Saturday, December 27, 2008

24-12-2008 Muito Tarda em Despertar

Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro. Faz-lhes falta pensar, ter estratégia, ter projecto.
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Uma andorinha não faz a primavera mas sempre a pré-anuncia. O mesmo significado tem a notícia de que mais uma empresa portuguesa se interessa pelo mercado chinês. Mas este interesse pelos mercados asiáticos continua a ser muito diminuto e a mudança de atitude por parte das empresas portuguesas continua a ser duma lentidão inimaginável, dir-se-ía mesmo dominada pela irracionalidade.
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Quando o crescimento a Oriente bem poderia compensar as perdas que se estão a sofrer nos tradicionais mercados de exportação nacionais.Durante a maior parte do século XX a economia Mundial foi mobilizada pela Europa e pelos EUA e, parcialmente também, pelo Japão. As restantes economias da Ásia puderam ser praticamente ignoradas. O motor da economia no século XXI será, sem dúvida, a Ásia. A menos que haja um empenhamento da Europa e dos EUA nos mercados asiáticos, no limite, esta região pode vir a prescindir do interesse das empresas do Ocidente tal o nível de desenvolvimento alcançado, o tamanho da sua população e a dimensão dos seus mercados.
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É completamente inadmissível que, nos primeiros oito meses de 2008, as importações da China com origem em Portugal tenham tido mais uma quebra de 17,6%, em relação a igual período do ano anterior (fonte: mofcom.gov.cn), continuando a perda de ritmo de 2007. Quando ao mesmo tempo, e à semelhança do que ocorrera em 2007, a Irlanda teve um crescimento de 53,% e a Dinamarca de 55,1%. E a Espanha cresceu 39,3%. Quando o volume das importações da China com origem em Portugal não vai além de 13% do volume das importações da Irlanda ou da Dinamarca e de 6% das de Espanha.
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A China, e toda a Ásia, está mentalmente muito distante de Portugal. Mas não está distante de mais nenhum país europeu. Uma particularidade nacional que justifica a pergunta: será que os (empresários e gestores) portugueses sabem pensar? Porque têm os portugueses medo da Ásia?
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Governo, associações empresariais e empresas precisam de reflectir seriamente sobre a estratégia a seguir. Os países desenvolvidos têm uma estratégia económica definida, explicitada e publicada em relação à China. Onde está a estratégia portuguesa? Quem a define, quando e como? Quem, como e quando a divulga?
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Macau é muito importante para Portugal. Mas para a China é o seu parque de diversões. A China tem doze cidades com mais de quatro milhões de habitantes, para além de Pequim e Xangai. Não se chega às cidades da China através de Macau, como não se chega a Paris, Londres ou à Baviera através de Lisboa. A província de Hebei tem 63 milhões de habitantes, mais do que a esmagadora maioria dos países da UE. Há que estabelecer uma relação directa com as cidades capitais de província da China.
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A representação de Portugal na China deverá ser repensada. A AICEP da Austrália (Austrade) tem escritórios em Pequim, Xangai, Chengdu, Dalian, Guangzhou, Hangzhou, Hong Kong, Kunming, Macau, Nanjing, Ningbo, Qingdao, Shenzhen, Wuhan, Xi’an. A AICEP de Singapura (IE Singapore) tem 45 profissionais em oito escritórios na China, produzindo estudos de mercado para as suas empresas ali estabelecerem uma presença adequada. O volume das importações da China com origem em Portugal, nos oito meses de 2008, representa pouco mais que 1,6% do volume das importações da China com origem em Singapura.
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Há que enfrentar a vulnerabilidade das exportações para Singapura que têm estado quase totalmente concentradas na actividade de uma só empresa, a maior exportadora portuguesa, que muito recentemente esteve em risco de falência. Reafirma-se o que se vem clamando, há já algum tempo, de que é urgente diversificar o padrão das exportações para Singapura e a Malásia. O desaparecimento da Qimonda poderia significar, não só um profundo rombo no volume global das exportações, mas também o quase completo esvaziamento das relações comerciais com estes países do Sudeste Asiático.
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O que faz falta aos portugueses não é, em primeiro lugar, dinheiro para investir. O que faz falta é pensar, ter estratégia, ter projecto, ter metodologias eficazes de implementação. Os portugueses são ricos em emoções mas estão longe de saber pensar bem o seu futuro.
Bom Natal e um Novo Ano mais inteligente!

