Wednesday, May 30, 2007

30-05-2007: Acordos a Oriente

Estarão as empresas portuguesas atentas para tirar partido dos acordos de livre comércio com e entre países asiáticos?

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/999851.html

Multiplicaram-se os acordos de livre comércio (ALC) bilaterais, regionais, entre blocos económicos, mudando significativamente os contextos em que as empresas operam. Estarão as empresas portuguesas atentas para tirar partido dos acordos de livre comércio com e entre países asiáticos?
Os ALC são autoestradas que conectam economias e mercados. São instrumentos criados para promover uma maior fluidez dos mercados. Através deles eliminam-se barreiras comerciais entre países e reduzem-se tarifas aduaneiras no comércio de bens e serviços. Incluem, com cada vez maior frequência, cláusulas relativas ao comércio electrónico, ao ambiente e às condições de trabalho, à protecção da propriedade intelectual, ao equilíbrio da balança comercial, às regras de origem, às salvaguardas e procedimentos respeitantes a consultas recíprocas e à resolução de conflitos.

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Com os acordos do GATT e a criação da OMC caminhou-se no sentido duma integração económica mundial. À visão dos líderes americanos e aos fundadores da EFTA e do Mercado Comum europeu, a ocidente, juntou-se a oriente o dinamismo de Singapura, do Japão, da Nova Zelândia e da Austrália.

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A ocidente, os EUA assinaram um ALC com o Canada, em 1988, alargando-o, em 1994, ao México (NAFTA). Mas, logo em 2000, os EUA lançaram as negociações com Singapura para o primeiro ALC com um país asiático. Dois anos mais tarde os EUA iniciaram um aprofundamento deste relacionamento económico com a ASEAN através duma iniciativa denominada The Entreprise for Asean Initiative (EAI), em ordem a criar uma rede de ALC bilaterais com os países do sudeste asiático membros da OMC. A estes países foi-lhes exigido que assinassem préviamente um ‘Trade and Investment Framework Agreement’ (TIFA) antes de negociarem um ALC. As relações dos EUA com a Indonésia, Filipinas e Tailândia estão, ainda hoje, enquadradas por um TIFA. Mas, em Maio de 2003, os EUA e Singapura assinaram o primeiro ALC com um país da ASEAN, que começou a ser implementado em Janeiro de 2004. Está iminente a celebração do ALC EUA-Malásia.

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A UE apenas iniciou conversações com a China, em 2006, para celebrar ‘The Partnership and Cooperation Agreement’. Mas, já então, encetara conversações prévias para concluir um ALC com a ASEAN. Em 2004, a UE lançou ‘the Transregional EU-ASEAN Trade Initiative’ tendo os dois blocos acordado iniciar negociações formais para um ALC em 4 de Maio de 2007. Espera-se a sua conclusão apenas em 2015, altura em que a ASEAN terá constituido o seu próprio mercado comum. Mas é convicção geral que muito antes dessa data a UE alcançará ALC bilaterais com Singapura e com a Malásia.

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Singapura tem, de facto, assumido desde os anos 90 uma forte liderança no movimento da globalização, bem visível nos treze acordos que já subscreveu. O primeiro ALC do Japão foi celebrado com Singapura e entrou em vigor em Novembro de 2002. Para além dos ALC com a Nova Zelândia, EFTA, Australia, EUA, Canadá, Jordânia e Coreia, Singapura concluiu em 2005 um Acordo de Cooperação Económica (CECA) com a Índia e iniciou conversações com a China no sentido de alcançar a breve trecho um ALC que aumenta os benefícios já hoje concedidos pelos acordos China-ASEAN (ACFTA). Deste modo os exportadores e investidores, nacionais ou estrangeiros, baseados em Singapura disfrutam de um vasto conjunto de benefícios na sua relação com os países com quem celebrou ALC, desde a redução das tarifas aduaneiras, acesso preferencial a certos sectores e rápida entrada nos mercados, bem como protecção da propriedade intelectual.

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As estratégias de internacionalização das empresas portuguesas têm de ter em consideração as redes de ALC. As PME como as grandes empresas necessitam de uma decisão fundamentada sobre os países onde devem ser concentrados os primeiros esforços na Ásia e sobre a estratégia de entrada. Há países mais fáceis, há mercados mais transparentes, com maior poder de compra. Há mercados que exigem maior adaptação dos produtos e serviços. Novos mercados exigem estudos de mercado, ‘marketing’ adaptado, literatura na língua local. Todos os mercados exigem tempo, atenção e signficativos recursos financeiros.

