar o jantar de fim de ano (’reunion dinner’) com toda a família. Mike Wong é casado com uma professora indiana. Alguns dos seus cunhados são malaios. Um deles é europeu. Numa cidade cosmopolita confraterniza-se partilhando os costumes. É assim Singapura, pequena ilha (693km2) localizada entre a Malásia e a Indonésia que, em 1990, tinha 2,7 milhões de habitantes mas que, hoje, ultrapassa os 4,5 milhões de habitantes, 77% dos quais de origem chinesa, 14% malaios, 8% indianos e os restantes euroasiáticos, muitos deles com sangue português. O Governo do país mais avançado do sudeste asiático, e da ASEAN, com uma taxa de crescimento do PIB de 7,9%, em 2006, e que exportou cerca de 215 biliões de euros no ano passado, quer que em 2025 a cidade estado alcance os 6,5 milhões de habitantes. Em larga medida à custa da imigração de talento estrangeiro. Que alguns comentam deve atrair mais empresários e não apenas cientistas e outros profissionais. É com este ritmo, com esta abertura, também com esta determinação que o país responde à emergência da China e da Índia como grandes potências económicas.
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Singapura, por alguns chamado de ‘litttle red dot’, tem sido capaz de criar modelos que muitos países asiáticos têm tomado como referência. É o caso das Zonas Económicas Especiais e dos Parques Industriais instalados na China, Índia, Indonésia e Vietname.
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A China irá proximamente aproveitar o modelo Temasek. O Governo de Singapura, mercê do sucesso da sua governação, obteve um excesso de reservas. E, por isso, em 1974 criou a Temasek Holdings para aplicar esses valores localmente, como também noutros países da Ásia e da OCDE, nas áreas das telecomunicações, media, serviços financeiros, imobiliário, transporte e logística, energia, infraestrutura, engenharia e tecnologia, farmacêutica e biociência. Actualmente esses investimentos situam-se na ordem dos 65 biliões de euros. Em 1981, criou um outro veículo, a Global Investment Management Company, que detém actualmente 77 biliões de euros em reservas cambiais, aplicações de capital, bens imobiliários, investimento em acções, etc. Ora a China, que detém actualmente US$1,07 trilião de reservas decidiu adoptar o mesmo modelo. Um quinto das suas reservas (US$210 biliões) será administrada pela The State Foreign Exchange Investment Co (modelo GIC). Uma nova empresa de investimentos, tipo Temasek Holdings, fará a gestão de US$100 biliões. SAFE (‘State Administration of Foreign Exchange’) fará a gestão as restantes reservas.
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Durante muitos anos Portugal assistiu ao êxodo de empresas e de gestores estrangeiros de multinacionais, de médias empresas, sem reagir adequadamente quer tactica quer estrategicamente. Herbert, um engenheiro austríaco, foi um desses casos. Desde há dois anos e meio é CEO duma das 2.000 empresas que se instalaram no China-Singapore Suzhou Industrial Park, em Shanghai, onde não há empresas portuguesas nem portugueses. Mas há brasileiros. Na sua multinacional reporta a um director espanhol. Ele, que dirigiu ao longo de sete anos uma empresa em Portugal lamenta: Portugal está a dormir. Para logo acrescentar, como que a reconhecer alguma mudança: Mas Sócrates esteve em Shanghai e deu-se por isso.
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Portugal deve atrair deliberada e agressivamente talento estrangeiro. Não apenas no futebol. Os países mais avançados procuram reter e atrair empresários e profissionais com conhecimento e experiência que favoreçam a modernização e o crescimento acelerado da economia neste mundo globalizado.

Wednesday, February 7, 2007

07-02-2007 Aeroporto em boa companhia

O aeroporto da Ota deverá constituir muito mais que uma moderna infra-estrutura de transporte aeroportuário.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/736744.html

Um aeroporto para ser nomeado o melhor do mundo. É a esse nível que deve ser colocada a fasquia para a Ota. Num país que se orgulha de Vasco da Gama, deve pedir-se-lhe que como o navegador tenha o céu como limite.

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A Ota, como ideia e projecto, é já parte do futuro de Portugal. Um futuro de reconquista duma posição avançada no concerto das nações. E, por isso, deverá ser uma obra pioneira do ponto de vista tecnológico.

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Essa obra, que a partir de 2017 irá fazer parte da imagem de Portugal no mundo, exporá uma estética e uma funcionalidade que hão-de perdurar para além de 30 anos. E, por isso, deverá ser uma obra de excelência.

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O modelo subjacente ao projecto da Ota implicará a transferência do monopólio público da ANA, a que pertencem todas as infra-estruturas aeroportuárias, para um monopólio privado embora com alguma participação pública. E, por isso, deverá desenvolver-se no quadro duma exigente e eficaz regulação pública, como bem sugeriu Vital Moreira. A máxima transparência, qualidade e consideração pelos diferentes “stakeholders” deverão ser permanentemente asseguradas. Uma boa prática adoptada pelos vinte países que enveredaram, desde 1987, pela privatização dos seus aeroportos.

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O aeroporto da Ota deverá constituir muito mais que uma moderna infra-estrutura de transporte aeroportuário, que se torna necessário construir como “reacção” antecipada a um crescimento esperado da procura. Num contexto duma acelerada globalização, a Ota poderá desempenhar uma função proactiva, catalizadora do crescimento economico no médio e longo prazo, oferecendo um poderoso sistema de serviços com significativo alcance nacional, regional e intercontinental, acrescentando valor decisivo para as economias portuguesa e europeia. E tanto maior quanto mais compreensiva fôr a visão que enforme o projecto, quanto maior fôr a capacidade, a competência e o posicionamento daqueles a quem competir a concepção do seu ‘business plan’, a sua arquitectura e a sua gestão no quadro do modelo adoptado. A Ota poderá ser uma das componentes estruturantes mais relevantes dum novo modelo de desenvolvimento económico. Inspiradora poderá ser a experiência de Singapura que teve, em 2006, 9,7 milhões de visitantes, ao mesmo tempo que o Changi Airport atraía 35 milhões de passageiros e 1,9 milhões de toneladas de carga.

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Este sucesso é o resultado duma dinâmica e eficaz coordenação económica do país, mas deve-se, em larga medida, a uma “hub” eficaz, a uma gestão forte e eficiente e a uma procura sustentada da qualidade. O Changi Airport é um retumbante êxito, com 250 prémios atribuídos, 25 dos quais em 2006, ano em que foi galardoado, pela Skytrax Research (55 critérios de avaliação), como “o melhor aeroporto do mundo”. As suas taxas de aterragem são das mais baixas. Extraordinàriamente eficiente e “customer friendly”, proporciona ao passageiro a recolha da bagagem vinte minutos após a aterragem, após a passagem pelo controle dos Serviços de Imigração. Resultados como estes levaram a que, a 12 de Dezembro de 2006, a gestão operacional dos “Abu Dhabi Airports” tenha sido atribuída ao Changi Airports International of Singapore. E, mais recentemente, também lhe foi solicitada a assessoria no planeamento do New Midfield Terminal Complex, uma obra de US$6,8 biliões para acomodar a procura de mais 40 milhões de passageiros que se dirijam ao Abu Dhabi.

