Wednesday, May 28, 2008

28-05-2008 DE SINGAPURA A GUANGZHOU

A expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras.
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Nada mais convincente que entrar pela China adentro. Até na resposta ao terramoto de Wenchuan se confirma que há uma nova China. Que encerra um mundo ilimitado de oportunidades para as empresas portuguesas. Mas a expansão das exportações portuguesas na China parece ter pouco a ganhar com a mera participação em feiras. Na China, o caminho mais directo nem sempre é o caminho mais certo.
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Algumas dezenas de empresas portuguesas têm já assegurada a sua presença na China. Grandes grupos mas também PME. Para estas, em particular, uma penetração rápida na China deverá ser feita com o suporte, ou em parceria, com empresas ocidentais, há muito aqui instaladas, ou com empresas asiáticas cujos gestores conhecem a língua e dominam as regras do jogo. E que desenvolveram ao longo dos últimos dez anos relações pessoais, profissionais e empresariais, isto é, o guanxi.
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Singapura tem as melhores condições para funcionar como facilitador das iniciativas portuguesas na China. Porque em muitas províncias da China operam, há vários anos, milhares das suas empresas, apoiadas numa larga rede consular. Porque tem desempenhado, para a China moderna, o papel de modelo de referência de desenvolvimento industrial, de desenvolvimento urbano e de políticas sociais. Porque tem investido fortemente nas suas zonas económicas especiais e nos seus parques industriais cujo conceito ajudou a desenvolver. Porque tem investido largamente no desenvolvimento de centros comerciais e da sua habitação social. Porque tem contribuído para o seu desenvolvimento científico. Porque tem ajudado à formação dos dirigentes da administração pública chinesa. Porque tem relações pessoais muitíssimo cordiais com os seus dirigentes máximos e tem apoiado a transformação gradual das políticas internas e da política externa da China. E porque tem contribuído para um melhor entendimento da China pelas nações ocidentais. Chegar à China de braço dado com uma empresa da cidade-estado equivale a ter passadeira vermelha.
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Foi, assim, que nestes últimos dias se multiplicaram contactos intensos com umas poucas dezenas de líderes empresariais e institucionais de Guangzhou. Se discutiram projectos de investimento na China e em Portugal. Se identificaram oportunidades de exportação de produtos portugueses para a China e de produtos chineses para Portugal, Brasil, Angola ou Moçambique. Com apresentações em ‘powerpoint’, claro, mas também com muitos almoços e jantares em largas mesas-redondas. Sem evitar a passagem obrigatória pelo ‘karaoke’ e as extraordinárias estórias de sucesso empresarial que Deng Xiaoping fez o favor de permitir aos cidadãos da China. Em nove anos o senhor Chen (não sendo este o seu verdadeiro nome), ex-’chauffeur’ dum empresário de Guangzhou, construiu um pequeno império cujo valor actual ascende a 500 milhões de dólares americanos. Tudo começou com uma oportunidade que o seu ex-patrão lhe proporcionou. Chen, homem simples de quarenta e dois anos, ofereceu no passado fim-de-semana uma estadia num ‘resort’ na montanha aos quarenta colaboradores dos escritórios da sua empresa.
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Muito mais se poderia ter alcançado caso tivessem sido aproveitadas as oportunidades oferecidas de estabelecimento de relações entre universidades de Guangzhou e universidades portuguesas. Ou tivessem sido encetadas conversações promovendo o desenvolvimento do turismo de Guangdong em Portugal. Ficou provado que é muito eficaz chegar à China a partir de Singapura. Provavelmente mais eficaz que viajar directamente via Frankfurt, Amesterdão ou Londres.
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O modelo de internacionalização de empresas portuguesas passa pela inovação no ‘modus faciendi’ e pelo envolvimento de agentes facilitadores localizados na região.
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Mercê dos múltiplos acordos celebrados entre os governos asiáticos, as empresas na Ásia tendem a privilegiar as redes de empresas que actuam numa multiplicidade de países do continente asiático e que promovem sinergias entre si, acelerando os movimentos de trocas.
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E a diplomacia económica, por sua vez, precisa de reinventar-se para se adaptar às circunstâncias específicas dos mercados.

