Wednesday, September 17, 2008

17-09-2008 As Visitas

As visitas de Estado são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas.
Visita-se por muitos motivos. Para manter relações e reforçar a amizade. Hoje menos, por cerimónia, por cortesia, por respeito. Cada vez mais por curiosidade, para fazer turismo. Também para inspeccionar, controlar e corrigir situações. E, frequentemente, por negócio.
As visitas de Estado, para além das formalidades diplomáticas, são uma excelente oportunidade para promover as relações culturais e as relações económicas. Muitas são bem eficazes e geram o aumento do investimento e do emprego. E, no curto prazo, fomentam a expansão do comércio bilateral. Estudos internacionais recentes apontam para um aumento de 8 a 10% das exportações após as visitas de Estado. Mas este crescimento depende da repetição destas visitas entre os países em questão.
Mas há, também, “visitas de estudo” de líderes políticos nacionais ou provinciais cujo efeito é ainda mais retumbante. Porque o que as mobiliza não é a simples curiosidade mas uma avaliação no terreno de políticas adoptadas e dos modelos que as sustentam. Recorde-se a este propósito a visita de Deng Xiao Ping a Singapura, em Novembro de 1978. Singapura tornou-se, desde então, o modelo preferido de Deng para a China (Michael Leifer, Singapore Foreign Policy, London, Routledge, 2000).
Actualmente visita a cidade Estado uma delegação de Cantão (Guangdong) com vinte altos dirigentes públicos e 400 empresários, chefiada pelo secretário geral do Partido Comunista da província, Wang Yang. O Housing Development Board, modelo de habitação de iniciativa pública onde reside 80% da população, é uma das prioridades desta “visita de estudo”.
Tal como o modelo de desenvolvimento urbano, assente em planos de longo e muito longo prazo, que é gerido pela Urban Redevelopment Authority e que coordena o uso do território com o modelo de desenvolvimento económico.
Nestes, como em muitos outros domínios, há exemplos de grande eficácia e de eficiência a apresentar e que não deixarão de gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios, com benefício para as populações dos países envolvidos.
A saúde é outro caso exemplar, onde Singapura alcança os melhores indicadores do Mundo mas, ao mesmo tempo, onde só gasta actualmente 4% do PIB. Onde os EUA gastam 16%. É que não há competitividade que valha quando o modelo é inadequado e o uso dos recursos é ineficiente.
O que impressiona o visitante estrangeiro interessado em processos de desenvolvimento é a combinação de uma forte economia de mercado com uma forte intervenção de ‘holdings públicas’, altamente lucrativas, responsáveis por cerca de 60% do PIB, dirigidas pelos mais destacados gestores nacionais ou estrangeiros, com uma forte e clarividente direcção política. Uma realidade que liberais e socialistas portugueses terão dificuldade em entender.
Uma verdadeira terceira via que atrai um número crescente de países em desenvolvimento sem desencadear qualquer ameaça a quem quer que seja, dada a sua dimensão: Singapura é o segundo país mais pequeno da Ásia, com cerca de 700km2, mas com um volume de trocas comerciais de 847 mil milhões de dólares, em 2007.
Portugal é visitado e visita. Aos de fora precisa de apresentar com maior agressividade os seus modelos de sucesso no planeamento urbano, na habitação pública, na saúde, na educação e na ciência, na administração pública, na industrialização. Onde quer que exista potencial há que gerar parcerias, ‘joint ventures’, acordos, novos negócios.
Empresários portugueses embarcam em comitivas de Estado de um país que parece não ter mais que cinquenta empresas para apresentar no exterior. Uma imagem que se espalha. Que é afinal consistente com o facto de num território de mais de 91.000 km2 não irem além dos 127 mil milhões de dólares, em 2007, as trocas comerciais com o Mundo.
Faz falta a Portugal serenidade para encontrar uma direcção e um futuro. Enquanto na cultura política predominar o prazer da conflitualidade, a exposição pública de egos frágeis à procura de compensações simbólicas Portugal não será mais que um país liliputiano.
Portugal precisa de procurar convergências para rasgar os caminhos do Mundo. E para provar que a democracia é um modelo eficaz para satisfazer as necessidades de uma Nação.