Wednesday, May 16, 2007

16-05-2007: Diplomacia económica articulada

As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660% e seguem um padrão semelhante ao de Singapura.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/994119.html

A diplomacia económica é essencial ao desenvolvimento económico de Portugal e, por isso, tem de ser decididamente activa, proactiva, mesmo enérgica. A sua acção tem de pautar-se pela máxima eficácia possível. A sua intervenção tem de potenciar os esforços das PME às grandes empresas, das universidades e de outros centros de investigação científica e tecnológica e de entidades públicas envolvidas na expansão das exportações, na captação de investimentos, na celebração de parcerias e na promoção do turismo. Sem esquecer que a ajuda ao desenvolvimento, uma outra forma de diplomacia económica, pode e deve constituir um catalisador de relações comerciais a médio e longo prazo.
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Basílio Horta sugeria recentemente que para lidar com o desconhecimento dos mercados na China e na Índia é “fundamental uma boa articulação entre a nossa diplomacia, a diplomacia económica e as empresas”. Um excelente princípio que, naturalmente, enriquece a multifacetada intervenção diplomática e de que devem extrair-se as devidas consequências.
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No comércio internacional o grau de conhecimento prévio dos mercados constitui um critério relevante para determinar o grau de articulação necessária entre diplomacia, diplomacia económica e empresas. Ora existindo sempre um desconhecimento relativo de alguns mercados em qualquer país recomendar-se-ía uma presença diplomática em todos os países parceiros comerciais de Portugal e justificar-se-ía aí uma boa articulação entre diplomacia e empresas. Mesmo em países europeus existem múltiplos aspectos legais, muitas práticas empresariais desconhecidas e hábitos de consumo que aconselham um tal suporte.
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Mas, porque os recursos são limitados, têm de ser estabelecidas prioridades que tenham em consideração quer a relevância das trocas comerciais actuais, quer o potencial de expansão num futuro próximo quer a eficácia provável da sua acção. Assegurar a melhor articulação entre empresas e o aparelho diplomático nos EUA e em Angola é absolutamente indispensável já que constituem os dois mais importantes mercados extracomunitários de bens e serviços portugueses. Ter uma rede diplomática a apoiar as empresas portuguesas na China é uma urgência. Porque a China, que no primeiro trimestre do ano ficou na décima posição como destino das nossas exportações extracomunitárias, será em pouco mais de vinte anos a segunda potência económica mundial, tendo actualmente 1,3 mil milhões de pessoas e uma classe média de 200 milhões de consumidores. Tenha-se bem presente o facto de investirem hoje na China mais de 550.000 empresas estrangeiras, entre elas um muito reduzido número de portuguesas.
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Portugal tem Embaixada em oito dos dez mais importantes clientes extracomunitários, mas não tem Embaixada nos países que no primeiro trimestre de 2007 ocupam a terceira e quarta posição como mais importantes clientes portugueses extracomunitários: Singapura e Malásia. Os dois países do sudeste asiático passaram a deter em conjunto 11,6% do total das exportações extracomunitárias. As exportações para a Malásia tiveram um crescimento de 660%, em relação a igual período do ano passado, e seguem um padrão de exportações semelhante ao de Singapura, já que 87% são produtos electrónicos, entre estes circuitos integrados . A exploração de outros mercados, por parte das empresas portuguesas, só teria a ganhar com a abertura duma Embaixada nestes países e com o desenvolvimento duma forte articulação com a nossa diplomacia.
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A recente reforma consular não contemplou a Ásia. Tal facto só poderá justificar-se pela vontade de realizar uma avaliação apropriada da rede diplomática e consular do continente onde vive a maior parte da população do planeta. Será aconselhavel reforçar sem delongas a representação portuguesa na Ásia. Porque hesitações nesta matéria terão custos económicos elevados no médio e longo prazo. Singapura não perde oportunidades e, por isso, tem na China consulados gerais em Xangai, Guangzhou, Xiamen, Hong Kong e um consulado em Chengdu, além da Embaixada em Pequim. A Ásia requer acções consequentes, sustentadas e sustentáveis.