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O Changi Airport serve 80 transportadoras aéreas com 4.000 vôos para mais de 180 cidades em 57 países. Mas um bom Aeroporto tem vantagem em estar em boa companhia. E a parelha Singapore Airlines-Changi Airport prestigiam Singapura e contribuem para a sua posição ímpar na economia mundial. Tanto mais quanto é facto que o ROE da transportadora se aproxima dos 10% e a sua qualidade foi uma vez mais reafirmada, em 2006, através das cinco estrelas da qualidade da Skytrax que foram igualmente atribuídas à Malaysia Airlines, à Cathay Pacific Airways e à Qatar Airways. E o que será a TAP em 2017?

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Nota 1. Neste artigo a localização do aeroporto não é discutida mas sim a visão, o modelo, o conceito que o enforma.

Nota 2. Decisão tomada a 10.1.2008. Boas notícias:

http://jn.sapo.pt/2008/01/12/primeiro_plano/aeroporto_criar_cidade_seu_redor.html

Nota 3. O melhor aeroporto do mundo, Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios, 11.1.2008

http://www.jornaldenegocios.pt/default.asp?Session=&CpContentId=309125

Nota 4

Aeroporto de Singapura entra na corrida a Alcochete (Diário Económico 16.5.2008)

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/internacional/empresas/pt/desarrollo/1124047.html

A operadora asiática está prestes a concluir as negociações para entrar no consórcio formado pela Brisa e pela Mota-Engil.Nuno Miguel Silva

A entidade gestora do aeroporto de Singapura está a fechar as negociações para integrar o consórcio Asterion, liderado pela Mota-Engil e pela Brisa, para concorrer à privatização e à construção e gestão do novo aeroporto internacional de Lisboa, no Campo de Tiro de Alcochete. Diversas fontes ligadas a este agrupamento – que reúne também a Somague, Caixa Geral de Depósitos, BCP, BES e, mais recentemente, a Lena e a MSF – confirmaram que “as conversações estão perto do final”.Apesar de solicitarem o anonimato, estes responsáveis adiantaram que a participação da Changi Airport Singapore, entidade estatal daquele país asiático responsável pela gestão do aeroporto local, irá participar no concurso para o novo aeroporto internacional de Lisboa, não apenas na qualidade de consultora, mas também como accionista. No entanto, não está ainda definida a participação que a gestora aeroportuária de Singapura irá deter no consórcio Asterion.

Quer António Mota, quer Vasco de Mello, líderes do referido consórcio, reconheceram em diversas ocasiões ao longo dos últimos meses que o consórcio tinha ainda uma porta aberta para a entrada de um novo sócio internacional que detivesse ‘know-how’ específico no negócio da gestão aeroportuária. No decurso do processo de negociações, terá sido escolhido pelos líderes da Asterion um conjunto de 12 entidades com este perfil, que desembocou numa ‘short list’ de duas entidades: as operadoras dos aeroportos internacionais de Singapura e de Viena de Áustria. A escolha do consórcio português recaiu na operadora asiática.

Ontem, Jorge Coelho – num encontro com jornalistas para apresentar uma conferência internacional sobre transporte aéreo, aeroportos e navegação aérea, que terá lugar em Lisboa na última semana de Maio (ver caixa) – sublinhou que estará presente nesse evento Chow Kok Fong, o presidente do aeroporto de Singapura. E o ex-ministro das Obras Públicas adiantou que essa presença teria tanto mais significado pelo facto de “esta empresa estar interessada em integrar o consórcio da Asterion para gerir o novo aeroporto internacional de Lisboa”.Jorge Coelho, que irá presidir à referida conferência – além de assumir o cargo de CEO da Mota-Engil, accionista do consórcio Asterion, a partir de 26 de Maio próximo – acrescentou que esta escolha da Changi Airport Singapore tem ainda um aliciante extra, que é o facto de o aeroporto de Singapura ser utilizado maioritariamente pela Singapore Airlines, uma das mais premiadas companhias aéreas de todo o Mundo, que, tal como a TAP, integra a Star Alliance.

Uma referência na Ásia

O actual aeroporto de Singapura foi inaugurado em 1981 é um dos mais modernos, eficientes e movimentados em todo o Mundo. Opera com mais 80 de companhias aéreas regulares, estabelecendo ligações com mais de 180 cidades em mais de 50 países. Com a recente abertura, em Janeiro, do terminal 3, o aeroporto internacional de Changi ficou habilitado a movimentar mais de 70 milhões de passageiros anuais.Além de ser a sede da Singapore Airlines, alberga também a SIA Cargo, a subsidiária SilkAir, a ‘low cost’ Tiger AirWays e a Jetstar (anteriormente Jetstar Ásia, fundida com a Valuer em 2005). Por semana, o aeroporto internacional de Singapura, localizado a cerca de 20 quilómetros da cidade-estado, é utilizado semanalmente para quase 4.200 voos.A Changi Airport Singapore emprega cerca de 13.000 funcionários, colocando-o como um dos maiores activos económicos daquele tigre asiático. Disputa regularmente com os aeroportos de Tóquio, de Incheon (Seul, na Coreia do Sul) de Hong Kong (Chek Lap Kok), de Kuala Lumpur (Malásia) ou de Banguecoque (Tailândia) os ‘rankings’ e os prémios

Wednesday, January 24, 2007

24-01-2007: Ásia: Prioridade e Urgência

A Ásia não tem sido assumida como uma prioridade para a economia portuguesa,que se centrou na Europa, em África e nas Américas.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/731543.html

