Wednesday, December 26, 2007

26-12-2007 Para o Futuro

Com ‘deficits’ de liderança aos mais diversos níveis Portugal é uma sociedade tradicional que cristalizou num passado recente

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1071663.html

O que importa é ganhar o futuro. É este ímpeto que se vive no Sudeste Asiático onde, em 2007, o desempenho da economia superou as expectativas, suportado num sólido crescimento das exportações, do investimento e do consumo. As taxas de crescimento económico situar-se-ão, este ano, entre os 6 e os 9%, com excepção da Tailândia. O Ministro Lim acaba de desafiar a indústria de mobiliário de Singapura, responsável pelas exportações de 0,7 deste mercado mundial, a alcançar os 2% em 2015.
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É este ritmo que falta à Europa. É este vigor de mudança que falta, ainda, a Portugal. É esta força disciplinada que se não adivinha, ainda, na sociedade portuguesa. Porque Portugal é, ainda, uma sociedade tradicional que cristalizou num passado recente. Com ‘deficits’ de liderança aos mais diversos níveis. Com uma comunicação dominada mais pelas opiniões e atitudes críticas, típicas de adolescente, que pelas acções do adulto maduro e construtivo.
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Há, entre nós, uma pequena elite esclarecida que não só entendeu a profunda transformação por que passa a economia mundial como também começou a tomar decisões no sentido de levar Portugal a assumir uma posição avançada no seio das nações desenvolvidas. Localizam-se os seus membros entre actores do governo da Nação como em nichos da oposição democrática. Estão presentes na indústria como nos serviços e, até mesmo, nalguns sectores da universidade e dos centros de investigação. Mas esta elite está longe de ter influenciado a sociedade e a cultura portuguesa ao ponto de gerar a necessária transformação das mentalidades dominantes.
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As maiorias continuam a pensar, a sentir e a agir como se a sociedade portuguesa pudesse desenvolver-se de acordo com os parâmetros dos anos setenta. Ainda há alunos dos cursos de ciências e tecnologias universitários e de institutos politécnicos que podem terminar os seus cursos sem terem uma formação em empreendedorismo. Saem das escolas modelados, não para serem empresários, mas para serem empregados por conta de alguém, porventura, com menos formação académica.
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Portugal precisa, também, de anular um enorme ‘deficit’ de liderança transformacional. A mudança necessária exige liderança a todos os níveis e em todos os sectores da sociedade. Líderes com visão de futuro, capazes de inspirar e envolver outros cidadãos ou colegas de trabalho de todas as idades. Capazes de os apoiarem e de os ajudarem a desenvolver-se. Isto precisa de ser entendido pelos empresários que consideram que a mudança deve assentar apenas nas gerações com menos de quarenta anos de idade, deitando ao desbarato o capital de competências e de regeneração das gerações mais velhas essenciais para criar massa crítica ao processo de modernização.
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Portugal apresentou-se com uma nova imagem para o futuro. Ao conjunto de instrumentos desta promoção deverão estar associados objectivos a atingir. Singapura definiu, em 2005, que pretendia atingir, em 2015, os 17 milhões de turistas e receitas de turismo no valor de trinta mil milhões de dólares. Qual é o nosso ‘target’? Que mercados turísticos se incluem e se excluem?
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No início dos anos 80, questionou-se o então responsável pelo turismo, Nandin de Carvalho, pela irracionalidade de não existirem turistas em Portugal duma nação economicamente poderosa, o Japão. As suas iniciativas deram frutos que continuam a alimentar, ainda hoje, um fluxo constante de visitantes nipónicos.
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No protocolo assinado recentemente entre a AICEP e o Turismo de Portugal estão ausentes os países islâmicos, a China, a Índia e o Sudeste Asiático como mercados alvos. Qual a racionalidade económica desta decisão? O fluxo de turistas do mundo árabe em Portugal é irrisório. Merece a matéria reflexão e iniciativas. Estarão os responsaveis do turismo cientes que sem um programa de certificação de restaurantes em ‘halal food’ a probabilidade de atrair turistas islâmicos é muito diminuta? Há, também, que lançar um programa operacional para facilitar o desenvolvimento de uma rede nacional de restauração chinesa de qualidade que possa, também, servir a classe afluente chinesa que queira visitar o país.
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Bom Ano Novo, com uma taxa de crescimento económico de 4%, bem acima do esperado.

