Wednesday, November 29, 2006

29-11-2006: Segurança Económica

A geoeconomia tomou o lugar da geopolítica. A competição económica sobrepõs-se à competição ideológica.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/714296.html

A segurança politico-militar constituiu, ao longo dos séculos, a principal preocupação da política externa. A segurança económica é, hoje, o principal enfoque dos governos nas suas relações bilaterais, sub-regionais, regionais e multilaterais. A geoeconomia tomou o lugar da geopolítica. A competição económica sobrepõs-se à competição ideológica.

.
Cada país procura garantir a sua segurança económica. Através da sua capacidade económica e da relação com o ambiente económico externo. Países com estrutura económica forte, sistema político estavel e posição internacional relativamente superior influenciam a economia global. Os outros, como Portugal ou Singapura, têm de desenvolver as suas capacidades de adaptação às mudanças da economia global, melhorando a eficiência económica, a sofisticação tecnológica da sua economia e a qualidade.

.
Para assegurar a segurança económica, cada país tem de garantir o acesso a recursos naturais, tecnológicos e humanos, ao crédito no sistema internacional, aos mercados. Tem de ter a capacidade de gerar produtividade, prosperidade e bem estar. A capacidade de manter o seu paradigma socio-económico. A capacidade de gerir os problemas transfronteiriços (migrações, poluição, trafego de droga), de manter e desenvolver parcerias económicas com actores públicos e privados e de contribuir para a estabilidade do sistema económico internacional.

.
A política económica externa e a diplomacia económica ganharam, com a globalização, uma importância que jamais haviam alcançado na optimização de oportunidades e na minimização de riscos e ameaças. Os responsaveis pela política económica externa devem supostamente ter uma visão estratégica com horizontes largos (geoeconómicos) e de longo e muito longo prazo. A procura de resultados efectivos na política económica externa exige clareza nos objectivos, liderança, desenvolvimento de redes de comunicação e informação, consulta permanente. A diplomacia económica requer muita iniciativa, muita pesquisa, abordagens incrementais e um grande sentido de oportunidade. E, sobretudo, muito empenhamento, persistência e acção.

.
Acção é o que não tem faltado à política externa e à diplomacia económica de Singapura. Um país sem quaisquer recursos naturais: nem petróleo, nem gás natural nem água. Para o fornecimento de água fez um acordo com a Malásia válido por 99 anos.

.
Desde 2005 tem vindo a desenvolver uma ofensiva diplomática no Médio Oriente com os olhos postos no petróleo mas também em muitos outros projectos. Lee Kuan Yew, ex-primeiro ministro e actual ministro mentor visitou, em Novembro do ano passado, o Dubai e o Qatar. Em Janeiro deste ano voltou ao ao Qatar e foi ao Abu Dhabi. Em Março esteve na Arábia Saudita. Em Outubro, o vice primeiro-ministro Wong Kang Seng esteve no Qatar. Lee Kuan Yew visitou já em Novembro o Kuwait e, de novo, o Abu Dhabi. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong acaba de chegar de uma visita à Arábia Saudita e ao Qatar, onde foi acompanhado de vários ministros dos negócios estrangeiros, finanças, comércio e indústria, transportes e ambiente e de 17 empresas de Singapura a quem desafiou para tirarem partido das oportunidades no Médio Oriente onde o retorno dos investimentos será mais rápido que na Índia ou na China. O comércio bilateral com a Arábia Saudita situou-se, em 2005, nos US$10 biliões e com o Qatar nos US$4 biliões. Mas a China e a Índia são a grande aposta de futuro de Singapura. É que o acesso aos mercados externos é crucial para gerar a prosperidade interna e, estes, são os mais próximos gigantes. Com um posicionamento não proteccionista, Singapura tem apoiado as negociações ao nível da OMC; promovido a rápida integração económica dos países da ASEAN, construido acordos de livre comércio regionais e bilaterais (EUA, Canada, Japão, México, Chile, Australia, Nova Zelândia, Coreia do Sul). E acaba de lançar as negociações para um acordo com as nações do Golfo e de estabelecer um pacto com a região italiana Emilia Romagna. A iniciativa da criação do ASEM, da ASEAN-MERCOSUR e do Forum com a América Latina (EALAF) a Singapura pertencem. Um país bem adaptado, com um crescimento esperado de 7,5 a 8% para 2006.

