Wednesday, November 12, 2008

12-11-2008 - Missões a Cidades Emergentes

É do lado do sol nascente que estão a surgir as melhores oportunidades, nomeadamente na China e na Índia.
A actual crise financeira desencadeada, nos EUA, por práticas neo-liberais excessivas provocou um verdadeiro “efeito dominó” sobre todos os sistemas financeiros e económicos. O factor desencadeante (‘trigger effect’) é conhecido: o crédito hipotecário. Entre os factores de reforço está, decerto, o ambiente de desregulação. Caso para se questionar se os ‘checks and balances’ se devem, ou não, aplicar sempre aos sistemas económicos, como o são aos sistemas políticos. Onde há comportamento humano há pulsões que podem requerer contenção.
A ruptura política de Obama, que nestes dias teve lugar nos EUA, está em melhores condições para contribuir para a introdução do equilíbrio de que o sistema carece a nível global.
Mas não se discutem, por ora, os factores predisponentes da crise associados ao estado da economia real dos EUA, de que a crise da General Motors/Chrysler, a crise da indústria automóvel norte-americana, mais não é do que um sintoma. Um sintoma da progressiva perda da posição dominante da economia norte americana em relação à economia global, cuja energia flui, hoje, mais do Oriente que do Ocidente. Nunca, como hoje, a análise prospectiva da evolução da economia mundial nos próximos cinco, dez, vinte ou trinta anos, e das alternativas estratégicas, se tornou matéria urgente, não apenas para americanos mas também para europeus. Porque o futuro já está aí.
Muito embora sejam várias as empresas que em Portugal só descobriram as oportunidades da economia norte americana na fase descendente do ciclo, é do lado do sol nascente que estão a surgir as melhores oportunidades, nomeadamente nas cidades emergentes, como Hangzhou, Chen-gdu, Nanjing, Tianjin, Shenyang, Chongqing, na China, Mumbai, Bangalore, Hyderabad, Pune, Chennai ou Calcutá, na Índia.
E, sendo isto verdade, nada garante que nisto acreditem as empresas portuguesas. A menos que as autoridades portuguesas, os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Economia o afirmem, ou disso dêem conta as instituições representativas como a AEP, a AIP ou a CIP. O que, afinal, torna muito semelhantes as práticas das empresas portuguesas e das empresas asiáticas. Só avançam em missões comerciais quando enquadradas pelas autoridades e pelas associações empresariais. E, por este facto, os empresários e gestores portugueses quando se deslocam em missão a outros países precisam de atribuir uma importância significativa, também, aos encontros com as autoridades centrais, regionais ou locais e com as organizações empresariais que afinal são quem lhes abre as portas do negócio.
Uma missão às cidades emergentes asiáticas comporta sempre, antes das reuniões com os parceiros potenciais, apresentações sobre a economia do país, ou da região e da cidade. Assinam-se acordos e trocam-se presentes. E, naturalmente, as autoridades esperam que os empresários estrangeiros visitem e apreciem os seus símbolos culturais. Como muito bem sabem os gestores e empresários portugueses, a internacionalização exige atitudes e comportamentos adequados. Exige educação apropriada. Implica muito conhecimento, muitas competências. E em matéria de relações públicas quem as não tem que não tarde em obtê-las.
Assinale-se a seriedade e a forma como se preparam os empresários e gestores asiáticos quando integram uma missão a um país estrangeiro. Os asiáticos estudam ‘dossiers’ sobre o país e os seus mercados e participam em seminários onde são debatidos os desafios que as empresas têm de enfrentar, em particular quando pretendem instalar-se nesses países. As estatísticas sobre as trocas comerciais, o investimento estrangeiro, os requisitos contabilísticos, as leis do trabalho, os impostos, a transferência de lucros, os problemas resultantes da variação das taxas de câmbio e dos juros, as redes logísticas, os regulamentos alfandegários, e a propriedade intelectual são matérias versadas nesses encontros que são sempre largamente participados. E, obviamente, onde são abordadas as especificidades culturais relevantes para a realização de negócios.
Os empresários asiáticos são negociadores hábeis mas agradáveis. Simples mas orgulhosos dos seus sucessos ignoram quem os menospreze. Porque chegou a sua hora.

Wednesday, October 29, 2008

29-10-2008 Proacção e "Governance"

À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os seus resultados e consequências.
A actual crise financeira e económica ilustra como os sistemas de crenças determinam bem mais as decisões humanas do que a pura racionalidade. A crença no ‘laissez faire’ não pode admitir que não há apenas uma mão invisível em acção mas muitos tipos de mãos invisíveis.
À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os diferentes níveis da decisão financeira, sobre os seus resultados e sobre as suas consequências. Ideologia a induzir o fecho prematuro do campo de análise e de intervenção, dando lugar a um simplismo analítico onde nem todas as unidades de análise relevantes foram seleccionadas para serem acompanhadas e para serem devidamente reguladas na actual fase da globalização.
Tal como os comportamentos económicos e financeiros em contexto comunista se não puderam explicar apenas pela pretensa racionalidade do planeamento central também agora não os podemos explicar com base na pretensa racionalidade estratégica e operacional da firma. Porque os actores em jogo não são apenas organizacionais mas são pequenos grupos, elites, líderes empresariais, gestores cujos interesses e racionalidade podem conflituar, de facto, com os interesses do conjunto dos ‘stakeholders’.
E, por isso, para além duma crise financeira, e agora também económica, o que o Mundo enfrenta é uma crise de ‘governance’ a múltiplos níveis.
Entendam-se as raízes ideológicas e comportamentais da crise do ‘subprime’ e da actual crise económico-financeira e construa-se um novo sistema de prevenção, monitorização e gestão dos sistemas financeiros a nível global, em vez de simplesmente se acusarem os que a propiciaram, como Phil Gramm, o senador que promoveu as leis Gramm-Leach Biley Act de 1999 e o Commodity Futures Modernisation Act de 2000 que enfranqueceram a regulação financeira e tornaram possíveis os empréstimos irresponsáveis e a falta de supervisão do crédito hipotecário, ou Alan Greenspan, ex-’chairman’ da Reserva Federal americana, cuja fé na autoregulação dos mercados contribuiu para rejeitar uma maior regulação de produtos financeiros complexos, ou Cristopher Cox, ‘chairman’ da Securities and Exchange Commission, a quem competia supervisar Wall Street e que não quis ou não pode regular os bancos de investimento, ou Ian McCarthy, CEO da Beazer Homes USA, que favoreceu a venda de habitações a quem a não podia pagar, tal como Angelo Mozilo, fundador da Countrywide Financial, considerado o rei do mercado de ‘sub-prime’, ou James Cayne, ex-CEO do Bear Sterns, Franklin Raines, ex-CEO do Fannie Mae, Richard Fuld, ex-CEO do Lehman Brothers, ou Joe Cassano, ex-chefe do departamento de produtos financeiros da AIG.
China-Singapura
Enquanto a crise paralisa a decisão de muitos agentes económicos a Ocidente, e os mais esclarecidos revêem as suas estratégias e avançam em novas direcções, Singapura vai dando o exemplo prosseguindo o alargamento sistemático da sua rede de relações económicas bilaterais, enquanto as negociações de Doha se desvanecem no marasmo.
A assinatura do Acordo de Livre Comércio entre Singapura e a China, que teve lugar, em Pequim, no passado dia 23 de Outubro, eliminará a partir de Janeiro de 2009 85% das taxas cobradas às exportações de Singapura, permitirá a empresas de saúde da cidade-Estado deterem 70% do capital de hospitais chineses e concederá liberdade de movimentos a empresários e profissionais de ambos os países. As exportações da China para Singapura passam a ser totalmente liberalizadas. Foi o primeiro acordo a ser celebrado entre a China e um país asiático.
Singapura não investe só em Pequim e Xangai. Em Tianjin constrói uma “eco-cidade”. Em Chengdu e Hangzhou apoia nomeadamente os sectores de logística, turismo, sistemas de informação, serviços financeiros, de saúde e de educação, para além da construção e gestão de centros comerciais. Xian será a próxima prioridade.As empresas portuguesas, ao estabelecerem as suas subsisdiárias em Singapura, poderão aceder aos benefícios do acordo assinado com a China.
Da China sopram bons ventos para quem sabe navegar.
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in Diário Digital
Sábado, 15 de Novembro de 2008 10:44

G20: França anuncia acordo para nova regulação mundial
Os dirigentes dos principais países industrializados e emergentes reunidos na cimeira do G20, em Washington, chegaram a um acordo para sustentar a economia, concretizar uma nova regulação internacional e reformar a governação mundial, disse hoje a presidência francesa.