“Chegámos atrasados à Índia”, confessou Cavaco Silva. Houve pouco negócio fechado mas ficaram muitas oportunidades para explorar. Houve choque, surpresa, admiração. Foi um novo mundo que se revelou ao Presidente da República, a políticos e empresários. É, agora, mais claro que há um imenso trabalho a desenvolver na Índia, mas, também, em toda a Ásia.
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A Ásia não tem sido assumida como uma prioridade decisiva para a economia portuguesa, que se centrou na Europa, em África e nas Américas. Mas há, hoje, uma necessidade de reforçar a intervenção da diplomacia económica, as iniciativas das associações e dos próprios empresários no continente asiático. Há, hoje, necessidade de proceder a uma recentragem na Ásia. Recorde-se que as importações do Japão com origem em Portugal, em 2006, não representam mais que 0,0032 da totalidade das importações do Japão com origem na UE25, muito embora elas tenham vindo a aumentar suavemente desde 2001. As importações da Coreia do Sul, com origem em Portugal, cresceram significativamente em 2006. Mas representam, apenas, 0,0015 das importações da Coreia do Sul com origem na UE25.
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É preciso actuar, sem demora, na requalificação da presença portuguesa em diversas capitais asiáticas para facilitar o posicionamento das empresas portuguesas nestes mercados emergentes. Há desenvolvimentos em curso que poderão ficar prejudicados pela falta de acção atempada. Um caso exemplar é o de Singapura onde existe um simbólico consulado honorário sem actividade relevante. Situa-se numa sala de um nono andar, sem acesso directo por elevador, num prédio humilde, ao contrário do que sucede com as representações dos restantes países da UE. Isto ocorre num país que é charneira nas relações com a China, a Índia e os países do Golfo e que é líder da ASEAN. Contrastando com esta situação está Espanha que organizou com bons resultados, em Julho de 2006, uma missão comercial para explorar oportunidades de cooperação e de investimento em Singapura. E, em Novembro de 2006, esteve de volta à cidade-Estado com uma nova missão. Acrescente-se, também, que Angola tem, em Singapura, uma representação digna e activa e um embaixador residente.
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É preciso ter um forte sentido de urgência em relação à Ásia. Francisco Van Zeller, presidente da CIP, exclamava em Bangalore: “Nenhuma empresa portuguesa está preparada para o nível de exigência da Índia” (...) “e o mundo vai ser isto. Agora é a Índia, depois provavelmente o Vietname, depois o Paquistão, Ceilão, todos eles”.* Mas o mundo é já isto. Hoje! Depois, depois é tarde porque já outros descobriram o caminho da Ásia. O comércio entre Espanha e o Vietname já alcançou US$ 1 bilião, em 2006. Na semana passada esteve, também, em Ho Chi Minh uma delegação de 150 empresários da Catalunha, entre eles a Mango, a Torres, o Banco Sabadell, a Freixenet e a Roca, e 25 representantes de associações de Barcelona, para explorar oportunidades de investimento. Também, na passada semana, o Presidente de Moçambique esteve no Vietnam a assinar quatro acordos de cooperação para a promoção do investimento e da assistência científica e técnica nos domínios da agricultura, educação e saúde. Hoje está de visita ao Japão.
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Portugal tem de ser eficaz e eficiente no uso do tempo. O ritmo de decisão em Portugal não pode, mais, ser lento. No público e no privado. Entre os agentes políticos como no dia a dia dos portugueses. O que pode fazer-se numa hora não pode levar um dia. O que pode fazer-se numa semana não pode levar um mês. Caso contrário são milhões de oportunidades que se perdem. Antecipem-se os problemas e as transformações necessárias. Pense-se antecipadamente, e de forma sistemática e aprofundada, a implementação das decisões. Preparem-se adequadamente as reuniões, as decisões, as viagens de negócios, as relações com os novos mercados. Acelerem-se os processos políticos e legislativos. Reduzam-se os custos deste contexto cultural.
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Portugal precisa de uma visão do tamanho do mundo. Portugal precisa de conquistar um lugar avançado na globalização. Mais do que nunca precisa de velocidade acelerada.

Wednesday, January 10, 2007

10-01-2007: Crescer na Índia, na China, em Singapura ...

Portugal não acompanhou as transformações da Ásia na última década e tem assumido timidamente o seu papel como seu fornecedor.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/726556.htmlPortugal

O aumento das exportações extracomunitárias permite algum optimismo. Os portugueses devem regojizar-se com crescimentos anuais de dois dígitos. Decisivo é o grau de aceleração deste padrão, a contribuição para as economias de destino, a efectiva conquista de quota de mercado, o aproveitamento cabal das oportunidades e o crescimento sustentável numa economia global.
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Observemos o que ocorreu em anos recentes na Ásia quanto às suas importações de Portugal. Cresceram 60% as importações da Índia em 2005/2006(1), com origem em Portugal, por comparação com igual período de 2004/2005. No mesmo sentido evoluíram as importações da China, em 2006, com origem em Portugal.

O problema reside no facto da Índia não ter importado de Portugal mais que US$30 milhões, em 2005/2006(1). Portugal representou, apenas, 0,0002 do total das importações (US$149 mil milhões) desta economia asiática. As importações da UE25 alcançaram 17,2% do total. No contexto das importações da Índia com origem na UE25, Portugal contribuiu, tão só, com 0,0011 do total.
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A China tem contribuído para o elevado crescimento das exportações portuguesas para fora da UE. Segundo o Ministério do Comércio da China, em 2006 (Janeiro a Novembro), este país importou de Portugal US$323,5 milhões. Dos US$718,5 mil milhões importados pela China no período referido, Portugal contribuiu, apenas, com 0,0005. As importações da UE25 alcançaram, neste mesmo período, US$82,2 mil milhões, ou seja, 11,4% do total. Portugal participou com 0,0039 do total das importações da China com origem na UE25. Demasiado pouco, mas melhor que no caso da Índia.
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Só no caso de Singapura a posição se apresenta mais positiva. As importações de Singapura, com origem em Portugal, representaram US$290 milhões, em 2005, de acordo com as ‘Singapore Trade Statistics’. Não contemplando, este valor, as importações das mercadorias em trânsito, Singapura assume-se como um relevante parceiro comercial e não desempenha “sobretudo um papel de intermediário no comércio com a China” (2) como, certamente por lapso, foi recentemente referido. Dos US$200 mil milhões importados por Singapura, Portugal contribuiu com 0,0014. Um crescimento de 21,7% em relação a 2004. As importações da UE25 alcançaram US$27 mil milhões, ou seja, 14,5% do total. Portugal teve aqui uma participação mais significativa, de 0,0107, no conjunto das importações de Singapura com origem na UE25.
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O que fica demonstrado é que Portugal não acompanhou as transformações da Ásia na última década e tem assumido muito timidamente o seu papel como seu fornecedor. Portugal, em 2005, representava 1,36% do PIB da UE25. O peso das importações asiáticas com origem em Portugal, no total das importações com origem na UE, ficaram-se pelos 0,1% no caso da Índia e de 0,4% no caso da China. Mais, o ritmo de penetração portuguesa na economia chinesa continua a ser muito inferior ao da UE. As importações da China, entre 2005 e 2006 (Janeiro a Novembro), cresceram 20,6%, enquanto o crescimento das importações com origem na UE25 foi de 23,5%. Mas o de Portugal quedou-se pelos 12%.
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Requer-se acção. Mas acção esclarecida. Cavaco Silva está, hoje, em visita de Estado à Índia e o primeiro-ministro deslocar-se-á à China. É urgente que cresça na sociedade portuguesa a sede de conhecimento sobre a Ásia e se adquiram novas capacidades para conquistar estes mercados. Ultrapassando todas as limitações.
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Nas livrarias de Lisboa não há mais do que três obras sobre as recentes mudanças ao nível económico e empresarial na China e na Índia. Na livraria Kinokuniya, em Singapura, estão disponíveis dezenas de obras de qualificado interesse sobre a actual fase destes dois países. Contrastes que não podem perdurar. Já que a curiosidade é que aguça o engenho.