Wednesday, May 2, 2007

02-05-2007: Investir nas Pessoas

O investimento em I&D, em Portugal, por parte das empresas tem ainda expressão minoritária.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/979103.html

O mais recente anúncio da contratação de mil investigadores doutorados traduz um inquestionável reforço da política de investigação e desenvolvimento científico e tecnológico cuja vitalidade estava já bem à vista através do muito significativo aumento do número de bolsas de doutoramento e de pós doutoramento financiadas directamente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. As parcerias internacionais, já celebradas, começam a dar resultados e algumas grandes empresas portuguesas e multinacionais assumiram um papel relevante neste processo.
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Porém, é expectável que o sector privado se empenhe cada vez mais neste esforço nacional. Tome-se, como exemplo, Singapura que investiu 2,5% do PIB em I&D, em 2005, e que pretende alcançar anualmente os 3% do PIB já em 2010. O Governo da cidade-estado injecta na investigação e desenvolvimento, em 2007, cerca de 1.000 de euros milhões a que acrescerá o investimento do sector privado. No ano de 2005 as empresas responsabilizaram-se por cerca de 66% do investimento em I&D, contribuindo com cerca de 1.500 milhões de euros. Entre os investigadores, 60% trabalha para o sector privado. Integra este movimento a Infineon que anunciou, há dias, ir investir, em Singapura, 200 milhões de euros em I&D, recrutando 150 novos investigadores e fazendo subir para 550 o número de engenheiros dedicados a I&D nesta empresa local.

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Mas o investimento em I&D, em Portugal, por parte das empresas tem ainda expressão minoritária. As empresas multinacionais foram as primeiras a avançar porque reconhecem que da I&D depende a sua posição no mercado global. A questão está em saber como induzir nas empresas nacionais idêntica atitude. Investir em I&D também é um comportamento inovador para as empresas e como tal deve ser abordado. Devem investigar-se os factores que podem contribuir para a difusão da I&D. Que factores predisponentes, facilitadores e de reforço podem levar as empresas a investir em I&D. Sabe-se, também, que o comportamento inovador se distribui numa “população” segundo a curva de Gauss. Assim teremos que os inovadores representam 2,5%, os ‘early adopters’ 13,5%, a ‘early majority’ 34%, tal como a ‘late majority’ (34%) e os ‘laggards’ constituem 16%. Estamos, porventura, ainda longe de ter 2,5% das empresas de Portugal a investir em I&D. Há, pois, que aliciar mais empresas predispostas para participarem na promoção da I&D, facilitar-lhes os mecanismos de integração e reforçar-lhes a apetência por inovarem na concepção dos seus produtos e/ou serviços, na reengenharia dos seus processos de produção, no redesenho da sua organização, na redefinição do seu modelo de negócio, na elaboração do seu plano estratégico, na adaptação a novos mercados, na sua internacionalização. Há que identificar os 2,5% de empresas (e empresários) potencialmente inovadoras, de cada sector de actividade, e apoiá-las na definição da sua política de I&D e na procura dos recursos necessários quer financeiros, quer humanos. Sem esquecer os ‘clusters”.

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Portugal está, finalmente, a reabrir-se ao talento estrangeiro e deve-o fazer de forma deliberada. Cabe aqui lembrar que entre os 4,5 milhões de habitantes da progressiva Singapura, existem 756.300 estrangeiros, isto é, 30% da população activa. Destes, 110.000 são quadros profissionais e cerca de duas dezenas são portugueses. Muitos daqueles são doutorados, mestres ou simplesmente pós graduados. Sem profissionais altamente qualificados nacionais e estrangeiros, capazes de pensar, de modelar e de influenciar o futuro não há desenvolvimento. E, por isso, a cidade-estado criou o programa People Developer para estimular as empresas a investirem nos seus colaboradores. O People Developer avalia a excelência do negócio com base na qualidade do exercício da Liderança, do Planeamento, da Informação, das Pessoas e dos Resultados.

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A marca Portugal deve muito aos desportistas portugueses, aos portugueses que ocupam posições de elevada responsabilidade, quer em organizações supranacionais púbicas quer em empresas multinacionais. Mas deve sobretudo aos empresários e aos seus colaboradores. São as pessoas que fazem o sucesso das empresas e que fazem o sucesso de uma nação.