Segundo o Eliseu, as decisões do G20 devem ser resumidas num comunicado de cinco páginas, que será divulgado hoje no final desta cimeira inédita que decorre desde sexta-feira em Washington com o objectivo de pôr cobro à pior crise financeira depois da Depressão de 1930.
A presidência francesa adiantou que será feito a 31 de Março de 2009 um primeiro balanço dos trabalhos a desenvolver a partir das decisões tomadas na cimeira.
De seguida, até 30 de Abril haverá lugar a um novo encontro do G20, não se conhecendo ainda em que local.
Segundo a presidência francesa, o texto que está a ser estudado na cimeira inclui «mensagens positivas de três ordens: sustentabilidade da economia, nova regulação internacional e reforma da governação mundial».

Wednesday, October 15, 2008

15-10-2009 Crise e Arte

Os galeristas dos EUA e da Europa não perdem oportunidades para promover as obras dos seus pintores no Oriente.
Quando uma sucessão de terramotos, com epicentro nos EUA, abalava o sistema financeiro mundial e ondas de choque se propagavam inexoravelmente pelas economias nacionais de Ocidente a Oriente, 110 galerias de arte reunidas na ArtSingapore, de 10 a 13 de Outubro, davam a conhecer uma amostra do melhor que se produz de arte contemporânea na Ásia, do Japão à Coreia do Sul, da China a Singapura, Tailândia, Vietname, Indonésia e Filipinas, à Índia. Uma evidente demonstração do vigoroso processo de desenvolvimento que atravessa a Ásia e do crescente poder económico das suas elites. Uma expressão do posicionamento cada vez mais proeminente da arte asiática no mundo global da arte.
Contrastando com a angústia que perpassa a Ocidente, galeristas e pintores exprimiram paz e confiança no futuro da Ásia e nas suas riquíssimas expressões artísticas enquanto interpretaram os episódios perturbadores a que se assiste nos dias que correm como dores de parto de um novo mundo. ArtSingapore foi esteticamente uma exposição de modernismos plurais, que dominantemente se afirmam como um contínuo histórico-artístico autónomo e distinto dos cânones euro-americanos, com temáticas que oscilam entre o local e o global, que comunicam energia e espiritualidade, tabus e sensualidade, e onde o experimentalismo tem livre curso.
A criação visual moderna também ela se libertou na China com a política de abertura de Deng Xiao Ping, a partir de 1979. Na Índia múltiplos movimentos se manifestaram de Nova Delhi a Bombaim, alastrando a uma miríade de cidades de menor dimensão.
A primeira exposição de arte contemporânea pan-asiática teve lugar em Nova Iorque, em 1996. Foi também nos anos 90 que o mercado de arte se veio a afirmar e a crescer nas principais cidades asiáticas.
Em 1999, um óleo do pintor indonésio do século XIX, Raden Saleh, foi adquirido em Singapura por um amante de arte local pela extraordinária quantia de 1,43 milhões de dólares americanos.
Nos últimos cinco anos a Índia viu florescer as transacções de arte, não mais à custa dos cidadãos indianos da diáspora mas, em larga medida, devido ao aumento do poder de compra da classe média. Os indianos residentes na Índia são responsáveis por 85% das aquisições. As transacções de arte indiana ultrapassam actualmente os 350 milhões de dólares.
O marketing e a promoção da arte asiática têm-se vindo a expandir de forma sustentada a nível mundial nas últimas décadas. A revista Arts of Ásia surgiu pela primeira vez em Hong Kong em 1971. AsianArtNews, que se publica na mesma cidade desde 1991, viu surgir a seu lado múltiplas concorrentes, desde Daruma Magazine dedicada à arte japonesa e publicada desde 1994, à Art Índia no seu décimo segundo ano de vida, à revista indiana Art & Deal em existência desde 2002. Art_Icle, dedicada à arte e cultura japonesa, pôs em Outubro nas bancas o seu 12º volume. Mais recentemente viu a luz da ribalta a revista Gallery, com origem na cidade chinesa de Guangzhou, que distribui actualmente 80.000 exemplares.
A arte asiática contemporânea está exuberante. Mercê, igualmente, de uma valorização crescente das condições de formação e de criação artística nas sociedades asiáticas donde emanam. Os ocidentais apreciam e usufruem deste gosto pela arte contemporânea da Ásia. Os galeristas dos EUA e da Europa não perdem oportunidades para promover as obras dos seus pintores no Oriente. Na ArtSingapore não faltaram, entre outros, os EUA, a França e a Espanha.
Apesar desta se realizar desde o ano 2000, Portugal, país com uma reconhecida plétora de artistas plásticos, nunca esteve presente. Há sempre uma primeira vez. Será 2009?

Wednesday, October 1, 2008

01-10-2008 Equilibrar

O abandono da Ásia por parte da Europa, aquando da crise financeira sofrida em 1997, deixou um amargo de boca aos líderes asiáticos. Anos continuam a ser perdidos.
A crise financeira, emanação de graves falhas de regulação no sistema financeiro americano, tornou-se verdadeiramente global.
Se causa perplexidade o facto das instituições relevantes dos EUA não terem prevenido a tempo este colapso, não é motivo para menos preocupação a incapacidade da Europa para antecipar consequências e para agir proactivamente a nível político e financeiro na cena internacional.
A Europa, a quem falta a necessária coesão na acção, continua a afirmar-se como dependente das forças e fraquezas americanas.
Num novo contexto histórico, que vai assistindo ao fim do domínio que o Ocidente disfrutou durante os últimos duzentos anos(1), é mais do que tempo para a Europa, reafirmando a aliança atlântica, assumir uma forte liderança (2) no concerto das nações. Em vez de se remeter a uma posição digna e honrosa mas de mero aconselhamento e de ‘lobbyist’, a Europa tem hoje uma oportunidade para tomar a iniciativa a nível diplomático, económico e financeiro, como também, ao nível da política de segurança global, e para estabelecer relações privilegiadas com a Ásia. A Ásia beneficiaria desta Europa mais autodeterminada na construção de um mundo multipolar mais equilibrado.
A Ásia deverá poder contar com uma Europa não concentrada apenas nos seus interesses imediatos mas que esteja deveras empenhada no desenvolvimento da China, da Índia, do Sudeste Asiático, dos países asiáticos em geral, sem estar constantemente à procura dos aspectos negativos ou menos positivos desse processo.
A Ásia precisa de ser assumida como um parceiro da Europa. A mentalidade colonial não tem mais lugar nas relações entre a Europa e a Ásia e esta não precisa que lhe dêem lições. Mas espera que com ela cooperem.
A Europa ganharia em desenvolver alianças activas com os países amigos da região. Uma aproximação que cada um dos países europeus pode ajudar a fermentar, Portugal incluído.
Muitos milhares de empresas europeias estabeleceram-se na Ásia. Mas as relações institucionais entre a União Europeia, a China, a Índia, Singapura ou a ASEAN têm progredido muito lentamente. São ainda magros os progressos alcançados ao nível do Asia Europe Summit Meeting (ASEM), criado em 1996.
O abandono da Àsia por parte da Europa, aquando da crise financeira sofrida em 1997, deixou um amargo de boca aos líderes asiáticos. Anos continuam a ser perdidos para a aproximação institucional e para a celebração de acordos de cooperação económica ou de livre comércio. Os países asiáticos deveriam ser prioritários para a política externa da Europa. E não apenas o Japão. E as suas preocupações deviam merecer a maior atenção.
É do melhor interesse da Europa e da Ásia, onde vive a maior parte da população islâmica do mundo, apoiar o desenvolvimento efectivo do Estado Palestiniano, a par do respeito pelo Estado de Israel, integrar e apoiar o desenvolvimento das comunidades islâmicas e ter em consideração os seus sentimentos. Uma forma de evitar a humilhação e de prevenir o alastramento do ódio que é o caldo do terrorismo. Ódio e pobreza são a mistura mais explosiva do século XXI.
A Ásia é um continente geograficamente distante da Europa. E, por isso, os europeus corrrem o risco de instintivamente colocarem os que estão longe da vista, longe do coração. Mas a Ásia tornou-se um continente com economias cada vez mais poderosas, povos confiantes no seu futuro, admirados pelo seu profissionalismo, o seu método, a sua organização, a sua paixão pela perfeição. Que esperam o respeito e o reconhecimento por parte dos países ocidentais. Que esperam uma redistribuição justa e equilibrada na partilha do poder nas instituições que gerem os assuntos globais.
A Ásia espera uma nova atitude da Europa, uma visão do século XXI
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1)
Estados Unidos preparam-se para o declínio
in Público, 22.11.2008, Francisca Gorjão Henriques