(1) Abril 2005 a Março 2006, Departamento do Comércio da Índia (MCI)(2) In “Mercado chinês vale mais do que mostram as estatísticas”, Diário Económico, 21.12.2006

Wednesday, December 27, 2006

27-12-2006: Vinho português para a Festa na Ásia

Em Macau os vinhos portugueses dominam o mercado. Ao lado, em Hong Kong, metade das importações de vinhos provêm de França.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/722589.html

Nos próximos cinco anos o crescimento do mercado de vinhos na Ásia será de 10 a 20% ao ano. A não perder. Os maiores aumentos registar-se-ão na China, Índia, Coreia, Singapura, Taiwan, Filipinas e Malásia. A ViniPortugal prepara-se para estender a sua promoção aos mercados asiáticos. Propõe-se desenvolver acções em Macau, Hong Kong, Xangai e Índia.

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O contraste entre Macau e Hong Kong impõe uma reflexão estratégica. Em Macau os vinhos portugueses dominam o mercado. Ali ao lado, em Hong Kong, metade das importações de vinhos provêm de França e cerca de 40% de países do Novo Mundo. Como vai Portugal alterar o padrão de Hong Kong e ganhar quota de mercado? Como vai penetrar nos restantes países asiáticos?

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O padrão de consumo de vinho em Macau está associado ao estilo de vida dos portugueses que diariamente consomem vinho à refeição, em casa ou no restaurante. Não é o caso dos restantes países asiáticos. Na Ásia as refeições não são habitualmente acompanhadas de vinho. Macau beneficiou, aqui, da aculturação portuguesa.

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São outras as motivações dos asiáticos para este novo hábito de beber vinho. Começou por emergir associado às festas, como consumo simbólico de estatuto económico superior, como manifestação de um certo estilo de vida. Mais recentemente, os benefícios de saúde atribuídos ao consumo do vinho cativam um novo segmento, despertando algum interesse os vinhos ”orgânicos”. O vinho é sobretudo consumido fora de casa, em restaurantes, clubes, encontros de amigos, nas festas de empresa, casamentos, jantares de congressos. É claro que existem outros segmentos minoritários: os residentes ocidentais e uma elite de ‘connoisseurs’ locais. Nos países com mercados turísticos significativos há que adicionar os turistas. É o caso de Singapura onde a próxima construção de dois ‘integrated resorts’ com casino, pela Las Vegas Sands e pela Genting International em Marina Bay e Sentosa Island, irá duplicar os actuais nove milhões de visitantes.

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A maioria dos consumidores asiáticos prefere vinhos ‘light’ de preferência monocastas de denominação francesa. Para poderem extrair algum benefício social do seu novo comportamento social, preferem os vinhos de marca conhecida. Os mais jovens optam pelos vinhos mais baratos do Novo Mundo. Na China e na Índia a produção local responde bem a estes novos consumidores mais sensíveis ao preço.

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Os vinhos portugueses têm, em cada mercado, de vencer a falta de conhecimento, a falta de uma imagem de marca de qualidade socialmente relevante. Têm de vencer a resistência decorrente da sua complexidade alcançada a partir de castas totalmente desconhecidas. A combinação com castas francesas é um factor favorável na penetração do mercado. As marcas, pensadas para o mercado português, difíceis de serem lidas por consumidores de outras línguas, têm de ser reavaliadas.A marca Portugal precisa de ser promovida nestes mercados com externalidades para os diferentes sectores exportadores. Portugal tem de participar na formação sobre o país vitivinícola, sobre as regiões, as castas, as características dos vinhos portugueses. Há que formar importadores, distribuidores, proprietários de restaurantes e bares, os food & beverage managers dos hotéis, sommeillers, chefs, opinion leaders, jornalistas. O comércio de vinhos é cada vez mais sofisticado, knowledge based. A Singapore Polytechnic oferece este tipo de formação. Os consumidores gostam de conhecer as histórias dos produtores. Este é também um mundo de fantasia e de simbologia. Essencial é oferecer o melhor emparelhamento dos vinhos com a culinária local. Há que estimular o surgimento de restaurantes portugueses nas capitais da Ásia.

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Os produtores portugueses têm de conhecer as características dos mercados e têm de promover as suas marcas. Não há marketing sem branding! Têm de promover os seus vinhos em muitas iniciativas, como meios audiovisuais de qualidade. Têm de apoiar, de forma continuada, os seus parceiros locais no desenvolvimento dum mercado de vinhos portugueses e na consolidação de uma clientela própria. Têm de ir munidos de muita perseverança para sucederem a médio e longo prazo na Ásia.

Wednesday, December 13, 2006

13-12-2006: Que ambição?

As empresas e as marcas portuguesas têm de ter visibilidade no mundo, das Américas à Ásia. O futuro exige ainda mais ambição.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/718400.html

2006 foi, para Portugal, um ano de alguns sucessos. As exportações de bens e seviços aumentaram significativamente. O PIB cresceu. A capacidade de atracção de Investimento Directo Estrangeiro, passou de 53º em 2005 para 17º lugar em 2006*. Portugal tem agora uma das mais baixas (13ª) taxas de mortalidade infantil do mundo. Nada foi obra do acaso.

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As empresas celebrarão no final do ano o crescimento dos lucros, a criação e consolidação de novas marcas, a quota acrescida de mercado interno e a penetração em alguns mercados externos, o investimento na investigação e desenvolvimento, o emprego criado, o investimento na formação e na melhoria das condições de trabalho. Algumas festejarão a internacionalização das suas actividades. Nada foi obra do acaso.

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Muitos cidadãos regojizar-se-ão com os seus progressos pessoais e profissionais, com a melhoria dos seus conhecimentos e habilidades, com a conclusão dos seus cursos ou das suas pós- graduações, com o facto de terem uma vida mais saudável, terem deixado de fumar, gerirem melhor o stress, ou terem sido promovidos e premiados. Nada foi obra do acaso.