Wednesday, November 15, 2006

15-11-2006: Nação mais Globalizada

Singapura transforma-se crescentemente numa capital de ensino de excelência a nível mundial.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/709279.html

Pelas 7.20 da manhã, as crianças no pátio da escola (assembly hall) entoam o hino nacional: Majulah Singapura (Progresso para Singapura). A prosperidade é, a par de muitos outros valores, inculcada desde muito cedo nas crianças pela família e pela escola. A aprendizagem de conhecimentos e dos mais variados tipos de skills preenchem quase todos os minutos do dia a dia de cada estudante. O nível de participação em actividades extra-escolares e extra-curriculares é elevadíssimo. As famílias canalizam para a educação dos filhos uma enorme percentagem do seu rendimento. Os pais dedicam uma percentagem muito significativa do seu tempo livre no acompanhamento dos seus filhos. Singapura prepara cidadãos do mundo.

.
A ambição de Singapura é ser uma cidade global. É já passado posicionarmo-nos meramente como uma capital regional, afirmava recentemente o ex-primeiro ministro Lee Kuan Yew. Indispensável, para tal, transformar Singapura numa sociedade do conhecimento. A política de atracção de talento estrangeiro foi, desde a década de 80, parte integrante desta visão. Singapura começou, então, a recrutar em universidades inglesas e norte-americanas os mais brilhantes doutorandos. O seu sistema de ensino foi-se robustecendo. Ao mesmo tempo enviava milhares dos seus jovens, com bolsa, para as melhores universidades dos EUA e do Reino Unido.

.
A política de recrutamento de foreign talent para as Universidades, para os centros de investigação e para as empresas tem sido consistentemente reforçada. Mesmo quando paira no ar o receio de que os estrangeiros possam estar a ocupar os lugares que seriam devidos aos nacionais. Mas a visão do progresso nacional impõe-se às preocupações imediatistas, aos interesses particulares, aos grupos de interesse. Uma parte significativa dos administradores executivos e, de modo particular, de administradores não executivos das maiores empresas locais são estrangeiros. Mesmo em empresas dominadas por holdings estatais. A melhoria da competitividade à escala global e da transparência e responsabilidade perante os múltiplos stakeholders aconselha a integrar diferentes culturas empresariais e a expandir o universo mental dos líderes económicos. É, também, a qualidade da corporate governance que está em causa.

.
Os excelentes resultados das políticas adoptadas estão à vista. Singapura transforma-se crescentemente numa capital de ensino de excelência a nível mundial. Alguns perguntam-se se ela virá a ser a Boston da Ásia*. Proliferam os cursos em parceria com universidades dos EUA e Canadá, escolas britânicas, francesas e australianas (Universidade de Chicago, British Columbia, Melbourne, Perth, INSEAD, Wales, Bradford, etc.). Em 2010, Singapura espera ter 100.000 alunos estrangeiros. Com o correspondente benefício em postos de trabalho e no PIB. Actualmente este sector ocupa 52.000 profissionais, representa 2,2% do PIB e vale cerca de 4 mil milhões de dólares (S$).

.
Mas a capacidade de integração económica global manifesta-se em primeiro lugar na esfera industrial e do comércio. Mais de 7000 multinacionais dos EUA, Europa e Japão investem em Singapura. O investimento directo de Singapura no estrangeiro alcançou, por sua vez, os 104 mil milhões de dólares no final de 2004. A empresa local CapitaLand ilustra bem a estratégia em curso. Investe actualmente em 18 países e 70 cidades do mundo. Em Singapura gere 15 centros comerciais. Dentro de dois a três anos contará no seu portofolio com 50 centros comerciais na Índia e 30 na China, a par de quatro no Japão. Uma porta de entrada segura para os produtos ocidentais. Nestes centros comerciais Portugal peca, ainda hoje, pela ausência. Mas abrem-se agora novas oportunidades. Basta que para tanto se entenda que, para chegar aos mercados da Ásia, e particularmente à China e à Índia, a técnica do snooker é mais eficaz que a táctica do bilhar. Agir concertadamente com empresas de Singapura na Ásia diminuirá os riscos que uma aventura solitária sempre comporta. Tanto mais quanto menos preparados estão os portugueses para a globalização.

*Damien Duhamel, ”Can Singapore become the Boston of Asia?”, Singapore Business Review, October 2004