À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os seus resultados e consequências.
A actual crise financeira e económica ilustra como os sistemas de crenças determinam bem mais as decisões humanas do que a pura racionalidade. A crença no ‘laissez faire’ não pode admitir que não há apenas uma mão invisível em acção mas muitos tipos de mãos invisíveis.
À cegueira comunista veio a suceder a cegueira capitalista incapaz de manter um olhar atento sobre os diferentes níveis da decisão financeira, sobre os seus resultados e sobre as suas consequências. Ideologia a induzir o fecho prematuro do campo de análise e de intervenção, dando lugar a um simplismo analítico onde nem todas as unidades de análise relevantes foram seleccionadas para serem acompanhadas e para serem devidamente reguladas na actual fase da globalização.
Tal como os comportamentos económicos e financeiros em contexto comunista se não puderam explicar apenas pela pretensa racionalidade do planeamento central também agora não os podemos explicar com base na pretensa racionalidade estratégica e operacional da firma. Porque os actores em jogo não são apenas organizacionais mas são pequenos grupos, elites, líderes empresariais, gestores cujos interesses e racionalidade podem conflituar, de facto, com os interesses do conjunto dos ‘stakeholders’.
E, por isso, para além duma crise financeira, e agora também económica, o que o Mundo enfrenta é uma crise de ‘governance’ a múltiplos níveis.
Entendam-se as raízes ideológicas e comportamentais da crise do ‘subprime’ e da actual crise económico-financeira e construa-se um novo sistema de prevenção, monitorização e gestão dos sistemas financeiros a nível global, em vez de simplesmente se acusarem os que a propiciaram, como Phil Gramm, o senador que promoveu as leis Gramm-Leach Biley Act de 1999 e o Commodity Futures Modernisation Act de 2000 que enfranqueceram a regulação financeira e tornaram possíveis os empréstimos irresponsáveis e a falta de supervisão do crédito hipotecário, ou Alan Greenspan, ex-’chairman’ da Reserva Federal americana, cuja fé na autoregulação dos mercados contribuiu para rejeitar uma maior regulação de produtos financeiros complexos, ou Cristopher Cox, ‘chairman’ da Securities and Exchange Commission, a quem competia supervisar Wall Street e que não quis ou não pode regular os bancos de investimento, ou Ian McCarthy, CEO da Beazer Homes USA, que favoreceu a venda de habitações a quem a não podia pagar, tal como Angelo Mozilo, fundador da Countrywide Financial, considerado o rei do mercado de ‘sub-prime’, ou James Cayne, ex-CEO do Bear Sterns, Franklin Raines, ex-CEO do Fannie Mae, Richard Fuld, ex-CEO do Lehman Brothers, ou Joe Cassano, ex-chefe do departamento de produtos financeiros da AIG.
China-Singapura
Enquanto a crise paralisa a decisão de muitos agentes económicos a Ocidente, e os mais esclarecidos revêem as suas estratégias e avançam em novas direcções, Singapura vai dando o exemplo prosseguindo o alargamento sistemático da sua rede de relações económicas bilaterais, enquanto as negociações de Doha se desvanecem no marasmo.
A assinatura do Acordo de Livre Comércio entre Singapura e a China, que teve lugar, em Pequim, no passado dia 23 de Outubro, eliminará a partir de Janeiro de 2009 85% das taxas cobradas às exportações de Singapura, permitirá a empresas de saúde da cidade-Estado deterem 70% do capital de hospitais chineses e concederá liberdade de movimentos a empresários e profissionais de ambos os países. As exportações da China para Singapura passam a ser totalmente liberalizadas. Foi o primeiro acordo a ser celebrado entre a China e um país asiático.
Singapura não investe só em Pequim e Xangai. Em Tianjin constrói uma “eco-cidade”. Em Chengdu e Hangzhou apoia nomeadamente os sectores de logística, turismo, sistemas de informação, serviços financeiros, de saúde e de educação, para além da construção e gestão de centros comerciais. Xian será a próxima prioridade.As empresas portuguesas, ao estabelecerem as suas subsisdiárias em Singapura, poderão aceder aos benefícios do acordo assinado com a China.
Da China sopram bons ventos para quem sabe navegar.
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in Diário Digital
Sábado, 15 de Novembro de 2008 10:44
G20: França anuncia acordo para nova regulação mundial
G20: França anuncia acordo para nova regulação mundial
Os dirigentes dos principais países industrializados e emergentes reunidos na cimeira do G20, em Washington, chegaram a um acordo para sustentar a economia, concretizar uma nova regulação internacional e reformar a governação mundial, disse hoje a presidência francesa.
Segundo o Eliseu, as decisões do G20 devem ser resumidas num comunicado de cinco páginas, que será divulgado hoje no final desta cimeira inédita que decorre desde sexta-feira em Washington com o objectivo de pôr cobro à pior crise financeira depois da Depressão de 1930.
A presidência francesa adiantou que será feito a 31 de Março de 2009 um primeiro balanço dos trabalhos a desenvolver a partir das decisões tomadas na cimeira.
De seguida, até 30 de Abril haverá lugar a um novo encontro do G20, não se conhecendo ainda em que local.
Segundo a presidência francesa, o texto que está a ser estudado na cimeira inclui «mensagens positivas de três ordens: sustentabilidade da economia, nova regulação internacional e reforma da governação mundial».