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Se houve resultados foi porque houve empenho deliberado, pensamento, estratégia, plano, criação, acção continuada, tenacidade. Mas o futuro exige ainda mais ambição, mais ritmo, melhor adaptação do país, das empresas, das universidades, dos cidadãos às mudanças na economia mundial.

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Nas últimas décadas do século XX o dinamismo económico descentrou-se do Atlântico para o Pacífico. No século XXI centrar-se-á cada vez mais nos mares da China e no Índico. Portugal integra lentamente esta realidade e tem-lhe atribuído insuficiente prioridade ao nível do comércio e do investimento. Os fluxos de investimento entre a Ásia e Portugal são, ainda, pouco expressivos. As exportações para a Ásia são proporcionalmente muito inferiores ao potencial económico da mais populosa região do mundo. Um mero exemplo: em 2005, Singapura importou vinhos, com origem nos mais diversos países do mundo, equivalente a cerca de S$500 milhões. Portugal contribuiu apenas com cerca de S$1,1 milhão.

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Portugal, que se situou na 24ª posição do Índice de Globalização, em 2006, deve ter como objectivo estar entre os 15 primeiros, em 2010, e entre os 10 primeiros, em 2015. Pequenos países, cada qual com um processo de crescimento económico distinto, disputam as melhores posições. A Dinamarca ocupa a 5ª posição, a Irlanda ocupa a 4ª e Singapura a 1ª posição. Em termos de capacidade de atracção de Investimento Directo Estrangeiro, e capitalizando o sucesso da API no ano transacto, Portugal deve ter como objectivo, estar entre os 10 primeiros em 2010. Igual objectivo deve prevalecer quanto à nossa posição relativamente ao comércio. Hoje na 34ª posição.

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O país precisa de uma suave mas profunda revolução cultural, uma mudança de atitudes em relação à criação de riqueza, em relação ao valor atribuído à empresa na sociedade portuguesa. Só as empresas criam prosperidade, riqueza, emprego. Os empresários que alcançam estes objectivos devem ser valorizados, distinguidos, apreciados. Bem mais que as estrelas do futebol ou as que povoam a imaginação popular e os palcos reais e virtuais. Os media devem conceder às iniciativas empresariais, a estes heróis do risco e da inovação, um espaço nobre da sua programação. Uma atmosfera contagiante, febril, de explosão de ideias, de criação de projectos precisa de ser estimulada. Os insucessos não deverão ser estigmatizados mas os seus actores deverão ser reabilitados e as lições deverão ser aprendidas. Nesta nova economia não há lugar à histórica divisão entre empresários e colaboradores: nós e ele. A cultura de parceria no trabalho terá de prevalecer.

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As empresas e as marcas portuguesas têm de ter visibilidade no mundo, das Américas à Ásia. Objectivos específicos de internacionalização das empresas de cada sector têm de ser uma prioridade das associações empresariais para 2007, 2010, 2015. Multipliquem-se, consolidem-se, emerjam clusters dedicados à exportação de bens e serviços.
Nota: Índice de Globalização 2006, A.T. Kearney

Wednesday, November 29, 2006

29-11-2006: Segurança Económica

A geoeconomia tomou o lugar da geopolítica. A competição económica sobrepõs-se à competição ideológica.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/714296.html

A segurança politico-militar constituiu, ao longo dos séculos, a principal preocupação da política externa. A segurança económica é, hoje, o principal enfoque dos governos nas suas relações bilaterais, sub-regionais, regionais e multilaterais. A geoeconomia tomou o lugar da geopolítica. A competição económica sobrepõs-se à competição ideológica.

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Cada país procura garantir a sua segurança económica. Através da sua capacidade económica e da relação com o ambiente económico externo. Países com estrutura económica forte, sistema político estavel e posição internacional relativamente superior influenciam a economia global. Os outros, como Portugal ou Singapura, têm de desenvolver as suas capacidades de adaptação às mudanças da economia global, melhorando a eficiência económica, a sofisticação tecnológica da sua economia e a qualidade.

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Para assegurar a segurança económica, cada país tem de garantir o acesso a recursos naturais, tecnológicos e humanos, ao crédito no sistema internacional, aos mercados. Tem de ter a capacidade de gerar produtividade, prosperidade e bem estar. A capacidade de manter o seu paradigma socio-económico. A capacidade de gerir os problemas transfronteiriços (migrações, poluição, trafego de droga), de manter e desenvolver parcerias económicas com actores públicos e privados e de contribuir para a estabilidade do sistema económico internacional.

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A política económica externa e a diplomacia económica ganharam, com a globalização, uma importância que jamais haviam alcançado na optimização de oportunidades e na minimização de riscos e ameaças. Os responsaveis pela política económica externa devem supostamente ter uma visão estratégica com horizontes largos (geoeconómicos) e de longo e muito longo prazo. A procura de resultados efectivos na política económica externa exige clareza nos objectivos, liderança, desenvolvimento de redes de comunicação e informação, consulta permanente. A diplomacia económica requer muita iniciativa, muita pesquisa, abordagens incrementais e um grande sentido de oportunidade. E, sobretudo, muito empenhamento, persistência e acção.

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Acção é o que não tem faltado à política externa e à diplomacia económica de Singapura. Um país sem quaisquer recursos naturais: nem petróleo, nem gás natural nem água. Para o fornecimento de água fez um acordo com a Malásia válido por 99 anos.

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Desde 2005 tem vindo a desenvolver uma ofensiva diplomática no Médio Oriente com os olhos postos no petróleo mas também em muitos outros projectos. Lee Kuan Yew, ex-primeiro ministro e actual ministro mentor visitou, em Novembro do ano passado, o Dubai e o Qatar. Em Janeiro deste ano voltou ao ao Qatar e foi ao Abu Dhabi. Em Março esteve na Arábia Saudita. Em Outubro, o vice primeiro-ministro Wong Kang Seng esteve no Qatar. Lee Kuan Yew visitou já em Novembro o Kuwait e, de novo, o Abu Dhabi. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong acaba de chegar de uma visita à Arábia Saudita e ao Qatar, onde foi acompanhado de vários ministros dos negócios estrangeiros, finanças, comércio e indústria, transportes e ambiente e de 17 empresas de Singapura a quem desafiou para tirarem partido das oportunidades no Médio Oriente onde o retorno dos investimentos será mais rápido que na Índia ou na China. O comércio bilateral com a Arábia Saudita situou-se, em 2005, nos US$10 biliões e com o Qatar nos US$4 biliões. Mas a China e a Índia são a grande aposta de futuro de Singapura. É que o acesso aos mercados externos é crucial para gerar a prosperidade interna e, estes, são os mais próximos gigantes. Com um posicionamento não proteccionista, Singapura tem apoiado as negociações ao nível da OMC; promovido a rápida integração económica dos países da ASEAN, construido acordos de livre comércio regionais e bilaterais (EUA, Canada, Japão, México, Chile, Australia, Nova Zelândia, Coreia do Sul). E acaba de lançar as negociações para um acordo com as nações do Golfo e de estabelecer um pacto com a região italiana Emilia Romagna. A iniciativa da criação do ASEM, da ASEAN-MERCOSUR e do Forum com a América Latina (EALAF) a Singapura pertencem. Um país bem adaptado, com um crescimento esperado de 7,5 a 8% para 2006.