Wednesday, September 3, 2008

03-09-2008 A Última Prioridade

A Ásia é quase um deserto para Portugal, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam.
É facto que os empresários portugueses não vêem nem a China, nem o Sudeste Asiático, nem a Índia como fonte de oportunidades. E as excepções não fazem a regra.
As enormes capacidades demonstradas pela China, o ritmo do seu crescimento, as extraordinárias transformações que nela têm lugar e a sua trajectória como superpotência são percebidas, em Portugal, ou como irrelevantes ou, então, como uma ameaça. Apesar de a China ser o segundo parceiro comercial da UE. Apesar de as exportações da UE para a China terem mais do que duplicado entre 2003 e 2007, alcançando neste último ano os 72 mil milhões de euros.
Imagine-se Singapura a ignorar as oportunidades oferecidas pelo conjunto das economias americana e europeia. É o que faz Portugal ao subestimar o potencial económico da China e ao desinteressar-se pelas oportunidades na Ásia. Ignora-se que a explosão da China tem a dimensão da Ásia.
A China é, hoje, o centro dum imparável processo de integração da economia asiática. A China é, actualmente, o principal cliente do Japão, de Taiwan, da Coreia do Sul. E dentro de pouco tempo sê-lo-á, também, da Índia.
Entre 1993 e 2003 o comércio bilateral entre a China e o Japão cresceu 250%. Cresceu mesmo 350% com Singapura, 670% com a Coreia do Sul, 835% com a Tailândia, 1.025% com a Malásia. E 1.025% com a Índia.
Se excluirmos o valor das exportações para a região mais populosa do Mundo, nomeadamente para Singapura e Malásia, de produtos produzidos por algumas empresas multinacionais de origem estrangeira a operarem em Portugal, a Ásia é quase um deserto para Portugal. E com agravamentos, como as estatísticas das exportações relativas aos cinco primeiros meses deste ano indiciam. As exportações para o Japão decaíram 46% em relação a igual período do ano passado. Mas as importações do Japão, de Janeiro a Junho de 2008, com origem na UE, estabilizaram num crescimento de 0,2% relativamente a igual período de 2007. Houve quebras nas importações de países da UE, não tão acentuadas como as sofridas por Portugal, e houve crescimentos nos casos da Alemanha (3,6%) ou Espanha (11,2%), entre outros. O que confirma não serem uma inevitabilidade as perdas nacionais.
Esta Ásia sinocêntrica, que será o maior mercado consumidor de bens e serviços do Mundo, justifica um muito amplo e redobrado empenhamento económico e diplomático de Portugal, uma fundamentada estratégia. Exige mesmo uma acção radicalmente distinta da que tem sido adoptada, com um outro ritmo, com a visita assídua de líderes políticos e empresariais, com a implantação de uma vasta rede de empresas subsidiárias e de escritórios de representação portugueses na região.
O sucesso na Ásia obriga a uma mudança de atitudes por parte dos empresários portugueses. Esconder, sob a máscara de sentimentos de superioridade, o desconforto das diferenças culturais só prejudica as relações políticas, económicas, científicas e culturais, com os povos asiáticos.
Há um caminho a percorrer, uma aprendizagem a fazer em cada país asiático. Enquanto os ocidentais vão para fechar negócio, os chineses desenvolvem relações com pessoas com quem, eventualmente, querem fazer negócio. E só fazem negócio com pessoas que conhecem, de quem gostam e que respeitam. Enquanto europeus e americanos fazem capitalismo impessoal, os chineses preferem um capitalismo baseado nas relações pessoais. E esperam realismo e flexibilidade por parte dos fornecedores ocidentais.
Mas não será a Ásia, pura e simplesmente, a última prioridade para Portugal?
Cautela! Porque muito provavelmente os últimos virão a ser os primeiros.