Relatório especial da espionagem norte-americana prevê uma transferência sem precedentes de riqueza do Ocidente para o Oriente
Os Estados Unidos em declínio. A China e a Índia mais poderosas. Falta de alimentos. Falta de água. Muitas armas. Será assim o mundo em 2025.
Estas são algumas das conclusões de um relatório do National Intelligence Council, um think tank dos serviços de informação norte-americanos.
A cada cinco anos, especialistas de várias áreas são ouvidos para encontrar as tendências globais do futuro.
O relatório Global Trends 2025: A Transformed World é mais pessimista que os anteriores, sobretudo quanto ao papel dos EUA na cena internacional. Mas não chega a ser fatalista. Tudo dependerá das respostas dos líderes às crises que vão encontrar.
O documento foi precisamente preparado para estar em cima da mesa da Sala Oval a 20 de Janeiro, quando Barack Obama tomar posse como Presidente.E os cenários não são traçados a cor-de-rosa.
Não é que os EUA deixem de ser a grande potência mundial. Mas a dispersão de autoridade, que tem sido já uma tendência nas últimas duas décadas, irá aumentar. "Os BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] não deverão desafiar o sistema internacional como fizeram a Alemanha e o Japão nos séculos XIX e XX, mas, devido à sua ascensão geopolítica e económica, terão um maior grau de liberdade para adoptar as suas medidas políticas e económicas em vez de integrar totalmente as normas internacionais", lê-se. E mesmo no campo militar, "em que os EUA continuarão a possuir vantagens consideráveis em 2025, os avanços feitos por outros na ciência e tecnologia, adopção de tácticas bélicas irregulares por estados e actores não estatais, irão limitar a liberdade de acção dos EUA".O relatório também refere que a emergência de sistemas multipolares torna o mundo mais instável do que com um sistema uni ou bipolar. Os riscos advêm da concorrência no comércio, investimentos e inovação tecnológica, embora não se possa excluir um cenário como o do século XIX de corrida ao armamento, expansão territorial e rivalidades militares.
Não é que vá estar em total colapso, mas daqui a quinze anos, "o sistema internacional, tal como foi construído na sequência da II Guerra Mundial, será praticamente irreconhecível". Isto por causa da emergência de novas potências, de uma economia globalizada, uma transferência histórica de alguma riqueza e poder económico do Ocidente para Oriente e da crescente influência dos actores não estatais.
(...)
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2) FINALMENTE A EUROPA FOI CAPAZ DE ENSAIAR A LIDERANÇA
Reunião do G20 em Washington
Luis Rego em Bruxelas, DIÁRIO ECONÓMICO 2008-11-17 00:05
Começou a reforma da economia mundial
G20 determinou o que mudar e os prazos. Agora falta concretizar.
.
Os Estados Unidos e as mais ricas e promissoras economias mundiais adoptaram, grosso modo, o plano europeu de reforma do sistema financeiro internacional acordado em Bruxelas, incluindo um calendário para apertar a regulação no sector e reformar as instituições de Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial.
Os receios de excesso de regulação por parte da administração americana foram serenados com uma declaração de apoio à economia capitalista de mercado que, diz a Casa Branca, impediu o “assalto ao capitalismo”.Os ministros das Finanças dos 20 países reunidos emWashington foram mandatados para concretizar propostas a tempo da próxima reunião, no dia 30 de Abril, desta feita em Londres, 101 dias depois de Barack Obama tomar posse como presidente dos EUA.
Dando uma nova dinâmica ao processo, o ex-senador de Illinois pode ditar no futuro próximo o êxito ou fracasso da reunião deste fim-de-semana.
Nicolas Sarkozy, actual presidente da UE, cantou vitória no sábado dizendo “tudo ou quase tudo”o que a UE propôs foi aceite. “As agências de notação serão registadas e supervisionadas, os bancos que tenham uma política de remuneração exagerada verão o seu ‘rating’ diminuído, teremos novas regras de contabilidade e acabámos coma concorrência entre praças financeiras, sob pretexto de que umas são menos supervisionadas do que outras”, explicou Sarkozy. Além disso, sobre os paraísos fiscais, ou os centros não cooperativos, “há uma obrigação de os bancos declararem tudo o que lá têm, e estes passaram a ser controlados”, explicou. “Todos os mercados financeiros, produtos e participantes serão regulados ou sujeitos a supervisão” diz o comunicado final.
“Não haverá mais pontos cegos [no sistema financeiro]”, resume a chanceler alemã, Angela Merkel.
É “histórico que aqui nos EUA a administração norte-americana aceite fazer um movimento [relativo ao mercado] que sempre recusou, fosse com democratas ou republicanos”, disse Sarkozy.
Revelou-se audaz a estratégia europeia de fazer esta cimeira durante a transição na Casa Branca, em que a administração Bush está fragilizada e Obama carrega baterias na sua sombra. Resta saber se o próximo presidente subscreve este plano.
Bush disse aos parceiros que tinha Obama bem informado e que tinha zelado pelos interesses americanos. “Quaisquer reformas que sejam recomendadas, precisamos de ser conduzidos por um facto simples: a melhor forma de resolver os nossos problemas é através do crescimento económico. E a forma mais segura para o crescimento é o capitalismo de mercado”, disse George W. Bush.
A parte mais prática da declaração defende que, “nos próximos 12 meses, vamos coibir-nos de erguer novas barreiras ao investimento ou comércio em bens e serviços, impondo restrições às exportações ou medidas inconsistentes com a OMC”.
Se o êxito das conclusões está sujeita à sua execução, a reunião já foi uma vitória para os líderes das economias emergentes que celebraram a presença no novo fórum mundial e viram a porta aberta a que os novos Fórum de Estabilidade Financeira, FMI e Banco Mundial reflictam o novo equilíbrio de forças mundial.
Hu Jintao, o presidente chinês, apelou a que isto seja o princípio de uma “nova ordem financeira internacional mais justa, inclusiva e ordeira”. “Estamos num mundo novo”, afirmou Sarkozy, “não é menos para os EUA, é mais para os outros”, concluiu.