Wednesday, November 15, 2006

15-11-2006: Nação mais Globalizada

Singapura transforma-se crescentemente numa capital de ensino de excelência a nível mundial.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/709279.html

Pelas 7.20 da manhã, as crianças no pátio da escola (assembly hall) entoam o hino nacional: Majulah Singapura (Progresso para Singapura). A prosperidade é, a par de muitos outros valores, inculcada desde muito cedo nas crianças pela família e pela escola. A aprendizagem de conhecimentos e dos mais variados tipos de skills preenchem quase todos os minutos do dia a dia de cada estudante. O nível de participação em actividades extra-escolares e extra-curriculares é elevadíssimo. As famílias canalizam para a educação dos filhos uma enorme percentagem do seu rendimento. Os pais dedicam uma percentagem muito significativa do seu tempo livre no acompanhamento dos seus filhos. Singapura prepara cidadãos do mundo.

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A ambição de Singapura é ser uma cidade global. É já passado posicionarmo-nos meramente como uma capital regional, afirmava recentemente o ex-primeiro ministro Lee Kuan Yew. Indispensável, para tal, transformar Singapura numa sociedade do conhecimento. A política de atracção de talento estrangeiro foi, desde a década de 80, parte integrante desta visão. Singapura começou, então, a recrutar em universidades inglesas e norte-americanas os mais brilhantes doutorandos. O seu sistema de ensino foi-se robustecendo. Ao mesmo tempo enviava milhares dos seus jovens, com bolsa, para as melhores universidades dos EUA e do Reino Unido.

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A política de recrutamento de foreign talent para as Universidades, para os centros de investigação e para as empresas tem sido consistentemente reforçada. Mesmo quando paira no ar o receio de que os estrangeiros possam estar a ocupar os lugares que seriam devidos aos nacionais. Mas a visão do progresso nacional impõe-se às preocupações imediatistas, aos interesses particulares, aos grupos de interesse. Uma parte significativa dos administradores executivos e, de modo particular, de administradores não executivos das maiores empresas locais são estrangeiros. Mesmo em empresas dominadas por holdings estatais. A melhoria da competitividade à escala global e da transparência e responsabilidade perante os múltiplos stakeholders aconselha a integrar diferentes culturas empresariais e a expandir o universo mental dos líderes económicos. É, também, a qualidade da corporate governance que está em causa.

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Os excelentes resultados das políticas adoptadas estão à vista. Singapura transforma-se crescentemente numa capital de ensino de excelência a nível mundial. Alguns perguntam-se se ela virá a ser a Boston da Ásia*. Proliferam os cursos em parceria com universidades dos EUA e Canadá, escolas britânicas, francesas e australianas (Universidade de Chicago, British Columbia, Melbourne, Perth, INSEAD, Wales, Bradford, etc.). Em 2010, Singapura espera ter 100.000 alunos estrangeiros. Com o correspondente benefício em postos de trabalho e no PIB. Actualmente este sector ocupa 52.000 profissionais, representa 2,2% do PIB e vale cerca de 4 mil milhões de dólares (S$).

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Mas a capacidade de integração económica global manifesta-se em primeiro lugar na esfera industrial e do comércio. Mais de 7000 multinacionais dos EUA, Europa e Japão investem em Singapura. O investimento directo de Singapura no estrangeiro alcançou, por sua vez, os 104 mil milhões de dólares no final de 2004. A empresa local CapitaLand ilustra bem a estratégia em curso. Investe actualmente em 18 países e 70 cidades do mundo. Em Singapura gere 15 centros comerciais. Dentro de dois a três anos contará no seu portofolio com 50 centros comerciais na Índia e 30 na China, a par de quatro no Japão. Uma porta de entrada segura para os produtos ocidentais. Nestes centros comerciais Portugal peca, ainda hoje, pela ausência. Mas abrem-se agora novas oportunidades. Basta que para tanto se entenda que, para chegar aos mercados da Ásia, e particularmente à China e à Índia, a técnica do snooker é mais eficaz que a táctica do bilhar. Agir concertadamente com empresas de Singapura na Ásia diminuirá os riscos que uma aventura solitária sempre comporta. Tanto mais quanto menos preparados estão os portugueses para a globalização.

*Damien Duhamel, ”Can Singapore become the Boston of Asia?”, Singapore Business Review, October 2004

Wednesday, October 18, 2006

18-10-2006: Estória de Sucesso

Desde 9 de Agosto de 1965, Singapura não parou de lutar pela sua sobrevivência num contexto de crescente globalização.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/699777.html

Há nações que geram uma natural curiosidade, transformada em fonte de inspiração e, amiúde, numa decisiva vontade de aproximação. Imagine um país do terceiro mundo que nos anos 60 tinha um PIB per capita inferior a 320 dólares. Pois, em 2005, o seu PIB per capita ultrapassou os 28.000 dólares. E no terceiro trimestre de 2006, o seu PIB cresceu 7,1%, em relação a igual período de 2005.

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Como explicar os tão extraordinários resultados duma ilha de quatro milhões e meio de habitantes, com menos de 700 km2 de superfície, sem recursos naturais, cujo porto comercial, na foz do rio Temasek, foi destruído pelos portugueses em 1613?

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Governada autònomamente a partir de 1959, constituiu com a Malásia, Sabah e Sarawak, em 1963, a Federação da Malásia. Mas dois anos mais tarde, em conferência de imprensa, foi o próprio Lee Kuan Yew que anunciou, de lágrimas nos olhos, a expulsão da federação e a fundação da República de Singapura. Desde 9 de Agosto de 1965, Singapura não parou de lutar pela sua sobrevivência num contexto de crescente globalização.

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Com estabilidade política e uma forte liderança, visão estratégica, um ‘mix’ de políticas públicas pragmáticas, uma economia ancorada numa fortíssima participação de multinacionais, num poderoso veículo de investimento público a nível interno e externo, e em PME, venceu o desemprego, resolveu o problema da habitação, garantiu uma melhoria signficativa do nível de vida, desenvolveu uma infraestrutura económica de grande qualidade, criou sistemas de ensino e de Saúde de excelência e guindou-se a uma posição cimeira no quadro das mais avançadas nações do mundo.