Wednesday, December 10, 2008

10-12-2008 Avaliação e Sucesso

Singapura gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
Alunos de universidades portuguesas colocam-me frequentemente a questão dos factores de sucesso de Singapura por contraste com Portugal. Recorde-se que Singapura adquiriu a independência em 1965. Era então um pântano polvilhado por tugúrios onde grassava ainda a tuberculose e a guerrilha racial. No início dos anos oitenta o nível de desenvolvimento entre os dois países era semelhante. Em 2007, o PIB per capita de Singapura atingiu os 49.900 dólares enquanto o de Portugal ficou-se pelos 21.800 dólares.
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Em alternativa a uma comparação baseada em indicadores, optei por questionar os factores de sucesso percebidos por cidadãos com conhecimento privilegiado, reunindo um ‘focus group’ constituído por um professor universitário, um docente de instituto politécnico, dois professores de ensino secundário, um quadro superior público de apoio às PME, um jornalista sénior e um jornalista júnior, pertencentes ambos aos jornais de maior circulação de Singapura. Perguntei-lhes a que se devia o sucesso do seu país. A resposta foi unânime: à liderança de Lee Kuan Yew e à sua direcção estratégica.
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Não sendo descabido utilizar o mesmo factor explicativo em relação a Portugal, poder-se-ía afirmar que o menor sucesso nacional decorre do conjunto das orientações estratégicas que o conjunto das lideranças pôs em prática durante os últimos trinta anos. Uma conclusão politicamente incorrecta. Mas sobre a qual seria desejável que as elites de esquerda, centro e direita, que vêm gerindo o sistema político português desde abril de 1974, aceitassem reflectir.
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Um sistema onde, em qualquer momento, um qualquer grupo profissional é capaz de bloquear a transformação imprescindível do país. Um sistema onde a retórica se sobrepõe à lógica de resultados, onde as palavras valem mais que as acções. Onde as emoções valem mais que a avaliação científica dos problemas, mais que a análise comparada com outros países, mais que a elaboração fundamentada das estratégias, a discussão serena e a mobilização do país em torno de objectivos de interesse nacional. Um sistema político onde a dramatização substitui o rigor. Um sistema político onde as agendas da esquerda, do centro ou da direita valem mais do que a agenda de Portugal. Qualquer observador atento à evolução de Portugal perguntar-se-á para que serve este sistema democrático e estas lideranças de esquerda, centro e direita, se em conjunto não são capazes de assegurar o crescimento económico, o desenvolvimento, o emprego, o bem estar da população portuguesa? Muita ideologia, fraca estratégia, pouco pragmatismo, magros resultados práticos.
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Avaliação do desempenho
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Singapura, um dos ‘top performers’ mundiais a nível da educação, dedicou-lhe uma larga fatia do orçamento nos primeiros anos após a independência. Hoje gasta no ensino primário menos que 27 dos 30 países da OCDE.
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Razão suficiente para questionar o grupo focal sobre o que explica, então, o sucesso do sistema de ensino de Singapura a nível primário e secundário. Sem hesitação o grupo atribuiu à introdução da avaliação de desempenho dos professores o salto qualitativo alcançado no ensino de Singapura nos últimos dez anos. .
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Os aumentos salariais e os prémios de desempenho, bem como a atribuição de prémios às equipas de docentes, estão associados à avaliação do desempenho. Que é apoiada pela maioria dos professores, como resulta dum inquérito realizado no ano passado a uma amostra 3.300 professores.Singapura adoptou na educação um sistema de avaliação que tem em conta não só o desempenho anual do professor mas também o seu potencial de desempenho futuro. Avalia em que medida os objectivos de trabalho docente foram alcançados (actividades de de ensino, actividades co-curriculares, projectos e tarefas, etc) e os níveis de competência atingidos em termos de conhecimentos e habilidades, bem como as características profissionais dos docentes. A classificação traduz-se num A, B, C, D ou E. Enquanto Portugal resiste à mudança necessária para enfrentar os desafios do mundo globalizado, Singapura põe em prática soluções eficazes e influencia os caminhos do século XXI. Enquanto Portugal se fragiliza, Singapura fortalece-se. Sem fundos da UE!