Wednesday, September 17, 2008

17-09-2008 As Visitas

As visitas de Estado são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas.
Visita-se por muitos motivos. Para manter relações e reforçar a amizade. Hoje menos, por cerimónia, por cortesia, por respeito. Cada vez mais por curiosidade, para fazer turismo. Também para inspeccionar, controlar e corrigir situações. E, frequentemente, por negócio.
As visitas de Estado, para além das formalidades diplomáticas, são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas. Muitas são bem eficazes e geram o aumento do investimento e do emprego. E, no curto prazo, fomentam a expansão do comércio bilateral. Estudos internacionais recentes apontam para um aumento de 8 a 10% das exportações após as visitas de Estado. Mas este crescimento depende da repetição destas visitas entre os países em questão.
Mas há, também, “visitas de estudo” de líderes políticos nacionais ou provinciais cujo efeito é ainda mais retumbante. Porque o que as mobiliza não é a simples curiosidade mas uma avaliação no terreno de políticas adoptadas e dos modelos que as sustentam. Recorde-se a este propósito a visita de Deng Xiao Ping a Singapura, em Novembro de 1978. Singapura tornou-se, desde então, o modelo preferido de Deng para a China (Michael Leifer, Singapore Foreign Policy, London, Routledge, 2000).
Actualmente visita a cidade Estado uma delegação de Cantão (Guangdong) com vinte altos dirigentes públicos e 400 empresários, chefiada pelo secretário geral do Partido Comunista da província, Wang Yang. O Housing Development Board, modelo de habitação de iniciativa pública onde reside 80% da população, é uma das prioridades desta “visita de estudo”.
Tal como o modelo de desenvolvimento urbano, assente em planos de longo e muito longo prazo, que é gerido pela Urban Redevelopment Authority e que coordena o uso do território com o modelo de desenvolvimento económico.
Nestes, como em muitos outros domínios, há exemplos de grande eficácia e de eficiência a apresentar e que não deixarão de gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios, com benefício para as populações dos países envolvidos.
A saúde é outro caso exemplar, onde Singapura alcança os melhores indicadores do Mundo mas, ao mesmo tempo, onde só gasta actualmente 4% do PIB. Onde os EUA gastam 16%. É que não há competitividade que valha quando o modelo é inadequado e o uso dos recursos é ineficiente.
O que impressiona o visitante estrangeiro interessado em processos de desenvolvimento é a combinação de uma forte economia de mercado com uma forte intervenção de ‘holdings públicas’, altamente lucrativas, responsáveis por cerca de 60% do PIB, dirigidas pelos mais destacados gestores nacionais ou estrangeiros, com uma forte e clarividente direcção política. Uma realidade que liberais e socialistas portugueses terão dificuldade em entender.
Uma verdadeira terceira via que atrai um número crescente de países em desenvolvimento sem desencadear qualquer ameaça a quem quer que seja, dada a sua dimensão: Singapura é o segundo país mais pequeno da Ásia, com cerca de 700km2, mas com um volume de trocas comerciais de 847 mil milhões de dólares, em 2007.
Portugal é visitado e visita. Aos de fora precisa de apresentar com maior agressividade os seus modelos de sucesso no planeamento urbano, na habitação pública, na saúde, na educação e na ciência, na administração pública, na industrialização. Onde quer que exista potencial há que gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios.
Empresários portugueses embarcam em comitivas de Estado de um país que parece não ter mais que cinquenta empresas para apresentar no exterior. Uma imagem que se espalha. Que é afinal consistente com o facto de num território de mais de 91.000 km2 não irem além dos 127 mil milhões de dólares, em 2007, as trocas comerciais com o Mundo.
Faz falta a Portugal serenidade para encontrar uma direcção e um futuro. Enquanto na cultura política predominar o prazer da conflitualidade, a exposição pública de egos frágeis à procura de compensações simbólicas Portugal não será mais que um país liliputiano.
Portugal precisa de procurar convergências para rasgar os caminhos do Mundo. E para provar que a democracia é um modelo eficaz para satisfazer as necessidades de uma Nação.

Wednesday, September 3, 2008

03-09-2008 A Última Prioridade

A Ásia é quase um deserto para Portugal, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam.
É facto que os empresários portugueses não vêem nem a China, nem o Sudeste Asiático, nem a Índia como fonte de oportunidades. E as excepções não fazem a regra.
As enormes capacidades demonstradas pela China, o ritmo do seu crescimento, as extraordinárias transformações que nela têm lugar e a sua trajectória como superpotência são percebidas, em Portugal, ou como irrelevantes ou, então, como uma ameaça. Apesar de a China ser o segundo parceiro comercial da UE. Apesar de as exportações da UE para a China terem mais do que duplicado entre 2003 e 2007, alcançando neste último ano os 72 mil milhões de euros.
Imagine-se Singapura a ignorar as oportunidades oferecidas pelo conjunto das economias americana e europeia. É o que faz Portugal ao subestimar o potencial económico da China e ao desinteressar-se pelas oportunidades na Ásia. Ignora-se que a explosão da China tem a dimensão da Ásia.
A China é, hoje, o centro dum imparável processo de integração da economia asiática. A China é, actualmente, o principal cliente do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul. E dentro de pouco tempo sê-lo-á, também, da Índia.
Entre 1993 e 2003 o comércio bilateral entre a China e o Japão cresceu 250%. Cresceu mesmo 350% com Singapura, 670% com a Coreia do Sul, 835% com a Tailândia, 1.025% com a Malásia. E 1.025% com a Índia.
Se excluirmos o valor das exportações para a região mais populosa do Mundo, nomeadamente para Singapura e Malásia, de produtos produzidos por algumas empresas multinacionais de origem estrangeira a operarem em Portugal, a Ásia é quase um deserto para Portugal. E com agravamentos, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam. As exportações para o Japão decaíram 46% em relação a igual período do ano passado. Mas as importações do Japão, de Janeiro a Junho de 2008, com origem na UE, estabilizaram num crescimento de 0,2% relativamente a igual período de 2007. Houve quebras nas importações de países da UE, não tão acentuadas como as sofridas por Portugal, e houve crescimentos nos casos da Alemanha (3,6%) ou Espanha (11,2%), entre outros. O que confirma não serem uma inevitabilidade as perdas nacionais.
Esta Ásia sinocêntrica, que será o maior mercado consumidor de bens e serviços do Mundo, justifica um muito amplo e redobrado empenhamento económico e diplomático de Portugal, uma fundamentada estratégia. Exige mesmo uma acção radicalmente distinta da que tem sido adoptada, com um outro ritmo, com a visita assídua de líderes políticos e empresariais, com a implantação de uma vasta rede de empresas subsidiárias e de escritórios de representação portugueses na região.
O sucesso na Ásia obriga a uma mudança de atitudes por parte dos empresários portugueses. Esconder, sob a máscara de sentimentos de superioridade, o desconforto das diferenças culturais só prejudica as relações políticas, económicas, científicas e culturais, com os povos asiáticos.
Há um caminho a percorrer, uma aprendizagem a fazer em cada país asiático. Enquanto os ocidentais vão para fechar negócio, os chineses desenvolvem relações com pessoas com quem, eventualmente, querem fazer negócio. E só fazem negócio com pessoas que conhecem, de quem gostam e que respeitam. Enquanto europeus e americanos fazem capitalismo impessoal, os chineses preferem um capitalismo baseado nas relações pessoais. E esperam realismo e flexibilidade por parte dos fornecedores ocidentais.
Mas não será a Ásia, pura e simplesmente, a última prioridade para Portugal?
Cautela! Porque muito provavelmente os últimos virão a ser os primeiros.