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Nos anos 70 transformou-se numa economia dominada pelas indústrias de capital e de mão de obra intensiva e resolveu o problema do desemprego. Nos anos 80 desenvolveu as actividades de I&D, concepção de produtos e serviços de software. Nos anos 90 investiu na arquitectura de empresas, no desenhar das suas actividades através de parcerias de planeamento estratégico. Actualmente focaliza-se na inovação e tecnologia, procura identificar e desenvolver novos ‘clusters’, reforçar os actuais ‘clusters’ industriais, incentiva a emergência de ninhos de inovação, reforça as características de ambiente competitivo para a economia global e expande-se pelas diferentes partes do mundo. No ano passado o sector privado investiu cerca de dois biliões de dólares em I&D. Trabalham actualmente em Singapura 21.000 engenheiros e cientistas (4.575 com PhD), 62% dos quais no sector privado.

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O extraordinário dinamismo da sua política externa, fortemente dominada pela dimensão económica, explora todas as oportunidades de desenvolvimento do investimento, do comércio e do turismo com a Ásia, a Europa, as Américas e o Médio Oriente. A promoção dos acordos de cooperação económica, quer como líder da ASEAN quer em em termos bilaterais, são disso ilustração. O apoio ao desenvolvimento das “zonas económicas especiais” na China, na Índia, na Indonésia, no Vietnam são outros tantos exemplos. Só na província chinesa de Jiangsu as suas empresas desenvolveram, até final de 2005, 2036 projectos. Estudam em Singapura 70.000 estudantes estrangeiros. Em 2002, a exportação de serviços de Saúde situou-se nos 420 milhões de dólares.

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Singapura é, de facto, o terceiro mais importante mercado exportador extracomunitário português.
Referindo-se ao Brasil, Seixas da Costa disse há dias: há que “aprender a trabalhar mais em articulação com outros parceiros, europeus ou doutras origens, para poderem ganhar uma escala competitiva”. Aplique-se a sugestão à China e à ìndia. Com parceiros de Singapura.

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Aprofunde-se a aproximação a Singapura. Remonta a 1982 o estabelecimento de relações diplomáticas com Singapura. Em 1998 esteve para ser, ali, aberta a embaixada de Portugal. Mas não foi. Em 1999 foi assinado o acordo com a PSA Sines. A caminho de Timor, Sampaio visitou Singapura, em 2000, e Barroso tê-la-á visitado em 2002. Lisboa recebeu a visita de Goh em 2003. Em Setembro de 2006, Sócrates convidou o actual PM Lee a visitar Portugal.

A dimensão dum país não é fraqueza. Antes, oportunidade.

Wednesday, October 4, 2006

04-10-2006: Depressa e Bem

A sabedoria popular projecta uma imagem de falta de confiança e manifesta resistência à transformação necessária.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/695238.html

A mudança no Estado é necessária. Não é menos urgente a mudança na sociedade portuguesa. O consenso está adquirido mas não quanto ao ritmo desejável da mudança. A voz do povo prefere a calma e a mudança lenta: ‘devagar se vai ao longe’! Este receio da mudança radica-se na ideia de que é escassa a competência disponível: ‘depressa e bem há pouco quem’. A sabedoria popular projecta uma imagem de falta de confiança e manifesta resistência à transformação necessária. Portugal precisa de mudar as atitudes e mentalidades e, para isso, precisa de qualificar mais as pessoas.

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Um dos ‘handicaps’ da sociedade portuguesa prende-se com a falta de conhecimento profundo do mundo, que sendo um erro fatal em tempo de globalização, não contribui em nada para uma adequada visão do futuro do país, da economia, do relacionamento entre instituições, do papel do Estado e da sociedade. Dos ‘media’ se espera que ajudem a ganhar consciência da transformação do mundo, que transmitam a evolução por que passaram as sociedades e economias mais bem sucedidas.

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Das instituições de ensino – da escola à universidade – se espera que transmitam não apenas conhecimentos mas ajudem a formar pessoas capazes de pensar, de usar todos os dias o conhecimento adquirido. Capazes de antecipar os problemas da mudança, de criar projectos, de decidir e de pôr em prática as decisões. Capazes de atravessar fronteiras, de vencer barreiras culturais, de trabalhar em qualquer lugar do planeta, de vencer em quasquer mercado.
Agir depressa e bem exige uma maior qualificação dos nossos recursos humanos. Portugal precisa de adoptar programas como o ‘Investors in People’, introduzido em 1991 no Reino Unido, pelos ministérios da educação e do emprego, como instrumento de desenvolvimento dos recursos humanos. Pelo menos 40,000 PME deverão ter alcançado, em 2007, o ‘Investors in People status’ e 45% da população trabalhadora inglesa deverá estar abrangida pelo programa. A 5ª Conferência do ‘Investors in People’ foi participada por 26 países. O Canadá, a Espanha, a Suècia e a Eslovénia estão actualmente a iniciar a aplicação do modelo. Singapura lançou em 1998 o programa ‘People Developer’ e certificou, até hoje, 552 empresas e outras organizações, pela excelência empresarial associada a um elevado desempenho na gestão dos recursos humanos.

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Das empresas se espera que invistam nas pessoas, nos seus colaboradores. Que ao mesmo tempo que levam por diante métodos de avaliação de desempenho apoiem a formação nas ‘competências’ que a escola e a universidade não promoveram eficazmente: a visão estratégica, o planeamento e a gestão da mudança, a gestão de projectos, a reengenharia de processos, a orientação para resultados, a tomada de decisão, a comunicação efectiva, o ‘coaching’, a disciplina. Que as empresas invistam na formação que permita dar a cada administrador, a cada director, a cada chefia, a competência de gerir pessoas e não apenas de gerir processos.

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È necessário que iniciativas recentes se transformem ràpidamente em norma. O inglês é, desde há décadas, a língua da ciência e da tecnologia e, cada vez mais, o suporte da comunicação empresarial global. Em boa hora algumas instituições lançaram mestrados em língua inglesa: a Universidade Católica iniciou um ‘Master of Laws’ e o ISCTE oferece um ‘Master in International Management’. A Universidade de Utrecht tem 87 mestrados em língua inglesa. As universidades portuguesas fariam um favor aos jovens portugueses se determinassem que, até ao fim da década, pelo menos 25% dos seus mestrados seriam ensinados na língua franca da ciência internacional. As reitorias das Universidades portuguesas dariam também um bom contributo à aceleração da mudança se convidassem as faculdades a pôr a concurso internacional, no final do actual mandato, os lugares de director das mesmas.