Tuesday, May 13, 2008

14-05-2008 Habitação e Exportação

O sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização. O sucesso está à vista.
Vai o Plano Estratégico de Habitação a discussão pública. Pedra basilar das políticas sociais, este debate oferece uma oportunidade para reflectir o que outras nações desenvolveram e os resultados internos e externos que alcançaram.
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Após a independência, Singapura teve de enfrentar o problema de falta de habitação. Através do ‘Housing and Development Act’ de 1960 foi criado o ‘Housing and Development Board’ (HDB) com planos quinquenais para construir habitação social de baixo custo. Um primeiro plano levou à construção, entre 1960 e 1965, de mais de 54 mil habitações para alugar a membros dos estratos de mais baixos rendimentos, com rendas subsidiadas.
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Porém, em 1968, o governo alterou a sua política a fim de fazer participar na riqueza nacional os cidadãos e os imigrantes e de os incentivar a um maior empenhamento na construção do país. Passou, então, a permitir a compra dos apartamentos pelos inquilinos. Esta compra assumiu, desde esta data, a natureza de um ‘leasing’ em que o título de propriedade tinha um período de validade de 99 anos.
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Mas, mais importante, é que permitiu, aos cidadãos de Singapura, utilizar até 80% das suas contribuições para a Segurança Social para pagar parcialmente o valor dos seus apartamentos, evitando assim que tivessem de utilizar parte do seu salário para esse efeito. A parte remanescente, não coberta por esta componente, poderia ser coberta por um empréstimo do HDB, e os pagamentos mensais poderiam ser pagos, também eles, a partir das contribuições para a Segurança Social. Em anos mais recentes a banca comercial passou a competir com o HDB na oferta de empréstimos desta natureza. Importa clarificar que o sistema de segurança social de Singapura, gerido pelo ‘Central Provident Fund’, é de capitalização.
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O sucesso desta política está à vista. No início dos anos sessenta havia 10% da população abrangida. Actualmente está mais de 80% da população coberta por habitação “social”. Isto é, cerca de três milhões. Os apartamentos do HDB, de 3, 4, 5 assoalhadas ou executivos, construídos em ‘outsourcing’ sob orientação duma vasta organização com mais de 4.500 colaboradores, não se assemelham de modo algum à habitação social britânica ou australiana. Equiparam-se à norueguesa.
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Os edifícios de apartamentos são enquadrados por jardins, com equipamentos desportivos, espaços de convívio e centros comunitários, com bibliotecas de elevada qualidade, e áreas comerciais. Dispõem de parques de estacionamento verticais. E têm manutenção permanente que se assemelha à dos condomínios privados. Para além de programas de requalificação estrutural, de sete em sete anos são objecto de obras gerais com renovação de todas as pinturas exteriores.
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O modelo de habitação social de Singapura encontra-se em expansão em diversos países, nomeadamente na China, onde será necessário construir quatro milhões e meio de apartamentos por ano durante as duas próximas décadas. HDBCorp International Pte Ltd (HCI) está já a construir em Chenggdu. Singapura assinou recentemente um acordo com a China para a construção de uma eco-cidade em Tianjin, baseada no modelo inovador de sustentabilidade de Punggol. O fundo soberano de Singapura GIC criou uma ‘joint venture’ com o HDB e a Wuthelam para, nos próximos anos, investir 75 milhões de dólares na construção de apartamentos na China, tirando partido da experiência adquirida em planeamento e desenvolvimento de cidades.
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O caso apresentado sugere que novas formas de financiamento para a aquisição de habitação possam ser consideradas, nomeadamente para as gerações mais jovens, com base nas contribuições para a Segurança Social. Tal corresponde a uma partilha da responsabilidade da gestão das contribuições entre o Estado e o contribuinte. A segunda proposta é que se faça o aproveitamento do cabedal de experiência do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, das suas estratégias, dos seus modelos de negócio, das suas metodologias, das suas políticas e procedimentos, dos seus ‘standards’, das suas competências e dos seus profissionais para potenciarem oportunidades de exportação de serviços em articulação com as empresas de construção civil portuguesas.
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Na Ásia, claro!
http://www.hdb.gov.sg