Wednesday, August 20, 2008

20-08-2008 Desafios

As importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007.
Com uma imagem mais saliente, os países da Ásia poderão ganhar, após os Jogos Olímpicos, um novo interesse para as empresas exportadoras nacionais, nomeadamente China e Singapura.
Desde 2005, este pequeno país do Sudeste Asiático, localizado um grau acima do Equador, tem assumido uma extraordinária importância para Portugal pois constitui o terceiro mais importante mercado das nossas exportações fora da União Europeia.
De acordo com dados do International Trade Center UNCTDA/WTO, as importações de Singapura com origem em Portugal tiveram um incremento de 448% entre 2001 e 2007. Um sucesso que deve ser associado aos incentivos concedidos pela API e que foram negociados quer por Miguel Cadilhe quer, mais recentemente, por Basílio Horta. Cerca de noventa por cento dos produtos importados caem, por inteiro, no âmbito dos códigos oitenta e quatro e oitenta e cinco.
Há um enorme desafio para lançar às empresas portuguesas. Em primeiro lugar, porque as exportações portuguesas para este país estão concentradas num muito reduzido número de produtos.
Em segundo lugar, porque existe uma poderosa economia com possibilidade de absorver a oferta nacional de uma vastíssima gama de produtos e serviços, caso esta tenha a ousadia, a competência e a disciplina necessária. É preciso diversificar a oferta, ganhar e consolidar mercados. Portugal representou, em 2007, pouco mais que 0,1% do total das importações de Singapura, não ultrapassando a 44ª posição entre os países fornecedores.
Wine for Asia
Entre os mercados de interesse está o dos vinhos. Portugal ocupa agora a 13ª posição entre os países fornecedores de vinhos a Singapura. Mas não se devem subestimar as oportunidades pois, entre 2001 e 2007, as importações de vinhos portugueses para a cidade-Estado cresceram 154%.
Os produtores portugueses deveriam atribuir uma acrescida prioridade a este país que é, afinal, um dos países mais inovadores da Ásia e do Mundo. Deveriam explorar novas estratégias adequadas a este mercado. Singapura ocupa, tão só, a 37ª posição entre os países clientes dos vinhos portugueses.
Em 2007, a AEP organizou a presença de alguns produtores e exportadores de vinhos portugueses na Wine for Asia 2007. O Pavilhão Portugal teve um extraordinário impacto e deu lugar a novos canais de importação e distribuição. A empresa, que concebeu e produziu o pavilhão, uma multinacional do sector de exposições com forte presença em toda a Ásia, percebeu o potencial estratégico da Wine for Asia e adquiriu a organização da feira. Uma decisão que merece reflexão.
De novo, em Outubro próximo, terá lugar a Wine for Asia 2008 onde são esperados mais de 4000 profissionais do sector oriundos de, pelo menos, quinze mercados da região.
Não há mercados fáceis.
Os produtores portugueses que decidirem estar presentes vão ter, uma vez mais, uma oportunidade para demonstrar a sua visão, competência estratégica, determinação e persistência. Vão poder aprofundar o seu conhecimento sobre os mercados asiáticos. Vão poder lançar os seus produtos, promover as suas marcas e as suas empresas na Ásia. Se tiverem afinado o seu marketing estratégico para esta parte do Mundo.
Não há mercados fáceis. Há-os mais ou menos competitivos com graus de diferenciação e segmentação diversos, com hábitos distintos mercê dos quadros de vida que os caracterizam. Mas as variações culturais entre povos asiáticos são um grande desafio para os exportadores de vinho nacionais.

Wednesday, August 6, 2008

06-08-2008 Multinacionais

Vencer a crise económica portuguesa passa por um drástico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.
Os jogos olímpicos na China inspiraram um vasto conjunto de artigos, editoriais e comentários que ultrapassam largamente o interesse desportivo. O papel das multinacionais no desenvolvimento da China tem sido um dos temas mais versados nestes dias que antecedem o momento simbólico do reconhecimento universal da China moderna. A sua actuação é apresentada como negativa para os interesses da União Europeia e dos EUA. “Uma traição!”
O que, verdadeiramente, evidenciam a maioria destes textos são atitudes proteccionistas, anti-globalização e anti-multinacionais. Atitudes que evidenciam uma total desfocalização em relação ao estado do mundo neste século XXI. Porque as multinacionais representam uma característica fundamental e indissociável das economias modernas, um dos principais motores da globalização.
Sentimentos ambíguos, senão mesmo contraditórios, em relação às multinacionais prevalecem em Portugal, como em muitos outros países. As multinacionais sao vistas como ameaças à riqueza e à identidade nacional. Mas, por outro lado, reconhece-se que elas trazem investimento estrangeiro, mais postos de trabalho, melhores condições de emprego, mais conhecimento, mais I&D, melhores formas de organização do trabalho, melhores práticas, mais avançadas tecnologias de gestão e produção, muitas vezes produtos e serviços de melhor qualidade que os oferecidos pelas empresas locais. E contribuem decisivamente para o aumento das exportações e do PIB. As multinacionais contribuem para o desenvolvimento regional e local, para o desenvolvimento dos recursos humanos porque empregam uma maior percentagem de colaboradores diferenciados (‘white-collar’) e têm uma produtividade superior às empresas locais.
Levar um número crescente de empresas multinacionais a investir nas suas economias é um objectivo comum a países desenvolvidos, dos EUA ao Canadá, ao Reino Unido ou à Suiça. Não é ambição apenas de países em dificuldades ou de países em desenvolvimento. Um terço do PIB suiço tem origem em empresas multinacionais.
Portugal tem de competir de forma muito agressiva para as atrair. Em 2005, estariam a operar em Portugal 600 empresas multinacionais. Singapura tinha, em 2006, cerca de 7.000 empresas multinacionais, sendo que 4.000 eram sedes regionais. Em 2013, a China tem como objectivo ter, em Shanghai, 3.000 sedes regionais de empresas multinacionais.
Os países distinguem-se, também, pelo grau de sucesso da integração das suas empresas no mercado global e em cada um dos mercados regionais. A comprová-lo está a China que não é apenas receptor do investimento do Ocidente. Também ela fomenta o desenvolvimento das suas empresas multinacionais. Entre as 500 mais importantes empresas mundiais, doze têm origem na China. A Legend Holdings, que detém o grupo Lenovo, ou o grupo YTO, que exporta tractores para 30 países e que possui fábricas na Turquia e na Europa Central e do Leste, são ambas expressão desta política de globalização. Tal como a China National Cereals, Oils & Foodstuffs Import & Export Corporation, a TCL Corporation ou a Gree Corporation.
De igual modo, a Índia investiu na União Europeia, em 2007, mais de 25 mil milhões de dólares americanos, tendo criado mais de 10.000 postos de trabalho na Alemanha.
Ser empresa multinacional é a melhor forma de operar numa economia global integrada. Ganhar acesso a novos mercados, procurar factores de produção mais eficientes, adquirir tecnologias específicas para integrar a sua produção, explorar externalidades associadas a determinadas (des)localizações são razões suficientes para as grandes ou médias empresas portuguesas se abalançarem a uma transformação em empresas multinacionais.
Pequenas empresas subsidiárias, localizadas em centros de influência regional em cada continente, poderão operar de forma flexível e adaptável em múltiplos países das Ásias, das Américas, da África, ou da Europa.
Vencer a crise económica portuguesa passa por um drámatico aumento do número de empresas multinacionais portuguesas.