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Aumentando as competências criar-se-á um clima favoravel à mudança, aumentar-se-á o ritmo da mudança, melhorar-se-á a produtividade e a competitividade. Porque Portugal precisa bem de fazer a mudança. Depressa!

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Nota 1.Publicado 20 Maio 2008, Jornal de Negócios (Germano Oliveira)
Afirma António Nóvoa
"Concebo ver a Universidade de Lisboa com reitor estrangeiro"
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Os novos estatutos da maior instituição de Ensino Superior da capital já estão elaborados, por imposição da nova lei do sector. O reitor da Universidade de Lisboa admite que o modelo fundacional fica em suspenso e defende um consórcio com o politécnico da cidade.
Em entrevista ao Jornal de Negócios, António Nóvoa, diz que o país necessita de um reordenamento da rede de Ensino Superior, sobretudo em Lisboa, e refere que a existência de candidados a reitor com uma carreira internacional será sempre prestigiante para a UL.

Wednesday, September 20, 2006

20-09-2006: Clusters, inovação e eficácia

Os clusters, que alguns consideraram uma “moda”, vieram a transformar-se num movimento à escala global.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/690287.html

A aquisição e utilização de novas tecnologias pelos consumidores é, entre nós, rápida. Mas o tempo que medeia entre o conhecimento e a adopção de determinadas soluções políticas, económicas ou organizacionais chega em Portugal a ser de décadas. A título de exemplo refiram-se as taxas moderadoras na saúde, proporcionais ao nível de rendimento, que, tendo sido abordadas pela primeira vez numa conferência de direito da saúde no final dos anos oitenta, só agora surgem na agenda política para serem postas em prática.
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Inovadores não escasseiam em Portugal. Novas ideias, novas metodologias, são propostas em público ou em privado, nos ‘media’, na universidade, nas instâncias políticas ou nas empresas. Mas a sua adopção e efectiva implementação passa frequentemente por um percurso demasiado longo. É, também, este o caso de uma das mais inovadoras abordagens estratégicas, com efeito decisivo ao nível do desenvolvimento económico, o bem conhecido modelo dos ‘clusters’, desenvolvido por Michael Porter (1990) na sua obra ”The Competitive Advantage of Nations”. As suas ideias não tardaram a chegar a Portugal, a convite de Mira Amaral. Porter apoiou a definição da estratégia económica e procedeu ao mapeamento dos ‘clusters’ relevantes para a exportação. O seu relatório foi divulgado em 1994.
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Os ‘clusters’, que alguns consideraram uma ‘moda’, vieram a transformar-se num movimento à escala global. O Canadá, a Índia, a Nova Zelândia e a Tailândia solicitaram a Porter a sua contribuição analítica. Os governos de Singapura e Taiwan pediram-lhe conselho. Os programas de competitividade da Irlanda, Finlândia e Noruega inspiraram-se no seu modelo. Em 2002, este havia já sido adoptado por 49 países onde se assinalavam 833 clusters activos: 166 no Reino Unido, 153 nos Estados Unidos, 106 na Índia, 96 em França, 72 em Itália, 34 na Dinamarca, 31 na Alemanha, 4 em Portugal. Nos Estados Unidos, os estados de Mississippi, New Jersey, Carolina do Sul, Connecticut, a região de Columbus, Ohio, bem como o País Basco, a Catalunha, a Escócia e a Irlanda do Norte seguiram-lhe as pisadas. A Nova Zelândia, um país de quatro milhões de habitantes, tem hoje 180 ‘clusters’.
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A estratégia de crescimento para a próxima década inscreve, como política pública de desenvolvimento de ‘clusters’, o apoio ao ‘esforço de inovação dos clusters tradicionais’ bem como ‘facilitar a formação de parcerias para a inovação de clusters em que Portugal já tem competência e onde acrescenta valor’. Se é certo que os ‘clusters’ se iniciam naturalmente, orgânicamente, a maior parte das vezes no seio das empresas, o seu desenvolvimento não deve ser deixado ao acaso.

Uma parceria público-privado, envolvendo associações empresariais, unidades de investigação e ensino, AICEP, IAPMEI, AdI e ITP deverá apoiar a implementação da política de ‘clusters’, ancorada numa reduzida estrutura, com um programa de desenvolvimento consolidado de ‘clusters’ nacionais, regionais e comerciais.

Produzir um manual de formação de ‘clusters’, formar facilitadores, promover a imagem e o conhecimento do modelo, disponibilizar formação a nível regional, co-financiar os esforços iniciais de incubação de ‘clusters’ através de um fundo de desenvolvimento*, avaliar o grau de apoio necessário a prestar, monitorizar o grau de maturidade do ‘cluster’ (passivo, em iniciação, em incubação, em implementação, em desenvolvimento, em declínio), determinar os factores de sucesso da incubação dos ‘clusters’, avaliar e divulgar os resultados em termos de emprego criado, volume de exportações, número de organizações envolvidas, projectos e ‘joint ventures’ constituem tarefas essenciais para propiciar que este esforço nacional se transforme num programa eficaz.
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Mas serão outros os factores que irão determinar o ritmo de adopção dos ‘clusters’ em Portugal, e que estão associados à eficiência do ‘processo político’, dos ‘processos de tomada de decisão’ nas associações empresariais, nas empresas e na administração pública, e à eficácia do ‘processo de difusão de inovações’.
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*O Fundo de Desenvolvimento de ‘Clusters’ de Singapura é de um bilião de dólares (S$).

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VALE MAIS TARDE DO QUE NUNCA

"Pólos de competitividade, copiar o que de bom se faz lá fora

Mónica Silvares, in Diário Económico 12.11.2008
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1183229.html

Criar clusters, estruturas que agreguem as indústrias que trabalham na mesma fileira.
Michael Porter em 1994 fez um estudo nesse sentido e a Europa, nomeadamente França, tem a ideia testada há muito. A ideia renasce agora com os Pólos de Competitividade.

São 12 que se vão constituir a nível nacional. É verdade que a agregação poderia ser maior, segundo defendem alguns economistas. Mas a realidade nacional nem sempre acompanha as teorizações no papel.

Assim, há os pólos regionais, realidades mais pequenas, mas que obedecem a uma lógica de dinamização semelhante.

A ideia não é atirar mais dinheiro às empresas, que contam já com 3,15 mil milhões com as três linhas de crédito criadas, mas agilizar a análise das candidaturas aos fundos de Bruxelas.

Este projecto replica ainda outra realidade internacional: a de Espanha, já que tudo começou em Junho com reuniões entre o Ministério da Economia e as empresas para medir o pulso ao acolhimento que a ideia teria junto dos empresários"