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Nota do autor:
Pedro Pita Barros escreve no DE de 18.4.2008
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1113419.html
Velhos são os trapos
Deitar fora o conhecimento dos “velhos”pode ser decisivo a longo prazo, para o crescimento das empresas e da economia.

Wednesday, December 12, 2007

12-12-2007 Aplacar o Dragão

O Ocidente, tem de integrar a promissora economia da China, tem de aprender a lidar com este ‘flying Dragon’.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1067497.html

A China prossegue a escalada no crescimento das suas exportações. Continua a aumentar o ‘deficit’ comercial entre a UE27 e a China. Motivos mais que bastantes para que a Declaração Conjunta da 10ª Cimeira China-UE estabeleça que, até final de Março do próximo ano, se dê início ao Diálogo sobre Comércio e Relações Económicas, ao mais alto nível, entre a Comissão Europeia e o Conselho de Estado da China.
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Alguns resultados são de esperar deste modelo de abordagem político-administrativo bilateral. Mas a UE e os governos dos Estados- membros precisam de compreender melhor os objectivos, os valores e as expectativas dos múltiplos ‘stakeholders’ da RPC para tornarem as suas estratégias mais eficazes. Como deveriam tentar perceber qual o entendimento que as autoridades chinesas têm das causas do ‘deficit’ comercial. É que metade dos produtos que a China exporta têm origem em empresas ocidentais aí instaladas que tiram partido dos seus baixos salários.
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É certo que a China terá de fazer ajustamentos à medida que se transforma numa potência económica mundial. Mas o Mundo, e particularmente o Ocidente, tem de integrar a promissora economia da China, tem de aprender a lidar com este ‘flying Dragon’.
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Os estados membros da UE precisam, por um lado, de se envolver num ‘soft engagement’ com um número crescente de autoridades, não apenas a nível nacional, mas também a nível províncial e das principais cidades chinesas, multiplicando visitas, envolvendo-se em iniciativas e projectos que levem os responsaveis a perceber que existem interesses comuns de médio e longo prazo. É que não basta negociar com o poder central na China.
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Por outro lado, os agentes da mudança da China devem ser cumprimentados pelos sucessos alcançados nestes últimos vinte anos, a nível interno e externo, e não devem ser apenas criticados pelos efeitos indesejáveis que as suas transformações estão a produzir no Ocidente. A China tem contribuido para a paz e a estabilidade no mundo. O crescimento global da última década recebeu um forte contributo das sinergias geradas pela economia chinesa. Uma poderosa classe média emergiu na China ao mesmo tempo que se deu uma profunda melhoria nas competências da população. A infraestrutura, sobretudo nas regiões costeiras, alcançou níveis de qualidade elevada.
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As relações entre Singapura e a China, se têm especificidades que impedem generalizações, comportam ensinamentos que merecem reflexão. Em primeiro lugar, elas sempre foram pautadas por um enorme pragmatismo. Shee Poon Kim (ver nota) apelida as políticas de Singapura em relação à China como de ‘enlightened economic pragmatism’, procurando a República tirar partido das oportunidades económicas que a modernização da China pode proporcionar. No passado mês Singapura assinou um pacto para a criação duma ‘eco-city’ no norte da China.
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Em segundo lugar, a China precisa de conceitos e modelos para modernizar a sua economia e o seu sistema social e a República de Singapura tem alguns bons exemplos para oferecer. A China está a inspirar-se na gestão da economia de Singapura, das suas reservas financeiras, a aprender com a gestão dos seus portos, a reproduzir os seus programas de habitação social e de segurança social. A China aplicou no ‘China-Singapore Suzhou Industrial Park’ o modelo do Jurong Town Corporation de Singapura.
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Em terceiro lugar, Singapura abriu as portas às empresas da China. Mais de 2200 empresas chinesas estabeleceram-se em Singapura e 118 estão cotadas na ‘Singapore Exchange’. Milhares de empresas de Singapura estabeleceram-se na China fazendo de Singapura uma excelente porta de entrada na China.
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Finalmente, o progresso das relações entre estados depende também das relações pessoais entre líderes. Lee Kuan Yew, actual ministro mentor de Singapura, visitou dezassete vezes a China e conversou largamente com todos os líderes, inclusivé com aqueles que estão na linha de sucessão aos actuais detentores do poder em Pequim.
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Os bons exemplos copiam-se.
Nota: In Shee Poon Kim, “Singapore-China Special Economic Relations: in search of Business Opportunities, Ritsumeikan International Affairs, vol 3, 2005, pgs. 151-176”