Wednesday, July 23, 2008

23-07-2008 Arroz ou "Spaghetti"

As empresas portuguesas têm tudo a ganhar em se apresentarem nos mercados externos com fortes relações públicas comuns.
Realizou-se há algum tempo, em Singapura, uma importante feira para promoção da Índia.
Num dos seminários que, então, tiveram lugar usou da palavra um dos líderes da comunidade empresarial indiana de Singapura que comparou a atitude dos empresários chineses locais com a dos empresários indianos, nas suas iniciativas de internacionalização. Na sua opinião, enquanto os indianos se apresentam no mundo como arroz solto, os empresários chineses comportam-se como as ‘noodles’ ou o ‘spaghetti’. Enquanto uns permanecem dispersos e frágeis, outros avançam em rede, em permanente interacção reforçando as capacidades mútuas. Enquanto a atitude de desconfiança e de competição mútua prevalece entre indianos, o suporte mútuo domina entre os empresários chineses na partilha de informação e de oportunidades oferecidas pelos mercados externos. O que explicaria o maior sucesso das comunidades chinesas na sua expansão pelo mundo.
Poder-se-á especular sobre factores, que poderão explicar esta diferença de atitude, associados ao sistema de castas internalizado entre indianos e ao igualitarismo dos chineses. Aparentemente o padrão de comportamento que prevalece entre empresários e gestores portugueses nos processos de internacionalização parece estar mais próximo do indiano que do chinês. Sejam quais forem as razões que para tal concorrem.
Nunca é demais reafirmar que, na internacionalização, os concorrentes das empresas nacionais não são as suas congéneres nacionais mas as suas concorrentes estrangeiras que gozam eventualmente de vantagens de contexto (menores impostos, sistema normativo consistente e ‘user friendly’, acesso a acordos de livre comércio, etc.), de vantagens nos diferentes factores de produção (maior desenvolvimento organizacional, maior flexibilidade), de maior produtividade e, consequentemente, de maior competitividade.
As empresas portuguesas têm tudo a ganhar em se apresentarem nos mercados externos como forças concertadas de ataque, com um elevado nível de organização e com potentes relações públicas comuns.
É fundamental que as empresas portuguesas surjam nas feiras sectoriais, por esse mundo fora, enquadradas em pavilhões Portugal que se distingam pela imagem de inovação, criatividade, actractividade e eficácia na comunicação externa e interna. É fundamental que a concepção dos pavilhões Portugal demonstre essa força colectiva, acentuando a interacção e referenciação entre as empresas nacionais. Afirmando-se num espaço comum, aberto a renovados fluxos de visitantes, em vez de se quedar pela mera adição de pequenos territórios circunscritos em cubículos de escassos metros quadrados.
A participação nas feiras deve assentar numa estratégia com objectivos definidos, deve apoiar-se em fortes iniciativas de marketing antes, durante e após a sua realização, com uma escolha criteriosa dos meios audiovisuais e outros instrumentos de promoção que, dentro dos limites do orçamento para o evento, aumentem a eficácia da intervenção, com uma adequada concepção do espaço de exposição, uma adequada utilização da iluminação e dos materiais que concorram para aumentar a visibilidade e promovam o conhecimento da empresa e a venda dos seus produtos ou serviços. E deve ter a sustentá-la colaboradores que estejam devidamente treinados para representar e promover a imagem da empresa, para gerar interesse pelos produtos ou serviços e para alcançar um determinado nível de vendas.
É indispensável que as empresas portuguesas encarem a possibilidade de aumentarem a sua participação em feiras nos países asiáticos. Não como instrumento único mas como acção integrante da sua estratégia de entrada num dado país. É que o crescimento das Ásias é sustentado. A confirmá-lo está o facto de os países asiáticos estarem a aumentar de forma muito significativa os seus espaços de exposição. Entre 2006 e 2010, a China aumentará 445.000m2 (+18%), a Índia 79.000m2 (+33%), a Coreia do Sul 65.000m2(+41%),Singapura 54.000m2 (+35%) e o Médio Oriente, em particular os EAU (147.000m2 +115%).
Nas Ásias não se compreende porque são, sempre, tão poucas as empresas portuguesas presentes.

Wednesday, July 9, 2008

09-07-2008 Persistência

A consolidação de um mercado de exportação exige dez vezes mais tempo do que o previsto, mais dinheiro e mais persistência.
O peso das exportações no PIB português está longe de trazer paz de espírito a governantes e a governados. Fez bem o Compromisso Portugal em compará-lo, na semana que passou, com o da República Checa e a Irlanda, entre outros, promovendo uma tomada de consciência colectiva das enormes dificuldades com que o país se confronta.
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É certo que há sinais positivos nas exportações portuguesas que decorrem do aumento da componente tecnológica. Mas a excessiva concentração das exportações de maior intensidade tecnológica num reduzido leque de produtos e de empresas exportadoras não deixa de traduzir uma enorma vulnerabilidade. Razões suficientes para aconselhar uma atenção redobrada e equilibrada ao conjunto dos sectores exportadores. E para sugerir uma avaliação sistemática, aprofundada, do grau de preparação das empresas de cada sector, para a exportação em geral, e para a exportação para os países dos mais diversos continentes, Ásias incluídas. Que poderá justificar ajustamentos nos instrumentos de financiamento e de apoio à formação já disponíveis. Uma avaliação que permita identificar os factores que levam a que, das 183.000 empresas que em Portugal produzem ou comercializam bens transacionáveis, só 7.683 sejam exportadoras. A pesquisa dos factores associados ao modelo de negócio, mas também às competências de gestão, há-de encontrar os obstáculos psicológicos que fragilizam a decisão de exportar e a estratégia de entrada em cada mercado.
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Há determinadas atitudes que são verdadeiros empecilhos à exportação. Empresários e gestores vivem apaixonados pelos seus produtos e não compreendem porque é que os consumidores de outros países não valorizam as características destes e não lhes reconhecem as qualidades. Directores de marketing e de vendas concentram-se nos seus produtos em vez de procurarem compreender os seus mercados de eleição, em vez de procurarem responder aos seus problemas, às suas necessidades e expectativas. Muitas vezes não chegam a perceber que os mesmos produtos podem desempenhar funções diferentes e ser desigualmente valorizados em sociedades e culturas distintas. Empresários e gestores necessitam de aprender a ser adaptáveis aos novos mercados. A expectativa de participar numa feira e de logo aí, e à primeira, conseguir nomear agentes e distribuidores e de obter, de imediato, encomendas significativas, pode indiciar um insuficiente planeamento da entrada num novo mercado, sendo gerador das mais indesejadas frustrações. As empresas exportadoras, que são casos de sucesso, têm todos os incentivos endógenos para expandir os seus mercados. Mas elas sabem quanto necessitam de planear devidamente a entrada em cada um dos mercados, de definir com quem querem negociar e como ter impacto nos consumidores desses mesmos mercados. A exportação exige muito conhecimento, é um ‘knowledge based sector’.
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Os novos exportadores entusiasmam-se levando aos mercados externos toda a gama dos seus produtos, e esperando a todos promover igualmente. Mas a consolidação de um mercado de exportação exige dez vezes mais tempo do que o previsto, muito mais dinheiro e muito mais persistência. Uma verdade de valor universal mas que, mais ainda, se aplica nas Ásias. E que sugere aos que não avaliaram devidamente a sua estratégia de entrada nos mercados asiáticos que pensem e reflictam adequadamente as suas decisões. Porque melhor do que aparecer num ano, para nunca mais dar sinal de vida, é optar por não ir a um mercado para o qual se não está preparado, dando azo à criação de uma imagem de inconstância e de inconsistência. Que prejudica a imagem externa do país e das empresas exportadoras no seu conjunto.
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As empresas experimentam muitas vezes enorme frustração com o governo quando este não lhes proporciona uma assistência qualificada, motivada e capaz nos países para onde procuram exportar. A falta de visão, de dedicação, de integração local e de uma rede de relações qualificada por parte dos agentes locais de apoio à exportação levam a uma baixa procura dos seus serviços e constituem um desincentivo à entrada nesses mesmos mercados. Que só a muita persistência por parte de empresários e gestores permite ultrapassar.

Wednesday, June 25, 2008

25-06-2008 Que Estratégias?

Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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A incapacidade de Portugal para se relacionar eficazmente com as economias asiáticas não é um problema recente. Nem é, apenas, uma dificuldade menos bem resolvida pelo Estado. O facto é que nem as entidades públicas nem os líderes privados acertaram no ‘mix’ de políticas e de estratégias para que Portugal se tivesse transformado num parceiro relevante nas Ásias.
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Empresas portuguesas estão presentes em países asiáticos. A questão mais relevante não respeita, pois, à viabilidade da entrada nos mercados. A questão fundamental tem a ver com o reduzido número de empresas portuguesas que avançou para os países asiáticos. O que explica tão insignificantes volumes de importação de Portugal, tão reduzidas quotas de mercado detidas pelos produtos portugueses em cada um dos países asiáticos? Porquê um ritmo de crescimento tão lento?
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Segundo os dados do Ministério do Comércio chinês, em 2007 a China importou 956 mil milhões de dólares americanos. Destes, 111 mil milhões de dólares couberam à UE. A China apenas importou mercadorias no valor de 385 milhões de dólares de Portugal. O que representa, apenas, 0,0004 das importações da China em 2007. Uma insignificância. E nem chega a 0,5% do total das importações da China com origem na UE. Da Dinamarca e da Irlanda a China importou cinco vezes mais do que de Portugal. E, da Finlândia, dez vezes mais. Mais revelador é que, no ano passado, a China tenha importado da República Checa mais do dobro do que importou de Portugal. As importações da China com origem na UE cresceram 22,4%, entre 2006 e 2007. Neste mesmo período as importações oriundas da República Checa deram um salto de 60.8%. Mas as que tiveram origem em Portugal apenas aumentaram 8,7%. E nos quatro primeiros meses de 2008 as importações da China, com origem em Portugal, caíram 37,9%, quando as do conjunto da UE cresceram 25,4%, as da República Checa aumentaram 35,8%, as da Irlanda 38% e as da Dinamarca 60%. Alarmante!
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Fraco desempenho é igualmente demonstrado por Portugal no Japão. Segundo o Ministério das Finanças do Japão, dos 7,7 mil milhões de ienes importados da UE, no ano de 2007, apenas couberam a Portugal uns escassos 20 milhões de ienes. Isto é, 0,26 % do volume de importações da UE e, apenas, um terço do importado da República Checa pela nação nipónica. As importações do Japão com origem na República Checa ultrapassaram as de Portugal no ano 2000 e, em 2005, já as duplicavam. Em 2007, o Japão importou da Dinamarca doze vezes mais que de Portugal e, da Irlanda, 24 vezes mais. Desconcertante!.
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Débil é também a penetração dos produtos portugueses na Coreia do Sul. De acordo com as estatísticas da Coreia do Sul, esta importou de Portugal apenas 202 milhões de dólares em 2007, o que corresponde a 0,00057 do total das suas importações e a 0,0042 do total das suas importações da Europa. Da República Checa importou, no ano passado, 369 milhões de dólares, da Dinamarca 702 milhões de dólares e da Irlanda 835 milhões de dólares. A agravar esta situação está o facto de as importações da Coreia do Sul com origem em Portugal, entre Janeiro e Maio de 2007, terem alcançado 131,7 milhões de dólares e, em igual período de 2008, se terem ficado pelos 33,5 milhões de dólares.
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Quanto à sua relação com os mercados asiáticos, Portugal só se pode queixar de si próprio. O governo, a oposição, os líderes das associações empresariais, os empresários, os directores de marketing das empresas só podem acusar-se a si próprios. Porque os países europeus com os quais Portugal se compara estão sujeitos aos mesmos constrangimentos. Estão sujeitos à mesma sobrevalorização do euro. Têm o mesmo problema da língua e das diferenças culturais. Os seus bons resultados deveriam servir de referência. As suas estratégias deveriam servir de exemplo. Eles não precisaram da protecção da UE para vingarem em terras do Oriente. As suas iniciativas, os seus acordos, as suas parcerias, as suas redes, as suas estratégias e tácticas, as suas relações pessoais e institucionais enraizaram-se e deram frutos.
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Portugal está anémico. Que o sol de verão lhe traga a energia que necessita para encontrar as melhores estratégias para vencer nas Ásias.

Wednesday, June 11, 2008

11-06-2008 Desporto e Diplomacia

Trazer o futebol de Portugal à Ásia, ajudaria a rasgar auto-estradas de entendimento entre os povos e os seus líderes.
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2008 será o ano dos mercados emergentes. Mas a mudança de padrão em curso leva a crer que a Ásia será cada vez mais o motor do crescimento económico mundial.
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Será, pois, incompreensível que Portugal não atribua uma fortíssima prioridade às suas relações bilaterais com os países asiáticos. Será ilógico que Portugal não desenvolva estratégias bem fundamentadas e que não tome iniciativas com impacto decisivo em relação a cada um dos países asiáticos. De modo a garantir, já em 2008, uma eficaz e determinada aproximação política, cultural e económica. De modo a assegurar a Portugal uma participação decisiva nos seus processos de desenvolvimento e um incremento excepcional no volume das importações destes países. Estão em causa não apenas as relações com a China, mas também com a Índia, o Japão, a Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Indonésia, Tailândia e, mesmo, com o Vietname.
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A distância e a barreira da língua podem explicar a actual timidez lusitana. Porque tímida continua a ser a comunicação com os governos asiáticos, a comunicação com as organizações empresariais asiáticas, com as empresas asiáticas, com as instituições científicas asiáticas, com a actual expressão artística dos povos asiáticos.
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O calor que Portugal põe nas suas relações com os dirigentes sul-americanos e africanos contrasta com o insuficiente empenhamento e, nalguns casos, com a sobranceria moral que exibe nas relações com dirigentes asiáticos. Uma mal disfarçada desconfiança que o cidadão comum asiático atribue ao facto de Portugal ainda ser “o país mais tradicionalista da Europa”.
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Existe um verdadeiro problema na atitude dos portugueses face aos asiáticos que dificulta a comunicação a todos os níveis. É que é preciso tratar os asiáticos como eles gostam de ser tratados. E não tratá-los como nós gostaríamos de ser tratados. O que implica conhecer e valorizar as suas expectativas, os seus valores, as suas maneiras de pensar, as suas preferências, os seus hábitos, a sua maneira de negociar, a sua cultura vivida.
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Um traço cultural comum à China dos dias de hoje, como ao sudeste asiático, em particular a Singapura e à Malásia, é a consideração dada ao futebol como desporto rei e à Liga Inglesa como a referência. Portugal é, também, conhecido e admirado nestas paragens pelos seus mais destacados futebolistas. Os media asiáticos não falam da economia portuguesa. Nem falam dos políticos portugueses. Mas falam do futebol português. E escrevem sobre Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Carvalho, Figo e Mourinho. Conhecem até os clubes portugueses mais importantes. Antes mesmo do início do Euro 2008, Portugal era já vaticinado, no Straits Times de Singapura, como o mais provável vencedor.
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De igual modo não surpreende que, como forma de expandir rapidamente a importação de vinhos portugueses no seu país, o presidente de uma poderosa associação de ‘Food & Beverage’ da China tenha sugerido a realização de uma campanha publicitária baseada num anúncio em que Cristiano Ronaldo emprestaria a sua influência persuasiva afirmando cândidamente: “eu prefiro vinho português”.
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Trazer o futebol de Portugal à Ásia, com os seus mais destacados protagonistas, ajudaria a rasgar autoestradas de entendimento entre os povos e os seus líderes e a alterar a imagem de Portugal. O desporto está em condições de prestar um serviço à diplomacia e à diplomacia económica portuguesa. Distintos desportistas poderiam ser convidados a desempenhar a função de “Goodwill Ambassador” abrindo caminho a outras venturas.
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Não é demais recordar o papel do desporto na aproximação entre a China e os EUA. Em Abril de 1971 o governo chinês convidou a visitar a China uma equipa americana de ‘ping-pong’ que disputava no Japão o 31º Campeonato do Mundo de Ténis de Mesa. A diplomacia do ‘ping-pong’, como então foi denominada, transformou-se num excelente instrumento para iniciar a normalização das relações entre os dois Estados que vieram a ganhar um ímpeto e profundidade nunca então imagináveis.
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Portugal tem as suas relações normalizadas com os países asiáticos. Mas são frouxas, sem ímpeto.
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Mais trabalho a Oriente!

Wednesday, May 28, 2008

28-05-2008 DE SINGAPURA A GUANGZHOU

A expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras.
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Nada mais convincente que entrar pela China adentro. Até na resposta ao terramoto de Wenchuan se confirma que há uma nova China. Que encerra um mundo ilimitado de oportunidades para as empresas portuguesas. Mas a expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras. Na China, o caminho mais directo nem sempre é o caminho mais certo.
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Algumas dezenas de empresas portuguesas têm já assegurada a sua presença na China. Grandes grupos mas também PME. Para estas, em particular, uma penetração rápida na China deverá ser feita com o suporte, ou em parceria, com empresas ocidentais, há muito aqui instaladas, ou com empresas asiáticas cujos gestores conhecem a língua e dominam as regras do jogo. E que desenvolveram ao longo dos últimos dez anos relações pessoais, profissionais e empresariais, isto é, o guanxi.
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Singapura tem as melhores condições para funcionar como facilitador das iniciativas portuguesas na China. Porque em muitas províncias da China operam, há vários anos, milhares das suas empresas, apoiadas numa larga rede consular. Porque tem desempenhado, para a China moderna, o papel de modelo de referência de desenvolvimento industrial, de desenvolvimento urbano e de políticas sociais. Porque tem investido fortemente nas suas zonas económicas especiais e nos seus parques industriais cujo conceito ajudou a desenvolver. Porque tem investido largamente no desenvolvimento de centros comerciais e da sua habitação social. Porque tem contribuído para o seu desenvolvimento científico. Porque tem ajudado à formação dos dirigentes da administração pública chinesa. Porque tem relações pessoais muitíssimo cordiais com os seus dirigentes máximos e tem apoiado a transformação gradual das políticas internas e da política externa da China. E porque tem contribuído para um melhor entendimento da China pelas nações ocidentais. Chegar à China de braço dado com uma empresa da cidade-estado equivale a ter passadeira vermelha.
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Foi, assim, que nestes últimos dias se multiplicaram contactos intensos com umas poucas dezenas de líderes empresariais e institucionais de Guangzhou. Se discutiram projectos de investimento na China e em Portugal. Se identificaram oportunidades de exportação de produtos portugueses para a China e de produtos chineses para Portugal, Brasil, Angola ou Moçambique. Com apresentações em ‘powerpoint’, claro, mas também com muitos almoços e jantares em largas mesas-redondas. Sem evitar a passagem obrigatória pelo ‘karaoke’ e as extraordinárias estórias de sucesso empresarial que Deng Xiaoping fez o favor de permitir aos cidadãos da China. Em nove anos o senhor Chen (não sendo este o seu verdadeiro nome), ex-’chauffeur’ dum empresário de Guangzhou, construiu um pequeno império cujo valor actual ascende a 500 milhões de dólares americanos. Tudo começou com uma oportunidade que o seu ex-patrão lhe proporcionou. Chen, homem simples de quarenta e dois anos, ofereceu no passado fim-de-semana uma estadia num ‘resort’ na montanha aos quarenta colaboradores dos escritórios da sua empresa.
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Muito mais se poderia ter alcançado caso tivessem sido aproveitadas as oportunidades oferecidas de estabelecimento de relações entre universidades de Guangzhou e universidades portuguesas. Ou tivessem sido encetadas conversações promovendo o desenvolvimento do turismo de Guangdong em Portugal. Ficou provado que é muito eficaz chegar à China a partir de Singapura. Provavelmente mais eficaz que viajar directamente via Frankfurt, Amesterdão ou Londres.
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O modelo de internacionalização de empresas portuguesas passa pela inovação no ‘modus faciendi’ e pelo envolvimento de agentes facilitadores localizados na região.
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Mercê dos múltiplos acordos celebrados entre os governos asiáticos, as empresas na Ásia tendem a privilegiar as redes de empresas que actuam numa multiplicidade de países do continente asiático e que promovem sinergias entre si, acelerando os movimentos de trocas.
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E a diplomacia económica, por sua vez, precisa de reinventar-se para se adaptar às circunstâncias específicas dos mercados.

Tuesday, May 13, 2008

14-05-2008 Habitação e Exportação

O sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização. O sucesso está à vista.
Vai o Plano Estratégico de Habitação a discussão pública. Pedra basilar das políticas sociais, este debate oferece uma oportunidade para reflectir o que outras nações desenvolveram e os resultados internos e externos que alcançaram.
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Após a independência, Singapura teve de enfrentar o problema de falta de habitação. Através do ‘Housing and Development Act’ de 1960 foi criado o ‘Housing and Development Board’ (HDB) com planos quinquenais para construir habitação social de baixo custo. Um primeiro plano levou à construção, entre 1960 e 1965, de mais de 54 mil habitações para alugar a membros dos estratos de mais baixos rendimentos, com rendas subsidiadas.
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Porém, em 1968, o governo alterou a sua política a fim de fazer participar na riqueza nacional os cidadãos e os imigrantes e de os incentivar a um maior empenhamento na construção do país. Passou, então, a permitir a compra dos apartamentos pelos inquilinos. Esta compra assumiu, desde esta data, a natureza de um ‘leasing’ em que o título de propriedade tinha um período de validade de 99 anos.
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Mas, mais importante, é que permitiu, aos cidadãos de Singapura, utilizar até 80% das suas contribuições para a Segurança Social para pagar parcialmente o valor dos seus apartamentos, evitando assim que tivessem de utilizar parte do seu salário para esse efeito. A parte remanescente, não coberta por esta componente, poderia ser coberta por um empréstimo do HDB, e os pagamentos mensais poderiam ser pagos, também eles, a partir das contribuições para a Segurança Social. Em anos mais recentes a banca comercial passou a competir com o HDB na oferta de empréstimos desta natureza. Importa clarificar que o sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização.
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O sucesso desta política está à vista. No início dos anos sessenta havia 10% da população abrangida. Actualmente está mais de 80% da população coberta por habitação “social”. Isto é, cerca de três milhões. Os apartamentos do HDB, de 3, 4, 5 assoalhadas ou executivos, construídos em ‘outsourcing’ sob orientação duma vasta organização com mais de 4.500 colaboradores, não se assemelham de modo algum à habitação social britânica ou australiana. Equiparam-se à norueguesa.
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Os edifícios de apartamentos são enquadrados por jardins, com equipamentos desportivos, espaços de convívio e centros comunitários, com bibliotecas de elevada qualidade, e áreas comerciais. Dispõem de parques de estacionamento verticais. E têm manutenção permanente que se assemelha à dos condomínios privados. Para além de programas de requalificação estrutural, de sete em sete anos são objecto de obras gerais com renovação de todas as pinturas exteriores.
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O modelo de habitação social de Singapura encontra-se em expansão em diversos países, nomeadamente na China, onde será necessário construir quatro milhões e meio de apartamentos por ano durante as duas próximas décadas. HDBCorp International Pte Ltd (HCI) está já a construir em Chenggdu. Singapura assinou recentemente um acordo com a China para a construção de uma eco-cidade em Tianjin, baseada no modelo inovador de sustentabilidade de Punggol. O fundo soberano de Singapura GIC criou uma ‘joint venture’ com o HDB e a Wuthelam para, nos próximos anos, investir 75 milhões de dólares na construção de apartamentos na China, tirando partido da experiência adquirida em planeamento e desenvolvimento de cidades.
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O caso apresentado sugere que novas formas de financiamento para a aquisição de habitação possam ser consideradas, nomeadamente para as gerações mais jovens, com base nas contribuições para a Segurança Social. Tal corresponde a uma partilha da responsabilidade da gestão das contribuições entre o Estado e o contribuinte. A segunda proposta é que se faça o aproveitamento do cabedal de experiência do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, das suas estratégias, dos seus modelos de negócio, das suas metodologias, das suas políticas e procedimentos, dos seus ‘standards’, das suas competências e dos seus profissionais para potenciarem oportunidades de exportação de serviços em articulação com as empresas de construção civil portuguesas.
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Na Ásia, claro!
http://www.hdb.gov.sg